segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Todos reféns | Ricardo Noblat

- O Globo

“Há esforço para comprometer a honra de Temer.” Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência

Antonio Palocci está para Luiz Inácio Lula da Silva assim como Geddel Vieira Lima e Rocha Loures estão para Michel Temer, Marcello Miller para Rodrigo Janot e Ricardo Saud para os irmãos Batista — Joesley e Wesley. O que eles disserem à Justiça poderá, no extremo, virar o país pelo avesso, ou na melhor das hipóteses apenas aumentar a octanagem da crise política que se arrasta desde o final de 2014.

EM CONVERSA NA SEMANA passada com a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, observou com ar grave sobre o que o futuro possa reservar ao país: “Daqui para as eleições de 2018 se passarão cem anos”. É tempo suficiente para que aconteça tudo ou nada. Ninguém é senhor da crise.

LULA TINHA UM PROBLEMA para ser candidato à vaga de Temer: o risco de a segunda instância da Justiça confirmar a sentença de Sergio Moro que o condenou a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Passou a ter dois problemas desde que Palocci o apontou como chefe de organização criminosa. Ao jurídico juntou-se o entrave político. Combinação indigesta.

LULA LANÇOU-SE CANDIDATO
para tirar proveito político da situação e abortar o fim do PT. Uma vez confirmada a sentença de Moro, ficaria para sempre como um injustiçado aos olhos dos seus devotos incondicionais. Mesmo encarcerado, não perderia a condição de grande eleitor do próximo presidente. O furacão Palocci acabou com os planos de Lula. A delação deverá soterrá-lo.

A SEGUNDA DENÚNCIA DE JANOT contra Temer terá o mesmo destino da primeira — o arquivo da Câmara. Rocha Loures, o homem da mala com R$ 500 mil, está sob controle. O que apavora Temer é Geddel, o homem das oito malas e das seis caixas com R$ 51 milhões. Loures era um pau-mandado. Geddel é parceiro de Temer há 30 anos. A palavra de Loures arranharia Temer. A de Geddel o derrubaria.

O CLUBE MAIS EXCLUSIVO DO BRASIL está nos cascos para reafirmar uma de suas lições clássicas que parece ter escapado à atenção dos sem memória e suicidas. A lição: não mexa com nenhum dos 11 sócios do clube. Embora, ali, poucos se amem, todos se unem quando um deles corre perigo. Comportam-se então como se a instituição sofresse uma grave ameaça. Melhor sair de perto.

A TOGA QUE AFAGA É A MESMA QUE chicoteia. Os ministros do Supremo Tribunal Federal, à exceção de Gilmar, afagaram Janot às vésperas de ele deixar o cargo de procurador-geral da República. Estão prontos para fazê-lo gemer. Não o perdoam por sugerir que as pilantragens dos irmãos Batista talvez alcançassem o tribunal. Anularão a delação dos irmãos e mandarão prender Miller.

JANOT SEMPRE PODERÁ DIZER que pediu as duas coisas. Desde, porém, que Miller, acusado de ter levado grana dos irmãos para ajudá-los a delatar enquanto ainda era procurador, não revele gracinhas que maculem a imagem do seu antigo chefe. Como diria Lula ao se ver acuado, não basta contar, tem que provar. Janot poderá repetir Lula, o que seria hilário.

FALTA ALGUÉM NO JOGO DO CONTA NÃO CONTA: Saud, executivo do Grupo J&F. Foi ele que gravou a conversa de bêbados onde Joesley Batista falou à vontade. E por ter dito o que disse, Joesley passa mal na Penitenciária da Papuda, em Brasília. Saud é sério candidato a delatar Joesley e Wesley, seus ex-patrões. O país não acabará por causa disso. Mas quanto ao grupo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário