sábado, 5 de agosto de 2017

Opinião do dia – José Aníbal

Há um desejo difuso na sociedade por um novo Brasil. O sistema político que está aí acabou e as contas públicas estão devastadas. Você não faz novo Brasil com um "fiat lux", você faz com enfrentamento de desafios.

O principal é o sistema de privilégios que abocanha os recursos públicos. Agora mesmo a nova procuradora-geral [Raquel Dodge] falou em aumento de 16% [para procuradores]. Isso é um insulto à sociedade brasileira. Leia jornal, veja a realidade das contas! Está na hora de mais sensatez.

Os políticos no Brasil têm um medo de conversar objetivamente com a sociedade. Reforma não derruba prestígio de parlamentar. O que derruba é corrupção, é manter o sistema político que está aí.
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José Aníbal é presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, em entrevista, Folha de S. Paulo, 5/8/2017

Para avançar nas reformas | Roberto Freire

- Blog do Noblat

Em mais um capítulo da tumultuada quadra política que o país enfrenta, os brasileiros acompanharam a votação na Câmara dos Deputados que sacramentou o arquivamento do pedido de licença para que o Supremo Tribunal Federal (STF) analisasse se havia ou não elementos suficientes que ensejassem a abertura do processo com base na denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer. Ao contrário do que apregoavam alguns analistas mais precipitados, o governo de transição demonstrou que ainda tem uma sólida base parlamentar de apoio no Congresso Nacional e, por isso, obteve uma vitória por ampla margem.

A bancada do PPS decidiu votar pela autorização da licença, seguindo um princípio histórico adotado pelo partido no sentido de que todas as denúncias de eventuais irregularidades devem ser rigorosamente apuradas, com total transparência. Mesmo assim, devemos reconhecer que, juridicamente, a peça apresentada pela PGR tinha fragilidades e uma série de inconsistências que certamente influíram no resultado final da votação. Além disso, parece consensual que houve certo açodamento do Ministério Púbico Federal ao apresentá-la sem ter reunido um cabedal probatório mais substancioso.

Todos os deputados do mundo | *Bolívar Lamounier

- O Estado de S.Paulo

Nem todos são preguiçosos, ignorantes e venais, veja-se o caso de Justin S. Morrill

O que mais se ouve atualmente é que todos os deputados do mundo são preguiçosos, ignorantes e venais (não necessariamente nessa ordem). Não concordo com tal argumento, mas admito que refutá-lo está ficando cada vez mais difícil. Vinha procurando um método, mas nenhum me ocorria. Sair em viagem pelo mundo a fim de assistir a sessões legislativas até poderia ser agradável, mas dificilmente compensaria as despesas.

A certa altura tive uma ideia. O jeito seria recorrer à lógica elementar que aprendi nos bancos escolares. Vejam bem: as três qualidades negativas a que me referi têm sido atribuídas aos deputados em caráter geral. “Todos” eles seriam preguiçosos, ignorantes e venais. Nenhum presta. Ora, se assim é, um caso contrário é tudo o que se requer para invalidar o argumento. Optei, pois, por esse método e creio havê-lo aplicado com bons resultados. Foi trabalhoso, claro. Pesquisei centenas de arquivos de vários países, li milhares de biografias, analisei um sem-número de projetos, mas encontrei, finalmente, o que procurava: um americano chamado Justin S. Morrill, que em 1854 teria chegado a Washington como representante conservador do pequeno Estado de Vermont.

O divórcio | *Miguel Reale Júnior

- O Estado de S.Paulo

O Congresso rema contra a maré, surdo ao desejo das forças sociais

O presidente Michel Temer apresenta constrangedora aprovação, apenas 5% da população. Todavia, por meio de conchavos com deputados, da liberação de verbas para emendas parlamentares e da indicação de apaniguados para a administração federal, obtém maioria na Câmara dos Deputados. O balcão de negócios é explícito. Dessa forma impede a instauração de ação penal por crime grave de corrupção passiva.

