domingo, 25 de junho de 2017

Opinião do dia – Karl Marx

"As inovações ultrapassavam todas as grandes civilizações do passado. Em nome do livre comércio, as fronteiras nacionais foram derrubadas, os preços caíram, o planeta tornou-se interdependente e cosmopolita. Bens e ideias agora circulavam em todos os lugares. Mas tinha um problema. A riqueza não era igualmente distribuída."

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Karl Marx (1818-1883), citação apareceu pela primeira vez no "Manifesto Comunista", um panfleto de 23 páginas, em Londres em 1848, e reapareceu em 1887 em "O, Capital", a monumental obra sobre a gênese do capitalismo.

Mercado de trabalho dá sinal de recuperação

Mesmo com 14 milhões de desempregados, salário inicial volta a subir

Alta chega a 3,82% em maio. Inflação baixa ajuda na oferta de vagas mais atraentes

Apesar da fila de 14 milhões de desempregados no país, o mercado de trabalho começa a dar sinal de recuperação. As empresas passaram a oferecer salários maiores no momento da contratação com carteira assinada. Após quedas consecutivas nos últimos dois anos, os salários de admissão voltaram a subir recentemente e avançaram 3,82% em maio, informa MARCELLO CORRÊA .Emmédia, ficaram em R$ 1.458,14. Para economistas, a inflação baixa ajuda o trabalhador a ter ganho real de renda e facilita a oferta de salários mais atraentes. Além disso, as contratações podem estar sendo puxadas por vagas de maior qualificação.

Alívio no mercado de trabalho

Salários de contratações com carteira assinada voltam a subir no país após dois anos de queda

Marcello Corrêa, O Globo

Apesar da fila de 14 milhões de desempregados no país, o mercado de trabalho começa a dar sinal de recuperação. Um deles é em relação à renda. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), as empresas brasileiras começaram a oferecer salários maiores no momento da contratação, considerando apenas as vagas com carteira assinada. Após quedas consecutivas registradas durante dois anos, os chamados salários de admissão passaram a subir nos últimos meses e fecharam o mês de maio em alta de 3,82%, em relação ao mesmo mês do ano passado, já descontada a inflação, alcançando R$ 1.458,14.

Brasil pode registrar este mês sua primeira deflação desde 2006

Estimativas são de queda de 0,07% no IPCA este mês, por conta de uma convergência de fatores como a grande safra agrícola e o recuo no preço dos combustíveis

Douglas Gavras, O Estado de S. Paulo

O Brasil pode registrar este mês sua primeira deflação em 11 anos. Analistas ouvidos pelo Banco Central no Boletim Focus projetam para junho uma queda de 0,07% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice oficial de inflação do País. O próprio BC prevê uma queda de 0,1% no indicador. Seria a primeira deflação mensal desde o -0,21% registrado em junho de 2006.

Com o País mergulhado em uma crise política e ainda com dificuldade para retomar o nível de atividade, depois de uma profunda recessão, a inflação em queda é talvez o dado mais positivo no cenário econômico. As estimativas são de que o IPCA feche o ano abaixo dos 4,0% (centro da meta perseguida pelo BC é de 4,5%). E inflação baixa é o principal combustível para a queda da taxa de juros no País – ainda uma das mais altas do mundo.

Meta menor inibe inflação, dizem analistas

Flavia Lima, Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Ainda que o Brasil esteja distante das distorções que marcaram o período de hiperinflação, a percepção de boa parte dos economistas é que os preços num período mais longo estacionaram em um nível alto se comparado a países semelhantes, e a redução da meta de inflação seria um poderoso remédio para corrigir o problema.

A expectativa de economistas é que a meta de inflação (IPCA), hoje em 4,5%, caia ao menos para 4,25%, aproveitando um ambiente inédito para reduzi-la. A inflação, dizem, sempre foi entregue muito próxima do teto, com exceções em 2006, 2007 e 2009.

A discussão sobre reduzir a meta voltou ao centro do debate econômico porque na quinta (29) o Conselho Monetário Nacional vai se reunir para decidir o número de 2019.

Ex-diretor de Política Econômica do BC e um dos maiores especialistas sobre o tema, o atual economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, diz que, na maioria dos países com regime de política monetária semelhante ao nosso, a meta de inflação fica entre 2% e 3% ao ano, inclusive na América Latina.

Operação dita embate de Barroso com Gilmar Mendes

Com bom trânsito entre colegas do STF, ministros protagonizam discussões sobre rumos da Lava Jato

Breno Pires, O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A discussão acalorada entre os ministros Gilmar Mendes e Luís Roberto Barroso no julgamento que tratou da homologação da delação da JBS no Supremo Tribunal Federal (STF) expôs um confronto que nas últimas semanas já vinha se desenhando. Com posições antagônicas, os dois ministros têm protagonizado debates que podem influenciar os rumos da Operação Lava Jato.

Enquanto Gilmar lidera os questionamentos, com ressonância na política, ao modo de atuação do Ministério Público Federal, que estaria promovendo “abusos”, Barroso surge como contraponto em defesa dos investigadores e dos meios de obtenção de provas, como os acordos de delação premiada.

No julgamento da semana passada, transmitido ao vivo pela TV Justiça, a oposição entre os dois ficou mais clara. Enquanto Barroso sustentava que a eventual invalidação de alguma prova obtida por meio de delação não pode levar à anulação de um acordo como um todo, Gilmar mostrou entendimento contrário. A partir daí, houve troca de farpas. Barroso insinuou que o colega, no futuro, tentará anular a delação da JBS e não estaria aceitando a derrota no julgamento. Gilmar afirmou que o ministro não deixava os outros votarem e deveria respeitar os posicionamentos.

'Hegemonia de esquerda não pode ser mais do PT'

Para Ruy Fausto, sigla deve se articular com outras frentes e partidos, como o PSOL, nas eleições do ano que vem

Entrevista com Ruy Fausto

Marianna Holanda, O Estado de S. Paulo

É de esquerda e critica o chavismo, trotskismo, maoismo e o marxismo. Repudia todas as formas de populismo, totalitarismo e adesismo – às quais tem dado o nome de “patologias da esquerda”.

Aos 82 anos, o professor emérito de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP) Ruy Fausto, radicado na França, transformou o artigo que publicou na edição da revista piauí de outubro passado no livro Caminhos da Esquerda: elementos para uma reconstrução (Companhia das Letras), a ser lançado em 3 de julho.

Em entrevista ao Estado, Fausto defende o fim da hegemonia do PT no campo da esquerda e a formação de uma frente única progressista para a eleição presidencial de 2018 com, por exemplo, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ). 

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Espanha inspira criação de frente partidária

Integrantes do PSOL, PT e movimentos sociais articulam novo modelo de partido com base no espanhol Podemos

Ricardo Galhardo, O Estado de S. Paulo

Integrantes do PSOL, do PT e de movimentos sociais como o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) articulam a criação de uma alternativa política que possa ampliar o alcance atual dos partidos de esquerda. Alguns participantes comparam a articulação ao Podemos, partido político espanhol que surgiu no espaço deixado pelas legendas tradicionais depois da crise econômica global iniciada em 2008.

No domingo passado, atendendo a uma convocação do líder do MTST Guilherme Boulos, cerca de 40 pessoas participaram de uma reunião em São Paulo na qual ficou acertada a realização de um ciclo nacional de debates com o objetivo de elaborar um programa de governo que seria a base para outros passos do movimento.

Defesa de eleições por FH expõe racha tucano

Para fundador do PSDB, partido tem dificuldade de definir posição

Fernanda Krakovics, O Globo

Principal liderança do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem dado sinais trocados desde que a crise que atinge o governo Michel Temer se agravou com a delação da JBS. A defesa de FH da antecipação de eleições gerais, por exemplo, pegou seu partido de surpresa e não foi bem recebida entre os tucanos. A guinada aconteceu três dias depois de o PSDB ter mantido o apoio à gestão peemedebista.

— Isso é fora de propósito, não há como fazer eleições gerais. Isso aqui não é regime parlamentarista, que o gabinete cai — disse um integrante da Executiva Nacional do PSDB.

Em texto enviado ao GLOBO, no último dia 15, o ex-presidente defendeu que seria um “gesto de grandeza” de Temer pedir a antecipação de eleições gerais. FH começa dizendo que sua percepção sobre a situação política do Brasil tem sofrido “abalos fortes”. Para ele, falta “legitimidade” a Temer para governar. Diante desse cenário, o ex-presidente diz ter mudado sua opinião de que seria um golpe a convocação de eleições antes do término do mandato de Temer, em 2018.

Brasil está pior do que em 1964, diz Serra

Por Chiara Quintão | Valor Econômico

BARUERI - O senador José Serra (PSDB-SP) afirmou hoje que o país está pior do que 1964, ano em que ocorreu o golpe que instaurou a ditadura militar no país. “Nós estamos na maior crise política da nossa história contemporânea. O Brasil está pior do que em 1964, pior do que em outros momentos. Não se identifica quem é de que lado, não se sabe direito o que se quer, exceto o repúdio pela política. Este é o nosso principal conflito”, disse.

Serra citou que os partidos são adversários, mas que a questão, hoje, é o desgaste geral.

Serra preferiu não fazer comentários sobre a decisão do PSDB de continuar ou não na base de apoio do governo do presidente da República, Michel Temer, nem sobre as críticas feitas ao prefeito de São Paulo, João Doria, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

PSDB não defende Temer, mas o Brasil, afirma Doria

Por Chiara Quintão | Valor Econômico

SÃO PAULO - O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), afirmou neste sábado (24) que o seu partido tem defendido não o governo do presidente da República, Michel Temer, mas o país.

“A defesa que nós temos feito não é do governo Temer, mas do Brasil”, disse Doria, em evento realizado em Barueri (SP) pelo Instituto Teotonio Vilela.

Doria afirmou não ser candidato a governador nem a presidente. “Não sou candidato a nada, a governador, a presidente, mas a ser um bom prefeito”.

O tucano se referiu ao PT como o “inimigo do Brasil que quase destruiu o país em 13 anos”. “Minha motivação para sair da minha zona de conforto como empresário foram Lula [Luiz Inácio Lula da Silva] e Dilma [Rousseff]”, afirmou.

Alckmin defende realização de reforma política até setembro

Por Chiara Quintão | Valor Econômico

BARUERI - O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, defendeu, hoje, a realização da reforma política do país até setembro, para que as novas regras entre em vigor na eleição do próximo ano. “Há um princípio da medicina que diz ‘suprima a causa, que o efeito cessa’. Estamos em um modelo político esgotado”, afirmou.

O governador afirmou que há uma falência do sistema político. “Não pode haver 35 partidos”, disse. Ele defendeu o voto distrital ou distrital misto, “não distritão”.

“Distritão é o voto de São Paulo inteiro para os 70 mais votados, é a anulação dos partidos políticos. Ao invés de fortalecer partidos, fortalece pessoas e torna a campanha caríssima, porque você tem que percorrer 645 municípios, e a campanha tem de ficar mais barata”, disse.

PSDB votará a favor da reforma trabalhista na CCJ, diz Anibal

Por Chiara Quintão | Valor Econômico

BARUIERI - O presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal (PSDB), afirmou hoje que o partido votará “totalmente a favor” da reforma trabalhista na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) na próxima quarta-feira.

No entendimento de Aníbal, na última passada, houve “uma atitude meio frouxa de governo”. Na terça-feira, a Comissão de Assuntos Sociais (CAS) do Senado rejeitou relatório da reforma trabalhista. “Era uma votação crucial”, disse.

Segundo Aníbal, deveria ter sido identificado que parlamentares que pudessem votar contra a reforma fossem substituídos.

“Sabemos que a maioria do Senado vai votar de forma favorável à reforma, então substituí-los não iria criar uma situação que não corresponde à realidade. Acredito que, na Comissão de Constituição e Justiça, a maioria vai votar a favor”, disse.

PPS do Paraná lança Marcelo Rangel e César Silvestri Filho para o governo em 2018

O presidente do PPS do Paraná, deputado federal Rubens Bueno, lançou nesta quinta-feira (22), em Curitiba, os nomes dos prefeitos Marcelo Rangel, de Ponta Grossa, e César Silvestri Filho, de Guarapuava, como pré-candidatos ao governo estadual nas eleições de 2018.

