quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Bruno Boghossian: Caça-fantasma

- Folha de S. Paulo

Haddad antecipa caça aos fantasmas do PT para segurar rejeição

Foram necessárias sete perguntas em quatro minutos até que Fernando Haddad desse sua declaração mais enfática até agora sobre a possibilidade de um indulto que poderia tirar Lula da prisão. “Não. A resposta é não”, afirmou.

Uma semana após assumir a candidatura do PT, Haddad tenta afastar um dos principais fantasmas que pairam sobre sua campanha. Em entrevista à CBN, disse que Lula não quer ser solto por medida excepcional, desautorizou petistas que defendem esse perdão ao ex-presidente, reclamou do debate sobre o assunto e sentenciou: “Não ao indulto”.

Haddad caminhava sobre uma corda bamba. Lula assombra parte dos eleitores, mas é tratado como espírito divino por outros. Ao refutar uma manobra aberta para libertar o padrinho, o candidato indica que a preocupação com o crescimento do antipetismo começa a falar mais alto.

O crescimento de Jair Bolsonaro e a tentativa do candidato do PSL de turbinar o sentimento de medo da volta do PT obrigaram Haddad a emitir sinais antecipados de moderação. Além da declaração contra o indulto, o petista ensaia correções na cartilha econômica defendida pelo partido nos últimos meses.

Há dois dias, o candidato rebateu opiniões do economista Marcio Pochmann, do PT, que contestava a urgência de uma reforma no sistema de aposentadorias. Haddad reconheceu a gravidade do buraco das contas públicas e admitiu discutir mudanças na Previdência.

Em ambos os casos, o petista faz acenos contidos. Declara que não vai tirar Lula da cadeia, mas diz que o ex-presidente será inocentado e solto. Na economia, tenta amenizar os receios do mercado financeiro com o PT, embora tenha evitado encontros públicos com grandes investidores.

Movimentos calculados em direção ao centro do espectro político são comuns, principalmente no segundo turno. O acirramento da disputa precipitou os passos de Haddad. Bolsonaro ainda guarda esta carta na manga, embora não se saiba se ele pretende utilizá-la.

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