sexta-feira, 1 de setembro de 2017

‘Quero ser o presidente do povo brasileiro’, afirma Alckmin

Governador reage a comparação com Hillary e assume pretensões

Chico Prado | O Globo

-SÃO PAULO- Em meio ao debate interno no PSDB sobre qual tucano deve ser o candidato à eleição presidencial de 2018, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, apontou ontem o holofote em sua própria direção. No lugar das respostas evasivas frequentemente usadas, Alckmin foi direto ao ponto ao responder sobre o fato de ter sido classificado por uma consultoria política como o candidato da elite brasileira.

— Quero dizer que elite, não. Quero ser o presidente do povo brasileiro, de empresários que geram empregos, do povo sacrificado do Brasil, injustiçado. O que eu quero deixar claro é que a boa política, a política correta, que não se verga e tem princípios, é que vai pôr o Brasil no rumo — afirmou Alckmin, depois de participar da inauguração de uma empresa de cosméticos.

O tucano, que disputa com o prefeito de São Paulo, João Doria, espaço dentro do partido para a pré-candidatura à Presidência, rebateu a ideia de que seria um representante da elite no governo quando foi provocado a comentar um estudo da consultoria Eurasia, que o classificou como a “Hillary Clinton do Brasil”. A democrata, que perdeu as eleições americanas no ano passado, foi identificada pela empresa como candidata do establishment, assim como seria o governador.

Em seguida, Alckmin, ao responder se seria o melhor nome para colocar o país no rumo, recuou e voltou ao discurso mais conservador.

— A modéstia me permite não responder — esquivou-se. 

DORIA TENTA ‘REAFIRMAR LEALDADE’ 
Ao mesmo tempo em que reitera respeito por Alckmin, seu padrinho político, João Doria tem chamado a atenção com as viagens que tem feito pelo país. As visitas a cidades e recebimentos de títulos de cidadão local são vistos como estratégia de projeção nacional, o que viabilizaria sua possível candidatura presidencial no ano que vem.

Discretamente, Alckmin tem dado sinais de que a disputa está acirrada.

— A eleição de 2018 vai ser a eleição da experiência — disse ele, recentemente, num sinal que foi interpretado como recado para Doria, que, pela primeira vez, ocupa cargo eletivo.

Diante das especulações de que a relação entre os dois estaria estremecida, Doria gravou um vídeo para, segundo ele, “reafirmar sua lealdade” ao governador. Mas, de acordo com aliados, Alckmin teria sido pego de surpresa quando o prefeito resolveu fazer a gravação, que aconteceu depois de um café entre os dois durante comemoração pelo Dia dos Pais.

“Essa relação nasceu fora da política e não há nada que vá nos dividir, nada que vá nos afastar. Não há nada que vá nos colocar em campos distintos”, disse Doria. Por sua vez, Alckmin conclui o vídeo chamando o correligionário de “querido amigo”.

No evento de ontem, o governador tentou fazer piada em relação à comparação feita pela consultoria entre ele e Hillary. Disse que ele, Alckmin, “não é Hillary, é hilário”. E rebateu:

— Porque, se conhecessem um pouquinho o Brasil, iam saber que a Hillary teria ganho a eleição no Brasil, que ela teve quase três milhões de votos a mais do que (o presidente americano Donald) Trump. Ela perdeu porque o modelo americano é diferente, né? Eu estou acostumado (porque), na última eleição, diziam que eu não ganharia por causa da crise hídrica. Ganhei no primeiro turno e, dos 645 municípios, venci em 644. Fato inédito, né? — comentou o governador.

A Eurasia é uma consultoria fundada em 1998 que avalia cenários e riscos para investidores e empresários. O grupo avalia o impacto da política nas oportunidades em mercados estrangeiros. No ano passado, a Eurasia abriu um escritório em São Paulo — está presente em São Francisco, Cingapura, Tóquio, Washington e Londres.

EM RELATÓRIO, LULA NÃO PREOCUPA
O estudo da empresa diz que o sentimento contra as elites, o establishment, será intenso nas eleições brasileiras de 2018 e constata que a candidatura do ex-presidente Lula não ameaça o mercado. O que ameaçaria seria a ausência de figura de um não político, segundo a pesquisa. “O risco não é o Lula concorrer, mas, sim, que alguém como João Doria não concorra”.

A consultoria justifica a falta de preocupação com a candidatura de Lula com dois argumentos. Além da rejeição alta, o petista pode ser impedido de disputar a eleição caso seja condenado em segunda instância.

“Se o PSDB escolher o Alckmin, a analogia mais próxima seria com a eleição presidencial nos Estados Unidos, na qual os democratas escolheram a candidata do establishment Hilary Clinton em uma eleição antiestablishment, o que ajudou a criar as condições para que Donald Trump ganhasse a eleição mesmo com alto índice de rejeição”, concluiu o relatório.

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