O anúncio da candidatura própria do PPS ao Palácio Iguaçu ocorreu na reunião do diretório estadual do partido que contou com a presença dos deputados estaduais Tercilio Turini, Douglas Fabrício e Cristina Silvestri, além de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores e militantes do PPS de todas as regiões do Paraná.

Os integrantes do diretório também aprovaram por unanimidade documento (veja abaixo) que tem como principal diretriz a apresentação de candidaturas não só ao governo do estadual, como ao Senado, Câmara dos Deputados e Assembleia Legislativa.

“É hora de persistir e fortalecer a via da boa política e assumir diante do povo, sem subterfúgios, a responsabilidade e o desafio de convencer, unir e liderar mulheres e homens dispostos a seguir adiante, nessa luta cotidiana para edificar uma sociedade mais justa, fraterna, solidária, honrada e feliz”, diz o documento.

Base aliada teria 60% de fundo eleitoral

Dos R$ 3,5 bi em recursos públicos previstos para custear as eleições de 2018, nove siglas com assento na Esplanada ficariam com R$ 2,15 bi

Thiago Faria, O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - A proposta apresentada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), de criar um fundo eleitoral com dinheiro público para financiar as campanhas de 2018 vai reservar mais de 60% da verba para os partidos que atualmente integram a base aliada do presidente Michel Temer.

Dos R$ 3,5 bilhões previstos para custear candidaturas, R$ 2,15 bilhões ficariam com as nove legendas que hoje têm assento na Esplanada dos Ministérios. O dinheiro viria de recurso previsto no Orçamento, 10% de emendas parlamentares em ano eleitoral e da redução de gastos com programas partidários, que seriam suspensos no primeiro semestre do ano da disputa.

Centrais sindicais divergem e desistem de greve geral no dia 30

Por Cátia Seabra | Valor Econômico

Enfrentando divergências internas após intervenção do governo de Michel Temer (PMDB), as centrais sindicais desistiram, na sexta-feira (23), da convocar uma greve geral para o dia 30, como anteriormente anunciado.

Após três horas de reunião, dirigentes de nove centrais divulgaram nota em que apresentam um calendário de mobilizações, mas sem usar a expressão greve geral.

Dirigentes de Força Sindical, UGT, Nova Central e CSB deverão se reunir na semana que vem com o presidente Michel Temer. CUT e CTB poderão ser convidadas. "Vamos parar o Brasil", diz a nota.

Pesou para a decisão a constatação de que os trabalhadores da área de transportes, especialmente os de São Paulo, não parariam no dia 30. Os metroviários resistiram sob argumento de que foram punidos com perda de quatro dias de salário em decorrência da greve do dia 28 de abril.

Para 81%, Joesley deveria ter sido preso

Para 64%, Procuradoria agiu mal ao fechar delação da JBS, diz Datafolha

Thais Bilenky, Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O acordo de colaboração premiada que a Procuradoria-Geral da República fechou com os donos da JBS, ao prever multa, mas não a prisão dos delatores, foi mal recebido por 64% da população, mostra pesquisa Datafolha.

Outros 27% dos entrevistados afirmaram que o Ministério Público agiu bem ao firmar o acordo, por meio do qual os irmãos Joesley e Wesley Batista entregaram supostas provas e nomes sem serem denunciados criminalmente.

De acordo com o levantamento, 81% dos brasileiros disseram que os irmãos Batista deveriam ter sido presos pelos crimes que confessaram e 14% acham que não.

Em que pesem as críticas ao acordo em si, o envolvimento direto do presidente Michel Temer (PMDB) nos escândalos de corrupção revelados restou comprovado para 83% da população.

Para 6%, o peemedebista não teve participação direta e 11% não souberam dizer.

Política e regeneração nacional | Ricardo Vélez Rodríguez*

- O Estado de S.Paulo

É preciso restabelecer o jogo político, respeitar a tripartição de Poderes segundo a Constituição

O tema está na crista da onda. Mas não é novo. Já os positivistas, paladinos da moralidade pública, apregoavam a “regeneração da sociedade brasileira” e à luz dessa pregação foi dado o golpe de 15 de novembro de 1889, que derrubou a Monarquia. Qual seria o remédio para a desordem causada pela representação e o debate político da “metafísica liberal” no Parlamento? Resposta: a ditadura científica, apregoada em alto e bom som pelos paladinos do cientificismo, Miguel Lemos e Teixeira Mendes, dirigentes do Apostolado Positivista, que, antes do golpe de 15 de novembro, conclamavam dom Pedro II a que ousasse ser o grande herói nacional, fechando o Parlamento e se proclamando a si próprio ditador central e líder do processo regenerador, a fim de implantar o Reino da Virtude.

