segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Opinião do dia: Maria Celina D ‘Araujo

O “rouba mas faz” foi a institucionalização do cinismo; O “sou contra mas quero minha parte do bolo”, desmoralizou a oposição. Para as eleições de 2018 o eleitor está abandonado. As elites se distanciam das virtudes republicanas. A fórmula para o candidato vencedor em 2018 não tem fórmulas mágicos. Apenas implementar uma política criativa para combater a desigualdade social e uma política financeira responsável sem truques ardilosos. Precisamos mais do velho Aristóteles: a virtude está no meio.

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Maria Celina D ‘Araujo é cientista ´política. O Globo, 1/1/2018

Marcus Melo: Previsões

- Folha de S. Paulo

Na "Divina Comédia", os adivinhos estão no oitavo círculo do inferno. Eles têm a cabeça torcida, voltada para as costas, de maneira que não conseguem olhar para a frente. As lágrimas molham suas nádegas. Essa é a punição por alegarem saber o futuro que estaria ao alcance apenas de Deus.

Cientistas políticos e economistas são uma variante moderna dos oráculos. Em vez de vísceras ou voo dos pássaros, detêm-se na análise das evidências empíricas. Mas o novo rigor não foi suficiente para prever a ascensão de Trump ou a crise financeira de 2008. As previsões não são inúteis, mas devem ser tomadas com um grão de sal: como "educated guesses" (chutes fundamentados).

Metade das previsões feitas na ciência política estava errada –a estimativa é de Philip Tetlock. Em "Expert Political Judgment" (Princeton University Press), o autor analisa previsões feitas por cientistas políticos ao longo de quase duas décadas.

Rubens Penha Cysne: A Nova Síntese Brasileira

- O Globo

A representação política nacional tem o potencial de se transformar em guilhotina de visões políticas. Ceifou parte da esquerda. Da mesma forma, poderá ceifar parte da direita, se eleita

“Quanto pior a lógica, mais interessantes as consequências do discurso”. Alguns associariam essa frase à forma docemente atraente pela qual alguns políticos brasileiros constroem suas narrativas. Mas a frase retrata, na origem, um conhecido aforismo de Bertrand Russel sobre as ideias filosóficas de Friedrich Hegel.

Críticas filosóficas à parte, é razoável admitir que a contraposição Hegeliana da antítese à tese, gerando uma síntese, pode ser um artifício didático para a visualização de evoluções históricas. O expediente pode se aplicar, por exemplo, com diferentes interpretações, ao Brasil pós 1964.

Em uma delas, a Nova República brasileira, caracterizada pela abertura política que se consolidou em 1985 e pela Constituição de 1988, é visualizada como uma síntese. O período de governos militares seria a tese. E, as dificuldades de ordem política e econômica daí posteriormente advindas, a antítese.

Cida Damasco: Governo em campanha

- O Estado de São Paulo

Discurso de “aproveitar” a impopularidade e cuidar do legado foi abandonado

2018 chegou. Mas o “enigma” das eleições, que há bom tempo vem regendo a política e, por tabela, a economia, ainda está longe de ser desvendado. Mesmo em relação ao governo instalado no Planalto, pelo menos três grandes perguntas persistem sem respostas: 1) Qual será o papel específico do governo Temer na disputa presidencial? 2) A política econômica continuará no mesmo trilho ou será submetida à conjuntura eleitoral? Como e a quem Temer pretende agradar para chegar ao destino desejado?

Conforme reportagem do Estadão, o governo Temer deve abrir a temporada com acenos à classe média, via reforços nos programas Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida e Pronatec – ao mesmo tempo em que reinicia a batalha pela aprovação da reforma da Previdência, numa versão provavelmente abrandada nas regras específicas para os servidores públicos, atendendo aos interesses dos mercados e dos setores empresariais. Tudo isso sem explicitar como e com quem o governo estará na campanha. Com o ministro Henrique Meirelles, identificado como guardião da política econômica e estrela do horário oficial do seu partido, o PSD, em que assumiu postura e discurso de candidato, ou, conforme as especulações mais recentes, com o próprio Temer, que busca assumir a paternidade da política econômica e transformá-la em cacife eleitoral. Alianças e aproximações com outros candidatos a candidato, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também não estão descartadas, dependendo das circunstâncias.