Aí está um exemplo do divórcio existente entre a República e a sociedade, no atual momento. Muitos representantes de cada um dos três Poderes se encontram alheios aos anseios da população, como se as instituições do Estado e os grupos sociais fossem universos estanques, incomunicáveis.

A maioria das pessoas, diante das revelações de corrupção, reclama efetividade na apuração dos crimes perpetrados pelos agentes políticos, em prejuízo do dinheiro público. Fatos foram trazidos à tona pelas delações das grandes empreiteiras e da JBS, mas apenas pequeno porcentual das investigações prosperou.

Temer, a miséria da política | Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

‘Fica, Temer’ significa, igualmente, ’Fica Maia’ – e um tratado de cooperação contra as investigações

No horizonte do óbvio, Temer fica pois persuadiu 263 deputados a sustentá-lo, às custas do Orçamento, de cargos e de concessões políticas vergonhosas. Dilma, porém, foi defenestrada, mesmo depois de ofertar tudo isso no altar sacrificial da Câmara. As raízes da diferença entre um caso e outro estão fincadas num horizonte mais profundo: a miséria da nossa política. Temer fica pelos seguintes motivos:

1. Janot desviou a Lava Jato para o labirinto da politicagem. A denúncia contra Temer não nasceu de uma investigação exaustiva, como a conduzida no âmbito do cartel das empreiteiras, mas de uma arapuca vulgar montada em aliança com Joesley Batista. A imunidade absoluta concedida ao corruptor-geral da República provocou asco nacional, manchou a reputação pública da Lava Jato e ofereceu um álibi político eficiente ao ocupante do Planalto. Temer deve uma caixa de charutos a Janot.

A ocupação necessária | Cristovam Buarque

- O Globo

Exército não pode ficar para sempre nas ruas do Rio, nem de outras cidades

O Rio e o Brasil estão comemorando mais uma vez a entrada de nossos soldados na luta contra a violência que tomou conta desta bela cidade. Diante da guerra civil em andamento, não há como ficar contra a decisão do governo federal, mas é preciso estar alerta aos seus riscos e limitações.

Com as Forças Armadas (FFAA) nas ruas, a população carioca pode ter um fôlego de paz, mas sob o risco de envolver nossos soldados em mortes: a deles e a de bandidos nas ruas. As consequências destas mortes poderão ser muito graves para o necessário casamento entre os brasileiros e suas FFAA.

Macacos e girinos | Ana Maria Machado

O Globo

E os partidos que se alastram feito mofo? Como vão ser controlados? Haverá cláusula de desempenho? De que tipo?

Uma tristeza, esse momento do país. Denúncia contra Temer arquivada, nova denúncia esperada. A profunda crise econômica mostra que seguimos pagando o preço da irresponsabilidade e incompetência da “nova matriz econômica” de Dilma e Mantega, de terrível memória. O PMDB continua o de sempre. O PSDB se esgarça, entre a gravação de Aécio e o pragmatismo que sufoca a ética. A atual oposição — PT e outros — repete o macaco da história: pendurado pela cauda corrupta, ri do rabo alheio. Até despencar do galho. Como se não fosse vergonha ter indignação seletiva diante da corrupção. As coisas têm de mudar. Não se trata apenas de dar um basta nesse descalabro e começar de novo, sem ao menos ter clareza de por onde iniciar. É fundamental saber o que pretendemos recusar. E para onde queremos ir.

Com que roupa? | Merval Pereira

- O Globo

A recente vitória do presidente Michel Temer no Congresso, barrando a denúncia da Procuradoria-Geral da República, explicitou mais uma vez um dos nossos graves problemas institucionais: não temos um sistema de governo, temos um simulacro de presidencialismo, que o próprio presidente chama de “governo semiparlamentar”. Quer dizer, não temos nem presidencialismo nem parlamentarismo.

Agora mesmo a ideia do parlamentarismo como solução de nossos problemas institucionais volta a ser discutida, mais uma vez, com incentivo do próprio Temer, depois de longa conversa com o senador tucano José Serra. Enquanto não conseguimos sair do lugar na reforma político-eleitoral que tem que ser aprovada até o próximo mês para poder vigorar na eleição de 2018, vamos vivendo de acordo com as circunstâncias.

