sábado, 27 de maio de 2017

Opinião do dia – Roberto Freire

O Brasil só terá condições de concluir a travessia democrática e constitucional até as eleições de 2018 se mantivermos de pé a agenda de reformas e continuarmos promovendo as mudanças necessárias para que o país siga nos trilhos do desenvolvimento. O momento é delicado, a crise é grave e o impasse político precisa ser resolvido rapidamente, sempre de acordo com a Constituição e sem atropelos. Mas o Congresso não pode parar e tem a responsabilidade de levar adiante a agenda modernizadora proposta pelo governo de transição. Dela dependem o futuro de milhões de brasileiros e a retomada da nossa economia.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Economia pode perder até R$ 170 bi com a crise política

Crise pode tirar até R$ 170 bi da economia

Cenários traçados por economistas para este ano mostram que efeitos da crise política podem levar País até a uma nova recessão

Altamiro Silva Junior e Márcia De Chiara | O Estado de S.Paulo

A crise política foi um balde de água fria para o setor real da economia. Projetos que começavam a ser desengavetados pela retomada da atividade que estava se desenhando voltaram para a gaveta, à espera de qual será o encaminhamento das reformas. Enquanto isso, analistas começam a calcular as prováveis perdas no dia a dia das empresas e nos diversos setores.

Economistas já estão cortando as projeções de crescimento da economia este ano e no próximo. As estimativas preliminares sinalizam perdas para a atividade em 2017 entre R$ 25 bilhões, no cenário mais otimista, e R$ 170 bilhões, no mais pessimista, na comparação com que se esperava antes das denúncias envolvendo o presidente Michel Temer. É consenso entre os especialistas ouvidos pelo Broadcast/Estadão que o tamanho do estrago vai depender da duração da turbulência em Brasília e do desfecho da reforma da Previdência.

'Missão é reanimar setor produtivo brasileiro', diz novo presidente do BNDES

Economista Paulo Rabello de Castro assumirá os trabalhos na semana que vem; primeira ação deve ser uma reunião com os diretores da instituição

Idiana Tomazelli | O Estado de S.Paulo

Indicado hoje como novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Paulo Rabello de Castro afirmou em entrevista exclusiva ao Estado/Broadcast que sua principal missão à frente da instituição de fomento será "reanimar o setor produtivo brasileiro". Rabello de Castro ainda teceu elogios ao trabalho de sua antecessora, Maria Silvia Bastos Marques, que comunicou hoje ao presidente Michel Temer sua saída da presidência do banco. "Vai ser difícil discordar da Maria Silvia em qualquer coisa que ela tenha feito, tamanha é minha admiração por ela", disse.

O novo presidente do BNDES se disse disposto a encarar "desafios espinhosos", como é o caso do crédito no Brasil. "Tenho a missão de reanimar o setor produtivo brasileiro, leia-se industrial principalmente. É uma missão dura, mas grandiosa", afirmou. Segundo Rabello de Castro, o setor industrial merece maior atenção uma vez que o setor agrícola "está bem cuidado por seu próprio desempenho e estímulo de preços".

Novo presidente do BNDES é ligado ao DEM

Igor Gadelha | O Estado de S. Paulo

O novo presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o economista Paulo Rabello de Castro, é filiado ao Partido Novo, mas é muito ligado ao DEM. Segundo democratas, Rabello costumava prestar serviços à legenda, como a elaboração de análises sobre economia. Ele é do O Instituto Millenium, entidade sem fins lucrativos e sem vinculação político-partidária com sede no Rio de Janeiro.

Parlamentares do DEM afirmam que Rabello teria admitido nas últimas semanas que estava “angustiado” na presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cargo que ocupava desde junho de 2016. “Ele achava que não tinha mais o que fazer lá”, contou um cacique do partido.

O presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), negou que Rabello seja indicado político da legenda. “Ele é simpatizante do nosso partido, um amigo há muito tempo. Eventualmente ele participava de eventos no partido”, disse o parlamentar potiguar.

