sábado, 11 de agosto de 2018

Suzana Kahn: Darwinismo tecnológico

- O Globo

Só os alinhados à quarta revolução passarão para a “próxima fase”, o que pode ser entendido como ‘darwinismo’ tecnológico

Várias revoluções foram moldando o mundo no decorrer dos séculos. Somente aqueles que mais bem sobreviveram a elas, tal como em um jogo, conseguiram passar para a fase seguinte. O livro “Sapiens”, de Yuval Noah Harari, apresenta três revoluções que definiram o rumo da História: a Cognitiva, há 70 mil anos; a Agrícola, há 12 mil anos; e a Científica, iniciada há 500 anos, que, de acordo com o autor, pode colocar um fim à História e dar início a algo bem diferente.

Em menor escala de tempo, costumamos segmentar nosso desenvolvimento econômico e social em quatro fases. A Revolução Industrial, no século XVIII, com a máquina a vapor substituindo a energia humana. O uso da eletricidade e do petróleo, entre outros avanços tecnológicos, propiciou a manufatura em massa, caracterizando a Segunda Revolução Industrial, na segunda metade do século XIX. 

A eletrônica, a tecnologia da informação, a biotecnologia, as telecomunicações, o intenso uso de computadores pessoais e da internet alteraram fortemente a economia e as relações sociais, a partir de meados do século XX, configurando a Terceira Revolução Industrial. 

Atualmente, presenciamos a Quarta Revolução Industrial, com uma convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Esta mudança provocará profundas alterações nos sistemas econômicos, que passarão a ter como objetivo a melhoria das condições globais de vida e bem-estar da sociedade, em vez do mero crescimento na produção de bens e serviços demandantes de energia e outros recursos naturais. Só aqueles alinhados a essa nova revolução serão capazes de passar para a “próxima fase”, o que pode também ser entendido como “darwinismo” tecnológico.

Neste momento, em que a sociedade brasileira escolherá seu presidente e representantes legislativos; a fluminense, o seu governador, é fundamental avaliarmos os compromissos relativos à inclusão do Brasil e do Estado do Rio de Janeiro na Quarta Revolução.

O Estado do Rio tem todas as condições de não apenas participar desse movimento, como de ser uma de suas lideranças. Concentra importantes universidades, institutos e centros de pesquisa, que poderão ajudar a promover essa revolução, por meio da inovação tecnológica, alinhada com soluções que contribuam para o desenvolvimento econômico e social, respeitando os limites dos recursos naturais, e promoção de ações para redução dos impactos ambientais e dos gases de efeito estufa responsáveis pelo aquecimento global.

A tecnologia digital deve estar incluída em todos os setores de governo, promovendo eficiência e transparência. A tecnologia da informação exigirá cada vez mais profissionais qualificados, trazendo como impacto negativo a perda de muitos postos de trabalho. No entanto, vale ressaltar que também são as inovações que produzem novos serviços, novas estruturas organizacionais, novas formas de financiamento e novas práticas de consumo. Como o setor de serviços é muito significativo em nosso estado, e este setor é intensivo em capital humano e intelectual, trata-se de oportunidade para a compensação dos postos de trabalho cada vez mais reduzidos por conta da automação e das novas tecnologias.

Mas precisamos nos preparar, em termos de planejamento e soluções, para que possamos equacionar essa transição. Basicamente, as áreas com grande potencial de inovação e geração de empregos nas próximas décadas envolvem bens e serviços associados a uma economia de baixo carbono, serviços de alta tecnologia, modelos avançados de produção e indústrias criativas. E cada região do Estado do Rio possui uma ou mais dessas potencialidades. É preciso estar atento que, para participar desta revolução, o Rio precisará fortemente da ciência e tecnologia, que são as bases de sustentação para trilharmos o caminho do desenvolvimento e crescimento sustentável e responsável, garantindo o compromisso com a qualidade de vida da população. Urge a necessidade de política pública fundamentada em inteligência, ética e responsabilidade.

Para os descrentes na política, vale uma reflexão de Toynbee: “o maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam .”
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Suzana Kahn é professora da Coppe/UFRJ e coordenadora do Fundo Verde da UFRJ

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