terça-feira, 16 de outubro de 2018

Velhas fragilidades da educação no novo índice do Banco Mundial: Editorial | Valor Econômico

Em recente artigo no Financial Times, o presidente do Banco Mundial, Jim Yong Kim, escreveu que os governos geralmente preferem construir rodovias, pontes e aeroportos a investir em treinamento de professores e em atendimento à saúde, o que também beneficia a população. Médico que trabalhou em projetos de apoio humanitário antes de assumir o Banco Mundial, Kim conclui que os frutos político e econômico da construção de uma obra de infraestrutura podem ser colhidos mais rapidamente, enquanto o impacto positivo do investimento em capital humano pode "levar anos ou mesmo décadas para se tornar aparente". No entanto, adverte, a disponibilidade de capital humano de um país tem estreita correlação com o crescimento econômico, ligação que deve se aprofundar no futuro cada vez mais digital.

A conclusão de Kim é que promover o desenvolvimento do capital humano é, portanto, urgente. Com o objetivo de oferecer um instrumento de partida para a tarefa, o Banco Mundial elaborou um Índice de Capital Humano (ICH), divulgado na reunião conjunta com o Fundo Monetário Internacional (FMI), na semana passada. A ideia é que, ao poder comparar sua posição com a de vizinhos ou concorrentes, o governo de cada país possa trabalhar para superar os pontos fracos da formação de sua população, providência tão importante quanto a solução dos problemas fiscais e econômicos.

O Índice de Capital Humano leva em conta três fatores principais: a mortalidade até os cinco anos de idade; as condições de saúde na infância e na vida adulta; e os resultados educacionais. O índice varia de 0 a 1 e, quanto mais próximo de 1, melhor o desempenho. O conceito por trás do índice é que as crianças que crescem em ambiente saudável e com educação de qualidade chegam mais bem preparados ao mercado de trabalho. No levantamento dos 157 países analisados nesta primeira elaboração do ICH, Cingapura fica em primeiro lugar, com índice 0,88. Todas as crianças que nascem no país certamente estarão vivas aos cinco anos e têm a expectativa de passar por 13,9 anos de estudo. Na ponta oposta está o Chade, com índice 0,29, 88% de chance de que a criança agora nascida no país chegue aos cinco anos e perspectiva de apenas cinco anos de estudo.

O Brasil está praticamente no meio da escala, com índice de 0,56, o que significa que a criança nascida hoje no país atingirá aos 18 anos 56% de sua capacidade produtiva, índice semelhante ao de áreas de conflito como a Palestino e o Kosovo. A probabilidade de a criança brasileira sobreviver até os cinco anos é elevada, de 99%, comparável à dos Estados Unidos, por exemplo. Mas a expectativa é de 11,7 anos de estudo até os 18 anos, menos do que os 13,3 anos da criança americana.

O quadro fica pior quando ajustado à performance obtida pelos estudantes nos testes internacionais, mais especificamente ao Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa). Feito o ajuste, resulta em 7,6 anos de estudo na prática no país e 11,1 anos nos EUA. No Uruguai, que leva o índice de 0,60, as crianças ficam na escola praticamente o mesmo tempo que no Brasil, 11,8 anos, mas aprendem mais, 8,4 anos. Entre os países da América Latina, o Chile é o melhor colocado, em 45º lugar, com índice de 0,67, 12,8 anos de expectativa de estudo, sendo 9,6 anos efetivos.

Embora o índice se refira a 2017, os pesquisadores levantaram dados anteriores, a partir de 2012. No caso do Brasil, o indicador ficou estagnado durante todo esse tempo e a avaliação é que a deficiência educacional é a principal barreira para o avanço. A expectativa do Banco Mundial é que o Índice de Capital Humano estimule os países como o Brasil a tomarem medidas para superar suas deficiências, cientes de que a melhora do desempenho das próximas gerações dependerá de políticas adotadas agora.

O relatório dos técnicos do Banco Mundial conta que quando foi divulgado o resultado do primeiro Pisa, em 2001, houve um choque na Alemanha com o desempenho ruim de seus estudantes, que levou a reformas no sistema de ensino. O esforço valeu a pena porque em 2012 os estudantes alemães conseguiram nota superior à média dos países da OCDE. Em recente evento "E Agora Brasil?", promovido pelos jornais "O Globo" e Valor, que teve como tema o investimento em educação, foi comentado o caso de Portugal, que levou 15 anos para melhorar os resultados na área de educação. O esforço, como sempre, passa por medidas de resultado a longo prazo, como melhorar a formação dos professores.

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