O DEM tem a sétima maior bancada da Câmara, com 29 deputados, entre eles o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Como presidente da Câmara, caberá a Maia aceitar ou não os pedidos de impeachment do presidente Michel Temer.

Empresários pedem retomada de financiamento pelo BNDES

Restrição ao crédito subsidiado era uma das principais críticas do empresariado à condução de Maria Silvia no banco de fomento

- O Estado de S.Paulo

Empresários esperam que o novo presidente do BNDES, Paulo Rabello, retome projetos de financiamento, mas analistas defendem a limitação de recursos.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Robson Andrade, diz, em nota, que “o novo presidente do BNDES não pode perder a oportunidade de executar com celeridade os projetos de financiamento para a indústria e para a infraestrutura.” Segundo ele, esses investimentos são essenciais para ajudar a retomada do crescimento da economia brasileira. “O Brasil não pode parar.”
Já o presidente da Abiquim (representa a indústria química), Fernando Figueiredo, espera que o novo executivo “ajude a reconduzir o banco ao seu papel histórico, de fomentar o desenvolvimento social”, papel que, para ele, Maria Silva não vinha cumprindo.

Presidente do BNDES renuncia sob pressão de indústria e funcionários

Mario Cesar Carvalho, Mariana Carneiro, Lucas Vettorazzo | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO, BRASÍLIA - Sob pressão de setores empresariais e, em meio a um clima tenso com os funcionários do banco, a presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques, pediu demissão nesta sexta-feira (26).

Ela informou sua saída pessoalmente ao presidente Michel Temer, em Brasília, e enviou comunicado aos funcionários do banco.

Em seu lugar, Temer escolheu o economista Paulo Rabello de Castro, presidente do IBGE. Segundo a Folha apurou, os atuais diretores do banco devem ficar nos cargos apenas na transição.

Na carta enviada aos funcionários, Maria Silvia justifica que seu afastamento se deu por "razões pessoais", "com orgulho de ter feito parte da história dessa instituição tão importante para o desenvolvimento do país."

Maria Silvia Bastos desmontou política do PT no BNDES

Nicola Pamplona | Folha de S. Paulo

RIO - Indicada para dar novo rumo a uma instituição que a oposição ao governo Dilma se acostumou a chamar de "caixa-preta", Maria Silvia Bastos Marques deu início a uma guinada estratégica no BNDES durante gestão de um ano.

Logo após assumir, suspendeu a liberação de US$ 4,7 bilhões a empresas investigadas pela Lava Jato, referentes a 25 contratos de financiamento à exportação de serviços, a maior parte para países das Américas do Sul e Central.

A decisão respondia à recomendação da AGU (Advocacia-Geral da União), mas também atendeu a críticas sobre o favorecimento das empreiteiras e de países alinhados com a política externa dos governos petistas.

Maria Silvia deixa BNDES, e governo escolhe nome próximo a empresários

A economista Maria Silvia Bastos Marques deixou ontem a presidência do BNDES após pressões de empresários, que se queixavam da política mais rigorosa de concessão de crédito sob sua gestão, e embates com o Planalto. As investigações da PF e do TCU sobre o apoio do BNDES ao grupo JBS nos governos Dilma e Lula também causaram desconforto, levando funcionários a cobrarem de Maria Silvia uma defesa mais enfática de operações que foram feitas antes do impeachment. Na conversa gravada pelo dono da JBS com o presidente Temer, Joesley reclama de ter recebido negativas do BNDES na gestão de Maria Silvia, que oficialmente saiu por motivos pessoais. O governo escolheu para o cargo Paulo Rabello de Castro, presidente do IBGE e amigo de Temer. A escolha foi elogiada por entidades empresariais.

