segunda-feira, 18 de junho de 2018

Opinião do dia: Geraldo Alckmin

• Qual a prioridade na formação de alianças? Cogita fazer aliança com Marina Silva, por exemplo, como o ex-presidente Fernando Henrique teria sugerido?

Olha, seria indelicado com a Marina especular qualquer aliança na medida em que ela é pré-candidata, já foi candidata a presidente da República e acredito que vá ser candidata. Agora conversar é sempre bom. O presidente Fernando Henrique tem nos ajudado muito, é um homem do diálogo, das pontes.

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Geraldo Alckmin, ex-governador de S. Paulo e pré-candidato presidencial pelo PSDB. Entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, 17/6/2018.

Marcus André Melo: Para que campanha

- Folha de S. Paulo

Propostas não importam, apenas reputação e confiança contam

Há três argumentos rivais na ciência política sobre o comportamento eleitoral. O primeiro, conhecido como voto programático (“issue voting”), é que os eleitores avaliam as políticas defendidas pelos candidatos e escolhem aquele que apoia suas políticas preferidas. Os eleitores olham para a frente: votam no candidato que irá implementar o que julga ser o melhor programa.

Nessa abordagem convencional, os eleitores vão às urnas como se estivessem no supermercado: fazendo um check-list de medidas programáticas e candidatos, e escolhendo em quem votar. O eleitor examina o programa de —digamos, Marina Silva— e conclui, como um analista de mercado político: “ela é minha candidata”.

O segundo argumento é que o eleitor olha para trás: avalia o desempenho do candidato ou alguma característica individual sua, por exemplo, sua probidade. Conhecido no jargão como voto retrospectivo, esse argumento prevê que o eleitor pune ou premia desempenhos.

O terceiro argumento inverte o voto programático: o eleitor escolhe candidatos para depois adotar as políticas que defendem (o que é conhecido como “follow the leader”). O eleitor escolhe candidato ou candidata por razões que serão discutidas em outra coluna.

Marcus Pestana: A mão visível do intervencionismo

- O Tempo (MG)

Nunca a frase “não existe almoço grátis” teve tamanha atualidade no Brasil. Ela nasceu nas ruas e foi celebrizada pelo economista liberal norte-americano Milton Friedman, que a adotou como título de um de seus livros.

Independentemente de ter me associado a vertentes de pensamento que diagnosticavam as imperfeições no funcionamento dos mercados, as distorções produzidas por elas e a relevância da ação compensatória do Estado, paulatinamente fui percebendo a extrema fragilidade daqueles que imaginavam a possibilidade de uma economia de decisões centralizadas e planificadas como remédio contra crises e desequilíbrios, em substituição ao sistema de decisões descentralizadas do mercado, onde milhões de atores interagem em busca da maximização de seus ganhos e da defesa de seus interesses individuais, corporativos ou setoriais.

É inevitável admitir que a queda do Muro de Berlim, a dissolução da URSS, a atual crise venezuelana com inflação, recessão e desabastecimento e o próprio estrangulamento fiscal do Estado de bem-estar social evidenciaram os limites e as consequências nefastas do excessivo intervencionismo estatal. O mercado, essa invenção histórica humana, com suas imperfeições e eventuais distorções, revelou sua superioridade como centro de comando na alocação dos recursos disponíveis.

Demétrio Magnoli: A religião dos empresários

- O Globo

O jogo da liberdade econômica precisa de regras estáveis e árbitros independentes. As mágicas dos populistas produzem lucros imediatos, contratando catástrofes futuras

O“caso de amor” entre a elite empresarial dos EUA e Donald Trump foi manchete de capa da revista “The Economist”, em maio. No Brasil, uma longa série de indícios e algumas sondagens de opinião sugerem que Jair Bolsonaro é o presidente dos sonhos de significativa parcela do empresariado. Bolsonaro venera Trump, mas é um equívoco cravar explicações ideológicas para os “casos de amor” paralelos: afinal, poucos anos atrás, nossos empresários ajoelhavam-se no altar da devoção ao lulismo. A solução para o enigma situa-se no campo dos interesses — ou, mais precisamente, numa percepção rudimentar, quase infantil, sobre os interesses de negócios.