Missão quase impossível | João Domingos

- O Estado de S.Paulo

A única ideia na cabeça dos congressistas é a criação urgente de um fundo eleitoral

Animada com a rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer pela Câmara dos Deputados, na quarta-feira, a equipe econômica do governo faz planos ousados, muito ousados. Por exemplo: aprovar a reforma da Previdência até o fim de outubro e a reforma tributária “idealmente até outubro”, nas palavras do ministro Henrique Meirelles (Fazenda). “Mas se for novembro também, tudo bem”, admite ele.

Quem conhece o Congresso – principalmente agora, depois do arquivamento da denúncia contra Temer, que o Congresso está forte e o governo está fraco – sabe que o cronograma estabelecido pela equipe econômica é quase uma miragem.

O custo da segunda denúncia | Julianna Sofia

- Folha de S. Paulo

Mal fechou as burras após o acerto de contas com as legendas fisiológicas que garantiram a derrubada da denúncia da Procuradoria-Geral da República, o presidente Michel Temer começa a ser ameaçado por sua base parlamentar no embate da segunda denúncia —que se encontra em estágio avançado de gestação no gabinete de Rodrigo Janot.

As siglas do centrão cobram do Palácio do Planalto desalojar de imediato da Esplanada dos Ministérios e cercanias apadrinhados de deputados infiéis. Querem mais espaço no governo e miram preferencialmente cadeiras ocupadas por tucanos desleais, diante da hesitação palaciana em punir peessedebistas. Chantageiam com votos para as reformas e para uma nova denúncia da PGR.

Esses partidos já foram agraciados com sinecuras federais nos últimos meses. E não só. A lista de recompensas do "Fica, Temer" é extensa e onerosa. Desde a delação da JBS, o empenho de emendas parlamentares explodiu. Entre junho e julho, a promessa de pagar projetos paroquiais alcançou R$ 2,3 bilhões.

Eleições corrompidas | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

O mundo inteiro critica, com razão, o método pelo qual Nicolás Maduro resolveu eleger sua Assembleia Constituinte.

O candidato a tirano compilou um elaborado mecanismo de escolha pelo qual pequenas cidades do interior, onde o chavismo é mais forte, têm quase o mesmo peso de capitais, com populações incomensuravelmente maiores e mais oposicionistas.

Maduro ainda adicionou a esse voto territorial uma outra modalidade pela qual categorias profissionais escolhidas a dedo pelo governo também têm direito a representação.

Privilégios | Suely Caldas*

- O Estado de S.Paulo

No mundo, os programas de refinanciamento de passivos tributários são episódicos, aqui são comuns

Político gosta de propina, empresário quer vantagens e favores do governo para o seu negócio. Esse casamento feliz que a Lava Jato e as delações premiadas têm levado ao divórcio litigioso (casos de Lula e Léo Pinheiro, Temer e Joesley Batista) não desapareceu, persiste e segue levando alegria aos que se livram da Justiça, tristeza para os contribuintes que pagam a conta e desalento para quem enfrenta péssimos serviços públicos e minguados programas sociais – o rombo das contas públicas, projetado em R$ 139 bilhões, pode ser ampliado para R$ 159 bilhões.

Barganha tributária | Adriana Fernandes

- O Estado de S. Paulo

Custo dos votos para barrar a denúncia contra Temer preocupa área econômica.

O governo pode enterrar de vez qualquer possibilidade de melhoria do resultado das contas públicas em 2018 se passar o carro na frente dos bois e deixar que a discussão de uma proposta de reforma tributária ganhe prioridade na agenda econômica do Congresso até o fim do ano.

Não vai ter espaço para nada além de mais barganha política com base nos amplos e complexos interesses que cercam toda mudança no campo tributário.

É muito estranho que lideranças políticas do governo tenham corrido para alardear que a agenda da reforma tributária poderá ganhar protagonismo (na frente da reforma da Previdência) bem no minuto seguinte à decisão do plenário da Câmara dos Deputados de barrar a denúncia contra o presidente Michel Temer.