Troca de comando

Sob críticas de empresários, Maria Silvia decide sair da presidência do BNDES

Danielle Nogueira, Letícia Fernandes, Martha Beck, Geralda Doca e Cristiane Jungblut | O Globo

-RIO E BRASÍLIA- Menos de um ano após assumir a presidência do BNDES, Maria Silvia Bastos Marques pediu demissão ontem. Alegando decisões pessoais, ela surpreendeu o Palácio do Planalto, ao anunciar diretamente ao presidente Michel Temer que deixaria o cargo numa reunião marcada de última hora. Segundo fontes, ela teria se antecipado a uma decisão do governo de exonerá-la porque avaliou que isso poderia ser anunciado em pouco tempo.

Gilmar defende que plenário do STF dê última palavra sobre delações

Para Gilmar, plenário do STF deveria dar última palavra sobre delações

Ministro defende discussão para que rito da homologação seja feito por todos os integrantes do tribunal

Isadora Peron e Breno Pires | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou nesta sexta-feira, 26, que o tribunal terá que discutir o rito da homologação dos acordos de delações premiadas fechados pela Procuradoria-Geral da República.

Questionado sobre a possibilidade de revisar os benefícios concedidos aos empresários do grupo J&F – holding que inclui a JBS -, ele afirmou que esse é um tema que deverá ser discutido pelo plenário da Corte. Além da questão das delações, Gilmar também reagiu nesta sexta sobre um outro assunto polêmico. Ele afirmou que está pensando em revisar o seu voto sobre a decisão de decretar a prisão logo após decisão de segundo grau.

Delações da JBS em xeque

Gilmar Mendes quer submeter acordo com donos do frigorífico ao plenário do Supremo

Eduardo Bresciani e Carolina Brígido | O Globo

-BRASÍLIA- Depois de defender que o Supremo Tribunal Federal (STF) revise a decisão que manda para a prisão condenados em segunda instância, o ministro Gilmar Mendes abriu nova polêmica. Disse que a homologação das delações dos donos da JBS, Joesley e Wesley Batista, deve ser submetida ao plenário. Gilmar ressaltou que a lei determina caber ao juiz a homologação, mas que, em caso de tribunais colegiados, isso deveria ser submetido aos demais ministros.

Ao menos quatro ministros do Supremo defendem que pontos específicos das delações premiadas dos donos da JBS sejam revistos pelo plenário da corte. Além de Gilmar Mendes, o próprio relator da Lava-Jato, ministro Edson Fachin, estaria cogitando essa possibilidade. A delação dos donos da JBS tem provocado polêmicas, porque eles conseguiram direito a imunidade e autorização para morar nos Estados Unidos. Houve ainda questionamento sobre o valor da multa aplicada. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, escreveu artigos defendendo o teor do acordo celebrado. Ontem, Gilmar disse que, se quiser, o relator da Lava-Jato pode levar o caso ao plenário, na forma de questão de ordem.

PSDB e DEM condenam tentativa de adiar TSE

Partidos acham que protelar julgamento da chapa é prejudicial

Júnia Gama | O Globo

-BRASÍLIA- Parlamentares do PSDB e do DEM — dois dos principais partidos de sustentação da base do presidente Michel Temer — reagiram de forma negativa à tentativa do governo de protelar o julgamento de cassação da chapa presidencial no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), previsto para começar no dia 6 de junho. Os partidos desejam uma solução rápida para a crise política em que mergulhou o país desde que foi divulgada a delação da JBS, que tornou Temer alvo de investigação no Supremo Tribunal Federal (STF).

O presidente do DEM, senador José Agripino (RN), afirmou que a protelação não interessa ao país, e destacou que o fato de o Congresso ter funcionado esta semana, com a aprovação de diversas Medidas Provisórias e outros projetos, não significa um gesto dos partidos da base de sustentação em relação ao governo.

Maia: DEM não vai decidir agora sobre governo

Ao programa ‘Moreno no Rádio’, ele desconversa sobre Presidência

- O Globo

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), sinalizou ontem, em entrevista ao programa “Moreno no Rádio”, da CBN, que o DEM não pretende deixar o governo do presidente Michel Temer. Maia disse que, ao ouvir especulações de que o partido poderia sair da base governista, ligou para o presidente da legenda, senador José Agripino (DEMRN), que negou, segundo Maia, a articulação.

