segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Contundência do debate também foi vítima do atentado de Juiz de Fora

Paira temor de que o eleitor médio esteja propenso a encarar negativamente toda agressividade

Sérgio Rodrigues | Folha de S. Paulo

O debate começou dando a impressão de ter sido atingido nas entranhas pela mesma facada que vitimou Jair Bolsonaro em Juiz de Fora.

Num momento tenso e minado por indefinições, paira no ar o temor de que o eleitor médio esteja propenso a encarar negativamente toda manifestação de agressividade, que nem sempre tem fronteira nítida com a intolerância e o ódio.

Os candidatos que restaram na arena pareciam pouco dispostos a desafiar essa ideia. O bate-boca entre Guilherme Boulos e Henrique Meirelles, perto do fim do primeiro bloco, foi a primeira tentativa de quebrar o gelo.

“Eu não vou chamar o Meirelles, eu vou taxar o Meirelles”, anunciou o candidato do PSOL. Ouviu de volta que o Brasil é um país dividido entre “quem trabalha e quem não trabalha”.

As frases de efeito podiam não ser grande coisa, mas, com pouca escolha devido às posições modestas que ocupam nas pesquisas, Boulos e Meirelles deixaram claro que a agressividade não era proibida.

Entre os candidatos mais bem cotados, porém, as palavras-chave do primeiro debate após o atentado sofrido pelo líder nas pesquisas continuaram a girar em torno de “civilidade”, “moderação” e “equilíbrio" ¬(ou da encenação desses atributos, o que na gramática da telenovela eleitoral dá no mesmo).

Do ponto de vista da linguagem, o resultado foi uma conversa morna e redundante. Se é provável que, diante da gravidade dos problemas do país, uma dose de contundência verbal seja imprescindível ao debate de ideias, o ambiente hoje ¬—devido ao ato de violência sofrido pelo candidato de discurso menos ponderado entre todos— não parece propício à nitidez que o confronto acarreta.

Pior para quem se plantou diante da TV em busca de definir seu voto.

Com o campo retórico drasticamente reduzido, quem tirou proveito da situação foi o candidato do PDT, que é, entre todos e de muito longe, o que demonstra mais habilidade com as palavras. O mesmo Ciro Gomes que tem a reputação —merecida, mas hoje refreada— de pisar firme e falar grosso foi o grande artista do morde e assopra que o debate exigia.

Elogiou a honestidade de Meirelles, dizendo não saber de nada que o desabone, para no mesmo fôlego o escalar no “baronato” responsável pela evasão de divisas do país. Foi ambíguo em relação à Lava Jato: falou da importância de coibir a “ladroagem de alto coturno” e logo criticou a “Justiça que vive de gravatinha-borboleta nos salões da grande burguesia nacional e estrangeira”.

O dito popular “uma no cravo, outra na ferradura” talvez pudesse, em outro momento, ser confundido com um lero-lero melífluo e vazio. Não ontem. Tiradas como a da gravatinha e a do neologismo “banqueirada” (coletivo pejorativo de banqueiros) chegaram a lembrar um craque da animação de debates chamado Leonel Brizola, fundador do partido de Ciro.

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