O custo do erro | Míriam Leitão

- O Globo

A expectativa de que o país chegasse ao último trimestre do ano com crescimento mais forte, como prometia o governo, está indo por água abaixo desde a divulgação da conversa entre Temer e Joesley Batista. De lá para cá, as projeções para os últimos três meses do ano, comparados a 2016, caíram de 1,9% para 1,4% e há números mais baixos. A recuperação deve ser mais lenta que o previsto no segundo semestre.

Logo após o dia 17 de maio, quando o colunista Lauro Jardim divulgou a gravação em O GLOBO, houve uma mudança completa nos preços dos ativos financeiros. Dois meses e meio depois, o dólar, a bolsa, o risco-país voltaram aos níveis de antes. Tudo pareceu absorvido. Mas nos indicadores que realmente importam, como as projeções do PIB, as mudanças foram significativas. Para o ano cheio de 2017, as estimativas recuaram de 0,5% para 0,34%, e o pessimismo começa a contaminar os números do ano que vem. Para 2018, houve queda de 2,5% para 2%, segundo o boletim Focus.

As reformas necessárias – Editorial | O Estado de S. Paulo

Ao negar na quarta-feira passada prosseguimento à denúncia contra o presidente da República, a Câmara dos Deputados abriu caminho para a continuidade das reformas, especialmente a da Previdência e a política. No entanto, parece que alguns parlamentares viram no novo cenário político tão somente uma oportunidade para barganhar e, conforme relata reportagem do Estado, querem aprovar, com a máxima urgência, a criação de um novo fundo, feito com dinheiro público, para financiar campanhas políticas. Alheios ao interesse do País e ao estado das contas públicas, eles têm a desfaçatez de apresentar a interesseira manobra, que pode vir a custar até R$ 6 bilhões, como parte da reforma política e ainda chantageiam, dizendo que a destinação desses novos recursos públicos aos partidos será condição para a aprovação da reforma previdenciária.

Meta fiscal aumenta pressão por reformas | Editorial | O Globo

A dificuldade de se atingir os objetivos traçados para as contas públicas, ainda elevados déficits, aumenta a urgência para mudanças estruturais

A agenda política monopolizou as atenções nas últimas semanas, por inevitável, mas, como nada fica estagnado, as preocupações com o quadro fiscal aumentaram. E sem desatar este nó, a confiança não volta e a economia não acelera. Sem o PIB crescer, a receita tributária também não evolui e dificulta bastante o atingimento das metas fiscais, que ainda são de grandes déficits: R$ 139 bilhões este ano, R$ 129 bilhões no próximo, alguma coisa na faixa dos 2% do PIB, sem considerar as despesas financeiras (a conta dos juros dívida pública).

Com a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2018 ainda a ser votada, o governo precisa decidir se revisará a meta deste e do próximo ano. O ideal é que não altere as metas, para não perder credibilidade perante os agentes econômicos, fator-chave para estimular a volta de investimentos e também do consumo. Mas, para isso, é preciso agir contra vários interesses corporativistas. Um deles, dos servidores públicos da União, beneficiados por aumentos de salários na fase final do governo Dilma, e, por erro, mantidos, de forma escalonada, pelo presidente Temer.

Tragédia anunciada – Editorial | Folha de S. Paulo

A ninguém terá espantado, decerto, a alta da violência no Rio de Janeiro neste 2017. A resignação com que se encara o fato dá medida do descalabro no Estado.

Foram registradas, segundo o instituto fluminense de segurança pública, 3.457 mortes violentas de janeiro a junho, 15% acima do verificado no período correspondente de 2016. Trata-se do pior primeiro semestre desde 2009 (3.893).

Ocorreu na Baixada Fluminense, conjunto de 13 municípios na região metropolitana, o maior aumento nesses seis primeiros meses do ano, de 23%; na capital, a taxa foi apenas um pouco inferior (21%).

Os danos à população fluminense não se limitam à segurança pública. A expansão irresponsável dos gastos públicos —amparada em uma alta efêmera das receitas do petróleo– levou o Rio a uma calamitosa situação financeira que comprometeu outros serviços básicos, como saúde e educação.