— O DEM não vai tomar nenhuma atitude precipitada. Tenho certeza de que a maioria (do partido) vai na linha do que penso. Qualquer movimento que desestabilize o país para a aprovação das reformas é muito ruim — afirmou Rodrigo Maia.

Alckmin lança Tasso por apoio em 2018

Acordo prevê que senador não dispute reeleição caso assuma ‘mandato-tampão’

Pedro Venceslau, Adriana Ferraz e Daniel Weterman, O Estado de S.Paulo

O governador Geraldo Alckmin “lançou” na sexta-feira, 26, publicamente, os nomes do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do senador Tasso Jereissati (CE), presidente interino do PSDB, como candidatos à Presidência em uma eventual eleição indireta.

A declaração foi feita um dia depois de o tucano se reunir por mais de três horas com FHC, Jereissati e o prefeito da São Paulo, João Doria, no apartamento do ex-presidente. Em um gesto de deferência a Alckmin, o senador cearense viajou até São Paulo para sondá-lo sobre a permanência do partido no governo Michel Temer e traçar cenários em caso de renúncia ou cassação do peemedebista pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

O governador paulista também tratou de dissipar os rumores de que ele próprio poderia ser candidato ao mandato “tampão”. “Quero antecipar que nesta hipótese (de renúncia de Temer) eu não sou candidato a nenhuma eleição indireta e os dois grandes nomes são o (ex-)presidente Fernando Henrique (Cardoso) e o Tasso Jereissati”, afirmou.

Aliados reagem a articulação de tucanos para caso de queda de Temer

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O avanço da articulação liderada pelo PSDB para preparar cenários em caso de queda de Michel Temer gerou reação no PMDB, DEM e PSD, principais sustentáculos do governo e que também avaliam os cenários de substituição do presidente.

O estopim da revolta foi a reunião entre o presidente interino tucano, senador Tasso Jereissati (CE), o governador Geraldo Alckmin (SP) e o prefeito paulistano, João Doria, no apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em São Paulo.

Segundo um líder do PSD, o encontro na quinta (25) soou como uma "reunião de notáveis para ditar regras", e o partido queixou-se com FHC.

Para piorar, Alckmin declarou na manhã desta sexta (26) que "os grandes nomes" do PSDB para um pleito indireto são Tasso e FHC. Com isso, avalizou publicamente o nome de Tasso, que no acerto tucano não seria candidato à reeleição caso vencesse a disputa indireta, abrindo caminho para Alckmin ou mesmo Doria como presidenciável em 2018.

Presidente do Senado quer duas votações em caso de eleição indireta

Talita Fernandes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), defende nos bastidores que a Casa tenha peso igual ao da Câmara no caso de eleições indiretas numa eventual saída do presidente Michel Temer.

Pela Constituição, se Temer deixar o cargo por renúncia ou cassação, caberá ao Congresso escolher o seu substituto. Além de um artigo constitucional pouco específico, o país conta com uma legislação desatualizada, de 1964, que fala apenas em escolha do presidente por "maioria dos congressistas".

Para evitar a possibilidade de que os votos de senadores tenham peso inferior ao dos deputados, Eunício delegou a técnicos do Senado a definição de regra que preveja votações separadas, dando equivalência às duas Casas.

