sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

'Cabeça-preta' cobra Temer e Meirelles

Raphael Di Cunto | Valor Econômico

BRASÍLIA - Um dos líderes dos "cabeças-pretas", grupo mais jovem do PSDB que defendeu o rompimento com o governo, o deputado federal Daniel Coelho (PE) afirma que, antes de cobrar apoio dos outros partidos à reforma da Previdência, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), e o presidente Michel Temer (PMDB) deveriam trabalhar para que suas próprias siglas votassem a favor da proposta.

"Nenhum partido da base do governo fecha questão, nenhum tem maioria a favor. A questão não é o PSDB, a questão é Temer, que é desmoralizado, é corrupto, foi pego numa gravação mandando entregar mala de dinheiro para um deputado e tem apenas 3% de aprovação", afirmou. "O Meirelles não tem moral nenhum de falar da reforma da Previdência. A bancada dele é toda contra, com qual credibilidade vai cobrar os outros?"

Para Coelho, o governo quer empurrar a responsabilidade de votar a Previdência para o PSDB, para esconder que não tem votos na própria base, mas o partido, com 46 deputados, seria insuficiente para aprovar o projeto, mesmo que estivesse 100% fechado com a proposta - o que não está. "O problema é nos partidos da base que não têm divergência sobre o apoio ao governo e que estão com todos os deputados contemplados no governo [com cargos] e mesmo assim não votam a reforma", afirmou.


A discussão sobre fechar questão a favor do projeto, que a legenda fará na quarta-feira, ou sobre as três propostas de flexibização do projeto feitas em abril pelo líder da bancada tucana na Câmara, Ricardo Tripoli (SP), são secundárias, na opinião do parlamentar. "Se tiver maioria na Executiva e nas bancadas da Câmara e do Senado fechará questão. Mas o que isso muda? Cinco, seis votos? Não vai fazer diferença."

O fechamento de questão só serviria, disse, para o PSDB mostrar que o problema não é a sigla, mas a falta de apoio à base. Sobre aqueles que apontam que a medida seria inócua, porque os parlamentares que contrariarem a orientação da legenda não serão punidos, Coelho concorda com uma ironia. "Não vai expulsar ninguém porque não vai votar".

Mesmo assim, ele ressalta que a proposta de flexibilizar o projeto não é nova, mas era ignorada pelo governo até então. "Foi entregue documento em abril, antes das denúncias, e o governo nunca tratou disso. Agora querem usar para dizer que o PSDB está contra", pontuou.

A deputada Mara Gabrilli (SP) sugeriu mexer em três pontos da reforma (acabar com a redução na aposentadoria por invalidez em acidentes fora do trabalho, limitar acúmulo de pensões e aposentadoria até o teto do INSS e estabelecer regra mais branda para os servidores que entraram antes de 2003). A proposta foi encampada por Tripoli, mas não há ninguém na bancada atrelando seu voto a essas concessões, afirmou o parlamentar tucano.

Coelho já se manifestou várias vezes contra a reforma, dizendo que é injusta, mas agora evita se posicionar. "Não está na hora de ficar discutindo isso, de ficar fazendo esse tipo de placar, entendeu? É uma matéria que não vai a pauta, o governo não tem votos e está articulando errado", justificou.

O tucano diverge daqueles que acham que o governo tem conquistado votos a favor da Previdência com as inúmeras concessões feitas a prefeitos e empresários, como programas de refinanciamento de dívidas (Refis). "Todo dia o governo diz que o país está quebrado e todo dia manda uma isenção fiscal para a Câmara, dá benefício a alguma grande corporação e diz que o seu João da esquina tem que trabalhar mais cinco anos para sustentar a previdência", criticou.

Para o parlamentar, as articulações da reforma são hoje a "armadilha de uma discussão vazia" para manter o governo útil, com uma agenda, mas que todos sabem que não será mais votada. "O governo quer criar uma cortina de fumaça. Não é possível que alguém ainda ache que uma reforma que seria votada em maio, depois junho, depois agosto, agora dezembro ou 2018, ainda será aprovada. Vão adiando até o fim do governo e continuar com o discurso enquanto a imprensa estiver publicando e o mercado gostando dessa especulação."

Um dos líderes do movimento pela saída do PSDB com o governo Temer, Coelho critica os ministros políticos do partido que dizem que continuarão nos cargos, como "cota pessoal de Temer", mesmo se a sigla decidir deixar o governo na convenção de 9 de dezembro, quando o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, deve ser aclamado presidente do partido.

O tucano defendia que o impasse no partido fosse resolvido na disputa eleitoral entre o senador Tasso Jereissati (CE), que também apoia o rompimento, e o governador de Goiás, Marconi Perillo, aliado do grupo governista. Mas, como ocorreu acordo para eleger Alckmin por consenso, caberá ao futuro presidente fazer essa condução. "As divergências de pensamento continuam", afirmou.

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