domingo, 11 de junho de 2017

Opinião do dia – O Estado de S. Paulo


“Por fim, mas não menos importante, toda essa balbúrdia ocorre porque a luta contra a corrupção dos políticos se tornou um imperativo, a partir do qual nenhum político pode ser considerado inocente até que prove o contrário. A julgar pela opinião desairosa do procurador Carlos Fernando e de muitos outros a respeito do comportamento do TSE no caso da chapa Dilma-Temer, não há mais necessidade de juiz ou de tribunal para condenar aqueles que os fundamentalistas já consideram culpados. Se, conforme escreveu o procurador, “a corrupção é multipartidária e institucionalizada” e “é a maneira pela qual se faz política no Brasil desde sempre”, por que perder tempo com julgamentos?”


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Editorial, “Para que juízes?”, O Estado de S. Paulo, 10/6/2017

Temer pode ignorar lista da sucessão de Janot na PGR

Temer avalia ignorar lista tríplice na sucessão de Janot

No momento em que Planalto e Procuradoria-Geral da República estão em rota de colisão, presidente pode romper tradição na escolha do novo chefe do Ministério Público Federal

Tânia Monteiro, Beatriz Bulla e Fabio Serapião, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O presidente Michel Temer vai analisar outras opções, além da lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), para a escolha do sucessor de Rodrigo Janot no comando da Procuradoria-Geral da República. Caso isso aconteça, o presidente vai romper com uma tradição (ele não é obrigado pela lei a aceitar a indicação da associação) de indicar o nome mais votado pelos procuradores entre três apresentados pela entidade.

A disputa pela cadeira de procurador-geral ganhou atenção especial desde que Ministério Público Federal e Palácio do Planalto entraram em rota de colisão. O novo chefe do MPF assumirá em setembro, quando vence o mandato de Janot.

Temer é alvo de inquérito criminal no Supremo Tribunal Federal (STF) aberto com base na delação premiadas dos acionistas e executivos do grupo J&F – holding que inclui a JBS. O presidente, investigado pelos crimes de corrupção passiva, obstrução de Justiça e participação em organização criminosa, poderá ser denunciado nos próximos dias pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Um procurador atrás de um troféu

Rodrigo Janot perde o controle do próprio ego e age para deixar o cargo em setembro debaixo de louros. Seu principal objetivo é atingir adversários do PT, mas as investidas do procurador-geral podem colocar em risco a própria Lava Jato

IstoÉ

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pródigo desde sempre em ostentar a imagem de moralizador do País, caminha para concluir seu mandato, daqui a três meses, sem as rédeas do próprio ego. Os motivos até poderiam ser nobres, mas nem de longe são razões grandiosas que movem o procurador-geral. Vaidoso, Janot sempre foi um homem de cultivar grandes ambições pessoais. Dono de uma munição pesada, não raro certeira, como a detém qualquer um que ocupe a cadeira hoje reservada a ele, o procurador-geral acalenta um desejo: deixar o comando da PGR debaixo de louros. Por isso, nas últimas semanas, Janot se lançou na missão obstinada de implicar parlamentares opositores ao petismo, entre os quais o próprio presidente da República, Michel Temer. Nesta semana, o chefe do Ministério Público Federal dará mais um passo nessa direção: é pule de dez nos meios político e jurídico que ele denunciará Temer por organização criminosa, obstrução de justiça e corrupção. Com isso, a espada de Dâmocles penderá sobre a cabeça do presidente da República. Com a autorização de dois terços da Câmara, Temer pode ser afastado por 180 dias, até o julgamento final pelo STF.

Linha tênue
Consumado o desenlace, para Janot será como ter erguido um troféu. Afinal, ele terá encontrado uma maneira de justificar o esdrúxulo acordo de delação premiada firmado com os donos da JBS, criticado até por subprocuradores subordinados a ele. Não que figuras públicas, o presidente da República incluído, não tenham de ser investigadas ou, se houver provas robustas, denunciadas. Temer, por exemplo, manteve conversas no mínimo constrangedoras dentro do Planalto e ainda deve ao Brasil esclarecimentos a uma série de questões ainda obscuras. Na condição de mandatário do País, não pode estar imune ao escrutínio de órgãos de fiscalização. Pelo contrário. Mas a caçada a autoridades públicas, quem quer que sejam elas, independentemente de coloração partidária ou linha ideológica, não deve ser atividade precípua de um procurador-geral. Quando isso ocorre, a Justiça fica situada na perigosa fronteira entre o Estado de Direito e o Estado de Exceção.