Congresso negocia acordão para 'anistiar' parte do mundo político

Acordão para manter Lula e Temer longe de Moro nasce em Brasília

Ideia é de utilizar uma eventual eleição presidencial indireta para “anistiar” parte do mundo político e colocar o Congresso como contraponto à Lava Jato e ao Ministério Público

Alberto Bombig | O Estado de S. Paulo

Estão em curso em Brasília as tratativas de um acordão que visa a utilizar uma eventual eleição presidencial indireta para “anistiar” parte do mundo político e colocar o Congresso como contraponto à Lava Jato e ao Ministério Público Federal. Os cérebros da trama atuam, sobretudo, no Senado Federal. Na ponta final da maquinação está o compromisso de alterar a Constituição para garantir foro privilegiado a ex-presidentes da República, o que beneficiaria diretamente Lula, Sarney, Collor, Dilma e, eventualmente, Michel Temer, todos alvo de investigações.

O grupo suprapartidário de senadores entende hoje que uma eventual eleição indireta para a Presidência deve seguir o modelo bicameral: aprovação de um candidato pela Câmara a ser referendada posteriormente pelos senadores.

Na prática, isso significaria um peso maior para o voto dos 81 senadores sobre o dos 513 deputados, o que diminuiria drasticamente as chances de Rodrigo Maia (DEM-RJ), atual presidente da Câmara, ser eleito para o Planalto. Ciente desse movimento, os apoiadores de Maia sondaram o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), para ser o vice do deputado.

A falácia das ‘diretas já’ – Editorial | O Estado de S. Paulo

Os defensores da antecipação da eleição direta para presidente querem fazer acreditar que somente assim teremos um governo com legitimidade e, portanto, capaz de tirar o País da crise. Essa concepção do voto direto como panaceia dos problemas nacionais se presta a vários propósitos, a maioria inconfessáveis, e nenhum deles efetivamente democrático. Quem apregoa a eleição direta para presidente agora, de afogadilho, ou defende interesses turvos ou é apenas oportunista.

Em primeiro lugar, basta observar quais partidos lideram o esforço para colocar o tema na pauta do Congresso. São em sua maioria siglas que desde sempre se dedicam a questionar a legitimidade e a sabotar qualquer governo democraticamente eleito que não seja integrado por um dos seus. Os notórios PT, PSOL, Rede e PCdoB, entre outros, informaram que vão se reunir na semana que vem para discutir a formação de uma “frente nacional” para defender a antecipação da eleição presidencial direta. A memória nacional está repleta de exemplos de como os petistas e seus filhotes mais radicais jamais aceitaram o resultado das eleições presidenciais que perderam, e provavelmente continuarão a não aceitar caso o vencedor do próximo pleito não seja Lula da Silva ou alguém da patota.

Hora de decidir – Editorial | Folha de S. Paulo

A deterioração política vivida pelo governo Michel Temer (PMDB) ameaça reproduzir, em parte, um roteiro já percorrido em ocasiões anteriores. A cada nova tentativa de sobreviver a crises do gênero, seus personagens parecem contribuir para agravá-las.

Contando ainda com apoio parlamentar, embora condicional e precário, o presidente da República resistiu ao primeiro impacto da delação premiada de Joesley Batista e conseguiu, bem ou mal, conduzir a aprovação de uma série de medidas provisórias no Congresso.

Sustenta, assim, a aposta na continuidade de sua política de reformas —ou, pelo menos, na possibilidade de que o Legislativo não se paralise completamente em função dos debates sobre uma eventual troca no Planalto.

A culpa do ‘sistema’ – Editorial | O Estado de S. Paulo

Convidado a comentar a recentes denúncias envolvendo o presidente Michel Temer e o senador tucano Aécio Neves, o procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, lamentou que, três anos depois do início da operação anticorrupção, “nós vemos que tudo parece igual”. Para Dallagnol, portanto, não há diferença significativa entre o período que vai da revelação do descomunal esquema de corrupção que assaltou a Petrobrás até a instauração da suspeita de que o presidente Temer e o senador Aécio, entre outros políticos, teriam se envolvido com um empresário corrupto.

Dallagnol, em sua reiterada imprudência, infelizmente comum a alguns de seus pares, dá tratamento isonômico a todos os políticos citados nas delações premiadas. Para ele, são todos corruptos, e na mesma medida. Os políticos que receberam doações eleitorais qualificadas pelos delatores como “propina” são colocados no mesmo nível dos meliantes que elaboraram um plano de assalto bilionário aos cofres da Petrobrás e de outras estatais e entidades públicas durante os governos lulopetistas.