Murillo de Aragão*: Melhor que a encomenda: o Brasil se salvou, e 2018 poderá ser bom

- O Tempo (MG)

Termina 2017 melhor do que a encomenda e as expectativas mais prudentes. Avançamos significativamente na modernização das relações trabalhistas graças à proposta do Executivo acatada pelo Congresso, que também aprovou outras medidas relevantes para alentar a economia.

Entre elas estão a PEC destinada a conter os gastos públicos, a nova lei de exploração do pré-sal (quebra da exclusividade da Petrobras, que terá participação de um terço dos investimentos) e a mudança da taxa de juros do BNDES, agora referenciada no que o governo paga para se financiar no mercado, entre outros projetos voltados para o equilíbrio fiscal e o retorno à estabilidade.

O leitor já conhece uma série de estatísticas que demonstram as conquistas do programa de reformas que o governo pôs em prática como meta a alcançar. Mas alguns números funcionam como selo de validade dessa nova fase.

Vinicius Mota: Encolhemos o presidente

- Folha de S. Paulo

Talvez nunca antes na história deste país o presidente da República no Brasil tenha sido tão poderoso quanto entre 2007 e 2014. Por sua vontade majestática quase R$ 500 bilhões, tomados a juros de esfolar contribuinte, foram repassados a empresas a taxas modestas, muitas vezes negativas.

Pelo trâmite do Orçamento, sujeito a limites tributários e à disputa feroz dos representantes da população, levaria um século para esse montante de recursos ser canalizado nas rubricas de obras. Não foi a única demonstração da força extraordinária do monarca no Planalto no período.

Os contratos das estatais, controladas diretamente pela cúpula do Executivo e suas camarilhas, engordaram ao ritmo das epidemias. Agências reguladoras tornaram-se meros transmissores da vontade do príncipe e de sua corte. Regras que protegiam produtores locais, um manancial para negociatas e ineficiências, foram manipuladas à luz do sol.

De repente, a máquina quebrou.

Paulo Delgado: Deu o que tinha que dar

- O Globo

Coisas da política. Sempre é possível confiar em quem nunca é muito claro, como é fácil amar por equívoco. E tem sido um equívoco considerar alguém popular por sua origem

Deveria haver tanto perigo para quem tira a ilusão de um sonhador como existe para quem rouba o filhote de um tigre. Mas não há. Só a justiça freia o demagogo. Pregado ao poder ele não pode parar. Imponderado, espalha algazarra como fio desencapado. Quando as coisas não vão bem o passado sobe às costas das pessoas e, pesado saco de pedra, as impede de ver o futuro. O vácuo vira agente do destino. Por isso há sempre um senso anedótico nas confusões da vida desse adulto inadequado. Na maternidade chora mais que o bebê; no velório dança sobre o morto; interpelado reage como pedaço da bandeira nacional.

Em toda cidade existe um político imbatível que nem preso perde eleição. Arbitrário, egoísta, ilusionista, é vasto seu campo de ação. Assume ares de proprietário do eleitor, exige esforço excessivo de atenção.

Leandro Colon: Apostas e incertezas

- Folha de S. Paulo

O governo Temer vai recuar de uma decisão polêmica, o ministro Gilmar Mendes soltará mais um preso da Lava Jato e a pauta do Congresso se esvaziará durante o ano por causa das eleições.

Certas coisas não são aposta de risco em 2018. No caso do presidente Michel Temer, basta manter o ritmo de marcha à ré de 2017, conforme mostrou a Folha no sábado (30).

O festival de recuos terminou com a nova portaria do trabalho escravo, necessária, mas eleitoreira, por parte de Ronaldo Nogueira, candidato à reeleição de deputado, em último ato à frente do Ministério do Trabalho.

Celso Rocha de Barros: Qual Centro?

- Folha de S. Paulo

O país não precisa de um candidato que fique no meio do caminho em todas as discussões

Nos últimos meses, cresceu a especulação sobre quem seria a alternativa de centro na eleição de 2018. Houve alguma malandragem na construção dos termos do debate.

Teve gente vendendo a ideia de que Lula estaria à mesma distância do centro do que Bolsonaro, o que é, evidentemente, falso (o equivalente de esquerda de Bolsonaro é Maduro). E, curiosamente, as listas de possíveis candidatos de centro só incluem candidatos mais ou menos na órbita do PSDB; quase não se discute Marina Silva, por exemplo, que é quem mais claramente tem uma posição moderada na política brasileira atual.