Sem Janot, Lava Jato terá 'rumo certo', afirma Temer

Presidente diz que 'nunca pretendeu destruir' a operação e defende caminho do 'cumprimento da lei'

Carla Araújo, Irany Tereza, Vera Rosa e Tânia Monteiro | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Dois dias após a Câmara barrar a denúncia por corrupção passiva, com o apoio de 263 deputados, o presidente Michel Temer disse que as mudanças na Procuradoria-Geral da República “darão o rumo correto à Lava Jato”. Em seu gabinete, redecorado, Temer também não descartou a possibilidade de troca de comando na Polícia Federal e afirmou que nunca pretendeu destruir a operação da qual virou alvo. “O rumo certo é o cumprimento da lei”, disse, em entrevista ao Estadão/Broadcast, quando questionado sobre qual caminho vislumbra para a Lava Jato, de agora em diante. Autor da denúncia chamada por Temer de “ridículo jurídico”, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixa o cargo em 17 de setembro.

Em uma hora de entrevista, o presidente procurou amenizar as traições na base aliada durante a votação da denúncia e apostou na aprovação de uma reforma da Previdência mais enxuta em setembro. Temer afirmou que não haverá retaliação aos infiéis, mas sugeriu que quem não vota com o governo deveria entregar os cargos. Questionado sobre a divisão no PSDB, que ameaça deixar a Esplanada, ele disse esperar apoio dos tucanos nas próximas batalhas no Congresso. “Quem estiver sentindo-se mal no PSDB sairá do governo, não tenho dúvida. Não estou dizendo o partido como um todo, porque lá há uma divisão muito grande.”

O sr. conseguiu derrubar na Câmara a denúncia de corrupção passiva, mas é possível que Rodrigo Janot apresente novas acusações. Como governar com esta espada na cabeça?

A Câmara cumpriu adequadamente uma missão constitucional e, ao final, o que se verificou foi uma vitória muito significativa. E o que se alardeava é que não haveria sequer quórum de 342 para que se começasse a votação. E esse quórum, para a surpresa daqueles que anteviam uma catástrofe, se deu logo ao meio-dia. Fico muito desagradado com os aspectos morais. Tenho muito orgulho do que fizemos nestes 14 meses. Agora, o que me prende ao cargo é muito mais a defesa da minha reputação moral. A denúncia é pífia, inepta. Se vier uma nova, vamos enfrentá-la. Eu me sinto muito constrangido, porque tentam imputar-me uma pecha de corruptor, de alguém que está violando os limites da lei, quando não sei bem quem é que está violando os limites da lei. Eu não sou.

Janot pediu que o sr. e os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha sejam incluídos no inquérito do “quadrilhão” do PMDB. Como responde?

Respondo com uma pergunta: Sabe quando o procurador fez isso, embora esse processo esteja correndo há três anos? Às vésperas da votação do Congresso, o que está a significar que, na verdade, ele passou a ter uma atuação muito mais de natureza política, e quase pessoal, do tipo “quero ver qual é o time que ganha”, e não a sua função institucional. Não se trata de disputas pessoais. Nem ele deve ter disputa pessoal com o presidente da República, muito menos eu terei com ele. Jamais lhe daria essa satisfação. Lamento é que ele, a todo momento, anuncie que vai fazer uma nova denúncia, baseada nos mesmos fatos. É um gestual político, institucionalmente condenável.

PSDB precisa de autocrítica, diz ex-senador José Aníbal

Igor Gielow | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Presidente do Instituto Teotônio Vilela, do PSDB, e um dos principais articuladores da velha guarda da sigla, o ex-senador José Aníbal (SP) afirma que o partido cedeu a práticas "com elementos de transgressão" e que "uma autocrítica é imperativa".

Defensor do apoio a Michel Temer (PMDB), ele diz que o PSDB pode sair do governo após votar reformas e vê uma janela até o fim do ano para isso. Considera Geraldo Alckmin (SP) o presidenciável do partido e critica o prefeito paulistano, João Doria.