Câmara entre o presidente e Janot

Além da matemática, o governo começa a trabalhar com aliados a ideia de que, se nem o presidente está a salvo da Lava Jato, muito menos os deputados estarão

Caio Junqueira, O Estado de S.Paulo

O presidente Michel Temer consegue se equilibrar até agora com vitórias nos dois delicados eixos que ameaçam seu mandato, o político e jurídico. No primeiro, o avanço da reforma trabalhista no Senado e a timidez da base, em especial do principal aliado, o PSDB, em defender sua saída, são fatores que o ajudam a se sustentar no cargo. No jurídico, o resultado do TSE é um triunfo, tendo em vista as sinalizações de que um resultado negativo deflagraria uma debandada na base.

Mas será na votação na Câmara da aceitação ou não da iminente denúncia do Ministério Público contra Temer que esses eixos se fundirão. Hoje, há mais elementos para prever a rejeição da denúncia do que o aval. São necessários 342 votos para aceitar a denúncia e, portanto, Temer precisa de 172 votos para derrubá-la. Sua base hoje é bem menor do que a que ele tinha quando assumiu, em maio de 2016. Mas só o partido do presidente, o PMDB, com 64 deputados, tem quase a metade dos votos que Temer precisa para derrubar a denúncia. Como a oposição tem 99 deputados certos, faltaria angariar mais 108 votos dentre 414 possíveis, tarefa relativamente fácil para um governo que tem como característica o viés congressual.

Em festa, Temer afirma ter os votos na Câmara

No aniversário de Rodrigo Maia, após julgamento no TSE, presidente disse estar confiante de que terá o apoio necessário para barrar possível denúncia do Ministério Público

Igor Gadelha, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em jantar de aniversário do presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), o presidente Michel Temer disse a políticos presentes que sua absolvição no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) foi uma “bela vitória” e que está confiante de que terá os 172 votos mínimos necessários na Câmara para barrar eventual denúncia contra ele apresentada pela Procuradoria-Geral da República.

'Se o PSDB vai ter ministro ou não, é secundário', diz Alckmin

Segundo o governador, o mais importante é o PSDB apoiar as reformas que estão no Congresso

Gustavo Porto, O Estado de S.Paulo

RIBEIRÃO PRETO - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), avaliou neste sábado, 10, que é "secundário" para o partido ter ou não ter ministro no governo do presidente Michel Temer (PMDB). Segundo o governador, o mais importante é o PSDB apoiar as reformas que estão no Congresso, e que tratarão, na opinião dele, da retomada do crescimento econômico e empregos.

"O importante é a decisão do PSDB de apoiar todas as medidas e as reformas. Se vai ter ministro, se não vai ter ministro, é secundário. O importante é o compromisso do PSDB com o Brasil e nós não precisamos ter ministro ou não ter ministro para isso", disse. "Decisão mais relevante é que o partido apoiará as reformas e ajudar o Brasil a retomar o emprego", afirmou Alckmin que participou de evento em Ribeirão Preto (SP) no começo da tarde de hoje.

Às portas de completar 30 anos, PSDB vive crise de identidade

Sigla avalia que, se sair do governo, será tratada como traidora; se continuar perde popularidade

Cúpula do PSDB quer retirar possibilidade de partido tomar decisão em reunião da próxima segunda-feira(12)

Igor Gielow, Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O dilema sobre continuar ou não apoiando o governo Michel Temer jogou o PSDB na maior crise de sua história, um ano antes de a sigla completar 30 anos.

Se construiu sua reputação de partido de políticos em cima do muro, o PSDB agora se vê no meio de uma luta existencial que passa pela decisão de ficar ou não ao lado do peemedebista.