“Os executivos americanos estão apostando que o presidente é bom para os negócios”, escreveu a “Economist” no seu editorial. Na “era Trump”, as instituições estatais debilitam-se, os EUA conhecem inédito isolamento internacional, e o déficit fiscal tende a explodir. Contudo, os dirigentes das empresas preferem olhar para outra direção: os cortes de impostos corporativos, as iniciativas de desregulamentação econômica e as tarifas comerciais protecionistas prometem ampliar as margens de lucro – no horizonte de curto prazo. O futuro é amanhã: o cálculo político subordina-se aos tempos curtos e ritmos alucinantes da Bolsa.

Fernando Limongi: Resiliência encarcerada

- Valor Econômico

PT se isola e corre risco de alienar capital eleitoral

A Copa começou e ninguém está nem aí. Pelo menos é o que dizem as pesquisas. O Brasil está estranho, para lá de estranho. O pessoal que foi às ruas com a camisa da seleção para protestar não se anima a torcer. Mas o bicho vai pegar se o time acertar e aí o velho fanatismo desperta. Nas eleições, dá-se o inverso, agora é a hora de demonstrar a paixão e marcar posição. Mas, conforme o desfecho se aproximar, o realismo e o cálculo falarão mais alto.

Por enquanto, a opção por alternativas radicais prevalece. Bolsonaro e Lula mantêm a liderança nas pesquisas, mas nem um e muito menos o outro têm chances reais de chegar à final. Para Lula, dado que não poderá ser candidato, o realismo é inevitável. Quem herdará seus votos? O PT quer crer que a questão inexiste e se afinca à crença do poder demiúrgico de seu líder; que sua indicação produzirá o milagre da transferência dos votos. A estratégia de Bolsonaro não é menos irracional: o confinamento autoimposto dos tiros com silenciador.

Os dados da mais recente pesquisa do Datafolha indicam a resiliência da clivagem política sobre a qual gira a política brasileira de 2006 em diante. Bipartidárias desde 1994, as eleições presidenciais ganharam contornos sócioeconômicos claros na reeleição de Lula. Basicamente, o PT tem mais votos ente os mais pobres, enquanto o PSDB entre os mais ricos.

A natureza da relação dos dois partidos com seus eleitores, entretanto, não é a mesma. Quando perguntados se têm um partido, boa parte dos eleitores que votaram em Lula e Dilma se dizia petista. Já os que votaram em Serra, Alckmin e Aécio diziam não ter preferência partidária. Pesquisas acadêmicas recentes e as análises do Datafolha mostram que a despeito de não se declararem tucanos, boa desses eleitores se dizia antipetista.

Luiz Carlos Mendonça de Barros: O fim de um ciclo político no Brasil

- Valor Econômico

Há um risco de se voltar a uma agenda de busca a qualquer preço do crescimento, sem um mínimo de racionalidade

Faço parte de uma geração que viveu de forma intensa e com um certo protagonismo um longo ciclo político - quase 30 anos - que agora chega a seu fim. Poderíamos chamá-la de geração do Plano Real. Desculpe-me o leitor do Valor por um pouco de pessimismo que acompanhará minhas reflexões a seguir, mas este é o sentimento que tenho hoje.

Tudo começou em 1986 quando fomos chamados a trabalhar no governo José Sarney, depois que a equipe montada pelo presidente eleito Tancredo Neves foi descartada por divergências na condução da economia. O novo grupo chamado era composto por técnicos de três escolas de pensamento econômico, com divergências teóricas de grandes proporções. Mas a necessidade de enfrentar a perda de controle sobre a inflação falou mais forte e uma primeira tentativa de estabilizar o sistema de preços, fora da visão tradicional de combate à inflação, foi construída a seis mãos. Foi chamado pela imprensa de Plano Cruzado e que, depois de um sucesso inicial que mobilizou a sociedade, terminou em um retumbante fracasso.