"Não está claro o que ele significa como gestor", diz Aníbal, que faz 70 anos dia 9 e afirma não saber se irá disputar eleição em 2018 –é citado para o governo paulista.

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Folha - Como o sr. vê a situação do governo Temer após a "rejeição da denúncia da PGR"?

José Aníbal - Propícia para encaminhar as reformas. Com certeza avançar na reforma previdenciária, a idade mínima e acabar com regimes especiais. O Brasil tem de ter de uma noção de tudo o que se faz contra essa reforma. E não é nas ruas não, é nos escaninhos do poder, dentro das instituições.
Na política, além da cláusula de barreiras e do fim das coligações, temos de tentar o voto distrital. Isso nos resolve em grande medida a questão do financiamento da campanha. Com o voto distrital, é adesão ao candidato em cada distrito, é privado. Imagine o eleitor com voto distrital, com 10 ou 12 candidatos num ambiente de 500 mil eleitores aqui em São Paulo. Aí alguém diz: "Mas o Centrão...". Bom, o Centrão tem práticas com as quais não concordamos, incompatíveis com uma postura republicana.

É viável com a turbulência política?

É. Veja os 21 votos do PSDB contra Temer na votação da denúncia, eles reiteraram o compromisso com as reformas. E há o DEM, o PSD. A votação da Previdência será um desafio maior.
Há um desejo difuso na sociedade por um novo Brasil. O sistema político que está aí acabou e as contas públicas estão devastadas. Você não faz novo Brasil com um "fiat lux", você faz com enfrentamento de desafios.

O principal é o sistema de privilégios que abocanha os recursos públicos. Agora mesmo a nova procuradora-geral [Raquel Dodge] falou em aumento de 16% [para procuradores]. Isso é um insulto à sociedade brasileira. Leia jornal, veja a realidade das contas! Está na hora de mais sensatez.
Os políticos no Brasil têm um medo de conversar objetivamente com a sociedade. Reforma não derruba prestígio de parlamentar. O que derruba é corrupção, é manter o sistema político que está aí.

Por prazos, reforma política será priorizada

Cristiane Jungblut | O Globo

Congresso tem um mês para aprovar mudanças: fundo deve ser criado

BRASÍLIA - A reforma política é a prioridade da Câmara a partir de agora, liberada a pauta com o arquivamento pela Casa da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva. Os partidos precisam correr porque têm apenas um mês para aprovar as novas regras das eleições de 2018 — a legislação exige que as normas sejam aprovadas até um ano antes do pleito.

As negociações indicam que a reforma política se resumirá ao fundo eleitoral e a propostas como fim das coligações em eleições proporcionais e a adoção de uma cláusula de barreira (desempenho mínimo) para os partidos.

A estratégia de Temer é testar o tamanho da base primeiro com projetos e propostas que exijam quorum mais baixo, ou seja, que não sejam necessários os 308 votos para a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC). A reforma da Previdência é uma PEC, por isso seria a última matéria a ser votada.

Ex-procurador atuou na JBS 6 dias após deixar MP

Braço-direito de Rodrigo Janot, Marcello Miller participou de reunião representando os irmãos Batista

Eduardo Bresciani | O Globo

-BRASÍLIA.- Apenas seis dias depois de ter sido exonerado do cargo de procurador do Ministério Público Federal, Marcello Miller participou de reunião na Procuradoria-Geral da República (PGR) como advogado do grupo J&F, controlador da JBS. Miller foi exonerado no dia 5 de abril deste ano e no dia 11 já representava a empresa dos irmãos Joesley e Wesley Batista em reunião com seus antigos colegas de trabalho. A informação foi obtida pelo GLOBO por meio da Lei de Acesso à Informação.

Os registros de entrada da portaria do edifício-sede da PGR mostram que Miller esteve no local nos dias 11 e 18 de abril. Em resposta à reportagem, a PGR confirmou a presença e informou que ele representou o grupo controlador da JBS na ocasião. De acordo com a instituição, Miller participou de uma reunião com representantes do grupo de trabalho que atua na Lava-Jato e com a força-tarefa da Operação Greenfield da Procuradoria da República do Distrito Federal. Essa reunião ocorreu no dia seguinte ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin ter homologado um pré-acordo de delação dos executivos da JBS.