A busca pelo candidato de centro também parece inspirada pela eleição de Macron na França. O "Quero ser Macron" vem causando confusões na política brasileira.

Márcio Garcia: Bom 2018?

- Valor Econômico

Cenário mais provável é o de que o país enfrente seu desafio fiscal sem os contornos de uma crise externa iminente

O que será o amanhã? Como vai ser o meu destino? (Samba enredo O Amanhã, 1978, União da Ilha)

2018 pode vir a ser um ano excelente para a economia brasileira. Mas, ameaçando tal cenário benigno, há grande risco de que a recuperação cíclica ora em curso venha a ser revertida. De que fatores depende tal disjuntiva?

A tabela mostra os cenários mais prováveis para 2018. Cada um dos quatro cenários aventados na tabela representa uma combinação do cenário externo e do cenário interno, para os quais proponho prognósticos bons e ruins.

Para a economia brasileira, os principais fatores de risco no cenário externo são o processo de normalização monetária, ora em curso nos EUA, e o crescimento da China. Claro que outros fatores são também importantes, como o risco geopolítico em áreas como a Coreia do Norte e o Oriente Médio, ou um eventual recrudescimento da crise europeia. Não obstante, a principal fonte de risco para nós seria uma eventual aceleração pelo Fed da alta programada dos juros nos EUA, que teria o potencial de causar fugas de capitais, como em crises passadas. A queda significativa de crescimento da China também causaria grande dano nos preços das exportações de commodities, reduzindo o impulso de demanda e prejudicando nossas contas externas.

Já para o cenário interno, a principal fonte de risco é o quadro fiscal, dado que nossa dívida pública se encontra em trajetória explosiva, sendo imperioso que se façam as reformas requeridas para reverter tal tendência. O bom cenário interno traria a aprovação da reforma da Previdência, no início de 2018, e a viabilização de alguma candidatura comprometida com a agenda reformista. O cenário ruim envolveria a derrota da reforma da Previdência e a continuidade dos candidatos populistas Lula e Bolsonaro na liderança das pesquisas.

Agora, o desafio fiscal de 2018: Editorial/O Estado de S. Paulo

Os primeiros obstáculos importantes à gestão eficiente das contas públicas em 2018 estão localizados no Legislativo e no Judiciário

Com receitas extraordinárias, aperto nos gastos e alguma recuperação do consumo e da produção industrial, o governo deve fechar o balanço fiscal de 2017 dentro dos conformes. O maior desafio – respeitar o limite de R$ 159 bilhões para o déficit primário do poder central – parece ter sido superado até com alguma folga, a julgar pelo resultado de janeiro a novembro, um saldo negativo de R$ 102,70 bilhões pelo critério da Fazenda, ou de R$ 96,27 bilhões pelos cálculos do Banco Central (BC). Mas o tempo para relaxar, se isso for possível, será muito curto. Para alcançar a meta de 2018, novamente um déficit primário de no máximo R$ 159 bilhões, será preciso um corte de uns R$ 26 bilhões em despesas discricionárias, adiantou a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi. A economia adicional será necessária porque providências para reforço das finanças federais estão travadas.

Sem essas medidas, o Executivo terá de recorrer a soluções como redução de verbas para bolsas de estudos, programas de assistência social e investimentos em manutenção de estradas. Entre as providências emperradas estão o aumento de Imposto de Renda sobre fundos exclusivos e a reoneração das folhas de pagamento das empresas. Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu, por liminar, o aumento da contribuição previdenciária dos servidores de 11% para 14% e o adiamento do reajuste salarial do funcionalismo para 2019.

A Constituição no STF: Editorial/O Estado de S. Paulo

As ações contra a reforma trabalhista postulam que o STF crie uma outra Constituição

Já foram protocoladas no Supremo Tribunal Federal (STF) ao menos 11 Ações Diretas de Inconstitucionalidade (Adin) contra a Lei 13.467/17, que aprovou a reforma trabalhista, informa o jornal Valor Econômico. Nove processos foram propostos por confederações e federações de trabalhadores. Sete ações questionam a constitucionalidade do fim da obrigatoriedade da contribuição sindical e outras duas ações se dirigem contra o trabalho intermitente. Há também duas Adins propostas pela Procuradoria-Geral da República a respeito da assistência judiciária gratuita e da terceirização.

