segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Marcus Pestana: Os desafios do governo Zema

- O Tempo (MG)

As eleições de 2018 foram totalmente atípicas. A sociedade brasileira deu um forte recado. A opção foi claramente por uma mudança radical. Critérios de escolha que sempre prevaleceram – história pessoal, experiência, legado, realizações passadas – de nada valeram. Os eleitores procuraram outsiders como resposta à crise econômica, ética e política instalada desde 2015.

Não só a onda Bolsonaro, apesar de o futuro presidente não ser exatamente um outsider, mas também a eleição de governadores novatos foram expressão desse forte sentimento que tomou conta de corações e mentes do eleitorado.

Em Minas, a virada foi surpreendente. Tudo indicava que teríamos a reprodução da polarização tradicional PT x PSDB. Mas a soma das intenções de votos dos candidatos de PT, PSDB e MDB nunca ultrapassou 55%. Ou seja, 45% do eleitorado estava querendo algo novo. Custou a localizar uma alternativa. E isso aconteceu na última semana antes do pleito, sobretudo após o debate da TV Globo e a divulgação das pesquisas nas últimas 72 horas.

O senador Antonio Anastasia é um dos melhores quadros da política brasileira, com grandes serviços prestados a Minas. Grande jurista, excepcional professor e gestor reconhecido, saiu com sua imagem intacta. A onda era de mudança, e o PSDB foi contaminado violentamente pelo clima geral de rejeição à chamada “velha política”. Felizmente, Minas continuará, por mais quatro anos, contando com o brilhantismo e a competência de Anastasia no Senado Federal.

O governador eleito, Romeu Zema, encontrará uma situação de “terra arrasada”. Só haverá melhor saúde, educação e segurança se fizermos um radical ajuste fiscal, recuperando a capacidade de investimento do setor público mineiro. São passivos bilionários acumulados por todos os lados relativos aos depósitos judiciais, à apropriação indébita do consignado dos servidores, à retenção dos recursos das prefeituras, às dívidas com fornecedores e prestadores de serviço. O fluxo orçamentário é gravemente deficitário. O desequilíbrio do sistema previdenciário estadual é insustentável. Serão anos extremamente difíceis.

O governador, apesar de neófito no setor público e de pertencer a um partido sem experiência acumulada, é um grande e experiente empresário e demonstrou, em sua entrevista ao “Valor Econômico”, no dia 21 deste mês, estar com o diagnóstico correto da grave situação.

Ao PSDB não cabe exercer uma oposição sistemática e radical. Isso caberá à esquerda. Até porque temos muitos pontos em comum com o Partido Novo na defesa do ajuste fiscal, das reformas estruturantes, das privatizações inevitáveis e da redução da máquina estatal. Creio que nos cabe uma atitude de independência e cooperação.

A situação de Minas é tão delicada que todas as pessoas preocupadas com o futuro de nossa gente devem colaborar para a superação de um quadro que, numa primeira análise, parece quase insolúvel.

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Marcus Pestana: é deputado federal (PSDB-MG)

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