“No dia 11/4, Marcello Miller participou de reunião entre os representantes dos escritórios de defesa dos executivos e do Grupo J&F e membros do MPF. Na ocasião, foi explicado que as negociações da leniência e da colaboração premiada seriam feitas separadamente, por equipes distintas. Miller compareceu na condição de advogado do escritório Trench, Rossi e Watanabe Advogados, sem o conhecimento prévio dos membros que participaram das negociações”, afirmou a PGR.

Afastado dos holofotes, Aécio reaparece em hora crucial para Temer

Talita Fernandes | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Afastado dos holofotes desde maio, após ter sido atingido pela delação do empresário Joesley Batista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) voltou à cena na última semana.

Na véspera da mais importante votação para o governo Michel Temer na Câmara, o tucano jantou no Palácio do Jaburu no sábado (29) e almoçou no domingo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

O trabalho deu resultado. Na última quarta-feira (2), 263 deputados votaram para barrar o processo. Desse total, Temer contou com o apoio de 22 dos 47 parlamentares do PSDB na Casa, enquanto a expectativa era de que a maioria da bancada votasse pela continuidade do processo.

O governo, que seguia mantendo conversas discretas com Aécio, fez um apelo para que ele aparecesse publicamente nas articulações a fim de dar mais força ao apoio do PSDB ao Planalto.

Etchegoyen vê risco de 'crime' financiar eleição

Marcio Dolzan | O Estado de S.Paulo

RIO - O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sérgio Etchegoyen, afirmou nesta sexta-feira, 4, estar “preocupado” com a possibilidade de facções criminosas aproveitarem o fim do financiamento empresarial de campanhas para eleger representantes nas eleições de 2018. Na avaliação do ministro, o Brasil corre o risco de ver sua democracia “refletir a atuação do crime organizado”.

A declaração foi dada na Escola de Comando e Estado-Maior do Exército, na Urca, zona sul do Rio. 

“Com o fim do financiamento privado (de empresas) de campanha, você só tem três financiamentos hoje: o estatal, o crime organizado e as igrejas – existem igrejas e igrejas. São só esses três que têm dinheiro fácil para distribuir”, afirmou Etchegoyen. “O crime organizado tem capacidade financeira para colocar na campanha, com objetivo de eleger representantes”, disse o ministro.

‘Mexicanizar’. Etchegoyen ainda citou casos de países que enfrentam problemas com narcotraficantes, como México e Colômbia. “Quando eu falo em eleição de 2018, o que nós estamos colocando em jogo é o modelo que nós escolhemos, o modelo de democracia que nós escolhemos. Ou nós vamos mexicanizar, colombianizar, ou o que for, ou nós vamos enfrentar o problema comum que eles têm”, afirmou o ministro.

Para ele, “ou o nosso voto vai refletir a vontade soberana de uma sociedade saudável, ou ele vai refletir a atuação do crime organizado”. “É disso que nós estamos tratando”, disse Etchegoyen. Segundo o ministro, as ações do GSI com as forças de segurança que estão atuando no Rio também visam a evitar a ação de facções nas eleições. “O GSI se ocupa das ameaças à segurança institucional. Me parece que nós temos uma clara aí.”

Recado aos amigos distantes | Cecília Meireles

Meus companheiros amados,
não vos espero nem chamo:
porque vou para outros lados.
Mas é certo que vos amo.

Nem sempre os que estão mais perto
fazem melhor companhia.
Mesmo com sol encoberto,
todos sabem quando é dia.

Pelo vosso campo imenso,
vou cortando meus atalhos.
Por vosso amor é que penso
e me dou tantos trabalhos.

Não condeneis, por enquanto,
minha rebelde maneira.
Para libertar-me tanto,
fico vossa prisioneira.

Por mais que longe pareça,
ides na minha lembrança,
ides na minha cabeça,
valeis a minha Esperança.