domingo, 1 de abril de 2018

Marco Antonio Villa: Até onde vai a crise?

- Revista IstoÉ

A Lava Jato não assustou os políticos. Eles continuam enxergando na coisa pública a grande chance de enriquecer sem trabalhar

Como esperado, a crise política se aprofunda. E nada indica que será solucionada quando das próximas eleições. Pelo contrário, poderá ser agravada ainda mais, dependendo do resultado da eleição presidencial e do Congresso Nacional. A crise é estrutural e qualquer eleição realizada dentro dos parâmetros atuais somente postergará a agonia. Essa República não consegue se autoreformar. Está petrificada e não apresenta fissuras.

O grande desafio dos democratas é conseguir construir na sociedade civil um amplo arco de alianças no campo reformista. Esse trabalho de convencimento não é simples e nem imediato. Tendo em vista o Estado carcomido pela corrupção e pelos interesses antirepublicanos, e que se sustenta numa maléfica composição entre frações das elites política, empresarial e jurídicas, é improvável — para não dizer, impossível — que qualquer mudança ocorra à curto prazo.

A sangria vai permanecer até a exaustão dessa estrutura. Evidentemente que o custo político, social e econômico será alto, muito alto.

As movimentações políticas com o objetivo de construir as candidaturas para os executivos estaduais e o federal — o Legislativo é sempre considerado um poder inferior e utilizado para formatar alianças para o Executivo — demonstram com clareza a pobreza do sistema político. As ideias foram expurgadas dos acordos. Há um desejo de planejar a distribuição do saque. Ninguém está preocupado com o seu estado ou com o País. Nada disso. Estão sim enxergando as oportunidades de negócio. O curioso é que a Lava Jato, especialmente, não assustou os políticos. Eles continuam enxergando na coisa pública a grande chance de enriquecer sem trabalhar.

Os 30 anos da redemocratização — tendo como marco inicial a promulgação da Constituição de 1988 — não serão comemorados com festas. Somente os hipócritas poderão saudar três décadas marcadas por dois impeachments presidenciais, pela desmoralização das instituições, pela corrupção em escala nunca vista no mundo ocidental.

O melhor exemplo atual de descrédito institucional foi a decisão do Supremo Tribunal Federal que possibilitou, ao menos provisoriamente, que Lula não cumprisse a pena de doze anos e um mês de prisão. A Corte sabia que estava desmoralizando o próprio Judiciário. Mesmo assim não pensou duas vezes.

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