sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Partidos dão últimos lances na pré-campanha eleitoral: Editorial | Valor Econômico

Os principais lances dos partidos políticos na preparação da campanha eleitoral oficial foram todos dados. Da prisão, jogando seu peso político para isolar Ciro Gomes (PDT) do eleitorado de esquerda e impedir que o PSB se aliasse a ele, o ex-presidente Lula aplainou a área para levar até o fim a arriscada estratégia de tentar até o fim ser candidato e, caso isso não seja possível, pelo menos colocar sua foto na urna. Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, foi escolhido pela convenção do MDB e terá a difícil tarefa de disputar o mesmo campo de ideias econômicas que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), com a diferença que o tucano tem um arco de apoio partidário mais extenso e poderoso. Jair Bolsonaro (PSL), como era esperado, vai em frente sem alianças.

Houve alguma decantação, com redução do número de postulantes. Álvaro Dias (Podemos) acolheu Paulo Rabelo de Castro (PSC) como vice em sua chapa, enquanto que, ao que tudo indica pelos sinais enviados por mensageiros de Curitiba, Manoela D'Ávila, candidata pelo PCdoB, pode ser a vice do PT, trazendo de volta um aliado que sempre concorreu ao lado do PT nas eleições para a Presidência. Marina Silva (Rede) permitiu coligações estaduais, heterodoxas para a ortodoxia de seus princípios, de olho, como outras legendas menores, na cláusula de barreira, que começa a contar agora.

O espaço para surpresas e reviravoltas não se esgotou, mas ficou bem mais limitado. Os cargos de vice estão todos em aberto para ampliar leques de alianças e cobertura regional de pontos fracos. O destino eleitoral de Lula, inelegível pela Lei Ficha Limpa, é a maior incerteza. O Supremo Tribunal Federal pode voltar a examinar sua soltura na próxima semana e dar um sinal definitivo se ele poderá ou não concorrer mesmo após ter sido condenado em segunda instância e preso - para 5 ministros do tribunal, ele não deveria estar recolhido em Curitiba, nem se esgotaram todos os recursos à sua disposição.

Ciro Gomes, que fez acenos para a esquerda e a direita, ficou do tamanho que estava nos primeiros estágios da corrida eleitoral - não recebeu apoio nem de uma nem de outra e continua no segundo pelotão da disputa, pelas pesquisas até hoje disponíveis. Seu programa o aproxima do PT e apesar do jogo bruto petista, pode ser aliado importante no segundo turno, caso o embate, de fato, volte a ser entre esquerda e direita.

Alckmin começou a se mover na campanha sob grande descrédito e com desconfiança sobre suas chances entre os próprios tucanos, mas a reviravolta do centrão, que decidiu apoiá-lo, muda em princípio sua situação da água para o vinho. Ainda que tenha de provar seu talento em uma eleição muito disputada, o apoio dos demais partidos lhe dá pouco mais de 40% do tempo de TV. Seu estilo político contrasta tanto com o de Jair Bolsonaro, com seu festival de impropérios e preconceitos, quanto com o dos petistas, em uma cruzada (retórica, pelo menos), para desfazer tudo o que ocorreu no intervalo em que o PT deixou de governar até agora. Suas chances cresceram exponencialmente.

A eleição será um teste para a sabedoria política de Lula, o único fiador de uma campanha em que ninguém aparece até o início da temporada oficial. O PT é inteiramente dependente de sua vontade, e não se sente incomodado com isso. Lula quer voltar ao poder e usa para isso os métodos que tiveram sucesso quando lá estava, ao ter se aliado com o que de mais atrasado há na política. Lula já perdoou os golpistas, cortejou o PR do mensaleiro Costa Neto e sancionou a orientação de sacrificar candidatos petistas para abrir espaço, por exemplo, ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), no Ceará.

Lula manteve o PT em um gueto na costura de alianças e seu programa político, ao menos os esboços apresentados pelo ex-prefeito paulistano, Fernando Haddad, prega aos convertidos, que já foram em número muito maior do que hoje. Lula e o partido não reconhecem qualquer erro na condução da política econômica e dobram a aposta no intervencionismo estatal de onde também sairão os recursos que impulsionarão a retomada da economia para valer. Não há um Estado quebrado na visão petista.

O programa de Lula é o oposto do que adotou na reta final da campanha vitoriosa de 2002. Então, com o partido em ascensão, fez um pedido de confiança a todos os eleitores. Agora, com o partido em decadência, busca unir suas forças em torno de um programa velho, que afundou com Dilma Rousseff - e com ela, o país.

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