- Folha de S. Paulo
Segundo Groucho Marx, há uma maneira de saber se alguém é honesto: "Pergunte a ele. Se responder 'sim', é desonesto!"
O ex-governador da Bahia Jaques Wagner parece ter se inspirado em Groucho ao comentar, em entrevista à Folha, a estratégia de reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014: "Estamos em campanha e tenta-se fazer palanque sobre um tema rejeitado pela população, que é a corrupção.... Ninguém ganha eleição dizendo 'sou honesto'. Até porque ninguém acredita".
Wagner errou em seu diagnóstico de que esse tema era "rejeitado pela população", mas acertou quando apontou para a questão da credibilidade de declarações sobre honestidade.
Na realidade, segundo dados do Lapop (Latin American Public Opinion Project, da Vanderbilt University), o Brasil é o país que apresentava maior preocupação com a corrupção no período entre 2004 e 2014. Só a Argentina obteve escore mais alto do que o Brasil —em 2010 e 2012— mas, na média da série histórica, o Brasil está a frente. Na rodada seis do World Values Survey, o Brasil ocupava o percentil 87% da distribuição das respostas à pergunta sobre se aceitar propina pode ser justificado. Isso significa que em apenas 13% dos países a preocupação com a corrupção era maior.
Em outras palavras, há uma norma na cultura política nacional de fortíssima rejeição à corrupção. Dados do Ibope mostram que, em 2015, o tema passou a ser a principal preocupação dos brasileiros, superando a saúde. Essa mudança paulatina teve início em 2006 na esteira do mensalão e se refletiu nas manifestações do primeiro semestre de 2013. Terá o PT ignorado a centralidade que o tema adquiriu no país, como sugere um de seus principais estrategistas na entrevista citada?
Há assim um paradoxo: a corrupção tornou-se muito impopular, mas políticos corruptos continuam populares, como atestam as pesquisas de opinião. São eleitos e reeleitos com frequência.
Há várias razões que podem explicar por que isso acontece, mas só tenho espaço para comentar uma.
A Lava Jato levou a uma exposição inédita do comportamento corrupto de agentes públicos no governo em suas transações com o mundo empresarial. Produziu um tsunami de informações sobre a corrupção sistêmica. Paradoxalmente, uma vez atingido o limiar da corrupção sistêmica, quanto maior a corrupção, menor será sua importância eleitoral.
Deparando-se com um cenário de mar de lama, os eleitores passam a descartar a honestidade como fator determinante do voto. Utilizando um critério regional, podem preferir, por exemplo, um político corrupto pernambucano a um paulista. Esse seria o cenário almejado pelo governador baiano.
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