Supremo pode prejudicar combate à corrupção – Editorial | O Globo

Além dos riscos no Congresso, a Lava-Jato e outras operações do tipo passam a enfrentar o perigo da revisão pela Corte de decisão sobre cumprimento de pena

Enquanto o cenário político é tomado pela crise em torno do presidente Michel Temer, desfechada pela delação de Joesley Batista, do JBS, ressurgem ameaças à Lava-Jato, e a qualquer outra operação contra a corrupção. Não são assuntos desconexos — as ameaças e Temer —, porque o novo ataque ao trabalho da força-tarefa de Curitiba pode tirar força do Ministério Público e da Justiça para que levem denunciados a fechar acordos de delação —, sem os quais não se saberia hoje a que ponto chegou a associação de partidos políticos e empresários para desviar dinheiro público de estatais.

O novo risco vem da defesa feita pelo ministro do Supremo Gilmar Mendes para que a Corte reexamine decisão reafirmada em outubro do ano passado, segundo a qual sentença confirmada em segunda instância pode começar a ser cumprida, enquanto recorre-se a instâncias superiores. Este voto vencedor — por seis a cinco — teve efeito vinculante, ou seja, precisa ser seguido por todos os tribunais.

Crises que se cruzam |*Marco Aurélio Nogueira

- O Estado de S.Paulo

Falta um pacto político do qual se possa partir para um compartilhado projeto de sociedade

A crise que afetou o governo Temer não é um fato isolado, animado exclusivamente por fatores internos. Ela existe como coisa em si, mas suas raízes são profundas, grudam em terrenos escorregadios e de difícil acesso.

Grosso modo, entrelaçam-se nela três outras crises mais amplas e determinantes.

Uma é a crise estrutural da modernidade capitalista, que tem revirado as sociedades do nosso tempo, alterando sua estratificação, os relacionamentos entre grupos, classes e pessoas, o modo de produção e o trabalho. A experiência associativa dos humanos do século 19 se alterou drasticamente. Mudou a estrutura das sociedades, assim como suas superestruturas políticas e jurídicas. As distintas “famílias” políticas e ideológicas perderam força e identidade e passaram a incidir com menos potência sobre a organização das decisões. As correntes de esquerda sofrem de maneira particular os efeitos desse processo, como se pode ver em diversos países.

Tal desestruturação, por si só, faz que os pactos não consigam ser repostos, aumentando a exasperação, o desentendimento, os conflitos, as polarizações.

Rejuvenescer a juventude | Cristovam Buarque

- O Globo

Política precisa substituir seus agentes atuais por jovens políticos

Há momentos em que as ideias precisam de pleonasmos que as expliquem melhor, tal como precisamos rejuvenescer a juventude. Nossa geração atual de políticos fracassou. Apesar de tirar o Brasil da ditadura, estancar a inflação, fazer a economia crescer, avançar na liberação de costumes, criar programas assistenciais, aumentar o número de universitários, apesar de tudo isto, nós caímos na corrupção, não criamos coesão nacional, nem definimos rumo para a evolução nas próximas décadas. Com isso, provocamos um sentimento de desconfiança em relação aos políticos, à política e aos partidos.

Nestas condições, a crise econômica caminha para uma forma de desagregação social visível na violência generalizada, no descrédito político, na permanência da pobreza e da concentração de renda, na descrença dos jovens, na baixa produtividade e na falta de invenção na economia.

Boas-vindas a Nelson Barbosa | Claudio De Oliveira

A partir de hoje, o ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, o economista Nelson Barbosa, passa a escrever quinzenalmente na Folha.

Ao meu ver, sua coluna de estreia, de título "Solução para crise exige debate equilibrado de questões impopulares", é de leitura obrigatória para todos, em especial para militantes do PT e do PSDB.

