segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Cida Damasco: Economia no centro

- O Estado de S. Paulo

Há dúvida sobre em que pé estará a retomada quando a campanha esquentar

Ainda tem muito jogo pela frente, mas o centro vai se movimentando para cacifar a sua ou as suas apostas para 2018. E, nessa disputa, que continua sujeita à entrada de novos personagens, como o apresentador Luciano Huck, o governador Geraldo Alckmin reafirma sua posição no instável PSDB e o ministro Henrique Meirelles começa a cavar seu espaço, com o aval inicial do PSD. Bem a seu estilo, dizendo nem que sim nem que não à hipótese de uma eventual candidatura, mas reconhecendo que é “presidenciável” e visivelmente interessado em se bandear do comando da área econômica para o comando do País. E, para isso, cruza os dedos para que a economia continue melhorando no ano que vem – e principalmente para que essa melhora vá além dos indicadores analisados por especialistas, e sensibilize o eleitorado. Em outras palavras, que a retomada seja traduzida claramente em mais e melhores empregos e mais renda disponível para consumo. O próprio Meirelles reconhece que a percepção da retomada ainda não está disseminada pelo conjunto da sociedade.

De novo o sentimento (ou não) de bem-estar econômico do eleitorado pode ter um papel decisivo nas próximas eleições. O Plano Real está sempre na cabeça de quem quer repetir a trajetória do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, apesar das diferenças inegáveis entre as duas situações. Por essa visão, sem deixar de lado as particularidades em outras searas, uma insatisfação com o quadro econômico atual e/ou uma decepção com as promessas para o ano que vem ajudariam a definir os votos do eleitorado em 2018. Um eleitorado, é bom lembrar, mais do que desencantado com a política e os políticos, e em busca do “novo” – como aconteceu na disputa das Prefeituras em 2016 --, mas por enquanto com uma parcela considerável, na faixa de um terço, manifestando sua preferência por Lula em vários cenários definidos pelos institutos de pesquisa.

No momento, parece haver uma convergência de opiniões em relação ao estado atual da economia: na coluna dos destaques positivos, volta do crescimento do PIB, nas vizinhanças de 1%, aumento do emprego mesmo que pendurado na informalidade, inflação bem comportada na faixa de 3%, juro básico de 7% e, como grande destaque negativo, contas públicas com rombo crescente. Discute-se, agora, sob o ângulo eleitoral, em que ponto a economia estará quando a campanha presidencial esquentar. O que é fundamental para a definição de candidaturas, nos próximos meses, e também para calibragem do discurso tanto para quem quer assumir a paternidade da política econômica como para quem defende “adaptações” na linha atual. O cenário pintado pela maioria dos analistas para 2018 é de um aumento do PIB próximo de 2,5%, uma inflação na casa dos 4% e um juro básico com chances de cair abaixo dos 7%.

Mas não há dúvida de que perigos espreitam a economia no ano que vem, principalmente no já minado terreno das contas públicas. Para cumprir a meta de déficit primário de R$ 159 bilhões e respeitar o teto de gastos, o governo decidiu, entre outras coisas, adiar os reajustes salariais e aumentar a contribuição previdenciária dos servidores públicos – e, contrariando o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), preferiu impor as mudanças via edição de medidas provisórias (MP) a se arriscar a uma derrota com o encaminhamento de projetos de lei. Afinal, se déficit primário e teto de gastos têm pouco apelo para os cidadãos comuns, prorrogação de aumentos de salários todo mundo sabe o que quer dizer. Além disso, uma eventual paralisia de alguns serviços públicos, risco a ser levado em conta caso as projeções de receitas e despesas sejam frustradas, também tem um forte componente de impopularidade.

No caso da reforma da Previdência, a situação é duplamente complicada. “Vendida” como essencial para impedir o colapso das finanças públicas, a Previdência foi “comprada” por uma parcela da sociedade como ameaça a direitos já conquistados e, para completar, seu destino está nas mãos de parlamentares empenhados na reeleição. Meirelles vem dizendo há um bom tempo que aprovar logo a reforma da Previdência é interesse do próximo presidente, seja ele quem for. Agora candidato a candidato, terá de se desdobrar para convencer os parlamentares e os próprios eleitores.

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