quinta-feira, 31 de maio de 2018

PIB fraco e greve abatem cálculos para a economia

No 1º trimestre, PIB teve alta de 0,4%; projeções para o ano caíram para 2%
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Vinicius Neder Daniela Amorim Renata Batista / O Estado de S. Paulo

RIO - O crescimento econômico de 0,4% no primeiro trimestre ante o quarto trimestre de 2017 confirmou a recuperação lenta da economia após a recessão de 2014 a 2016, informou ontem o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O órgão classificou a recuperação de “gradual”, mas tudo pode ir por terra no segundo trimestre, por causa da greve de caminhoneiros que parou as estradas Brasil afora desde a semana passada.

A frustração da possibilidade de um crescimento mais acelerado no primeiro trimestre já serviria de gatilho para uma série de revisões nas projeções para o crescimento econômico de 2018, o movimento dos caminhoneiros acelerou o processo. Diante desse novo cenário, economistas ouvidos ontem pelo Estadão/Broadcast esperam, na média, alta de 2,0% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. Na edição mais recente do Boletim Focus, as projeções de analistas apontavam para crescimento de 2,37%.

Há quem não descarte recuo no segundo trimestre e crescimento na faixa de 1,0% neste ano. Para a economista Monica de Bolle, pesquisadora do Instituto Peterson de Economia Internacional e professora da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, o crescimento deverá ficar ao redor de 1,5% em 2018. “É difícil imaginar que a economia vá a algum lugar nesses meses até as eleições”, afirmou a pesquisadora.

Segundo ela, o quadro retratado no PIB do primeiro trimestre já mostrava indicadores “andando de lado”. Tanto a indústria quanto os serviços cresceram apenas 0,1% em comparação aos três últimos meses do ano passado. Com alta de 0,6% na mesma comparação, abaixo dos 2,1% no quarto sobre o terceiro trimestres do ano passado, os investimentos “não pegaram”. “Não tinha de onde vir impulso para 2018. Em 2017, tivemos a safra recorde, a liberação do FGTS e a queda da inflação, que não se repetem”, disse.

Impulso. No primeiro trimestre, a queda da inflação – ao lado da expansão do crédito – ainda impulsionou o avanço de 2,8% no consumo das famílias em relação a igual período do ano passado. Segundo Monica, a piora do cenário externo – a alta de juros nos Estados Unidos fez o dólar subir no mundo todo em abril e maio – já era um sinal negativo e, agora, a greve dos caminhoneiros e suas repercussões atingirão em cheio os investimentos.

Para Rebeca Palis, coordenadora das Contas Nacionais do IBGE, a greve dos caminhoneiros poderá ter reflexos na inflação, nas vendas do comércio e no volume de serviços prestados. Rebeca citou ainda o comércio de bens perecíveis e o transporte de carga, mas acredita em contaminação também nas importações e exportações. “Óbvio que pega a economia toda, existe um efeito em cadeia aí, mas não é imediato”, disse a pesquisadora do IBGE.

Na visão do economista Claudio Considera, coordenador do Núcleo de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o crescimento econômico deste ano pode ficar abaixo de 2,0%, mas tudo dependerá da conjuntura depois da greve dos caminhoneiros. “Se começar a parecer com desgoverno, aí que os empresários não investem”, disse.

Eleições. Já Monica de Bolle teme que esse cenário se estenda para além das eleições, dificultando, no próximo governo, a aprovação de reformas consideradas necessárias para impulsionar a economia. Em primeiro lugar porque as reformas acabaram associadas à impopularidade do governo Michel Temer. Em segundo, porque o movimento dos caminhoneiros expôs um “curto-circuito” em relação aos caminhos para tirar a economia do buraco.

“A população está desgastada com tudo o que se passou no País e agastada com a corrupção, achando que nada presta, mas que um monte de coisa tem que ser feita. Ao mesmo tempo, não legitima que essas coisas sejam feitas pela via do aumento de impostos ou corte de gastos”, disse a economista.

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