Por Cristian Klein | Valor Econômico
RIO - Em negociações que envolvem a eleição presidencial e a governador em Estados-chave para ambos partidos, PT e PSB buscam uma aliança que atendam aos interesses de cada um, mas a possibilidade de neutralidade dos pessebistas na disputa ao Planalto não deve agradar os petistas. A ideia de que o simples fato de o PSB não apoiar a candidatura Ciro Gomes (PDT) seria vantajoso para o PT não corresponde à realidade. Essa é a opinião da secretária nacional de Organização do partido, Gleide Andrade, para quem o PSB até pode encontrar uma "saída salomônica" e ficar neutro em relação a Ciro e o PT, mas isso não garantirá a principal reivindicação dos pessebistas, que é o apoio à reeleição do governador de Pernambuco Paulo Câmara. Sem a aliança nacional, os Estados estarão livres e o PT deverá lançar a vereadora Marília Arraes ao Palácio do Campo das Princesas.
"A joia da Coroa do PSB é Pernambuco, assim como é Minas Gerais para a gente. E o PT sempre foi um partido nacional. A coisa mais importante é o projeto nacional, a eleição de Lula. Agora, tem um monte de Estados em que eles têm interesses e temos os nossos", afirma Gleide, indicando outros espaços de negociação e de troca.
É o caso da Bahia, Piauí e Acre, prioritários para o PT; e do Amapá, Amazonas, Paraíba, Espírito Santo e Rondônia, onde o PSB quer apoio para eleger governadores. Figura central neste tabuleiro, o ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda, do PSB, afirmou na sexta-feira que a tendência de seu partido é se coligar com Ciro Gomes ou optar pela neutralidade na corrida presidencial. Conferiu menos probabilidade a uma aliança com o PT. Lacerda, no entanto, é nome muito próximo de Ciro Gomes, de quem foi secretário-executivo no Ministério da Integração Nacional, durante a gestão Lula.
Para Gleide Andrade, essa relação pessoal entre os dois pesa na decisão do PSB, mas a secretária de Organização do PT diz que tem a impressão de que a candidatura de Ciro Gomes está "desidratando", pelo perfil "intempestivo" do pedetista. O irmão e coordenador de campanha Cid Gomes, também ex-governador do Ceará e espécie de alter ego de Ciro, a todo momento precisa aparecer para neutralizar as declarações polêmicas, ressalta.
Para a dirigente petista, Márcio Lacerda pode ser candidato a vice-governador na chapa de Fernando Pimentel, a vice-presidente na chapa encabeçada por Lula - ou seu substituto, provavelmente o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad - ou mesmo concorrer a uma das duas vagas ao Senado ao lado da ex-presidente Dilma Rousseff, num "casamento perfeito". "Seria uma chapa imbatível", diz.
Caso feche aliança com o PSB, o efeito direto das negociações é a retirada da candidatura de Marília Arraes, que está tecnicamente empatada nas pesquisas com Paulo Câmara. Para Gleide Andrade, não se deve interpretar a decisão como se o PT estivesse preterindo Pernambuco, e sim priorizando a eleição presidencial. "No PT, os interesse nacionais sempre preponderaram sobre os estaduais. Quem se filia entra no partido sabendo disso", diz.
Lamentar a retirada de candidatura seria apequenar a discussão. Gleide afirma que o PT é um partido democrático e lembra que já disputou a presidência estadual da legenda em Minas Gerais e perdeu. Cita ainda a eleição de 2010, quando o diretório mineiro realizou prévias que indicaram Fernando Pimentel como candidato a governador, mas depois a sigla foi obrigada a ser vice de Hélio Costa, uma das exigências do MDB para apoiar Dilma Rousseff à Presidência. A dirigente recorda ainda as vezes em que o diretório do Rio abriu mão de candidatos para coligações com Sérgio Cabral ou Anthony Garotinho, em prol de uma aliança nacional.