O texto é alvissareiro, pois promete fazer a discussão econômica muito acima do perigoso Fla-Flu entre os dois dos maiores partidos do Brasil, situados ambos entre o centro e a esquerda.

Sem mudanças no BNDES | Merval Pereira

- O Globo

Se a saída de Maria Silvia Bastos da presidência do BNDES abriu espaço para o governo Temer se reconciliar com o empresariado, que tinha muitas reclamações da antiga gestão, a escolha do economista Paulo Rabello de Castro para substituí-la não indica que uma mudança de rumo será feita.

Maria Silvia fez o que tinha que ser feito em um primeiro momento para equilibrar as contas do banco, e quem a critica não está lembrando da catástrofe que foi o governo Dilma Rousseff, avalia o novo presidente do BNDES.

É preciso lembrar também que Paulo Rabello foi o criador e presidente da primeira empresa brasileira de classificação de risco de crédito, a SR Rating, e nunca deu o investment grade ao Brasil, mais rigoroso, portanto, que suas congêneres internacionais. Ou mais conhecedor de nossas mazelas.

O incerto futuro | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

Os partidos que formam o governo têm o compromisso de não agravar a crise

O presidente Michel Temer pode dizer quantas vezes quiser que não renunciará, pode orientar sua defesa a empurrar para não se sabe quando a decisão do TSE que decidirá o destino da chapa Dilma-Temer, pode gravar quantas mensagens com elogios ao Congresso que puder e para dizer à sociedade que está tudo bem. Não está. Ele precisa conversar com quem possa, de fato, lhe dar um panorama exato do que está acontecendo. Ouvir somente os amigos pode ser bom para o ego, mas é ilusório. Amigos nem sempre falam a verdade.

Para não dizer que existe uma unanimidade acreditando que o presidente cairá logo, vamos dizer que nove entre dez atores políticos acham que a situação do presidente é insustentável e que a solução é apenas uma questão de tempo e de forma. Ainda mais agora, quando se fala que o deputado afastado Rodrigues Rocha Loures (PMDB-PR) caminha para uma delação premiada. Rocha Loures é assessor pessoal de Temer desde o primeiro governo de Dilma Rousseff. Não é apenas um afilhado de alguém que ganhou um cargo porque um padrinho importante pediu e o presidente, não tendo como negar, deu-lhe o emprego.

Para que o crime não compense | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Sabe criança quando ganha um brinquedo novo e faz questão de usá-lo em todas as ocasiões, incluindo aquelas em que fazê-lo é inadequado? Pois é, minha sensação é a de que os procuradores estão agindo da mesma forma com as delações premiadas.

A introdução desse instituto foi fundamental para a desarticulação dos esquemas de corrupção enquistados no poder. Ao permitir que integrantes das quadrilhas negociem uma redução de pena em troca de informações e provas sobre atividades ilícitas, a legislação põe a matemática, mais especificamente a teoria dos jogos, a serviço do combate ao crime.

Fogo cruzado | Míriam Leitão

- O Globo

Maria Silvia viveu este último ano entre vários fogos. Grande parte dos funcionários resistia às mudanças que ela tentava implantar no BNDES. Empresários diziam que o banco emperrava o crédito e isso dificultava a recuperação econômica. Moreira Franco dentro do Palácio repetia esses empresários. É isso que o governo acha que resolverá com o novo presidente. Foi então que a Lava-Jato se aproximou do banco.

O novo presidente, pelo perfil que tem, tentará se aproximar dos empresários e estimular o crédito. Dependendo de como fizer, será uma volta ao passado, mas não resolverá o problema da crise de confiança que leva ao subinvestimento. O grande problema continua sendo o que ronda o BNDES.

Meirelles no pós-Temer | Adriana Fernandes

- O Estado de S.Paulo

A maior incerteza agora são as taxas de crescimento do Produto Interno Bruto

Os caciques políticos que articulam a transição já falam reservadamente numa espécie de condição para a permanência do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, no comando da equipe econômica num eventual governo pós-Temer: que o nome do goiano não esteja na lista das eleições de 2018.