Parece, assim, se confirmar a previsão, anunciada antes mesmo da aprovação da Lei 13.467/17, de que as novidades contidas na reforma trabalhista seriam objeto de intensa judicialização. Não bastaria que elas fossem aprovadas pelo Congresso. O Poder Judiciário seria instado a se pronunciar sobre a validade dessas inovações no Direito do Trabalho. Mais cedo ou mais tarde, diziam essas vozes, a reforma trabalhista entraria na pauta do STF.

No entanto, mais do que a reforma trabalhista, é a própria Constituição de 1988 que está em questão nas 11 Adins contra a Lei 13.467/17. A rigor, o assunto é muito mais grave do que a eventual inconstitucionalidade de uma lei ordinária. Está em jogo a função que os 11 ministros do STF pretendem conferir à pedra fundamental do ordenamento jurídico: se ela deve ser elemento de vitalidade ou de engessamento do sistema jurídico.

Ano decisivo: Editorial/Folha de S. Paulo

O país começa 2018 com perspectivas razoáveis na economia, mas sujeito a elevada incerteza política e ao risco de retrocessos.

O crescimento da renda voltou, ainda que timidamente, e o desemprego começou a cair, também de modo vagaroso, antes do que se previa. Os juros recuaram ao menor nível da história, e a inflação se mantém sob controle.

Sem dúvida são progressos relevantes diante do quadro de um ano atrás. Para tanto, contribuiu uma administração racional das políticas de governo. Apesar do frustrante adiamento da imprescindível reforma da Previdência, outras medidas de impacto avançaram.

O amplo redesenho dos ditames da CLT, que há pouco entrou em vigor, ainda não gerou resultados palpáveis –espera-se que facilite, nos próximos meses, a geração de postos formais de trabalho.

A sombra do populismo: Editorial/Folha de S. Paulo

Era janeiro, e as vitórias de Donald Trump nos EUA e do 'brexit' no Reino Unido ainda estavam frescas. Estimulada por esses triunfos do discurso nacionalista, Marine Le Pen, líder francesa de extrema-direita, afirmou que 2017 testemunharia um "despertar" contra as políticas da União Europeia e a acolhida de imigrantes.

Findo o ano, pode-se dizer que o vaticínio não se comprovou da maneira como a dirigente imaginava –mas tampouco se mostrou irrelevante o avanço de partidos norteados pelo populismo xenófobo. Seu teste nas urnas se deu em diversos países, com destaque para as duas maiores economias da Europa continental.

A começar pela França, onde Le Pen e sua Frente Nacional (FN) superaram legendas tradicionais para disputar um inédito segundo turno. Direita e esquerda se uniram em torno do centrista Emmanuel Macron para evitar a chegada da extremista ao poder.

Embora a candidata não tenha alcançado a Presidência, não há como negar que o crescimento da FN refletiu a rejeição a siglas históricas, em especial o Partido Socialista. Por anemia eleitoral, o ex-presidente François Hollande nem tentou o segundo mandato, e o postulante da legenda terminou num melancólico quinto lugar.

Rio de Janeiro pode aprender com os erros: Editorial/O Globo

Toda a Federação viveu a vertiginosa experiência de oscilar entre a euforia e a depressão. Efeitos gêmeos, um criou o outro. Para chegar ao crescimento do PIB de 7,5% em 2010, taxa colocada na vitrine para maravilhar o mundo, os governos Lula e Dilma começaram a contratar a crise que viria depois.

O PIB do país mergulhou em parafuso (quase 8% no biênio 2015/16), mas cada estado padeceu de uma maneira. O Rio de Janeiro, com Minas e Rio Grande do Sul, compôs o grupo da UTI das contas públicas. Para eles foi criado o programa de recuperação fiscal.

O Rio teve de abrir as contas, e uma hecatombe ficou à vista: o estado e a cidade viveram, de maneira merecida, a festa da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016, e usufruíram dos efeitos positivos dos investimentos. Que foram incapazes de compensar os erros administrativos dos governos estaduais de Sérgio Cabral e Luiz Fernando Pezão. A corrupção é acessória. Não do ponto de vista ético, de suma gravidade, mas como causa da crise. A corrupção ajudou no desastre econômico do Rio de Janeiro pelo descaso dos governantes. Ficou evidente que a preocupação de lideranças políticas era o enriquecimento pessoal e, como sempre, azeitar a montagem de base política. A crise em si, porém, foi provocada por apostas insensatas, populistas, e, é certo, por má-fé.