Mas deixou uma mensagem clara de que a hiperinflação era o grande inimigo da sociedade e que ela estava disposta a grandes sacrifícios para voltar a ter a estabilidade monetária como padrão em suas vidas.

Com a ascensão de Itamar Franco ao Palácio do Planalto, e a entrada de FHC no Ministério da Fazenda, as lições do Plano Cruzado foram novamente colocadas no topo da agenda do novo ministro. Fernando Henrique Cardoso havia sido um dos poucos políticos que tinha entendido a mensagem das ruas durante o curto período de sucesso do Cruzado. Agora no governo, não perdeu a chance de liderar uma nova tentativa de lutar contra a hiperinflação.

O sucesso extraordinário do Plano Real permitiu que um político sem vínculos populares e com uma base partidária limitada chegasse, em uma eleição direta e com grande legitimidade, ao comando político da nação. Nos anos seguintes o novo presidente usou sua força política para redefinir as alianças partidárias, introduzindo de fato um sistema binário de poder e com referências claras com situação (PSDB e aliados) e oposição (PT e aliados).

Celso Rocha de Barros: É mais crise do que roubo

- Folha de S. Paulo

Parece óbvio que o dinheiro acabou porque roubaram, mas não é

Cerca de dois meses atrás, em uma das passeatas quase diárias que ocupavam o centro do Rio de Janeiro protestando contra atraso de salários pelo governo estadual, ouvi o seguinte grito de guerra: “Não é crise! É roubo!”. Os manifestantes acreditavam que o dinheiro que estava faltando para pagar salários havia sido roubado por Sérgio Cabral.

Essa parece ser a ideia mais enraizada na opinião pública brasileira nos últimos anos: o dinheiro acabou porque roubaram.

Isso é falso.

A coisa mais importante que você precisa ter em mente nos próximos anos é o seguinte: teve roubo, teve muito roubo, teve roubo em uma escala aterrorizante. Todo mundo que roubou tem que ser punido, nos termos da lei. Mas não foi isso que causou a crise econômica brasileira, e para resolver a crise brasileira faremos sacrifícios.

Não é verdade, por exemplo, que haveria dinheiro para pagar todas as aposentadorias se os políticos não tivessem roubado a grana. Não haveria. A expectativa de vida dos brasileiros subiu, e a regra atual foi pensada quando as pessoas só viviam poucos anos depois de se aposentarem. Se ninguém tivesse roubado nada, seria necessário reformar a Previdência do mesmo jeito.

Ricardo Rangel: Marcha irresistível

- O Globo

Falta sensatez no Supremo, no Planalto, no Congresso e também no setor privado: decisões irracionais conduzem país ao abismo

Na semana passada, o Supremo revogou a condução coercitiva: agora, se alguém se recusar a atender a uma intimação, não se pode obrigá-lo a comparecer perante o juiz. Em mais uma batalha entre o Brasil moderno e o Brasil do atraso, venceu o atraso: onde já se viu alguém ter o direito de se recusar a cumprir ordem judicial?

Tolstói observou que as famílias felizes são muito parecidas entre si, enquanto que as famílias infelizes são infelizes cada uma à sua maneira. É fácil entender: para serem felizes, as famílias têm que ter sempre os mesmos requisitos (saúde, dinheiro, amor etc); quanto às infelizes, falta um requisito diferente a cada uma.

“Entendi”, disse o ministro ao assessor que lhe mostrava a evolução dos custos com aposentadorias e pensões. “A Previdência vai quebrar. Mas o que eu quero saber é o seguinte: vai ser neste governo?”

Gaudêncio Torquato: O vulcão social

- Blog do Blog

-O país está dividido

Os geofísicos ensinam que a fusão de rochas com materiais voláteis, submetidas a uma temperatura que pode chegar aos 1500º C, resulta em magma, substância existente no interior da terra em uma profundidade entre 15 a 1500 kms. Nas últimas semanas, contemplamos essa massa avermelhada de um vulcão na Guatemala, América Central, correndo por encostas, cobrindo cidades de fogo e cinzas e deixando um grande saldo de mortos e desaparecidos.

