quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Bolsa Família 'escraviza as pessoas', diz Maia em Washington

Estelita Hass Carazzai / Folha de S. Paulo

WASHINGTON - Em palestra no centro de estudos Brazil Institute, em Washington, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), afirmou nesta quarta (17) que o Bolsa Família "escraviza as pessoas" e criticou as políticas sociais dos governos petistas de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

"Criar um programa para escravizar as pessoas não é um bom programa social. O programa bom é onde você inclui a pessoa e dá condições para que ela volte à sociedade e possa, com suas próprias pernas, conseguir um emprego", disse Maia.

Para o deputado, o Bolsa Família gera "dependência" e "atrela as pessoas ao Estado" ao não oferecer uma porta de saída –ou seja, um emprego ou uma possibilidade de estudo.

Maia, que aspira a disputar a Presidência pelo DEM, negou que seja candidato no momento –mas adotou um discurso combativo em relação à crise fiscal e defendeu a "reestruturação do Estado brasileiro", por meio de reformas como a da Previdência.

O deputado fez críticas a políticas sociais que chamou de "sobrepostas" e "improdutivas", e disse que elas precisam ser avaliadas em relação ao seu resultado.

Ele citou em especial o Minha Casa, Minha Vida, dizendo que foi "um projeto social malfeito" por não ser acompanhado de outras políticas públicas, como geração de renda para as famílias beneficiadas, saneamento básico e instalação de escolas ou postos de saúde nas proximidades dos conjuntos habitacionais.

"Isso vai acabar transformando esses ambientes como o que houve no Rio de Janeiro, com a Vila Kennedy e a Cidade de Deus", disse.

Maia não chegou a defender, porém, o fim do Bolsa Família, que qualificou como "um programa liberal, que garante igualdade de condições, mas não da forma como foi conduzido pelo PT".
Rodrigo Maia

CAMPANHA
Apesar de reticente em admitir uma eventual candidatura, Maia afirmou se colocar como um político de centro, que definiu como "um ponto onde as pessoas entendem a importância do diálogo", e não "uma posição entre a esquerda e a direita".

Ao ser perguntado se era candidato, Maia afirmou: "Hoje, não. Eu tenho 1% nas pesquisas. O dia em que eu tiver 7%, as coisas melhoram muito".

Para ele, o candidato que defender reformas do Estado –algo pelo que advogou por inúmeras vezes durante sua palestra– "tem toda a condição de ser um candidato competitivo". "Não necessariamente um candidato do presidente [Michel Temer], mas um que defende reformas", disse.

Ainda não está claro quem será o candidato governista ao Planalto, com o apoio de Temer. No governo, Maia disputa o posto com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que também flerta com a Presidência.

Na palestra, Maia defendeu um ajuste estrutural das contas públicas, além de uma abertura comercial do mercado e sua integração com cadeias globais de produção.

"A boa notícia é que o dinheiro acabou, o que está forçando os debates sobre as prioridades da política pública. Vamos combinar que essa é uma boa notícia. O país vai ter que avaliar e identificar o que funciona", disse.

Maia fez críticas às "velhas formas de condução da política econômica" adotadas no governo de Dilma Rousseff (PT), com "a volta do velho Estado interventor".

Ele defendeu também a simplificação das alíquotas e restrições tarifárias no comércio internacional, além de investimento em infraestrutura para melhorar a competitividade brasileira.

Depois do evento, Maia foi recebido pelo presidente da Câmara norte-americana, o deputado republicano Paul Ryan. Os dois discutiram o combate ao tráfico de drogas nos dois países e compartilharam preocupação com o regime ditatorial na Venezuela.

A Câmara brasileira vem preparando, há alguns meses, um projeto de lei para atualizar a punição contra o tráfico de armas e de drogas. Maia disse que trocou ideias sobre o exemplo dos Estados Unidos com Ryan.

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