‘Pôr Forças Armadas nas ruas é dar férias para bandidos’, diz Jungmann

Entrevista com Raul Jungmann, ministro da Defesa

Para ministro, modelo de uso das tropas federais adotado na ocupação do Complexo do Alemão ficou no passado

Marcelo Godoy / O Estado de S.Paulo

SÃO PAULO - O modelo das Forças Armadas ocupando uma área, como o Complexo do Alemão ou da Maré, está enterrado. Ao menos na atual gestão. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que os militares continuarão a atuar “sob demanda”, usando seu grande contingente para o cerco de áreas em apoio às polícias e na área de inteligência. O modelos anterior, segundo ele, tinha como único resultado “dar férias para os bandidos”. Aqui ele faz seu balanço sobre o uso das ações dos militares em missões de Garantia de Lei e Ordem no País.

Há um crescimento de década para década da participação das Forças Armadas em ações contra o crime organizado nos Estados. Essa tendência é sustentável a longo prazo, ministro?

O que eu tenho observado é que predominam no caso das GLOS as ações ligadas à greve de polícia, que é uma questão de segurança pública, e de combate à violência urbana. Somando os dois dados chega-se a 36% (o ministro refere-se à consolidação dos dados feitos pelo Ministério da Defesa), o que representa a emergência na área da segurança pública do País nas últimas duas décadas. Representa também uma opção do constituinte, que deixou 80% das responsabilidades da segurança pública com os Estados. A União ficou com 20%, com o combate ao tráfico internacional de drogas e armas. E não se criou nenhum corpo intermediário entre as Forças Armadas e as forças regulares da segurança pública para que atuasse nas situações extraordinárias, excepcionais, aonde você tem a falência ou incapacidade dos governos estaduais de manter a segurança. O que eu quero dizer com isso? Estou pensando no s Estados Unidos, que tem a Guarda Nacional que é exatamente esse corpo que desempenha esse papel.

Coluna do Estadão: Partido grande quer barrar fundo na eleição

Os grandes partidos poderão fazer uma consulta ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para tentar barrar o uso de recursos do fundo partidário na campanha deste ano. A justificativa é que eles têm de investir o dinheiro para pagar contas do dia a dia, enquanto os pequenos poupam para despejar na campanha de seus candidatos.

TSE pode barrar fundo partidário na eleição
Partidos mais estruturados querem barrar o uso do fundo partidário para financiar a campanha eleitoral deste ano. Argumentam que é desleal a competição com siglas menores, que conseguem guardar os recursos ao longo do ano para despejar na eleição de seus candidatos, sem precisar custear despesas de grandes estruturas partidárias. Uma consulta ao TSE deve definir a questão. O deputado federal Cícero Almeida perguntou ao tribunal se, com a criação do fundo eleitoral, a verba partidária deve ser direcionada só para manter as legendas.

» Herança. Atualmente no Podemos, Cícero Almeida (AL) foi o único deputado federal eleito pelo PRTB em 2014. Isso garante à legenda receber fundo partidário mesmo sem ter mais representante na Câmara.

» Cofre cheio. Em 2017, o PRTB recebeu do TSE R$ 3,37 milhões de fundo partidário. Almeida ingressou com a ação para tentar impedir que o partido use o dinheiro na atração de deputados com promessa de verba na campanha.

» Cofrinho. O PR, comandado por Valdemar Costa Neto, também fez uma poupança com o fundo partidário para financiar seus candidatos. Em 2017, a sigla recebeu R$ 32,4 milhões.

» Verba. Em 2018, o TSE vai distribuir R$ 1 bilhão de fundo partidário. Já o repasse eleitoral, destinado só para bancar as campanhas, é de R$ 2 bilhões.

» Onda Maia. A eventual candidatura do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), ao Palácio do Planalto conta com o apoio do PP. O presidente nacional do partido, Ciro Nogueira, diz que Maia é “o nosso candidato de preferência”.

» No jogo. O deputado Beto Mansur (PRB-SP), assíduo frequentador do Planato, entrega que Temer anda animado com a ideia de disputar a reeleição. “Enganase quem acha que ele está morto”, diz.