A imagem nos remete a uma leve sensação de conforto pelo fato de o Brasil não ter vulcões em atividade. Não significa que estamos imunes às desgraças por outros fatores. Nossa cultura política, por exemplo, é fonte de desvios e curvas que tiram o país de seu rumo civilizatório. Nem bem saímos da pior recessão da história, sob a sombra de reformas para recolocar o trem nos trilhos, eis que o pessimismo volta a abater o ânimo.

Apesar do alerta do ex-presidente Fernando Henrique (em seus tempos de mando) de que “não podemos cair no catastrofismo”, o futuro é tão sombrio que não há como escapar à ideia de magmas em formação subindo à superfície para explodir na erupção de um vulcão social, caso se eleja este ano um perfil de extrema direita ou esquerda. A sugestão do próprio FHC de se arrumar consenso em torno de Marina Silva (Rede) não resiste à evidente inferência de que essa figura pacata não reúne condições para enfrentar a real politik. Seria tragada pelo tufão político.

Neutralidade do PSB é insuficiente, diz dirigente petista

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - Em negociações que envolvem a eleição presidencial e a governador em Estados-chave para ambos partidos, PT e PSB buscam uma aliança que atendam aos interesses de cada um, mas a possibilidade de neutralidade dos pessebistas na disputa ao Planalto não deve agradar os petistas. A ideia de que o simples fato de o PSB não apoiar a candidatura Ciro Gomes (PDT) seria vantajoso para o PT não corresponde à realidade. Essa é a opinião da secretária nacional de Organização do partido, Gleide Andrade, para quem o PSB até pode encontrar uma "saída salomônica" e ficar neutro em relação a Ciro e o PT, mas isso não garantirá a principal reivindicação dos pessebistas, que é o apoio à reeleição do governador de Pernambuco Paulo Câmara. Sem a aliança nacional, os Estados estarão livres e o PT deverá lançar a vereadora Marília Arraes ao Palácio do Campo das Princesas.

"A joia da Coroa do PSB é Pernambuco, assim como é Minas Gerais para a gente. E o PT sempre foi um partido nacional. A coisa mais importante é o projeto nacional, a eleição de Lula. Agora, tem um monte de Estados em que eles têm interesses e temos os nossos", afirma Gleide, indicando outros espaços de negociação e de troca.

É o caso da Bahia, Piauí e Acre, prioritários para o PT; e do Amapá, Amazonas, Paraíba, Espírito Santo e Rondônia, onde o PSB quer apoio para eleger governadores. Figura central neste tabuleiro, o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda, do PSB, afirmou na sexta-feira que a tendência de seu partido é se coligar com Ciro Gomes ou optar pela neutralidade na corrida presidencial. Conferiu menos probabilidade a uma aliança com o PT. Lacerda, no entanto, é nome muito próximo de Ciro Gomes, de quem foi secretário-executivo no Ministério da Integração Nacional, durante a gestão Lula.

Para Gleide Andrade, essa relação pessoal entre os dois pesa na decisão do PSB, mas a secretária de Organização do PT diz que tem a impressão de que a candidatura de Ciro Gomes está "desidratando", pelo perfil "intempestivo" do pedetista. O irmão e coordenador de campanha Cid Gomes, também ex-governador do Ceará e espécie de alter ego de Ciro, a todo momento precisa aparecer para neutralizar as declarações polêmicas, ressalta.

Para a dirigente petista, Márcio Lacerda pode ser candidato a vice-governador na chapa de Fernando Pimentel, a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula - ou seu substituto, provavelmente o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad - ou mesmo concorrer a uma das duas vagas ao Senado ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, num "casamento perfeito". "Seria uma chapa imbatível", diz.

Caso feche aliança com o PSB, o efeito direto das negociações é a retirada da candidatura de Marília Arraes, que está tecnicamente empatada nas pesquisas com Paulo Câmara. Para Gleide Andrade, não se deve interpretar a decisão como se o PT estivesse preterindo Pernambuco, e sim priorizando a eleição presidencial. "No PT, os interesse nacionais sempre preponderaram sobre os estaduais. Quem se filia entra no partido sabendo disso", diz.

