quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Opinião do dia: Hannah Arendt

Além desses três elementos de toda ação política – o fim que ela persegue. O objetivo que tem em mente e pelo qual se orienta e o significado que se revela no curso da ação – existe um quarto elemento, que, embora nunca seja a causa direta da ação, é o que a coloca em movimento. Seguindo a discussão de Montesquieu sobre os sistemas de governo em O Espírito das Leis, proponho chamar este quarto elemento de o “principio de ação”. Em termos psicológicos, poder-se-ia dizer que se trata da convicção fundamental compartilhada por um grupo de pessoas. Há um bom número de tais convicções que desempenharam um papel no curso de ações políticas e chegaram até nós através da história, embora Montesquieu só conheça três: a honra nas monarquias, a virtude nas repúblicas e o medo sob as tiranias. A esses princípios podemos, sem dúvida, acrescentar a fama, tal como a conhecemos no mundo de Homero: a liberdade, como encontrada no período clássico de Atenas: a justiça: e até a igualdade, se por isso entendermos a crença no valor inato de todo ser humano. A extraordinária importância de todos esses princípios reside em que eles não apenas levam seres humanos a agir, mas são também a fonte que alimenta continuamente as suas ações.

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Hannah Arendt (1906-1975), ‘A promessa da política’, pp. 258-9, Difel, 2008

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