segunda-feira, 16 de abril de 2018

Sem Lula, Datafolha traz eleição embaralhada

Vandson Lima | Valor Econômico

BRASÍLIA - A nova sondagem sobre a eleição presidencial apresentada pelo Datafolha ontem mostra, no provável cenário de inviabilização da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), um aumento significativo entre os eleitores ainda sem candidato, que alcançariam hoje quase um terço da amostra.
Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede) lideram. Ele com 17% das intenções de voto e ela variando entre 15% e 16%. Ambos abaixo da soma dos que, sem Lula, preferem votar em branco, nulo ou em nenhum (até 24%). Os que declaram não saber em quem votar, sem Lula, chegam até a 4%. Quando não se apresenta uma lista de candidatos aos entrevistados, segundo o Datafolha, 46% dos eleitores dizem que não sabem em quem votar.

Hoje preso e já condenado em segunda instância, portanto impossibilitado pelo critério vigente da Lei da Ficha Limpa, Lula lidera nos cenários em que seu nome aparece, com 31% das intenções. No entanto, a maior parte do eleitorado, 62%, já avalia que o nome do ex-presidente não estará disponível nas urnas em outubro. Entre os pesquisados mais pobres, de menor escolaridade ou da região Nordeste, que pendem a Lula, aumentou a crença de que ele não vai disputar a eleição.

Sem Lula, votos em branco ou nulos sobem de 14% para cerca de 33% no Nordeste; e de 14% para 27% entre os eleitores com renda familiar menor que dois salários mínimos.

Em nota, o PT afirmou que o ex-presidente Lula será o candidato do partido "aconteça o que acontecer" e criticou que seu nome não conste em todos os cenários testados. O Datafolha trouxe diferentes possibilidades, com e sem a participação de Lula. "Dos nove cenários estudados, o instituto realizou seis deles sem o ex-presidente. A manobra para tentar criar um imaginário em que Lula não esteja no pleito esbarra numa questão fundamental: a preferência popular", afirma o PT.

Pelo Twitter, a presidente nacional do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), foi além e disse: "Nos cenários sem Lula quem ganha são os votos brancos [sic] e nulos. O PSDB, patrono do golpe, foi o que mais perdeu."

Marina, também pelo Twitter, disse: "Recebo com tranquilidade o resultado da pesquisa Datafolha. Nesse período de pré-campanha em que tenho circulado pelo país, estou atenta ao risco da extrema polarização do debate político e comprometida com o debate e não com o embate."

A assessoria do tucano Geraldo Alckmin divulgou nota na qual minimiza os resultados da pesquisa. Diz que o candidato está "otimista" com a receptividade que tem encontrado neste início de pré-campanha, e que os eleitores apenas começarão a definir o voto a partir de agosto.

Manuela d'Ávila (PCdoB) postou no seu Facebook uma nota em que comemora: "Chegar em abril com 3% de intenções de voto, com uma pré campanha sem estrutura (...) é motivo de muito alegria", diz.


Estreante nas pesquisas após a filiação ao PSB com intenções de concorrer ao Planalto, o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa mostra bom desempenho. Alcança o terceiro lugar, com até 10% das intenções a depender do quadro. Um patamar em nenhum momento atingido, por exemplo, por Alckmin, hoje considerado o candidato de centro mais viável, que varia entre 7% e 8%.

A entrada de Barbosa e o crescimento de Alvaro Dias (Podemos) aumentam a dificuldade do tucano. No cenário sem candidatura governista, ambos sobem, com Dias chegando até a 5%. Alckmin tem desempenho apagado até em eleitorados historicamente simpáticos ao PSDB: perde para Bolsonaro no Sudeste e fica bem atrás de Dias no Sul. Já Barbosa angaria 17% das intenções de voto entre eleitores com curso superior e, no Sudeste, empata com o ex-governador em 11%.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira, avalia que o resultado da pesquisa mostra o potencial de Barbosa: "Avaliamos que a candidatura dele tem potencial muito grande. Inclusive, muito maior se considerarmos que a população ainda não está bem informada sobre candidatura." Para ele, o resultado do Datafolha é "animador".

O presidente Michel Temer (MDB), que vislumbra concorrer à reeleição, alcança 2% das intenções de voto. O ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, que entrou no MDB para se viabilizar como uma alternativa no campo governista, não passa de 1%. Assim como o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que com ou sem Temer, não passa de 1%. A sondagem aponta ainda que 86% não votaria em um candidato apoiado por Temer.

No cenário sem as candidaturas de Lula e Temer e com candidatura de Meirelles, beneficiam-se Alvaro e Ciro Gomes (PDT), que passa a empatar na terceira colocação com Joaquim Barbosa.

Ciro alcança 9% em todos os cenários sem Lula. As possíveis candidaturas petistas em substituição a Lula mostram dificuldade. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad aparece com 2% e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner tem 1%. Ambos estão abaixo da candidata do PCdoB, Manuela d'Ávila, que chega a marcar 3% em uma das sondagens. Nem entre eleitores de Lula a performance melhora: as intenções de votos se espalham e tanto Wagner como Haddad não ultrapassam 3%.

Para o segundo turno, Bolsonaro, apesar de liderar em cenários sem Lula, vence com margem apenas candidatos do PT. Perde por 44% a 31% para Marina, empata com Ciro em 35%, e perde dentro da margem (33% a 32%) para Alckmin.

O Datafolha realizou 4.194 entrevistas em 227 municípios. A margem de erro da pesquisa é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos. (Com agências noticiosas)

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