Lamentar a retirada de candidatura seria apequenar a discussão. Gleide afirma que o PT é um partido democrático e lembra que já disputou a presidência estadual da legenda em Minas Gerais e perdeu. Cita ainda a eleição de 2010, quando o diretório mineiro realizou prévias que indicaram Fernando Pimentel como candidato a governador, mas depois a sigla foi obrigada a ser vice de Hélio Costa, uma das exigências do MDB para apoiar Dilma Rousseff à Presidência. A dirigente recorda ainda as vezes em que o diretório do Rio abriu mão de candidatos para coligações com Sérgio Cabral ou Anthony Garotinho, em prol de uma aliança nacional.

Ex-sombra de Marina, Neca Setubal se afasta da campanha

Em 2014, sua participação associou a candidata a interesses do mercado

Joelmir Tavares | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Ela foi uma espécie de “sombra” de Marina Silva (Rede) na campanha de 2014, mas agora está totalmente fora da nova tentativa da ex-senadora de virar presidente.

Socióloga, educadora e acionista do Itaú, Neca Setubal virou na eleição passada ao mesmo tempo amuleto e calcanhar de aquiles da candidata.

Ela coordenou o programa de governo, ajudou na aproximação com potenciais financiadores e andou para cima e para baixo com a presidenciável, atuando como assessora em debates e outros compromissos de campanha.

Mas sua presença também deu a adversários, sobretudo a aliados da então presidente Dilma Rousseff (PT), munição para atacar Marina e associá-la negativamente a interesses do mercado. A Setubal foi escolhida símbolo maior de influência dos bancos na chapa.

“Minha postura será apartidária”, afirma Neca à Folha sobre a campanha de 2018. Ela não diz se vai declarar voto na ex-senadora, mas frisa que continua falando com a pré-candidata. “Sou amiga dela.”

Doutora em psicologia da educação, a socióloga (que se chama Maria Alice) é presidente dos conselhos de duas entidades da área social, a Fundação Tide Setubal e o Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas).

Filha do empresário e político Olavo Setubal (1923-2008), ela se incomoda quando é chamada de banqueira. Explica que fez carreira longe das empresas da família e que nunca ocupou cargo nelas.

A função de coordenação exercida por Neca foi assumida desta vez pelo ambientalista João Paulo Capobianco, que acompanha Marina desde a gestão dela no Ministério do Meio Ambiente, de 2003 a 2008, no governo Lula (PT).

Rede busca Roberto Freire para vice de Marina, diz Randolfe

Partido procura legendas para ampliar espaço de candidata na TV; PPS, no entanto, deve manter apoio a Alckmin

Felipe Frazão e Isadora Peron | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Em busca de alianças eleitorais, emissários da pré-candidata da Rede à Presidência da República, Marina Silva, começaram a sondar políticos de outros partidos para compor sua chapa presidencial. Nomes de peso da Rede, como o senador Randolfe Rodrigues (AP), citam o presidente nacional do PPS, o ex-ministro da Cultura Roberto Freire, como um dos políticos ideais para disputar o Palácio do Planalto como vice de Marina.

“Acho que o companheiro de chapa de Marina devia ser ou alguém do meio empresarial, que seja honesto, que seja sério, ou do perfil político do Roberto Freire. É um nome que encaixa perfeitamente. Talvez seja a pessoa do mundo político que reúna as melhores condições para ser vice de Marina”, disse Randolfe.

Marina e Freire já conversaram sobre o cenário político-eleitoral. Eles têm boa relação. Não houve, porém, um indicativo de aliança. Um dos encontros, na sede da Rede, foi intermediado pelo deputado Miro Teixeira (Rede-RJ), próximo a Freire. “Não podemos induzir um partido a nos apoiar”, diz Miro, cauteloso. “As coisas têm seu tempo, o PPS terá seu tempo de deliberação. Não sabemos os compromissos do PPS pelo País, em termos até de candidatura presidencial.”

