quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Sucessão e continuidade | Rosângela Bittar

- Valor Econômico

Até janeiro de 2019, em encontro com a primeira instância

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) é, por incrível que pareça, a candidatura presidencial mais definida neste momento. Ele está vencendo a pré-disputa com João Dória, participa de reuniões para formação de chapa, campanha e projeto eleitoral, está no centro do tiroteio de um partido conflagrado, onde livres atiradores miram, sem atingir em definitivo, gregos e troianos, ele inclusive.

Mas sobrevive, pois há a realidade de sua personalidade: os que procuram Alckmin para conversar saem com uma impressão unânime: a conversa do governador não tem começo, nem meio, nem fim. Alckmin continua alheio ao mundo da política e não parece um candidato sequer a liderar uma associação.

Mas, inegável, é uma candidatura de resultados, e o último foi extraordinário: a recomposição com o senador e ex-governador José Serra, com quem divide o principado do PSDB em São Paulo.

Outra também bem definida é a candidatura Jair Bolsonaro (ainda vendo que partido vai usar): corre o Brasil, tem um nicho de votação na direita e outro na igreja, e um discurso em cima de eventualidades sobre as quais é perguntado, mas ainda se protege de melhores e maiores definições.

O empresário Luciano Huck parece ser uma criatura vocacionada e uma candidatura de primeiros traços bem delineada, já se lançou em artigo no jornal "Folha de S.Paulo", mas está demorando a se revelar como tal, ou aguarda dias mais claros ou a explicitação do apoio da família.

Ciro Gomes é uma candidatura posta, confirmada e em procedimentos de medição de terreno, mas sofre de um mal terrível nos dias de hoje: a conversa é antiquissima e não se consegue imaginar qual público ainda vai se interessar por seu discurso se não houver um novo approach. Ele já disse que só vai se Lula não for.

A candidatura Luiz Inácio Lula da Silva era, até há duas semanas, uma anti-candidatura, com objetivo claro de manter uma argumentação política em contraponto à criminal. Uma espécie de exibição do seu exército e uma satisfação às pesquisas de opinião. Ficou menos irreal depois de manifestação de especialistas atribuindo legalidade à pretensão, mesmo sendo condenado. Porém, reforçando a tese contrária, há especialistas também a assegurar que esse é um parecer apenas para hoje.

Quanto mais perto está a data da eleição, mais longe vão ficando alguns nomes em situação embaralhada neste momento. Aguardando acesso, arranjos políticos e projetos, estão os ex-ministros Joaquim Barbosa e Ayres Brito, a ex-ministra Marina Silva, o ministro Henrique Meirelles, o prefeito João Dória (por outro partido que não o seu), alguma candidatura da esquerda e o esperado candidato do centro.

Ao retomar seu governo, a partir da votação da segunda denúncia por corrupção que deve ocorrer hoje, o presidente Michel Temer terá condições não só de definir a agenda de projetos de execução viável em apenas mais um ano de governo como, principalmente, de tentar influir na sua sucessão apostando as fichas e a caneta em uma candidatura de centro que ele ainda não sabe qual será.

O presidente, ao contrário do que muito se falou nas últimas semanas, não sairá nem fortalecido (se for mais) nem enfraquecido (se for menos) do score da votação de hoje. Ele precisará ter 171 votos favoráveis para não ter seu mandato interrompido. Ganhando o direito de ir até o fim, as denúncias passam a ser um fantasma protelado para janeiro de 2019, em encontro marcado com a primeira instância. Ou seja, tarefa para seus advogados que também ganham aí quatorze meses de preparação.

O que está em jogo é ficar até o fim e fazer o que for possível no governo que lutou para manter. Tendo 171 votos, os 263 da primeira, ou 300, o governo não será mais como era antes da delação premiada da JBS. Aquilo balizou o que ele será até o fim. E levar o governo a termo é o mais fácil: reformas da Previdência e Tributária em aspectos de aceitação possível, uma atenção à política externa, projetos na reestruturação da segurança pública, levar a termo as privatizações, melhora do ambiente de negócios, um mínimo equilíbrio fiscal.

Os adversários do presidente são os que saem enfraquecidos, mas isso já é uma outra história.

Temer vai se preparar para quando estiver na planície e o que conseguir aprovar no Congresso, somado ao que já aprovou, torna-o autor do início da recuperação da economia.

A pressão que sofrerá agora é de outra natureza: além de apostar em uma candidatura, ou entre as já postas, ou entre as que virão a se colocar, Temer será procurado pelos políticos que clamarão a todos os santos para enfrentar a campanha.

Quanto ao governo, não se deve esperar grandes alterações na sua formação. Os ministros que não vinham dando certo vão continuar, se quiserem, até a desincompatibilização eleitoral. Se forem substituídos, o serão por alguém que os partidos vierem a indicar. Um pouco mais de normalidade haverá, com certeza. Talvez.

Flanco
A prepotência do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio, premiou o super denunciado Sérgio Cabral com o gozo de vítima injustiçada. Praticamente com uma condenação perpétua - já está com mais de 50 anos e só foram julgados três dos seus 15 processos - Cabral enfrentou o magistrado numa audiência injustificadamente agressiva. Bretas não gostou de se defrontar com o fato de que Cabral sabia o ramo de atividade comercial a que parentes seus se dedicavam, informação de resto pública, exposta em reportagens de dois jornais. Bretas considerou isso uma ameaça porque Cabral está recebendo informações de fora da cadeia, e aprovou transferência do condenado para prisão federal de segurança máxima. Não sem antes ouvir uma frase que embute uma história longa e abrangente: Cabral lembrou a seu algoz que já foi líder naquela cidade, ou seja, o que fez e como fez envolveu a todos, executivo, legislativo e judiciário. Se Bretas tivesse a sabedoria, a temperança e o sangue frio do juiz Sergio Moro, não teria permitido a abertura desse flanco para a Lava-Jato.

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