Para aqueles articuladores que preferem manter a equipe do jeito que está, um compromisso de Meirelles de que não concorrerá à Presidência da República no ano que vem poderia afastar dele a ciumeira dos políticos. E, sobretudo, os torpedos que já começaram a ser lançados na sua direção nesse momento de indefinição em que a economia está refém da política.

Sem um varão de Plutarco | Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

A falta de um nome que aglutine as forças políticas que hoje discutem o pós-Temer tem garantido a sobrevida que o peemedebista julga ter para retomar sua agenda reformista no Congresso.

Não temos um varão de Plutarco. A diagnose é acurada e causa surpresa por vir de forma tão aberta de onde menos se poderia esperar. Ao "Valor", o ministro Moreira Franco (Secretaria-Geral) descartou a renúncia presidencial e demonstrou zanga com as articulações em curso por eleições indiretas sob o beneplácito de aliados de primeira hora.

O lado bom que restou | Suely Caldas

- O Estado de S.Paulo

Meirelles, Goldfajn &cia. têm conseguido manter-se distantes da crise política, tocando o dia a dia

A economia sofreu efeitos (até leves, para o tamanho da confusão) no câmbio, na Bovespa e nas intenções de investimento, que mal engatinhavam. Mas o programa econômico do governo Temer foi preservado, seguiu em paralelo, não se misturou à enxurrada de denúncias e delações de crimes, propinas, corrupção, contas na Suíça, profusão de bandalheiras com o dinheiro público que tem perigosamente agravado a descrença e o divórcio entre a população e seus dirigentes políticos.

Politicamente fragilizado, o presidente Temer se agarra ao programa e às reformas nele contidas – o legado sadio de seu governo – para tentar sobreviver. Se ele cair, seu substituto, se juízo e responsabilidade tiver, certamente levará adiante esse programa.

A Escultura Folheada | Joaquim Cardozo

Aqui está um livro
Um livro de gravuras coloridas;
Há um ponto-furo. um simples ponto
simples furo
E nada mais.

Abro a capa do livro e
Vejo por trás da mesma que o furo continua;
Folheio as páginas, uma a uma.
- Vou passando as folhas, devagar,
o furo continua

Noto que, de repente, o furo vai se alargando
Se abrindo, florindo, emprenhando,
Compondo um volume vazio, irregular, interior e conexo:
Superpostas aberturas recortadas nas folhas do livro,
Têm a forma rara de uma escultura vazia e fechada,
Uma variedade, uma escultura guardada dentro de um livro,
Escultura de nada: ou antes, de um pseudo-não;
Fechada, escondida, para todos os que não quiserem
Folhear o livro.

Mas, prossigo desfolhando:
Agora a forma vai de novo se estreitando
Se afunilando, se reduzindo, desaparecendo/surgindo
E na capa do outro lado se tornando
novamente
Um ponto-furo, um simples ponto
simples furo
E nada mais.

Os seres que a construíram, simples formigas aladas,
Evoluíam sob o sol de uma lâmpada
Onde perderam as asas. Caíram.
As linhas de vôo, incertas e belas, aluíram;
Mas essas linhas volantes, a princípio, foram
se reproduzindo nas folhas do livro, compondo desenhos
De fazer inveja aos mais “ sábios artistas”.
Circunvagueando, indecisas nas primeiras páginas,
À procura da forma formante e formada.
Seus vôos transcritos, “refletidos” nessas primeiras linhas,
Enfim se aprofundam, se avolumam no vazio
De uma escultura escondida, no escuro do interno;
Somente visível, “de fora”, por dois pontos;
Dois pontos furos: simples pontos
simples furos
E nada mais.

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(Joaquim Cardozo Recife, 26 de agosto de 1897 - Olinda, 4 de novembro de 1978)