Com dificuldade de articular uma coligação que amplie sua exposição na TV no horário eleitoral, Marina declarou que buscaria apoio de legendas que formaram sua coligação em 2014, entre elas, PPS, PSB, PHS, PRP, PSL e PPL. Sem partidos aliados, ela ficaria com cerca de 10 segundos na propaganda televisiva.

O PPS, no entanto, está comprometido em apoiar o pré-candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin. Ao Estado, Freire negou que tenha recebido convite formal da pré-candidata. Aliados do ex-ministro da Cultura, entusiasmados com a possibilidade, dizem que o PPS tende a decidir quem apoiará às vésperas do início da campanha, em agosto. Freire é aliado de longa data do tucano e diz que “está trabalhando” para que o partido confirme apoio a Alckmin.

Lições da eleição de 2002 para a campanha de 2018: Editorial | Valor Econômico

Muito se tem falado sobre as semelhanças da campanha presidencial de 2018 com a eleição de 1989, a primeira disputa direta para o Palácio do Planalto do período pós 64. Na semana em que se completam 16 anos da Carta ao Povo Brasileiro, talvez seja mais interessante comparar o atual momento com período idêntico da turbulenta sucessão de 2002, que terminou com a eleição de um operário para a Presidência da República.

A campanha de 2018, de fato, guarda muitas semelhanças com a de 1989. Ontem como hoje havia grande fragmentação partidária. Ao todo, 21 partidos apresentaram candidatos à primeira eleição direta para presidente depois de 25 anos de regime autoritário. O flagelo da época era a inflação, que o candidato afinal vencedor prometia derrubar com um só tiro. Era uma época de transição da ditadura para a democracia.

O ambiente eleitoral de 2002 também era de crise econômica, mas os pilares da estabilidade estavam assentados. A dúvida era se o governo seguinte teria o interesse de mantê-los, e o então presidente Fernando Henrique Cardoso, mal saído de um apagão de energia elétrica, emitia claros sinais de que não conseguiria fazer o sucessor. A oposição era favorita. Mesmo que FHC tivesse êxito, José Serra, o candidato do Palácio do Planalto, não inspirava confiança aos mercados. A pergunta, naquele junho, como hoje, era até onde poderia chegar o câmbio.

Serra também não ajudava. Era o candidato do governo Fernando Henrique, mas procurava se descolar das crises do governo FHC. O slogan da campanha era o da "continuidade sem continuísmo". O candidato só alimentava as especulações sobre suas diferenças com a equipe econômica da época, chefiada pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan. No Banco Central pontificava o economista Armínio Fraga - nada mais diferente que o desenvolvimentista José Serra.

Conserto dos danos: Editorial | O Globo

O fracasso do populismo no continente abre espaço para outras alianças na região e fora dela

O ciclo de nacional-populismo por que passa mais uma vez a América Latina está no fim, e países da região que foram contaminados por esta praga ideológica tratam, sob novos governos, de reparar danos, para recuperar empregos e renda perdidos devido a clássicas políticas demagógicas — subsídios sem critérios técnicos rígidos, aumentos salariais concedidos acima do avanço da produtividade, tudo resultando em inflação, entre outros males. Brasil e Argentina são os maiores exemplos, passados o lulopetismo e o kirchnerismo.

Também enfrentam mudanças instituições multilaterais que o bolivarianismo chavista, o kirchnerismo e o lulopetismo, braços do populismo, instrumentalizaram para executar um projeto retrógrado de articulação continental.

A mais importante delas, o Mercosul, bloco geopolítico e comercial, pôde expulsar a Venezuela com a ascensão de Macri e Temer, na Argentina e no Brasil. Nunca fizera sentido, do ponto de vista formal, a Venezuela ter sido aceita no grupo. Primeiro, porque infringia a cláusula democrática do Mersosul, pela qual regimes autoritários não podem participar deste mercado, em que há preferências tarifárias entre seus membros.