A Folha ouviu caciques e índios da tribo tucana, e o único consenso é de que em qualquer cenário o partido perde credibilidade e coesão. A absolvição da chapa que elegeu Temer pelo TSE retirou a solução indolor com que o PSDB havia trabalhado.

Se sair, a agremiação ganhará a pecha de traidora, já que apoia Temer desde sua posse interina em 2016.

Jucá pede união dos partidos da base aliada para aprovar reformas

Senador defendeu a simplificação tributária e melhora na concessão de crédito e condições para investimento

Igor Gadelha, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em meio ao risco de desembarque do PSDB do governo, o presidente nacional do PMDB, senador Romero Jucá (RR), pediu neste sábado "união" dos partidos da base aliada para que o presidente Michel Temer possa fazer as mudanças que Brasil precisa. Em vídeo publicado em sua conta pessoal no Twitter, ele comemorou a absolvição de Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e disse que, a partir de agora, é preciso trabalhar pelas reformas, sobretudo, a política.

Mala com propina será base de denúncia contra Temer

Janot vai ligar influência do presidente aos R$ 500 mil entregues pela JBS a Rocha Loures

Janot vai ligar Temer a mala de R$ 500 mil entregue a Loures

Reynaldo Turollo Jr., Leandro Colon, Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Na denúncia que prepara contra Michel Temer, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, vai ligar o presidente ao recebimento da mala com R$ 500 mil pelo ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), preso desde o último dia 3.

No entendimento de investigadores, segundo a Folha apurou, o conjunto de provas reunidas sobre a propina acertada com a JBS só faz sentido se forem considerados a influência e o poder de Temer.

A denúncia, que deve ser protocolada até a próxima semana no STF (Supremo Tribunal Federal), juntará os pontos que envolvem o presidente nos episódios.

Na avaliação de investigadores, não é preciso comprovar que Temer recebeu o dinheiro da mala, mas que teve atuação na operação para o seu recebimento por Loures.

Denúncia contra Temer incluirá relato de Funaro

Operador prestou depoimento à PF

Procurador-geral da República, Janot vai apresentar peça ao STF com acusações ao presidente no inquérito sobre corrupção e obstrução de Justiça

A denúncia contra o presidente Temer, que responde a inquérito no STF por corrupção passiva, organização criminosa e obstrução de Justiça, deve ser reforçada pelo depoimento do doleiro Lúcio Funaro, homem de confiança de Eduardo Cunha e preso pela Lava-Jato. À PF, o operador contou que Geddel Vieira Lima procurou sua mulher para descobrir a real intenção de fazer delação premiada.

A crise depois do TSE

Temer escapa da cassação, mas segue emparedado por investigações da Lava-Jato

- O Globo

Disposto a chegar a dezembro de 2018 à frente do governo federal, o presidente Michel Temer desarmou a bomba da cassação de seu mandato no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, agora, ainda em campo minado, terá que atuar em várias frentes para tentar escapar das crises de cada dia. São muitas. O primeiro desafio será reagrupar a base aliada para garantir um núcleo de apoio que impeça a continuidade da denúncia criminal que a Procuradoria-Geral da República deve fazer contra ele em até 10 dias.

Congresso só vota reforma da Previdência após denúncia

Base aliada quer acelerar votação de denúncia para retomar Previdência

Estratégia montada entre o Planalto e deputados governistas é rejeitar da forma mais rápida possível a denúncia contra o presidente Temer que será apresentada por Rodrigo Janot, para só depois retomar as discussões sobre a reforma previdenciária

Igor Gadelha, Renan Truffi e Tânia Monteiro, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - O Palácio do Planalto articula com partidos da base aliada uma tramitação rápida da denúncia que deve ser apresentada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra o presidente Michel Temer. A expectativa é de que, vencido o obstáculo para a permanência do presidente no cargo, os deputados possam retomar as discussões sobre a reforma da Previdência, mesmo que seja um texto mais enxuto que o aprovado na comissão especial, em maio.