Quando emergiu esse modelo? O seu criador foi o general Napoleão Bonaparte, ao se coroar imperador dos franceses, em 1804, fechando a Assembleia Nacional, foco da barganha política, e transferindo para si a representação da nação, que delegou a seus representantes no Senado, a fim de moralizar o país de acordo com os ensinamentos de Rousseau. Napoleão I substituiu o Congresso pelo Conselho de Estado, integrado por sábios e homens de prol, escolhidos por ele mesmo, com a finalidade de buscar as saídas necessárias ao bem da nação, à luz da ciência. O imperador chamou a si a magna tarefa de reorganizar a sociedade, esgarçada pela Revolução e pelo Terror jacobino. Tudo seria recriado de cima para baixo, como outorga salvadora do imperador, a começar pelo Código Civil. Por intermédio dos seus intendentes, Napoleão I tornava-se presente em todos os cantos do vasto império, com o auxílio da Grande Armée.

O futuro dos predadores | Fernando Gabeira

- O Globo

Os bandidos comem, por ano, 2% do PIB. Sempre que ligo a tevê no noticiário político, o PSDB está deixando o governo ou decidindo ficar com ele. O partido não conhece aquela teoria da dissonância cognitiva. Ela afirma que, uma vez feita uma escolha, a tendência é reforçá-la com racionalizações. Se escolhemos rosas brancas no lugar das amarelas, tendemos a ressaltar a beleza das brancas e a enfatizar os defeitos das amarelas. O PSDB ou está saindo ou ficando. Se decide ficar, faz precisamente o contrário do que acontece na dissonância cognitiva: começa a refletir sobre as vantagens de sair. No momento em que toma a decisão do desembarque, certamente vai falar muito das vantagens de ficar no governo. Enfim, parece ter uma permanente incapacidade de tomar decisões e seguir com elas.

O drama do PSDB se acentuou com as denúncias contra Aécio Neves. Sua tendência quase genética a subir no muro torna-se mais compulsiva no momento em que tem de escolher entre a Lava-Jato e o sistema político em colapso.

De prontidão | Eliane Cantanhêde

- O Estado de S.Paulo

Boulos se afirma à esquerda, Etchegoyen cresce à direita em Brasília

Se Guilherme Boulos se afirma à esquerda e nos movimentos sociais, um outro personagem cresce à direita e no coração do governo em Brasília: o general de Exército (último posto da hierarquia militar) Sérgio Etchegoyen, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), com sala no Planalto e presença certa em reuniões estratégicas.

Com Temer enfrentando batalhas de vida ou morte, os ministros políticos tentando sobreviver à Lava Jato, os econômicos guerreando contra a crise e o comandante do Exército doente, Etchegoyen está cada vez mais forte. Informação vale ouro, quem tem informação tem poder e o GSI controla a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), filha encabulada do SNI de péssima memória. Logo, ele sabe das coisas, e sabe a seu jeito.

O GSI substituiu a Casa Militar e esteve sempre sob comando de generais, mas a convivência entre presidentes e eles oscila entre trocas de gentileza estéreis e ostensivo descaso. FHC, filho, neto e bisneto de militares, respeitava o general Alberto Cardoso. Lula dava dois tapinhas nas costas no general Jorge Felix e depois jogava no lixo, sem ler, seus relatórios. Dilma desprezava abertamente o trabalho do general José Elito e, por fim, extinguiu o GSI nos estertores do seu governo.

Plano abortado | Merval Pereira

- O Globo

Plano do governo é trocar Daiello na PF. Trocar o chefe da Polícia Federal em seguida ao relatório que aponta indícios vigorosos de que o presidente da República cometeu crime de corrupção seria uma atitude acintosa de retaliação a uma instituição que, embora subordinada ao Ministério da Justiça, tem sua autonomia garantida pela tradição democrática.

