domingo, 28 de janeiro de 2018

Transferência de votos não é automática

Para especialistas, quanto mais cedo for eventual troca, melhor para o PT

Fernanda Krakovics e Marco Grillo / O Globo

O potencial de transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso sua candidatura à Presidência seja barrada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), será decisivo para o desempenho do candidato petista escolhido como substituto ou do aliado que o PT venha a apoiar. A pesquisa Datafolha mais recente, divulgada em dezembro, mostrou que essa migração não é automática. Especialistas ouvidos pelo GLOBO acreditam que o momento em que o apoio for anunciado será decisivo — quanto mais cedo, mais chances de ser efetivo.

O apoio de Lula a um candidato, sem os pesquisadores especificarem nomes, levaria 29% do total de eleitores a votar nesse político para presidente. Outros 21% talvez escolhessem o indicado, enquanto 48% não votariam de jeito nenhum no preferido de Lula e do PT.

Mas, a partir da apresentação dos nomes ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e do ex-governador da Bahia Jaques Wagner, a taxa de conversão de apoio de Lula em intenções de voto cai na comparação com o apoio genérico. O suporte de Lula a Wagner faria com que 13% votassem nele com certeza, e 19% talvez optassem pelo petista. Uma fatia de 63%, porém, não votaria no ex-governador com o apoio de Lula. No caso do endosso do ex-presidente a Haddad, 14% votariam com certeza no ex-prefeito de São Paulo, 21% talvez escolhessem sua candidatura, e a maioria, 61%, não votaria nele.

— Quando confrontados com os nomes do Haddad e do Jaques Wagner, a taxa diminui pela metade porque eles são pouco conhecidos fora das regiões onde atuam. O dilema do PT é em que momento fazer essa mudança (de candidato). Qualquer nome do PT precisaria de um tempo para se tornar conhecido e convencer a população de que vai cumprir as promessas esperadas do Lula — pontua o diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino.

RISCOS DE ÚLTIMA HORA
Professor da UFMG, o cientista político Carlos Ranulfo destaca que, apesar de o eleitorado de Lula não ser todo “coeso ideologicamente”, a tendência é que candidatos de esquerda sejam mais beneficiados com a eventual saída dele da disputa:

— A questão é identificar o potencial de transferência de votos. Se ele estiver preso, complica. Não dá para fazer campanha e aparecer com o candidato.

Para o cientista político Milton Lahuerta, da Unesp, se Lula levar a candidatura até o limite, o substituto não vai se beneficiar da herança de votos:

— O que vai fazer diferença é o timing. Caso ele desista da candidatura muito perto da eleição, não haverá uma transferência para valer, o candidato vai só marcar uma posição de repúdio (à condenação de Lula).

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