» Lógica do eleitor. Com planos de se lançar à Presidência, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) diz não saber qual candidato conseguirá “encantar” o Brasil . “Ao que tudo indica, o eleitor será movido pela raiva”, conclui.

» Valendo. A PF começa a investigar, nesta semana, o juiz Glaucenir Oliveira, acusado de divulgar áudio que sugere que o ministro Gilmar Mendes, do STF, tenha recebido propina para soltar o ex-governador Anthony Garotinho. O ministro pediu a abertura do inquérito.

» Por cima. O líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), emplacou uma indicação na Secretaria Nacional de Habitação, do Ministério das Cidades. Para confirmar Socorro Gadelha na vaga, atropelou a resistência do ministro Alexandre Baldy. » Meu lema. Presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva propõe que a reforma da Previdência seja o tema da campanha eleitoral. “A proposta de Temer está contaminada e não será aprovada, por mais concessão que o governo faça”.

» Megapacote. O governo paulista abriu, no apagar das luzes de 2017, concorrência internacional para seis licitações de reforma de trens da CPTM, estimadas em R$ 1 bi no mercado.

Após afirmar que não vai concorrer ao Planalto, Huck pede para continuar em pesquisas eleitorais

Painel/Folha de S. Paulo

Novo de novo? Em dezembro, depois de ter dito que não vai concorrer à Presidência, Luciano Huck teve uma reunião com o diretor do Ibope, Carlos Augusto Montenegro. Os dois trocaram análises. Segundos relatos, o apresentador disse que, para o Agora!, movimento do qual participa e que prega a renovação política, nenhum nome de centro conseguiu se firmar como opção viável para o Planalto. Huck arrematou a conversa com um pedido para que o Ibope não o exclua das sondagens eleitorais.

Para todos Procurado para falar sobre o assunto, Montenegro não mencionou a conversa com Huck, mas defendeu a manutenção do nome do apresentador nas sondagens. “Por enquanto tudo é especulação. Não se sabe se o Lula poderá ser candidato –é muito provável que ele não seja–, mas o nome dele está em todas as listas”, disse.

Para todos 2 O diretor do Ibope citou outros nomes ainda incertos. “Henrique Meirelles(Fazenda) teria que sair do ministério… Até 6 de abril as pessoas precisam deixar cargos e escolher partidos. Teremos um quadro melhor nessa data. Até lá estaremos fazendo pesquisas e teremos simulações , algumas com o Luciano Huck.”

O limite Montenegro diz que, depois de abril, “se ele não tiver optado por algum partido, não estará mais”. Ele salienta que “esse negócio de centro, direita e esquerda é muito relativo”. “O que existe é uma decepção muito grande com a maioria dos políticos e partidos. Isso torna a eleição imprevisível. Talvez a mais difícil desde a ditadura.”

Barriga de aluguel Dirigentes do Agora! avaliam que de 15 a 20 integrantes do movimento devem sair candidatos a deputado estadual e federal. Há conversas avançadas com a Rede e o PPS.

Meu tempo Aliados de Geraldo Alckmin dizem que, apesar dos apelos para que ele antecipe sua saída do governo de São Paulo para iniciar um giro pelo país, o tucano não tem dado sinais de que deixará o Palácio dos Bandeirantes antes do início de abril.

Pés no chão A cúpula do PSDB de São Paulo discorda do formato de prévias que foi proposto. Dizem que falta estrutura e que ele é inviável.

A realidade Segundo esses tucanos, a lista de filiados está desatualizada. Nem SP, o maior Estado, tem os dados.

Ano novo… O presidente Michel Temer, que amarga a pior avaliação de um inquilino do Planalto desde a redemocratização, mostra-se um otimista. Afirma que aposta em uma reconciliação dos políticos com o povo em 2018.

… vida nova “Tenho quase absoluta convicção de que o próximo Congresso, os próximos dirigentes do país, ajudarão a resgatar a confiança na classe política”, diz Temer.

Alma do negócio Sem contribuição de empresas, avalia o emedebista, a TV será a principal arma da campanha. Ao apostar suas fichas nesse flanco, o presidente valoriza o principal ativo do MDB para firmar alianças. Sua sigla tem o maior tempo de propaganda do país.