É claro que o novo ministro da Justiça, Torquato Jardim, tem todo o direito de nomear seus subordinados, e seria impensável que a Polícia Federal fosse intocável como o FBI de Edgar Hoover nos Estados Unidos, o que entrou para a história como exemplo de politicagem de baixo escalão. Hoover espionava todos os presidentes e os chantageava para permanecer no cargo. É claro que o presidente da República, tanto lá quanto cá, tem o direito de trocar os que dirigem suas agências de inteligência. Mas, assim como Trump arranjou problemas por demitir James Comey, então diretor do FBI, também Temer terá problemas com a desejada demissão de Leandro Daiello.

A crise não tira férias | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Temer volta a Brasília em pior situação do que saiu, e com 7% de aprovação

Michel Temer parece ter imaginado que viajaria e, com isso, a crise política também deixaria o País. Nesse devaneio, o presidente chegou a imaginar que visitaria outras terras. Sua agenda dizia que ele iria à República Socialista Federativa Soviética da Rússia. Na Noruega, saudou o rei da Suécia. Gafes que sugerem que, apesar da fantasia de férias, também a cabeça do presidente estava tomada pelos aparentemente insolúveis problemas que encurralam seu governo.

Temer esperava contar com respaldo de parte dos ministros do Supremo Tribunal Federal para um recurso que pretendia – ainda pretende, segundo seus advogados – interpor questionando as acusações que pesam contra ele a partir da delação de Joesley Batista.

O debate eterno| Míriam Leitão

- O Globo

O Brasil se afligia com a certeza de que havia ficado para trás e era preciso ter um projeto para o crescimento econômico. Nesse momento, duas ideias se opuseram. De um lado, a proposta de planejamento central, crescimento liderado pelo Estado, câmaras setoriais e fechamento comercial. De outro, a busca do equilíbrio fiscal, combate à inflação e defesa da concorrência.

A sensação que se tem ao ler o primeiro capítulo do novo livro de André Lara Resende é de que o Brasil ficou preso no debate econômico de 1944, que opôs duas mentes brilhantes: Roberto Simonsen e Eugênio Gudin. As teses que se desafiaram parecem ainda presentes. Revisitar a controvérsia é de certa forma entender o Brasil e seus descaminhos.

Eram dois engenheiros, os líderes dessa discussão econômica seminal do Brasil. Simonsen, da Politécnica de São Paulo, Gudin, da Politécnica do Rio. Simonsen era empresário e historiador econômico. Gudin virou catedrático da Faculdade de Ciências Econômicas na especialidade de moeda e crédito. Não havia dúvida entre eles sobre o atraso do Brasil, a diferença era no caminho a seguir.

Um Brasil morto, outro por parir | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Crise lembra um tanto a de 1989, com sociedade um pouco melhor e com menos saídas políticas

É um ano agitado. Os tucanos querem "diretas, já", abreviar o mandato do presidente, eleito apenas como vice, muito impopular, avaliado como ótimo ou bom por apenas 7% do eleitorado, segundo o Datafolha.

O país está em recessão. O governo, do qual os tucanos fazem parte, é tido como corrupto. Investigações concluem que o presidente tinha pleno conhecimento das irregularidades. Protestos da oposição pedem eleições gerais, o presidente fala em "união nacional". A tese das "diretas, já" não cola. Os tucanos rompem com o governo.

O ano era 1988.

Os tucanos eram de fato o "Bloco Independente" do PMDB, que em junho daquele 1988 passaria a ser o PSDB. O presidente era José Sarney; a duração de seu mandato era na verdade estipulada pelas leis da ditadura e estava sendo redefinida pela Constituinte. Um pedido de impeachment de Sarney, derivado de uma "CPI da Corrupção", seria arquivado pela Câmara em 1989, por falta de "provas conclusivas".

O tamanho da meta | Celso Ming

- O Estado de S.Paulo

Nesta quinta-feira, o Conselho Monetário Nacional (CMN) tem reunião para definir a meta de inflação de 2019.

Aos desavisados, este pode parecer assunto árido e sem aplicação prática. Mas não é assim, estão em jogo orçamentos domésticos e o patrimônio dos brasileiros. Juros são o principal preço do dinheiro e ter boas indicações de quanto ele valerá, e em que moeda, num prazo de dois anos é parâmetro importante para administração das finanças públicas e privadas.

