domingo, 5 de agosto de 2018

Em convenção, Marina Silva admite situação 'difícil', mas diz confiar em 'derrota das estruturas'

Candidata da Rede foi oficializada neste sábado (4) ao lado do vice Eduardo Jorge (PV)

Angela Boldrini/ Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com o desafio de provar que tem viabilidade eleitoral, Marina Silva foi oficializada neste sábado (4) como candidata à Presidência da República pela Rede Sustentabilidade.

"Estamos aqui pela terceira vez, talvez em situação bem mais difícil, mas confiando que dessa vez a postura vai derrotar as estruturas", afirmou a candidata.

Em evento em Brasília, o partido homologou a chapa “Unidos para Transformar o Brasil”, composta pela ex-senadora e o ex-deputado Eduardo Jorge (PV). Ele foi chamado por ela de "querido amigo de luta e de paz".

"Não quero mais disputa para o atraso, temos que disputar os avanços", discursou ela, em crítica aos chamados partidos tradicionais.

Na fala aos apoiadores, de cerca de 50 minutos, a ex-senadora disse que representa "o projeto mais preparado" e que sua candidatura "é a que tem mais condições de unir o Brasil".

Ela reforçou mensagens como a de que não fará desconstrução de biografias de adversários e de que defenderá o fim da reeleição, caso chegue ao Planalto.

Também exaltou sua história pessoal de superação e falou de bandeiras como educação e igualdade social.

Candidata em 2010 e 2014, Marina obteve 22 milhões de voto no último pleito, mas não conseguiu chegar ao segundo turno, que foi decidido entre o PT e o PSDB.

Neste ano, pela Rede, ela mantém o discurso de que é a terceira via e contra a “velha política” e fechou apenas uma aliança, com uma sigla da qual já fez parte, o PV. Segunda colocada nas pesquisas de intenção de voto em cenários sem o ex-presidente Lula, com 15%, terá que enfrentar dificuldades geradas pelas escassas alianças, como a falta de recursos e tempo de televisão.

Em Brasília, a convenção contou com a presença de políticos, militantes e do ator Marcos Palmeira, que atuou como mestre de cerimônias. “Ele foi eleito o segundo homem mais bonito, só depois de mim”, brincou o porta-voz da Rede e coordenador de campanha Pedro Ivo Batista, ao abrir o evento.
Palmeira, que chegou até a ser cotado para vice na chapa, abriu o evento dizendo que ali ocorria um encontro "de pessoas do bem".

Após duas horas de espera por caravanas de apoiadores saídas de São Paulo e do Mato Grosso, Marina Silva e seu vice saíram do camarim para o palco sob aplausos.

Organizados com camisetas verdes, laranjas e amarelas, militantes se dividiram em três as arquibancadas ---os de verde ficaram atrás da candidata.

O primeiro a falar foi o pastor Levi Araújo, da Igreja Batista. "Há esperança para o Estado laico, esperança para aqueles que não misturam Bíblia com Constituição", afirmou.

Marina é evangélica e tem procurado manter pontes com igrejas, embora tente se distanciar da bancada religiosa.

Depois, um grupo de mulheres puxou a presidenciável e o vice para o palco para uma apresentação. Em ciranda, eles cantaram uma música sobre a força da mulher rendeira. A letra continha um jogo de palavras unindo as expressões "rede" e "vai balançar".

Entremeando as falas, houve performances de black music e música regional. Discursaram pré-candidatos do partido, como a indígena Joênia Wapichana (RR) e a ex-senadora Heloísa Helena (AL), que disputarão vagas na Câmara dos Deputados.

Eduardo Jorge sugeriu que o nome da coligação deveria priorizar outra mensagem em vez de transformação. "Prefiro que ela [Marina] seja a candidata da pacificação. Pacificar para transformar", disse.

O vice falou que "Marina é uma voz de esperança neste momento dramático".

Além de Eduardo, o presidente do PV, José Luiz Penna, compareceu à convenção. Penna, que é ligado ao pré-candidato Geraldo Alckmin (PSDB), foi vencido pelo grupo que defendia o apoio à ex-senadora.

A coligação foi representada por militantes do PV do Distrito Federal, e uma faixa com os dizeres “Marina Silva + Eduardo Jorge = O Brasil que eu quero” foi colocada embaixo do telão principal.

Além dos verdes, um pessebista também compareceu à convenção. O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, cujo partido está coligado com Rede e PV na disputa local passou “para dar um abraço na Marina”.

A presidenciável fez gracejo também com a aparição de um tucano na entrada do local da convenção. Ela disse que a presença do pássaro foi uma homenagem.

“Os tucanos de verdade sabem quem ainda está comprometido com a social-democracia”, afirmou ela, em alfinetada ao PSDB do adversário Geraldo Alckmin.

Não faltaram, aliás, indiretas ao adversário no discurso da ex-senadora, que voltou a afirmar que sua aliança com o PV é programática e não por causa de tempo de televisão. "Não substituímos a população pelo centrão. O povo brasileiro não vai ser destruído por centrões de esquerda, de direita, de centro, de nada. Quem está no centro é o povo brasileiro", afirmou ela.

CLÁUSULA DE BARREIRA
Neste pleito, a candidata terá outro desafio além de demonstrar viabilidade na corrida presidencial.

A Rede Sustentabilidade, partido fundado por ela em 2015, passa por sua primeira eleição geral pressionado pela cláusula de barreira aprovada no Congresso em 2017. A Rede aposta na ex-senadora e na coligação tardia com o PV para fazer o número mínimo de votos necessários.

"Nós da rede somos um partido em movimento e nós acreditamos nas candidaturas em movimento, nas candidaturas avulsas", afirmou Marina, quando questionada sobre as estratégias da Rede para vencer a cláusula de barreira. "E as nossas estratégias são no sentido de não permitir que partidos programáticos tenham que ser desconstruídos."


O vice também se manifestou sobre o assunto, afirmando ser favorável à cláusula, que tem como objetivo diminuir o número de partidos políticos no país. "O problema é que eles põem a cláusula de barreira e colocam tanto privilégio para alguns que terminam querendo esmagar a gente. Não é possível, tem que haver um mínimo de equanimidade."

O partido tem que fazer 1,5% dos votos válidos, distribuídos em ao menos nove estados, ou eleger ao menos um deputado federal em cada um deles para ter acesso aos recursos do fundo partidário e ao tempo de TV.

Hoje, a Rede tem apenas dois deputados federais e um senador.

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