A avaliação de aliados do governo é de que, se a denúncia demorar a ser votada, o presidente ficará “sangrando” por mais tempo. Temer responde a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) com base na delação do empresário Joesley Batista, dono da JBS. A demora também pode aumentar o risco de surgirem fatos novos ou delações envolvendo o presidente, dando margem para a oposição conquistar mais votos. Para ser aprovada em plenário, a denúncia precisa do apoio de 2/3 dos deputados, ou 342 votos. A base aliada considera improvável ter menos de 172 votos para barrar a aprovação da acusação.

Governo tenta manter agenda de reformas para ter apoio do mercado e sobreviver à turbulência

Previdência, porém, só deve voltar à pauta no segundo semestre e já se fala em flexibilizações

Fernanda Krakovics, Júnia Gama e Maria Lima, O Globo

BRASÍLIA - Apesar da absolvição do presidente Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a expectativa no Congresso é de que a crise política, econômica e institucional se agrave. Para tentar atravessar esse cenário de instabilidade, além de se empenhar para barrar a autorização, pela Câmara, de eventual pedido de abertura de processo contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF), Temer aposta na aprovação das reformas da Previdência e trabalhista. Sem apoio popular, o peemedebista tenta se sustentar em dois pilares: base congressual e mercado financeiro.

— A meta é manter a agenda de reformas na Câmara e no Senado. O governo tem base para tanto — diz o chefe da Casa Civil, ministro Eliseu Padilha.

A Executiva do PSDB marcou para amanhã uma reunião para definir se desembarca do governo. Os tucanos que defendem o rompimento ressaltam que o partido continuaria apoiando as pautas “de interesse do país” no Congresso. Mesmo assim, integrantes da base aliada afirmam que a saída do PSDB, principal aliado do Planalto, seria péssima, porque representaria o enfraquecimento da coalizão governista.

Diálogos não impossíveis? | Pedro S. Malan*

- O Estado de S.Paulo

Estamos em meio a um espesso nevoeiro com incertezas de todo tipo

Dez anos antes do início da Operação Lava Jato e um ano antes da primeira denúncia sobre o chamado “mensalão”, um arguto analista da cena brasileira assim escreveu: “Da Colônia à República, é com o governo que quase sempre foram feitos os melhores negócios. Não é de hoje que boa parte da elite vem sendo formada na crença de que o segredo da prosperidade é estabelecer sólidas relações com o Estado. Vender para o Estado, comprar do Estado, financiar o Estado, ser financiado pelo Estado, apropriar-se de patrimônio do Estado, receber doações do Estado, transferir passivos para o Estado, repassar riscos para o Estado e conseguir favores do Estado” (Rogério Werneck, Balcão de negócios, Estado, 7/5/2004).

Crise política, incerteza e o papel do presidente | Rolf Kuntz*

- O Estado de S.Paulo

O custo econômico pode ir muito além de um atraso no corte de juros e de seus efeitos

Incerteza tornou-se a palavra mais assustadora do vocabulário econômico brasileiro, mais do que recessão, inflação, desemprego ou estagflação. A tensão política aumentada nas últimas semanas, primeiro com a delação do empresário Joesley Batista, depois com o julgamento da chapa Dilma-Temer na Justiça Eleitoral, tornou mais arriscada qualquer aposta sobre o rumo da economia. Não se trata só de adivinhar quem estará no Ministério da Fazenda se houver mudança na Presidência, mas de saber se o novo chefe do Palácio do Planalto estará disposto a apoiar políticas sensatas e calibradas para instalar o Brasil, com segurança, no século 21. Apoiar é palavra-chave. A principal função de um presidente brasileiro, hoje, num governo bem orientado, é sustentar a execução de políticas sensatas e de longo alcance por ministros bem escolhidos.

Ansiedade nacional bruta | Fernando Gabeira

- O Globo

O que será de nós? É uma pergunta que ouço com frequência nas ruas, feiras e bares. Respondo com um discreto otimismo. Ninguém exige precisão na resposta, pois todos sabem quão nebuloso é o momento... Mas o que vejo na face e nos olhos das pessoas é ansiedade. Não tenho condições de estudar o assunto mais amplamente. Creio que outros o farão: qual o impacto psicológico de anos de notícias negativas na vida de um país?