Além disso, a ideologia nacional-populista do bolivarianismo sempre foi contrária ao livre comércio, ao intercâmbio com o exterior. Ao contrário, a visão de economia do regime chavista sempre foi cartorial, de controles excessivos exercidos pelo Estado. E foi assim que a Venezuela que Maduro herdou de Chávez entrou em crise terminal, com a desarticulação do sistema produtivo a partir do estrangulamento do setor privado. Não escapou sequer a PDVSA, estatal petrolífera, assentada sobre uma das maiores reservas de petróleo do mundo. Desmantelada por perseguições políticas e outros desmandos do governo, a empresa não tem sequer conseguido aumentar a produção de petróleo, para o país se beneficiar de um novo ciclo de alta mundial da cotação do barril.

No purgatório: Editorial | Folha de S. Paulo

Blindagem de delatores e empresas envolvidas com corrupção aumenta incertezas ao travar atuação de órgãos de controle

Empresas que corromperam políticos e servidores para fazer negócios nos últimos anos pagaram um preço alto pelos erros de acionistas e executivos, e nada indica que suas agruras estejam perto do fim.

Além de reconhecer crimes e delatar antigos parceiros, empreiteiras como Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht aceitaram pagar mais de R$ 5 bilhões para reparar os danos causados ao país. Seus ex-dirigentes passaram meses na cadeia, e alguns continuam proibidos de pisar fora de casa.

Apanhados em meio à recessão econômica, também tiveram que demitir milhares de funcionários e vender parte dos seus negócios para quitar dívidas, mas nem assim conseguiram se livrar da desconfiança de bancos e investidores.

Soa condescendente, porém, o tratamento proposto agora pelos procuradores na linha de frente das investigações da Operação Lava Jato e pelo juiz Sergio Moro.

A pedido do Ministério Público Federal, Moro proibiu o Tribunal de Contas da União e outros cinco órgãos de usar provas fornecidas pela Lava Jato para impor sanções a delatores e empresas que colaboram com as investigações.

Corrupção como medida de tudo: Editorial | O Estado de S. Paulo

Não há dúvida de que a corrupção é um dos grandes males do País, há muitos anos. Também não há dúvida de que a Operação Lava Jato e suas congêneres, que vêm expondo de maneira crua a pilhagem do Estado por quadrilhas políticas e empresariais, contribuíram decisivamente para que os brasileiros se dessem conta do tamanho do problema e nutrissem verdadeira ojeriza pelos corruptos. No entanto, a luta contra a corrupção e as denúncias produzidas quase diariamente pela vanguarda dessa campanha acabaram por sequestrar a agenda nacional, de tal modo que os eleitores parecem hoje incapazes de refletir sobre os problemas do País sem vinculá-los de alguma maneira à corrupção – que, como consequência, se tornou a medida de todas as coisas.

Esse fenômeno ficou espantosamente claro em uma pesquisa nacional do Instituto Ipsos Public Affairs a respeito da reforma da Previdência. De acordo com o levantamento, 75% dos entrevistados consideram que “o maior problema da Previdência é a corrupção no sistema, que desvia seus recursos”. Apenas 15% entendem que o maior entrave do sistema previdenciário “é o modo como ele foi pensado e também o envelhecimento da população”.

Ou seja, a maioria dos brasileiros, a julgar por essa enquete, acredita que o galopante déficit da Previdência não existiria se não fosse a corrupção.

A resposta revela um grau tão absurdo de desconhecimento da realidade que só se pode concluir que os brasileiros em geral estão mesmo convencidos de que a corrupção é a fonte deste e de qualquer outro mal que assole o País.

Como mostram os dados publicados regularmente pelo governo e pela imprensa há muito tempo, a Previdência é deficitária porque o brasileiro se aposenta cedo demais e porque não há contribuintes em número suficiente para sustentar a aposentadoria de uma massa crescente de beneficiados – tudo isso sem mencionar privilégios desmedidos concedidos a determinados grupos.

Vinicius de Moraes: A rosa de Hiroxima

Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.