quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Ciro parte para o ataque contra Alckmin e diz que tucano 'precisa se explicar'

Candidato do PDT cita delação da Odebrecht, escândalo da Alstom e Paulo Preto

Isabel Fleck | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Ciro Gomes, candidato do PDT ao Planalto, decidiu que é hora de deixar de lado a versão batizada por ele de “doce de coco”, adotada no início da campanha, e partiu para o ataque contra adversários, em especial Geraldo Alckmin (PSDB), que ele disse nesta terça (4) ser responsável, junto com Michel Temer, pelas reformas “antipovo, antipobre e antinação”.

“Vai ficando claro que o inimigo hoje do povo brasileiro é a economia política que representa o governo Temer e o PSDB. Evidentemente que a responsabilidade grave por isso é centralizada no Temer, no Alckmin e no simpático [Henrique] Meirelles [MDB]”, afirmou Ciro a jornalistas após sabatina promovida pelo Estadão e pela FAAP (Fundação Armando Alvares Penteado).

Ciro se disse disposto a ajudar o povo brasileiro a descobrir “quem é quem por trás da mistificação, da propaganda, da converseira, do discurso bonito que todo político tem em véspera de eleição”.

“Eu acho que estamos nos aproximando da hora de a onça beber água, o Brasil hoje está bailando à beira de um certo abismo”, afirmou.

Na segunda-feira (3), em sabatina promovida por Folha, UOL e SBT, Ciro já havia dito que Alckmin “deixa roubar”. Nesta terça, ele afirmou que o tucano “deve muitas explicações ao povo brasileiro”.

“Ele próprio está respondendo a inquérito com delação premiada de ter participado do escândalo da Odebrecht. Toda a sociedade brasileira sabe do inquérito Alstom dos trens de São Paulo. Toda a sociedade brasileira ficou chocada com o escândalo da merenda escolar. Todo mundo já ouviu falar do Paulo Preto”, disse.

Ciro acusou, inclusive, Alckmin de, junto com Temer, ter encomendado reportagem da revista Veja em que o ex-tesoureiro do Pros Niomar Calazans diz que Ciro “sabia e participava” de um esquema de extorsão no Ceará denunciado pelos irmãos Batista e que envolveria seu irmão, Cid Gomes.

“Que tal vocês imaginarem que eles compraram uma matéria caluniosa na revista Veja? Foram os dois juntos, o Temer e o Alckmin, todo mundo está sabendo”, disse. A prova, segundo ele, é um financiamento que o Grupo Abril estaria pedindo ao BNDES.

O candidato do PDT ainda disse que a “lupa moral” geralmente aplicada sobre Jair Bolsonaro não é adotada com Alckmin. “Contratar um funcionário fantasma é desonesto mesmo, mas aplica aí essa lupa moral do Bolsonaro em cima do Alckmin. Esse filtro aí é vesgo”, disse Ciro, referindo-se à assessora de gabinete de Bolsonaro que vendia açaí em Angra dos Reis-RJ em seu horário de expediente em Brasília.

Na segunda (3), após Ciro declarar que ele “deixa roubar”, o tucano o chamou de irresponsável e “aloprado fujão”, que não esclarece a denúncia publicada contra ele pela Veja.


ELEITORADO 'TRUCULENTO E EGOÍSTA'

Enquanto o cenário em relação à candidatura de Lula (PT) não se define, Alckmin e Marina Silva (Rede) são os adversários que disputam com Ciro o segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto, atrás de Bolsonaro.

Por ora, a candidata da Rede tem sido poupada pelo pedetista, mas ele já endureceu o tom contra o capitão reformado —e seu eleitorado— também.

Nesta terça, Ciro disse que o eleitor do deputado federal é o “lado mais truculento e mais egoísta da sociedade”.

“Lembre-se que quem está puxando o Bolsonaro são os ricos, os brancos e os machos —ou os homens—, e é basicamente esse lado mais truculento e mais egoísta da sociedade”, afirmou.

Segundo Ciro, o voto no Bolsonaro é um “pit stop na corrida”. “Sabe como é? O carro vem e de repente para para trocar o pneu, botar gasolina?”, afirmou. “Mas daí a ter que ganhar a eleição, eu acho que o povo brasileiro não cometerá esse suicídio coletivo”, completou.


Antes de criticar o eleitorado de Bolsonaro, Ciro havia dito que quer “unir o Brasil para além dessa confrontação miúda de coxinhas contra mortadelas que está fazendo muito mal ao país”. Em outro momento, se identificou como “mortadela”.

No início da tarde, o pedetista seguiu da sabatina para a frente do Theatro Municipal de São Paulo, no centro da cidade, onde distribuiu, por 20 minutos, os panfletos com sua proposta de refinanciar a dívida dos brasileiros no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito).

Acompanhado por um grupo de cerca de 30 pessoas, ele subiu num banquinho, pegou um megafone e pediu votos para o candidato de seu partido ao governo de São Paulo, Marcelo Cândido. "Vamos ocupar a rua. Viva o povo brasileiro", disse. Apoiadores seguravam cartazes com a frase "seu nome fora do SPC".

Ao deixar o local em direção ao carro, em meio a bandeiras e guarda-chuvas, Ciro cantou com os apoiadores o Hino da Independência, revivendo um ritual de Leonel Brizola (1922-2004), fundador do PDT.

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