quinta-feira, 7 de junho de 2018

Bruno Boghossian:Ciro e Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Pedetista sobe o tom para encurtar caminhos e emplacar marca de 'anti-Bolsonaro'

“Eu até confesso para você publicamente aqui. Acho que muita gente não vai gostar de mim, mas eu votei no Ciro Gomes para presidente da República”, disse Jair Bolsonaro à TV Bandeirantes do Rio, em 1999.

Na eleição seguinte, o deputado repetiu a dose. “No primeiro turno, trabalhei para Ciro Gomes, que perdeu”, afirmou, na tribuna da Câmara, em 2002. No segundo turno, rejeitou José Serra e optou por Lula.

Por anos, Jair Bolsonaro (PSL) nutriu certa admiração pelo tom nacionalista e pelo estilo ácido de Ciro Gomes (PDT). Em 2018, a dupla desponta em polos cada vez mais distantes de uma disputa presidencial.

Nesta quarta (6), Ciro deu um passo largo para tentar fincar uma bandeira como principal adversário de Bolsonaro na corrida ao Planalto.

Em sabatina do jornal Correio Braziliense, o pedetista foi ao ataque. Disse que o militar é “um tresloucado” e “um boçal despreparado”. “Temos obrigação de extirpar este câncer enquanto ele pode ser extirpado”, acrescentou.

Líder nas pesquisas em parte dos cenários, o presidenciável do PSL se torna alvo preferencial de seus rivais à medida que a disputa avança.

Geraldo Alckmin busca um confronto direto com Bolsonaro para recuperar eleitores conservadores que costumavam votar no PSDB e passaram a namorar o capitão da reserva.

Ciro, de outro lado, antagoniza com o militar para usá-lo como escada. Ele sobe o tom para encurtar caminhos, realçar uma marca de “anti-Bolsonaro” e atrair votos à esquerda.

A estratégia e a estridência de Ciro só fazem sentido porque a disputa deste ano parece favorecer candidatos com discursos duros e sem travas, ainda que soem violentos. Não é coincidência que o pedetista aposte nessa polarização. Tanto ele quanto o militar costumam ignorar botões de volume em seus ataques.

Bolsonaro já declarou ter “muitas coisas em comum” com Ciro durante entrevista a uma rádio cearense, em outubro. “Nossa defesa é pelo Brasil, mas pecamos às vezes pelas palavras que dizemos”, afirmou.

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