A decomposição do sistema político eleitoral é uma novela longa e arrastada. Um roteirista de cinema já teria acabado com ela para não aborrecer os espectadores. Ainda que fosse uma série, do tipo “House of cards”, ele certamente estaria pensando em férias para escrever a nova temporada.

Um avanço democrático | Cacá Diegues

- O Globo

Escrevo antes de encerrado o julgamento no TSE. Não conheço e não me interesso muito pelo resultado, a não ser por curiosidade natural de quem acompanha o noticiário. Se Michel Temer cair fora, será substituído por Rodrigo Maia, que convocará o Congresso para a escolha do novo presidente. O Congresso escolherá certamente alguém parecido com um dos dois.

Apesar do fervor das Diretas Já, não haverá eleições diretas antes daquela prevista para outubro de 2018. É evidente que os que podem decidir antecipá-la não estão a fim disso. Mesmo que estivessem, não há tempo útil para aprovar uma reforma da Constituição e organizar eleições imediatas. Ia acabar uma eleição embolando na outra.

Sangue-frio | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV) tem revisto o cenário de crescimento para pior, apesar de não ter havido grandes revisões para o crescimento em 2017 em comparação a 2016.

Há um ano prevíamos crescimento de 0,5% em 2017, com aceleração contínua ao longo do ano. A economia fecharia o ano crescendo 0,8% no último trimestre, ou 3,2% considerando a taxa anualizada.

Hoje, prevemos crescimento de 0,2% em 2017, com expansão de 1% no primeiro trimestre (já conhecida e fruto de um choque positivo de oferta de produção agrícola), seguida pela estagnação da economia –respectivamente, crescimento de -0,4%, 0,1% e 0% nos segundo, terceiro e quarto trimestres.

Igualdade ou morte | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Queremos sociedades mais iguais, mas estamos dispostos a pagar qualquer preço por isso? Talvez não. O historiador Walter Scheidel (Stanford) decidiu olhar para o passado em busca daquilo que realmente faz com que a renda seja mais bem distribuída e concluiu que só grandes catástrofes sociais dão conta da missão –e mesmo assim apenas por tempo limitado.

O resultado de suas pesquisas está em "The Great Leveler" (a grande niveladora). Ao longo de mais de 500 páginas, ele mostra com muita erudição histórica que a tendência geral das sociedades, desde a Idade da Pedra até hoje, é concentrar riqueza e que essa orientação só é revertida de forma um pouco mais perceptível em situações extremas das quais queremos manter total distância. Não é uma coincidência que o autor chame as forças niveladoras que identificou de quatro cavaleiros do apocalipse.

Para onde vamos? | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

Com o avanço da Operação Lava-Jato, Temer deslocou o eixo de sua atuação das reformas para a preservação do próprio mandato

Boa parte do que pensamos hoje sobre a relação entre economia e política é fruto de um grande debate ocorrido na Europa após a II Guerra Mundial, no qual alguns intelectuais analisaram profundamente as causas do colapso político e econômico do começo do século passado e a ascensão do fascismo. Esse debate proporcionou um período de grande estabilidade. Aqui no Brasil, porém, ocorreu o contrário: por causa da Guerra Fria, esse período foi marcado por crises sucessivas, que resultaram no golpe militar de 1964, ou seja, em 20 anos de ditadura. Quem são esses intelectuais e quais as suas ideias básicas?

Em primeiro lugar, os fundadores da Escola de Chicago, Ludwigh Von Mises e Friedrich Hayek, ambos austríacos, cuja defesa do liberalismo, ou seja, de uma sociedade aberta e livre, visava manter o Estado o mais longe possível da economia, para isolar os radicais de direita ou de esquerda e impedi-los de planejar, dirigir ou manipulá-la.

Temer, fera ferida | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

Mal sobreviveu ao TSE, o presidente entra em choque com o próprio Supremo

Além do general Sergio Etchegoyen, foi o próprio presidente Michel Temer quem ligou para a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, e desmentiu que tenha acionado a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) para fazer uma devassa na vida do relator da Lava Jato, ministro Edson Fachin. Mal vencia a batalha do TSE, por um voto, Temer já batalhava para se defender numa guerra muito mais inglória, contra o próprio Judiciário.

