terça-feira, 18 de setembro de 2018

Estagnado, Alckmin tenta reverter votos ‘bolsodoria’

Vera Rosa / Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Geraldo Alckmin (PSDB), estagnado nas pesquisas, tenta evitar debandada de aliados e quer reforçar sua visibilidade. Sem contar com o engajamento do Centrão, Alckmin deverá investir em SP para barrar o voto casado em Jair Bolsonaro (PSL) para presidente e João Doria (PSDB) para governador, o chamado voto ‘bolsodoria’.

A campanha do ex-governador Geraldo Alckmin, presidenciável do PSDB, tenta evitar uma debandada de aliados e quer reforçar a visibilidade do tucano em São Paulo nas três semanas que restam antes do primeiro turno. Ainda sem contar com o engajamento dos partidos do Centrão, Alckmin pretende investir no próprio quintal para evitar o triunfo do voto casado no candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) e no nome tucano para o Palácio dos Bandeirantes, João Doria. A ideia é impedir a consolidação do chamado voto “bolsodoria” no maior colégio eleitoral do País.

Apesar de ter o maior tempo no horário eleitoral no rádio e na TV, Alckmin continua estagnado nas pesquisas. Oficialmente, integrantes do bloco formado por DEM, PP, PR, PRB e Solidariedade pedem mudanças no tom da campanha, mas, nos bastidores, já procuram candidatos que consideram mais viáveis para o segundo turno.

Os líderes do Centrão foram convocados pelo prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), coordenador político da campanha, para uma reunião de emergência hoje na capital paulista. Porém, já há sinais de abandono na aliança tucana. O coordenador da campanha de Bolsonaro em São Paulo, deputado Major Olímpio (PSLSP), disse ontem que líderes do Centrão estão se aproximando do presidenciável do PSL.

No Solidariedade, partido ligado à Força Sindical, a preferência é pelo candidato do PDT, Ciro Gomes. Já o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), que concorre à reeleição, não esconde o apoio ao PT. Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no páreo por causa da Lei da Ficha Limpa, o senador pretende se juntar à campanha do petista Fernando Haddad. Alega, para tanto, questões regionais.

Um dos integrantes do bloco disse ao Estado que, na prática, não há como desfazer a coligação com Alckmin. Mas observou que, mesmo nas fileiras do PSDB, o tucano está sendo “cristianizado”, termo usado na política para se referir a candidato abandonado por seus pares.

Embora considere “dificílima” a hipótese de o tucano deslanchar, a maior parte do Centrão acha que é preciso concentrar o ataque em Bolsonaro e pregar o voto útil com mais vigor, deixando a artilharia pesada contra Haddad para o final. Há, no entanto, quem defenda críticas já ao petista.

Na avaliação de integrantes do bloco ouvidos pelo Estado, além de desconstruir Bolsonaro, o ex-governador de São Paulo precisa destacar os riscos da volta do PT ao poder e se descolar do presidente Michel Temer, bastante impopular.

Em outra frente, a campanha vai tentar promover uma aproximação entre o governador Márcio França (PSB), candidato à reeleição, e Doria. “Esse litígio entre o Doria e o França nos prejudica muito. Um dos nossos esforços será para reduzir as agressões entre eles e para que a campanha do Geraldo esteja mais presente em São Paulo”, disse o ex-secretário de Energia de São Paulo João Carlos Meirelles, conselheiro próximo de Alckmin.

Distanciamento. Até o momento, as campanhas de França e Doria têm ignorado Alckmin na propaganda de rádio e TV. O exprefeito tem feito agendas pontuais com o ex-governador, mas sua campanha adotou um discurso com forte enfoque na segurança pública para atrair o eleitorado de Bolsonaro. Doria também tem poupado Bolsonaro em entrevistas e sabatinas.

No comercial exibido ontem, o ex-prefeito defendeu a redução da maioridade penal e “leis mais duras”, além de blindar veículos da Polícia Militar. Na mais recente pesquisa Ibope sobre o cenário em São Paulo, Bolsonaro e Alckmin aparecem, em empate técnico na primeira colocação, com 23% e 18%, respectivamente, no limite da margem de erro.

No campo da estratégia, a avaliação da campanha de Alckmin é de que uma vaga no segundo turno será de Haddad e que é inevitável manter o foco em Bolsonaro. “A nossa percepção é que Haddad vai para o segundo turno. Já o voto em Bolsonaro não está cristalizado. É na última semana que isso ocorre”, disse Meirelles.

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