O sistema de metas de inflação prevê que o governo federal, por meio do Conselho Monetário Nacional, defina quanto de inflação pretende chegar ao final de cada ano. Cumpre ao Banco Central manejar a política monetária (política de juros) para empurrar a inflação para dentro da meta. Desse Conselho fazem parte os ministros da Fazenda e do Planejamento mais o presidente do Banco Central. Mas quem faz a proposta que é submetida aos votos dos três é sempre o ministro da Fazenda.

A feira da corrupção | Cacá Diegues

- O Globo

Dupla sertaneja da JBS, hoje isenta de punição, representa muito bem os criminosos que, além de roubar o país e a nós, destruíram nossos sonhos

Criminosos roubaram o país e nossos sonhos. Li, em algum lugar, alguém dizer que uma das origens de nossa crise está na perplexidade e consequente insegurança de nossa classe média ao se dar conta de que, depois dos dois mandatos de Lula, os pobres às suas costas se aproximavam dela, enquanto os ricos à sua frente se afastavam cada vez mais. E ela se assustou. Acho que isso é mais uma imagem literária do que propriamente uma correta análise socioeconômica. Mas vale a pena pensar nessa ideia, como exercício de compreensão do país.

No Brasil, a maioria dos trabalhadores (com emprego) ganha menos de dois salários mínimos por mês, sofre nas filas do SUS (quando não morre antes de chegar sua vez), mal tem como colocar seu filho na escola (e, quando o consegue, o tiroteio em volta não deixa o menino ir às aulas) etc. e tal, toda a miséria que já conhecemos.

Erros no debate previdenciário | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Segundo o técnico do Ipea Milko Matijascic, numa publicação em blog da internet, a minha afirmação de que "a necessidade da reforma [previdenciária] é que o montante do gasto de 13% do PIB (Produto Interno Bruto) é absolutamente fora de padrão para economias com taxa de dependência de 13%", na coluna de 26 de março, "comete sérios equívocos e não ajuda a promover um debate rigoroso".

A informação de que o gasto com Previdência em 2016 foi de 13% do PIB encontra-se na apresentação que o presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) fez na CPI da Previdência no dia 22 de maio de 2017.

Humilhação, corrupção e política no mais baixo nível | Rolf Kuntz

- O Estado de S.Paulo

A modernização será incompleta enquanto for fraco o princípio da impessoalidade

Foi uma semana e tanto para quem gosta de passar vergonha. Representando o Brasil, o presidente Michel Temer foi humilhado e cobrado na Noruega e engoliu as broncas como um escolar mal comportado e relapso. Para reagir teria de rejeitar de uma vez o dinheiro norueguês destinado à preservação da Amazônia. Esse fundo internacional nem teria chegado a existir se o governo brasileiro levasse a sério a conservação ambiental e rejeitasse, de fato, a interferência estrangeira, exercida diretamente por governos ou por meio de ONGs com sede no exterior.

Temer ouviu de autoridades locais, em Oslo, declarações de preocupação quanto ao desmatamento e também quanto aos crimes investigados na Operação Lava Jato. Essas autoridades talvez nem tenham percebido, mas juntaram duas questões de fato relacionadas: a péssima gestão dos negócios públicos e a bandalheira quase onipresente na política brasileira. A ajuda norueguesa ao Fundo Amazônia, agora reduzida pela metade (algo entre R$ 166 milhões e R$ 200 milhões), é insignificante quando comparada com o dinheiro desviado em qualquer dos crimes apontados na Lava Jato. Esses desvios, no entanto, são só uma parte dos enormes valores perdidos com obras públicas superfaturadas, benefícios fiscais sem retorno para a economia, favores financeiros a grupos eleitos como campeões nacionais e, é claro, ajudas trocadas por subornos.

Contra o pesadelo, falta um sonho | Clóvis Rossi

- Folha de S. Paulo

Já dizia Calderón de la Barca (1600-1681), lá pelos idos de 1635, que "toda la vida es sueño, y los sueños, sueños son". Bem que o Brasil está precisando de um sonho, mergulhado que anda em um pesadelo que parece não ter fim e só faz ficar mais assustador.