Quem manda O prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), mandou cancelar o evento de inauguração do viaduto Dona Marisa Letícia marcado para quarta-feira (3). O tucano também determinou que a via na zona sul da cidade seja aberta aos veículos já nesta terça (2).

Queda de braço A homenagem à mulher de Lula, morta em fevereiro de 2017, foi assinada pelo prefeito interino Milton Leite (DEM). Já há na Câmara projeto do vereador Fernando Holiday (DEM) para tirar o nome de Marisa Letícia do viaduto.

Por cima do meu… No comando do PSDB de São Paulo, Pedro Tobias desafia os tucanos: “Para não termos candidato próprio a governador, primeiro será preciso me tirar da presidência”.

Maria Celina D'Araujo: 2018 o ano da incerteza

- O Globo/Coluna do Ancelmo Gois

Há alguns anos vivemos sensação de desalento. O progresso mostrou-se ser uma linha descontínua ao contrário da corrupção e dos desmandos. Anomia (desregramento) nas finanças e nos valores. Baixa nos padrões de civilidade, o que as torcidas organizadas de clubes de futebol refletem exemplarmente sem que polícia ou clubes consigam controlar. Quem freia o mau governo ou as torcidas selvagens? Como reverter esse quadro? Não há partidos ou ideologia política que ofereçam respostas convincentes.

O “rouba mas faz” foi a institucionalização do cinismo; O “sou contra mas quero minha parte do bolo”, desmoralizou a oposição. Para as eleições de 2018 o eleitor está abandonado. As elites se distanciam das virtudes republicanas. A fórmula para o candidato vencedor em 2018 não tem fórmulas mágicos. Apenas implementar uma política criativa para combater a desigualdade social e uma política financeira responsável sem truques ardilosos. Precisamos mais do velho Aristóteles: a virtude está no meio.

A proliferação de candidatos ao centro, esquerda e direita, embora seja um bem-vindo sinal de pluralidade política pode, neste momento, ser um desastre exemplar. Corre-se o risco de ter um segundo turno com dois candidatos populistas, embolorados, com pequena margem de votos, embora percentualmente mais votados. Como em toda eleição, nesta jogaremos nosso futuro. Só que desta vez o cenário é o pior enfrentado pela República. Estão em jogo a vida de milhões de brasileiros e a unidade nacional. Vivemos hoje uma secessão de fato, não uma guerra civil, mas uma secessão de guetos em que polícia e outras instituições do Estado não entram.

Um verdadeiro esgarçamento do tecido social com o agravante de que a elite também se transformou em um gueto inexpugnável para o exercício da delinquência.

Felizmente, sempre sobram alguns sensatos e o destino do país está nessas mãos.

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Maria Celina D'Araujo, cientista política

TSE terá composição mais 'linha-dura' durante a eleição

Letícia Casado, Daniel Carvalho / Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) vai mudar ao longo de 2018, ano de eleição, e a expectativa é de que os novos ministros que vão passar a compor a corte atuem de acordo com um perfil mais "linha-dura".

As mudanças começam no próprio comando do tribunal, que terá três ministros diferentes na presidência ao longo do ano.

O atual presidente, Gilmar Mendes, deixa o tribunal em fevereiro, quando será substituído na presidência por Luiz Fux, cujo mandato na corte vai até agosto de 2018. No lugar de Fux, assumirá Rosa Weber, que terá a missão de chefiar a eleição de outubro.

O TSE tem sete ministros em sua composição. Três deles são originários do STF (Supremo Tribunal Federal), há duas vagas destinadas para o STJ e outras duas para advogados.

Hoje, os três ministros do STF que são membros titulares no TSE são Gilmar, Fux e Rosa Weber. Quando, ao longo do ano, Gilmar e Fux deixarem o tribunal, eles serão substituídos por Luís Roberto Barroso e Edson Fachin.

Rosa, Barroso e Fachin serão, portanto, os três ministros do STF no TSE no período eleitoral – o primeiro turno das eleições será no dia 7 de outubro, e o segundo, no dia 28 de outubro.

Caberá a eles a missão de impor o ritmo de ações envolvendo propaganda partidária e recursos das campanhas, dois dos principais pontos da corrida eleitoral. A campanha eleitoral para a Presidência da República tende a ser uma das mais disputadas e imprevisíveis.

Carlos Drummond de Andrade: Receita de ano novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)

Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.

Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.