O clima do poder, ou dos Poderes, é exatamente esse: de guerra. Executivo, Judiciário e Legislativo estão se armando até os dentes, tendo no vértice a Procuradoria-Geral da República, onde o momento é de transição, com a sucessão do procurador-geral Rodrigo Janot em setembro e a disputa entre correntes e modos de operar e de ver as coisas, ou a vida.

Temer tem origem no Judiciário, passou décadas no Legislativo e chegou ao posto máximo do Executivo, mas é o alvo principal das pressões e contrapressões dos três Poderes. Acuado, reage como fera ferida, com um fator fora de controle: a espionagem e a guerra de versões. Afinal, Janot pediu mesmo para Fachin instalar escuta ambiente no gabinete presidencial? Ele nega. E Temer determinou ou não a devassa da Abin na vida de Fachin? Ele também nega.

Equilíbrio precário | Vera Magalhães

- O Estado de S. Paulo

Vencida a etapa TSE, fica Temer. E a estabilidade? Esta está longe de ser alcançada

Por mais que tenham tentado revestir de caráter técnico seus votos pela absolvição da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer no longo e tortuoso julgamento que se encerrou na sexta-feira, os quatro ministros do Tribunal Superior Eleitoral assim procederam por uma razão política: entenderam que a retirada do segundo presidente da República em pouco mais de um ano atentava contra a estabilidade do País.

A partir dessa convicção, o Direito é amplo o suficiente e os ministros suficientemente experientes para encontrar um arcabouço argumentativo, e assim o fizeram. Nesse aspecto, o voto do presidente da corte não foi jamais o último, ou de Minerva, mas o primeiro, ou voto-guia.

Poderes em guerra | Merval Pereira

- O Globo

Nas democracias mais maduras, um político mentir, sobretudo se ele é o presidente da República, é razão suficiente para perder as condições de exercer o cargo para o qual foi eleito. O presidente Michel Temer tem mentido tanto nos últimos dias que seus desmentidos perdem o valor de face.

O resultado do julgamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é um desses retrocessos, num sistema, o Judiciário, que parecia a base da resistência democrática, mesmo que, algumas vezes, possa ter dado passos em falso, logo prontamente corrigidos pelos mecanismos internos do colegiado.

Estamos agora diante de algo mais grave, com a denúncia de que o relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Luiz Edson Fachin, estaria sendo espionado pela Agência Brasileira de Informações (Abin). Considerada plausível no primeiro momento pela presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, a ponto de ter originado uma dura nota oficial mesmo depois de um telefonema do presidente Temer para negar a ação, essa denúncia é parte de uma guerra aberta contra a Operação Lava-Jato desferida pelo presidente Michel Temer e seus aliados no Congresso e no Judiciário, o mais destacado deles o ministro do Supremo e presidente do TSE, Gilmar Mendes.

O papel do BC | Míriam Leitão

- O Globo

O presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn, disse que o sistema financeiro é resiliente e robusto e informou que têm sido feitos testes de estresse, olhando a situação de hoje, para verificar a situação dos bancos. Ele acha que a economia brasileira tem todas as condições de passar bem pela crise política que o país vive. “O BC tem um papel a cumprir e vai seguir este caminho”, disse.

Ilan completou, na sexta-feira, um ano no cargo no meio de uma situação de total incerteza política. Tanto que essa palavra apareceu 17 vezes na última Ata do Copom, mas ele diz que a instituição está “serena”. Sobre a mudança do ritmo de corte da taxa de juros, admite outros cenários para a política monetária:

— A queda de um ponto ninguém pode dizer que é um ritmo fraco, é veloz em qualquer medida. Agora, a gente avalia se pode continuar na mesma velocidade. A nossa questão nunca é política, e sim econômica, olhando a inflação.

Desatando o nó (final) | Sérgio Besserman Vianna

- O Globo

A crise tem acelerado o tempo da história, e alguns dos grandes temas decantaram de súbito

Como refundar a República? Duas observações:

1 — Não é obrigatório que isso aconteça. Em política, o morto pode governar os vivos por muito tempo.

2 — Só há refundação se a população assim o reconhece, isto é, se a legitimidade da representação e do sistema político é recuperada.
A crise tem acelerado o tempo da história, e alguns dos grandes temas decantaram de súbito, tornando quase transparentes alguns dos caminhos que têm de ser percorridos para que uma República Nova possa ser criada e reconhecida como tal pela população.

Quando o remédio mata o doente – Editorial | O Estado de S. Paulo

Foi extremamente benfazejo o surgimento da Operação Lava Jato, desencadeando uma sequência de investigações que puseram a descoberto graves crimes praticados por políticos, empresários e funcionários públicos. Como logo foi reconhecido pela população, que lhe dá forte apoio, ela foi como lufada de ar fresco num ambiente profundamente poluído, abrindo uma larga estrada para acabar com a impunidade dos poderosos. Seus grandes e inegáveis méritos não devem, porém, comprometer o juízo crítico a que tudo tem de ser submetido permanentemente.

Aos frutos positivos que ela já deu e aos muitos que ainda pode dar, vieram se misturar modos de agir de agentes da lei que causam inquietação e se transformaram no maior perigo que a ameaça. É imperioso tirar de baixo do tapete toda a sujeira ali acumulada e que tanto mal faz ao País. Corrupção escondida é sinônimo de corrupção impune, e isso os brasileiros não aceitam mais. Mas é preciso atentar também para outro aspecto importante.

Após a vitória – Editorial | Folha de S. Paulo

Por um voto –o do presidente da corte, Gilmar Mendes–, o Tribunal Superior Eleitoral rejeitou, na sexta-feira (9), o pedido de impugnação da chapa vitoriosa no pleito presidencial de 2014, proporcionando ao presidente Michel Temer (PMDB) sensível alívio diante das pressões mais imediatas sobre sua situação política.

Não parece todavia encerrar-se, com essa decisão, uma crise de credibilidade e de sustentação que, de vários lados, ameaça obstruir a agenda de reformas econômicas intentada pelo chefe de governo.

Com efeito, desde a divulgação da conversa entre Temer e o dono da JBS, Joesley Batista, uma onda de suspeitas –algumas justificadas, outras nem tanto– vem se avolumando sobre a figura do presidente da República, sem perspectiva de arrefecimento a curto prazo.

Dois de seus aliados mais próximos, Rodrigo Rocha Loures e Henrique Eduardo Alves, viram-se presos num intervalo de poucos dias.

Epidemia de violência precisa ser combatida – Editorial | O Globo

Enfrentamento do problema, que assumiu dimensão nacional, exige cooperação do governo federal e ações integradas entre as diversas forças de segurança

A violência ultrapassou todos os limites — inclusive aqueles que separam as 27 unidades da Federação. Como mostrou uma série de reportagens do “Jornal da Globo”, o Brasil vive uma epidemia de violência. E, se antes a criminalidade estava concentrada nas áreas mais industrializadas, hoje ela se revela um problema nacional. Não só isso. Em 15 anos (de 2000 a 2015), as estatísticas viraram do avesso. O Sudeste, que detinha a maior taxa de homicídios do país, conseguiu reduzir seus índices (passou de 38 para 19 por cem mil habitantes), enquanto as Regiões Norte e Nordeste viram seus números dispararem (de 18 para 40, e de 21 para 42, respectivamente). Sergipe, estado apontado como o mais violento, registra 58,1 homicídios por cem mil habitantes, taxa que se assemelha à da Venezuela (57,6).

Conspirações | Geraldo Carneiro

alguma coisa se desprende do meu corpo
e voa
não cabe na moldura do meu céu.
sou náufrago no firmamento.
o vento da poesia me conduz além de mimo sol me acende
estrelas me suportam
Odisseu nos subúrbios da galáxia.
amor é o que me sabe e o que me sobra
outro castelo que naufraga
como tantos que a força do meu sonho
quis transformar em catedrais.
ilusões? ainda me restam duas dúzias.
conspirações de amor, talvez não mais.