Pelo menos na França, seu novo presidente, Emmanuel Macron, pôs Calderón de la Barca na agenda, embora sem citá-lo:

"Não se trata somente de aplicar políticas a países ou a povos. É preciso que sejamos capazes de convencê-los, de fazê-los sonhar", disse em entrevista coletiva a jornais europeus.

Como olhar a crise – Editorial | O Estado de S. Paulo

A atual crise brasileira vem de longe. Com uma seletiva falta de memória, alguns falam dos maus tempos que o País atravessa como se eles tivessem começado no ano passado, com a chegada de Michel Temer à Presidência da República. Outros, ainda menos afeitos aos fatos, comentam as instabilidades nacionais como se sua origem pudesse ser encontrada no mês passado, com o vazamento da delação do sr. Joesley Batista. Tais visões são evidentemente deformadas. A crise política, econômica, social e moral que tanto abate o ânimo dos brasileiros começou com o sr. Lula da Silva, com a apropriação da administração federal, de alto a baixo, para fins partidários. Foi na chegada do PT ao governo federal, há mais de uma década, portanto, que o cumprimento da lei, o interesse público e o respeito às instituições perderam relevância na tomada de decisões.

Logicamente, uma crise com essas feições, cevada ao longo de tantos anos e especialmente turbinada pela ignorância e o voluntarismo de Dilma Rousseff, semeia muitas dúvidas a respeito da viabilidade do País e de suas instituições. E não foram apenas erros na condução da política econômica. Os escândalos de corrupção e as licenciosidades com a lei, também por parte de quem deveria cumpri-la exemplarmente, contribuem para pôr em questão a capacidade de o Brasil retornar aos trilhos do desenvolvimento econômico e social.

Oportunidade para meta de inflação mais baixa – Editorial | O Globo

Apesar da crise política, há expectativas bem ancoradas na economia que permitem este corte, chance que Lula teve há dez anos e não aproveitou

Com toda a turbulência política, diante da melhoria nas expectativas conseguida com o teto constitucional de limitação do crescimento dos gastos e uma atuação confiável do Banco Central, por exemplo, tem sido possível evitar-se maiores deteriorações do cenário, pelo menos até agora. Prova disso têm sido as projeções nada catastróficas do Boletim Focus, apuradas semanalmente pelo BC junto a analistas do mercado financeiro. O próprio Banco, no relatório trimestral de inflação, divulgado quinta, espera deflação em junho e taxa anual abaixo da meta de 4,5%. Mesmo com a reforma da Previdência parada na Câmara, a trabalhista está em fase final de tramitação no Senado.

Rejeição implacável – Editorial | Folha de S. Paulo

O veredito nada tem de judicial, mas Michel Temer (PMDB) foi condenado de modo implacável pela opinião pública no caso JBS.

Em pesquisa Datafolha, 83% dos brasileiros consideram, a partir da conversa gravada com o empresário Joesley Batista, que o peemedebista teve participação direta em esquemas de corrupção.

Para 76%, Temer deveria renunciar ao cargo. Míseros 7% aprovam sua administração, o menor percentual obtido por um presidente desde 1989, quando José Sarney governava sob uma hiperinflação.

Agudiza-se, dessa maneira, o descompasso entre as preferências da população e a conduta do sistema político, em sua maioria alinhado ao Palácio do Planalto.

Alucinação em branco | Joaquim Cardoso

Nessas barracas em branco
Quem misteriosamente teria se escondido?
São barracas de campanha,
ou de passar todo o verão no campo.

Lembram também cordas de mastros
Dos quais as velas se ausentaram.
Pois as velas voaram enfunadas e suspensas
No ar, que é – sonho das asas –
Todo o branco do contorno,
Navegam em limpas atmosferas.

São panos estendidos ao sol
Para secar, no quintal de alguma casa;
Grandes lençóis ondulantes
Ao vento que vem e vai,
Ao vento que não pára de agitá-los.

Há um jogo de pontas nesses mastros,
Pontas dirigidas em todos os sentidos.
E as linhas e as sobre-linhas,
Se orientam como se fosse possível
Substituir definitivamente,
Todo o branco do papel.