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- Folha de S. Paulo
Movimentos estudantis dominantes hoje adquiriram caráter antidemocrático e censório
Quando entrei na faculdade, em 2004, ser liberal definitivamente não estava na moda. Eram poucos indivíduos, em geral estudando sozinhos e encarando a hostilidade do movimento estudantil e a indiferença da maioria dos colegas, que não estão na faculdade para debater política.
Catorze anos depois, dou uma palestra no evento organizado pelo Clube Caiapós, grupo de estudantes liberais e libertários na USP de Ribeirão Preto. O movimento que antes não enchia uma kombi hoje lota um auditório. E não é só um fenômeno local.
O mesmo se repete em Porto Alegre, em Recife, em Fortaleza. As ideias de liberdade individual e propriedade privada hoje congregam números expressivos —embora ainda minoritários— em inúmeras universidades brasileiras.
Esses movimentos se assemelham, em parte, a qualquer outro movimento jovem: estão imbuídos do desejo de mudar o mundo e têm soluções simples, elegantes e de vasta aplicação. São otimistas e acreditam no poder das ideias. Por outro lado, vejo também um aspecto que diferencia os liberais dos movimentos de esquerda que dominam as instituições.
Talvez porque um dos pilares históricos do liberalismo tenha sempre sido a defesa da liberdade de expressão, há nesses meios um verdadeiro apreço por ouvir diferentes opiniões e de solucionar divergências com argumentos.
É só nesses espaços que um político ou formador de opinião com pensamento oposto ao do grupo pode ser chamado para debater, criticar as ideias dominantes no meio e ainda ser aplaudido ao fim. Nada de tentar barrar quem quer que seja; nada de achincalhar alguém por ser “golpista” ou “comunista”.
De um ponto de vista puramente político, que quer fanatizar o maior número de jovens, pode não ser a postura mais eficiente. Mas se o objetivo é promover uma cultura universitária de diálogo e amplo debate, que privilegia a discussão de ideias e não a censura —enfim, aquilo que uma universidade deveria ser—, eles é que estão na vanguarda. Em vez de reafirmar sua própria superioridade moral e banir o divergente, os estudantes liberais querem aprender, discutir e argumentar.
É fácil ser otimista com o que ainda não teve tempo de se corromper. Os movimentos estudantis dominantes hoje adquiriram o caráter antidemocrático e censório em parte porque foram arregimentados por partidos políticos.
É muito tentador para uma visão dominante excluir as alternativas à força, tentação pela qual os liberais universitários ainda não passaram. Mas, quando chegar sua hora, sem dúvida os valores que eles hoje cultivam lhes darão uma base mais sólida para enfrentá-la do que o coletivismo e a luta de classes.
É muito difícil para um discurso liberal puro se tornar uma ideologia de massas, campeã de votos, justamente porque ele deixa muito em aberto. Não propõe grandes soluções definitivas, mas um ambiente de regras no qual diferentes soluções possam ser sempre tentadas, replicadas e descartadas.
Não quer que todos sigam uma só moral, mas tenta dar o máximo de espaço possível que cada um siga sua própria consciência. Sua vocação, ao menos no futuro próximo, está em informar as lideranças políticas na condição de assessores, ministros e conselheiros nos mais variados campos ideológicos.
E, quem sabe, se a experiência estudantil atual for um indicativo, servir de poder moderador dos ódios ideológicos que arriscam comprometer o futuro do Brasil.
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Joel Pinheiro da Fonseca é economista pelo Insper, mestre em filosofia pela USP
Que artigo maravilhoso,claríssimo.
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