sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Rifados resistem a acordo PT-PSB

Rifados pelos próprios partidos, a vereadora do Recife Marília Arraes (PT) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) anunciaram que resistirão à retirada de suas candidaturas aos governos de Pernambuco e Minas Gerais.

Marília e Lacerda desafiam PT e PSB

Após terem candidaturas sacrificadas por acordo entre as siglas, neta de Arraes e ex-prefeito de BH dizem que se mantêm nas disputas estaduais

Jonathas Cotrim / Kleber Nunes / Katna Baran |O Estado de S. Paulo.

BELO HORIZONTE, RECIFE, CURITIBA - Rifados pelos próprios partidos, a vereadora do Recife Marília Arraes (PT) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) anunciaram ontem que não vão retirar suas candidaturas ao governo de Pernambuco e de Minas Gerais, respectivamente. Ambos afirmaram que vão se manter na disputa e passaram o dia em articulações para que os termos do acordo fechado entre PT e PSB fossem submetidos à votação na convenção dos diretórios estaduais das duas siglas.

Anteontem, os dois partidos fecharam acordo que estabeleceu a neutralidade do PSB na eleição presidencial – o que na prática isolou o candidato do PDT, Ciro Gomes – e apoio “cruzado” nos Estados. Pelo trato, o PT retiraria a candidatura de Marília e apoiaria a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Em troca, Lacerda desistiria de tentar o governo de Minas e o PSB declararia apoio à reeleição do governador Fernando Pimentel (PT).

Ao reagir, Lacerda adotou um tom mais incisivo. Disse que recebeu a notícia com “indignação, perplexidade, revolta e desprezo”, e aventou a possibilidade de recorrer à Justiça. “É possível uma judicialização. Tudo o que estiver ao nosso alcance para defender a candidatura, nós iremos atuar dentro dessas possibilidades”, disse. O ex-prefeito de Belo Horizonte declarou que não comunicou sua decisão ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.

Lacerda pretende levar sua candidatura para a convenção estadual do partido, marcada para amanhã, e, para isso, convocou a presença dos delegados estaduais. Afirmou que também pretende ir a Brasília para participar da convenção nacional do PSB, marcada para domingo, com o objetivo de pleitear a manutenção da candidatura ao governo mineiro.

O ex-prefeito argumentou que, para haver a retirada da candidatura, é necessário aprovação da executiva nacional do partido, e que o pré-candidato tenha cometido alguma infração. “A direção nacional, para impedir a candidatura, precisa de uma resolução da executiva nacional, que são mais de 30 membros. E até agora não tem nenhuma manifestação formal da direção nacional enviada à direção estadual, que já manifestou a discordância com essa intervenção” disse ele, que recebeu a proposta de se candidatar ao Senado na chapa de Pimentel, mas negou.

O ex-prefeito de Belo Horizonte afirmou que falou com Marília. “Pela manhã, liguei para ela, mantemos contatos eventuais, e ela me disse ‘Marcio, lute para sobreviver aí, que eu vou em Minas fazer campanha para você. Estou tentando manter a minha candidatura aqui’.”

‘Bases’. Marília, neta do ex-governador Miguel Arraes, disse que será candidata e que isso não configura posicionamento “subversivo” ou afronta à hierarquia do partido. “Pernambuco vai ter uma governadora do PT, sim. Estamos aqui para decidir o futuro de Pernambuco depois de mais de um ano de construção. Nós respeitamos os pensamentos divergentes, mas é preciso respeitar o desejo das bases do PT e do povo pernambucano”, afirmou ela antes do encontro estadual do PT, no Recife, para definição do posicionamento do diretório. À noite, o PT-PE decidiu pela candidatura de Marília. Foram 230 votos a favor, 20 contra e uma abstenção.

Usando um megafone, a petista criticou o PSB, a quem chamou de “falsa esquerda”, e disse que a sigla fez “chantagem” com o PT. “Não adianta mais tentar unir a esquerda por meio de chantagem. É o que o PSB está fazendo. O PSB chantageia o PT.” No discurso, a vereadora lembrou que a sigla liberou deputados para votar a favor do impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff, em 2016.

Protestos. Em Curitiba, após visitar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na prisão, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, enfrentou protestos de militantes do PT de Pernambuco, mas defendeu o acordo. “É claro que é ruim para a gente, do ponto de vista regional e de Pernambuco, abrir mão de uma candidatura como a de Marília, mas temos um projeto nacional e, desde o início, os companheiros de Pernambuco sabiam dessa nossa movimentação e conversação”, disse Gleisi.

“Em nenhum momento fizemos qualquer movimentação que não fosse clara e aberta”, afirmou a petista. Enquanto a senadora falava, integrantes de movimentos sociais e do PT-PE gritavam “Não tem plano B, em Pernambuco é Marília do PT”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário