quinta-feira, 26 de julho de 2018

Paulo Fábio Dantas Neto*: Rotas eleitorais para uma democracia em trânsito**

Desde maio de 2017, quando houve a primeira tentativa de derrubar o governo Temer, o país entrou num ponto morto, apesar da pulsão de confronto que acomete aquelas facções da elite política onde estão vencedores ou vencidos que ainda não viraram a página do impeachment de 2016. O enredo da trama reiterativa do trauma beneficiou-se da instabilidade provocada pelas investidas da Lava Jato e de parte influente dos meios de comunicação contra o grupo político do Presidente e de fato conseguiu eclipsar o enredo da recuperação e da travessia, que durante seu primeiro ano o governo engatara com certo êxito. Mas a coalizão de veto não logrou substituir, no cotidiano dos brasileiros, a partitura da travessia pelas do dilúvio e do apocalipse. A marcha-a-ré também travou e aqui estamos, numa situação que avaliza a metáfora do ponto morto mas já no limiar do engate de uma marcha lenta para nova partida, com a chegada da fase decisiva dos acordos e desacordos eleitorais.

Institutos de pesquisa têm providenciado o argumento que ainda faz render a novela da “faxina” e do “golpe”. As performances de Lula e Bolsonaro são filhas da insistência de se submeter ao público do pré-jogo cenários de polarização e fragmentação radicais que já não correspondem aos movimentos reais que, fora dos dois nichos, se dirigem à contenção dos discursos e à busca de alianças eleitorais. Com a convergência que ora se consolida em torno do candidato do PSDB os institutos indutores serão induzidos a trocar o disco para sintonizarem a nova música. Assim, outubro vai se firmando no horizonte político como encontro esperado, que vale ponto, mesmo cheio de ressalvas e sobressaltos.

A pinguela balança mas não cai e a caravana vai passando. Não chega a ser um samba popular de partido alto nem a pista é avenida larga, mas o eleitor terá como cantar seu chorinho por ruas e ladeiras cujos paralelepípedos seguem inteiros e no lugar. Alguns serão retirados se - e somente se - o eleitor quiser e do modo que pregava Joaquim Nabuco: a nível e compasso, um a um, como foram colocados. A transição a algo novo, um novo cujos traços ainda são em boa parte ignorados, segue na marcha do método conservador, por isso irá além de outubro, mas não parece que será evitada.

Houve danos, há sequelas. O que poderia ser construção tornou-se resistência, devido a revezes impostos pela Lava-Jato ao sistema político e também à pouca virtù da elite política. Disparando fogo amigo e inimigo contra o governo ela agiu na contramão do entendimento e da moderação, virtudes da nossa tradição política que o governo procurava praticar. Por outro lado a elite política insistiu no cultivo do lado não virtuoso, patrimonialista, da mesma tradição, sem nesse caso se poder excetuar a facção governante, muito pelo contrário, a julgar pelo rol de novos residentes de Curitiba.

Os fogos amigos e inimigos partiram de atiradores situados muito além do previsível e proverbial populismo de Jair Bolsonaro. A oposição de esquerda alvejou, por exemplo, a Petrobras que seus ícones políticos já haviam alvejado quando eram governo e pediu, sem recato ou cerimônia, a volta da política antiga. O Presidente da Câmara, na greve dos caminhões, violou a matemática e, como em outros momentos, também a ética da responsabilidade, como se a desmoralização do governo pudesse servir de trampolim para um salto pessoal que poderia ser mortal para a instituição que preside. E o partido dos tucanos, de um modo geral, não se conduziu à altura do compromisso público que assumiu ao emprestar o peso da sua influência à viabilização do impeachment.

Tomo esses exemplos como representativos da atitude mais visível na elite política quanto ao destino do pacto que levou Temer ao governo. O conjunto revela padrão deficiente de interação política. Se escapamos de ardis dos amantes de esquinas e teremos eleições, elas decerto avaliarão esse padrão.

Talvez pela consciência desse fato tem havido correções de rota à medida em que se aproximam datas decisivas do calendário pré-eleitoral. Isso ocorre tanto no profissionalíssimo ambiente do chamado Centrão como no da articulação, ao mesmo tempo periférica e crucial, do chamado Polo democrático e reformista. Dois blocos de forças, ao tempo em que se unem e tornam competitivo o candidato tucano, iniciam uma competição interna à aliança. De um lado, quatro ou cinco partidos do Centrão ou a ele ligados (DEM, PP, PR, PRB e talvez SD) e do outro cinco do Polo (PSDB, PSD, PPS, PV, PTB). A hipótese de que alguns desses partidos transitem entre um bloco e outro faz parte do jogo. O árbitro central, desde a preliminar, será o candidato, mas o juiz de vídeo já será o eleitor. Em caso de vitória eleitoral, o campeonato seguirá até a montagem e exercício do governo. Aí o árbitro central recrutará mais auxiliares dentre aqueles que passarem pelo crivo eleitoral preliminar do árbitro de vídeo. Em caso de derrota, os juízes serão outros e não se sabe se o jogo também será.

Há ainda a considerar que antes do eleitor entrar em cena três outros jogadores, de variáveis relevos, ainda podem entrar nesse time dos sonhos do sistema político: o MDB, o PSB e o Podemos. Aqui não incluo a Rede, face ao seu perfil de estilingue e por mais motivos que serão comentados adiante.

O MDB poderá dar agora aos antigos aliados o apoio que lhe foi negado por eles a partir de 2017. Aliás, se o partido mantém um pré-candidato à parte, o governo não lava as mãos e já atuou para tirar o Centrão de Ciro e jogá-lo para Alkmin. Cedendo aos fatos o MDB poderá fazer o entendimento abrindo mão da primazia e reconhecendo a provisória posição de maior força do outro parceiro grande, no caso o PSDB. Esse último, fiel ao seu estilo, não cortejará o MDB em público para além das formalidades. Nem o PSDB nem o Centrão fazem, por ora, questão de passar recibo do apoio de um MDB com alta expertise em ser decisivo, sendo fiel da balança. Mas o tucanos sabem que sem aquela geni não consolidarão a posição predominante. O MDB, ainda virtual aliado, já é relevante sócio oculto e, a essa altura, ansioso para sair da posição de primeira vidraça.

Quanto ao PSB, as duas canoas em que pôs seus pés desde 2015 (a do impeachment e a do lulismo) parecem agora ser embarcações impróprias para levar o partido a um porto seguro. Se voltasse à primeira canoa, apoiando Alkmin, prestaria louvável serviço ao polo democrático e reformista que tenta levar o candidato a posição centrista, sem adernar à direita. Mas se arriscaria a perder suas posições eleitorais no nordeste, preço alto demais. Se ficar na segunda canoa pode prestar um serviço aos moderados do PT mas se arriscará, junto com eles, a ser tragado pelo abraço de afogado de Lula, que tentar interceptar a recepção dos socialistas a Ciro Gomes. Mas como o casco grosso dessa óbvia terceira canoa também parece ter furos, o partido pode até optar por não optar. O liberou geral já vigora e ninguém segura mais, haja ou não uma votação na cúpula ou até um candidato próprio.

A questão do Podemos é menos complexa. Entre a sua busca de vencer a cláusula de barreira por uma articulação nacional e o voo solo de Álvaro Dias a primeira tende a prevalecer, formalmente ou não. Sinal de que, em meio aos seus pesares, o sistema político produz regras que, no intuito de conservar a competividade de atores tradicionais, acabam reforçando a institucionalização do sistema partidário contra scripts personalistas. Um bem público colateral, derivado de vícios privados gerais.

Se o time de Alkmin ganhar esses jogadores - mesmo pontual e oficiosamente, graças a liberou geral para dissonâncias estaduais no MDB e no PSB -, o arco político que viabilizou o impeachment.estará politicamente recomposto, por mal traçadas linhas e ao preço de uma crise que se arrastou mais do que precisaria. O novo seria a troca de pilotos, saindo o MDB, entrando uma sociedade entre PSDB e Centrão. Possível implicação dessa troca é a criação, em 2019, caso Alkmin vença, de situação análoga à que em 2003 levou Lula, em busca de base parlamentar, a rejeitar o PMDB como aliado preferencial para montar o balcão varejista mais tarde conhecido como Mensalão. No Brasil pós-Lava Jato, se o PSDB não tiver repertório alternativo a esse varejo – repertório político, não bom mocismo udenista ou tecnocrático – poderá ter mais dificuldades do que teve o PT àquela época.

William Waack: Soco na boca

- O Estado de S.Paulo

A potência das ‘armas’ na disputa eleitoral será testada no confronto direto que se inicia

Supõe-se que o campo das disputas políticas, especificamente eleições, seja o das decisões frias. Não é à toa que boa parte do vocabulário venha da linguagem militar e do pensamento clássico sobre estratégia, pois trata-se de ganhar uma batalha. Nesse sentido, a expressão mais consagrada é a de um general prussiano do século 19, Helmuth von Moltke (“O Velho”): nenhum plano resiste ao primeiro contato com o adversário.

Antes de mais nada, um recado: vou me concentrar aqui nos personagens políticos que estão pontuando melhor nas pesquisas. Não importa a simpatia e admiração que se possa ter por movimentos autênticos de renovação de métodos e ideias, e o essencial exemplo de engajamento político de milhares em torno de propostas modernas – e o que isso aponte de positivo para a futura política brasileira – o peso desses movimentos nas próximas eleições estará ainda bem aquém das elogiáveis ambições de seus participantes.

Vamos tentar limpar a “verborragia” típica de candidatos, exacerbada com a revolução digital (que incentiva a produção de “soundbites” de 10 segundos para viralização em redes sociais) e focar no que são planos nítidos de combate. O balé do Centrão é, em primeiro lugar, com a quase infinita possibilidade de alianças e parcerias, o espelho fiel da maçaroca ideológica brasileira, impossível de ser corretamente definida pelos termos “direita” e “esquerda”.

Em segundo lugar, essa movimentação é a evidência de que todos calculam friamente que elementos do sistema (tempo de TV, acesso a fundos com dinheiro público e controle de pedaços da máquina governamental) trazem vantagens na disputa eleitoral. E, eventualmente, na capacidade de governar em 2019. É o plano óbvio de Geraldo Alckmin, mas também de Ciro Gomes (que sai em desvantagem), assim como é bastante óbvio o plano de candidatos que se apresentam como “de fora” (não importa se de fato o são, o que importa é a percepção) – Marina Silva e Jair Bolsonaro. É a aposta na capacidade de mobilização através de tecnologias digitais, e o uso do que identificam como qualidade própria de atender à “demanda” do eleitorado por limpeza “do que está aí”.

Merval Pereira: Justiça sob ataque

- O Globo

A estratégia do PT de desmoralizar a Justiça para dar ares de verdade à tese de que Lula é um perseguido político, encarcerado injustamente, está produzindo seus efeitos deletérios à democracia brasileira.

O ataque de militantes petistas ao prédio do Supremo Tribunal Federal, com atos de vandalismo, é um absurdo que não foi devidamente repudiado fora dos organismos institucionais da Justiça. Não houve um pré-candidato ou líder partidário que se posicionasse veementemente contra a arruaça promovida por neoaloprados petistas, incentivados pelas declarações e ações das lideranças políticas de esquerda.

Ataques que já haviam acontecido contra a residência da presidente do Supremo, ministra Cármen Lúcia, em Belo Horizonte, nos mesmos moldes de jogar tinta vermelha, o que mostra que é uma atitude recorrente de alguma facção ligada ao PT.

A estrambótica tentativa de usar um plantão judicial para libertar Lula, desmontada pela ação pronta de autoridades que prezam pela proteção do sistema judicial brasileiro, inviabilizou o golpe, mas estimulou outras atitudes do mesmo teor.

Foi assim com o plantão no STF do ministro Dias Toffoli, tido como o momento ideal para a libertação de Lula por suas ligações passadas com o PT e o próprio ex-presidente. Vários pedidos de habeas corpus foram apresentados logo no primeiro dia, como se fosse obrigatório Toffoli ajudar Lula, com quem trabalhou e por quem foi indicado para o STF.

Não poderia haver manobra mais rasteira e ingênua politicamente. Também o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, agora dedicado a tentar pela enésima vez o apoio do PT e de partidos de esquerda como o PSB, deu uma entrevista anunciando que a única maneira de Lula sair da prisão é ele ganhar a eleição e colocar o Ministério Público e o Judiciário “dentro de suas caixinhas”.

Fernando Canzian: Novo presidente não terá mais sozinho a chave do cofre

- Folha de S. Paulo

Parte do Orçamento foi capturada por servidores estatais e pela classe política

Depois de 21 anos de ditadura e uma década de caos inflacionário com Sarney, Collor e Itamar, o Brasil finalmente encontrou um caminho seguro a partir de 1995, quando o Plano Real vingou com desempenhos macroeconômicos razoavelmente responsáveis de FHC e Lula.

O tucano estabilizou a economia e saneou o sistema financeiro; o petista manteve as condições para o crescimento e patrocinou uma inédita inclusão social. No final dos 16 anos da dupla, o país foi ao ápice: 7,5% de crescimento em 2010 e contas internas e externas em ordem.

Com as políticas de Dilma 1, o crescimento médio baixou para 2,3%. No período Dilma 2/Temer, ficaremos no vermelho e com a maior das recessões no meio do caminho.

O resumo é que, mesmo com as contas externas ainda arrumadas, o Brasil quebrou internamente —e precisa agora de cerca de R$ 250 bilhões a mais por ano para conter a explosão da dívida pública.

Essa sequência tem lógica e pode ser entendida a partir das rubricas de receitas e gastos no Orçamento. É pelo seu exame que o próximo presidente poderia nos tirar do abismo.

*José Serra: Ajuste fiscal: quantidade e qualidade

- O Estado de S.Paulo

Felizmente, começa a ser levado em conta o enfoque qualitativo dos gastos e da tributação

As propostas de enfrentamento dos problemas fiscais brasileiros têm se centrado nos aspectos quantitativos da questão. Nessa perspectiva, a essência das medidas a serem tomadas enfatiza a redução das despesas, seja dos gastos diretos, seja dos chamados “gastos tributários”, que envolvem isenções e subsídios bancados direta ou indiretamente pelo Tesouro. Sem mencionar também o aumento ou a diminuição de receitas – por exemplo, a redução da PIS/Cofins no diesel ou a elevação do IOF, feitas recentemente.

Esse enfoque é natural e até correto, mas, em geral, são deixadas de lado questões referentes à qualidade dos gastos e da tributação. Felizmente, essa perspectiva começa a ser levada em conta. Não foi por menos que a nova Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que vai balizar a elaboração do Orçamento de 2019, recentemente aprovada pelo Congresso Nacional, traz um avanço importante nessa direção. O próximo presidente da República deverá enviar ao Congresso, até março do próximo ano, um plano de revisão de despesas e receitas para vigorar durante os quatro anos de seu mandato. Tal medida, nada trivial, abrirá caminho para a prática, adotada por diversas economias avançadas, conhecida como Spending Reviews, pela qual programas governamentais são continuamente revisados segundo avaliações de custo e benefício. O objetivo é economizar sem prejuízo da prestação de serviços pelo Estado.

Dada a importância de implantar no País a avaliação sistemática dos programas orçamentários, entendo que sua regulamentação deveria fazer parte de uma legislação mais estável – como leis complementares. Isso porque, pela Constituição, as leis de diretrizes orçamentárias são anuais e ordinárias e, assim, suscetíveis de alterações relativamente fáceis de fazer. Em leis ordinárias, o Poder Executivo consegue sem grande esforço mudar ou anular dispositivos restritivos ou que considere inconvenientes.

Carlos Alberto Sardenberg: Ideias? Ora, as ideias

- O Globo

Pelo andar das negociações, o vice de Geraldo Alckmin tanto pode ser o comunista Aldo Rebelo — ex-PCdoB, hoje no Solidariedade — como o empresário Josué Gomes — dono de 15 fábricas no Brasil, cinco nos EUA, uma na Argentina e outra no México, líder da confecção de cama, mesa e banho nas Américas. Pode parecer estranho, mas no meio político isso é dado como absolutamente normal. Tanto que o empresário também é cogitado como vice na chapa do petista Fernando Pimentel, governador candidato à reeleição em Minas.

O mesmo empresário também esteve em conversas para compor chapa com Ciro Gomes, cujo objetivo é fisgar os votos da esquerda, na ausência de Lula. E isso nem é novidade, pois o pai de Josué, José Alencar, fundador do império têxtil, foi vice de Lula, e os dois se deram muito bem.

Os partidos do centrão negociaram com Ciro e Bolsonaro, antes de fechar com Alckmin. Também cogitaram acertar com Henrique Meirelles. Aliás, o comunista Aldo Rebelo, como membro do Solidariedade, integra o centrão, um catado de populistas de direita ou de coisa nenhuma, com vários líderes envolvidos na Lava-Jato.

O deputado Jair Bolsonaro, com um histórico de votos na linha estatizante e corporativa, chamou para seu economista o ultraliberal Paulo Guedes. Marina, que fez campanha mais pelo lado liberal na última eleição, dá uma guinada à esquerda, também de olho nos votos de Lula.

Se o Brasil estivesse em um momento muito favorável, com economia e política funcionando tudo certinho, essas incoerências poderiam até ser toleradas. Quer dizer, seriam negativas, mas se não houvesse nada de importante a resolver, qual o problema? Um comunista e um capitalista podem se entender sobre, digamos, os limites de velocidade nas estradas federais.

Zeina Latif: Corrida maluca

- O Estado de S.Paulo

O problema é a ausência de reflexão e a incapacidade do PT de modernizar sua agenda

Sobram truques, oportunismo e trapalhadas nessa corrida eleitoral. Difícil dizer o que é pior: o silêncio de Jair Bolsonaro sobre temas básicos de economia ou a incapacidade do PT de renovar sua agenda econômica.

Bolsonaro exerce seu 7.º mandato de deputado federal desde 1991 e já passou por 9 partidos. Apesar disso, ele se apresenta como “cara nova” e antiestablishment. O marketing parece funcionar, ironicamente, devido à sua exígua atividade parlamentar.

Em um país com tantos desafios, surpreende um parlamentar tão longevo ser principiante. Ele insiste, pois, em delegar ao coordenador de seu programa econômico, Paulo Guedes, as questões centrais de seu plano de governo, sendo que a agenda de cunho liberal de Guedes contrasta com sua atuação no Congresso. Isso alimenta as incertezas de como seria seu governo de fato.

Um estudo da XP, elaborado por Victor Scalet, sobre a atuação do parlamentar aponta que 46% das suas proposições tiveram cunho corporativista, com destaque para a defesa de militares e profissionais de segurança. Outros 10% vão para temas relacionados a porte de armas, que ganharam relevância mais recentemente. A segurança pública, curiosamente, não foi contemplada.

Bolsonaro foi contra as reformas estruturais, a começar pela oposição ao Plano Real. E assim seguiu para a quebra dos monopólios do petróleo e das telecomunicações e as reformas administrativa e da Previdência na gestão Fernando Henrique Cardoso.

Bolsonaro diz ter mudado de opinião. Não há problema nisso. É o que fazem políticos comprometidos ao se defrontarem com seus equívocos. Mas, se ele mudou, o que exatamente pensa? O eleitor está no escuro em relação às suas reais pretensões.

Bernardo Mello Franco: A comédia dos vices

- O Globo

Primeiro ele convidou um dublê de senador e cantor gospel. Depois, um general de pijamas. Em seguida, a advogada que prometeu acabar com a “República da Cobra”. A novela dos vices de Jair Bolsonaro já parecia suficientemente bizarra. Agora entraram na dança um príncipe e um astronauta.

Luiz Philippe de Orleans e Bragança, o bolsonarista de sangue azul, sonha com a restauração da monarquia. Se não der certo, pode aceitar um cargo na linha sucessória da República. Enquanto não é convocado, ele produz vídeos para o Facebook. Há três dias, informou aos plebeus que está escrevendo uma nova Constituição.

Marcos Pontes, o cosmonauta brasileiro, parece fazer planos mais modestos. Depois de viajar de foguete, passou a ganhar a vida com palestras motivacionais. Agora quer trocar seus dez dias no espaço por quatro anos no Jaburu.

Bolsonaro não é o único presidenciável sem vice. A dois meses da eleição, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes e Marina Silva também penam para compor suas chapas. Entre recusas e desistências, ninguém consegue parceiro para concorrer ao Planalto.

Ciro já ofereceu a vaga aos conservadores do centrão e aos socialistas do PSB. O ex-ministro promete revogar a reforma trabalhista, mas também topa dividir chapa com Benjamin Steinbruch. O industrial já propôs coisas que nem o atual governo ousaria, como limitar o intervalo de almoço dos operários a 15 minutos.

Nelson Paes Leme: Onde está o novo?

- O Globo

Amenos de três meses das eleições, as pesquisas e a mobilização partidária retratadas pela mídia demonstram claramente que teremos as mesmas caras da velha política, os mesmos caciques e coronéis e a mesma ordem perversa que nos fez chegar ao descalabro jurídico-policial na práxis da representação popular a que chegamos nestes estertores da Nova República — inaugurada há 30 anos com a Constituição erroneamente congressual de 1988. O único partido realmente inovador, com propostas concretas de mudança, o Partido Novo, não tem merecido qualquer atenção dos meios de divulgação e comunicação. Seus candidatos simplesmente são ignorados pela mídia, que só cobre e só dá espaço à velha politicagem de alianças espúrias e barganhas de conveniência, não ideológicas e não programáticas, em torno apenas de maior tempo na televisão, por exemplo.

De outro lado, o TSE silencia, irresponsável e conivente, com o status quo ante. Não entendeu a História nem as mudanças exigidas pela esmagadora maioria do povo brasileiro. Nenhuma mudança se vê nas regras antigas que nos levaram ao caos eleitoral responsável por impeachments e prisões de autoridades por malversação de fundos públicos, roubalheira deslavada de “caixas 2” e outros expedientes espúrios notórios. Com exceção da aplicação da Lei da Ficha Limpa, de iniciativa popular, não se vê um gesto do tribunal para tentar melhorar o sistema de eleições e essa vergonhosa propaganda eleitoral “gratuita” herdada dos grilhões da ditadura militar, como se fosse a coisa mais natural e corriqueira em democracias consolidadas, com seu vergonhoso escambo escancarado para a exposição pública dos candidatos.

Mais do mesmo, infelizmente, é o que teremos dessas urnas que, inocente e idealisticamente, imaginava-se, seriam plebiscitárias, renovadoras e de grande mobilização popular. Ao contrário, a decepção generalizada com a política faz com que o “candidato” mais cotado nas pesquisas seja o voto nulo. Ou a abstenção. Ou ambos, pouco importa, o que é ainda mais terrível para a democracia.

Maria Cristina Fernandes: A resiliência do azul e do encarnado

- Valor Econômico

Centrão torce por reedição da disputa entre PT e PSDB

Resta pouco dos pastoris que até o início do século passado animava o Nordeste. Parte das festividades profanas do Natal, os pastoris mobilizavam os arrebaldes em torno do cordão azul e do encarnado. Entre um e outro, moderando a exaltação dos torcedores e encantando a ambos os cordões, aparecia Diana, bailando um vestido metade encarnada, metade azul.

Ciro Gomes, definitivamente, não tem vocação para Diana do pastoril. O diagnóstico do candidato do PDT à Presidência é certeiro mas implode todas as pontes com azuis e encarnados. Ao afirmar, ao Valor, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva manobrou com o chefe do PR, Valdemar Costa Neto, para impedir o acordo do Centrão com sua candidatura, Ciro põe o dedo na ferida de uma esquerda refém do vezo hegemonista do PT, mas se inviabiliza como o nome capaz de liderá-la.

Ao dizer que o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, errou por não negociar pontos programáticos com o Centrão, antes de aceitar a aliança, Ciro revela como caiu na armadilha que lhe preparou o bloco. Sim, o Centrão imita o MDB, mas não apenas se junta para pressionar e se separa para dividir o butim. O Centrão tem sua origem na Arena, escola da política de bloqueio. Ao identificar Ciro como ameaça, o bloco se aproximou, ofereceu apoio e favoreceu arestas do candidato do PDT com seus potenciais aliados à esquerda. Quando ficou claro que Ciro já contava com esse apoio, puxou o cordão e deixou-lhe desarmado para conquistar os azuis.

Restou a Ciro o PSB, em que conta com o apoio da maior parte dos diretórios estaduais do partido, mas agora encara Márcio França (PSB). Com procuração tucana, o governador paulista trabalha para viabilizar o nome de uma novata secretária brasiliense como nome do PSB com o mesmo afinco com o qual dinamitou o ex-ministro Joaquim Barbosa como candidato do partido. Com o único objetivo de inviabilizar a aliança com o PDT.

Em profecia, tão aprumada quanto arriscada, Ciro aposta num primeiro turno de candidatos com 14%. Ficarão de fora aqueles que forem para baixo na margem de erro e passará para o segundo turno a dupla que a ultrapassar para cima. Com a ajuda do Centrão, o cordão encarnado e, principalmente, o azul, estão mandando todas as Dianas pastorear em outra freguesia.

PT e PSDB também engoliram os partidos com os quais a pré-candidata da Rede tinha a expectativa de fechar aliança. Desprovida de uma coligação que lhe proporcione mais do que poucos segundos no horário eleitoral, Marina Silva ainda terá que se explicar por aliados regionais como o senador Romário (Podemos). Líder na disputa pelo governo do Rio, o senador é acusado por ocultação de patrimônio. É pouco, ante o festival de delinquentes que desfilará nos lares brasileiros em horário nobre, mas suficiente para confrontar o discurso madre-teresa-de-calcutá da candidata.

Ribamar Oliveira: Receita aumenta, mas déficit não diminui

- Valor Econômico

Despesa primária fora do teto já supera 0,6% do PIB

Na área fiscal, o governo não tem do que se queixar. A receita da União no primeiro semestre deste ano ficou muito acima de todas as projeções. A última estimativa é que a arrecadação total deste ano será R$ 20,1 bilhões maior do que o previsto na lei orçamentária. Depois das transferências aos Estados e municípios, o governo deve ficar com uma receita líquida adicional de R$ 8,3 bilhões. Todos esses números poderão melhorar ainda mais no segundo semestre.

O aumento da arrecadação, no entanto, não foi utilizado para reduzir o astronômico déficit primário previsto para este ano. A receita adicional foi utilizada inteiramente para financiar mais despesas, mesmo com o teto de gastos da União em vigor. Na verdade, o déficit primário do governo central (Tesouro, Previdência e Banco Central) aumentou, na comparação com o previsto na lei orçamentária.

Nem todos os gastos da União estão submetidos ao limite anual instituído pela emenda constitucional 95. As transferências constitucionais e legais aos Estados e municípios, que são consideradas despesas da União pela contabilidade pública, não estão submetidas ao teto. As transferências do Fundo Constitucional do Distrito Federal também não.

As despesas da União com os pleitos eleitorais não estão submetidas ao teto, nem os gastos com aumento de capital de empresas estatais federais e a complementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Também ficaram de fora os chamados créditos extraordinários, que são aqueles abertos no Orçamento por medida provisória do presidente da República.

Discurso de Alckmin terá defesa de aliança

Acordo com Centrão será oficializado hoje; tucano vai dizer que não existe fisiologismo

Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo.

O ex-governador Geraldo Alckmin, pré-candidato do PSDB à Presidência, vai anunciar hoje oficialmente, em Brasília, a entrada dos partidos do Centrão na sua coligação com um discurso formatado para se contrapor às críticas de adversários de que o acordo é fisiológico.

Para justificar a adesão de PR, DEM, PP, SD e PRB à sua chapa, o tucano vai dizer que alianças não servem apenas para o fisiologismo, mas para “tirar o País do buraco”. Ele pretende citar o processo de redemocratização, o Plano Real e a Constituinte como exemplos de momentos históricos que só foram possíveis garças à formação de coalizões.

Após selar o acordo com o Centrão, Alckmin passou a ser alvo de adversários. A expectativa no entorno do ex-governador é que esse tema seja recorrente na campanha, mas a avaliação é que o tempo de TV conquistado compense o desgaste. Os tucanos acreditam ainda que o debate sobre fisiologismo tem alcance limitado e não tem potencial para a contaminar a campanha.

Uma das críticas veio de Marina Silva, pré-candidata da Rede ao Palácio do Planalto. “O condomínio do Alckmin é agora o condomínio que era da Dilma em 2014”, afirmou ela, anteontem.

O discurso de hoje também deve ser marcado por um tom conciliador. O tucano vai pregar que não há mais “vermelho e azul” na política (numa referência às cores usadas por PT e PSDB) e que ninguém mais quer saber do passado, mas olhar para o futuro. Outro eixo do discurso será a economia. O pré-candidato deve dizer que as políticas sociais serão mantidas e ampliadas, e que a política de geração de emprego e renda será sua principal política social.

Sem definir vice, Centrão sela apoio a tucano

Renan Truffi, Vera Rosa e Mariana Haubert | O Estado de S. Paulo.

O Centrão pode apresentar mais de uma alternativa de vice para a chapa do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência, que receberá o apoio oficial do bloco na manhã de hoje. O anúncio será realizado sem a definição do vice, após o empresário Josué Gomes (PR) ter recusado o convite. Integrantes do bloco tentam convencê-lo a mudar de ideia, mas na prática já trabalham com um plano B.

“Caso existam diversas opções, pode ser que a gente apresente mais de uma alternativa. A palavra final será de Alckmin. Nossos partidos têm bons nomes e não vamos ter dificuldade em encontrar um novo. A escolha não será tratada como um pleito deste ou daquele partido”, afirmou ontem o presidente do DEM, ACM Neto.

Após jantar com representantes do Centrão – formado por DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade –, em Brasília, Alckmin disse ter até 4 de agosto, data da convenção do PSDB, para definir a composição de sua chapa. Admitiu, no entanto, ainda não ter recebido resposta definitiva de Josué. “Se ele puder, ótimo. Se não, sem pressa”, disse, ao deixar a casa do presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), onde foi realizado o encontro.

Durante todo o dia, dirigentes do Centrão tentavam negociar uma saída enquanto Josué, filho do ex-vice-presidente José Alencar, não se posicionava. Integrantes do bloco se irritaram com a recusa do empresário.

“Também acho que Josué não foi muito correto conosco. Foi deselegante, fazendo a gente esperar e acreditando nele”, disse Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade.

A sigla tentava emplacar a indicação do ex-ministro Aldo Rebelo, mas o PP queria a cadeira para o empresário Benjamin Steinbruch. O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional se filiou ao PP para ser vice do pré-candidato do PDT, Ciro Gomes, mas a estratégia naufragou com o apoio do bloco a Alckmin.

Apoio do bloco não muda diretriz, afirma coordenador

Pedro Venceslau |. O Estado de S. Paulo.

Coordenador do programa de governo do pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, o cientista político Luiz Felipe d’Avila disse ao Estado que o documento já está praticamente pronto e que não haverá mudanças nas diretrizes devido ao apoio dos partidos do Centrão.

“Dificilmente haverá alguma discussão questionando as diretrizes. Não acho que haverá grandes mudanças nas diretrizes gerais”, afirmou. A ideia do PSDB era lançar o programa no dia 5 de agosto, data da convenção tucana. Mas o partido pode rever esse cronograma para submeter antes o texto aos dirigentes das legendas da coligação.

“É muito importante a participação dos partidos da aliança na definição das metas dessas diretrizes, mas isso será o segundo momento, quando a campanha já tiver começado. Ninguém dos partidos é contra a reforma da previdência. Essa é uma diretriz geral. Mas qual será reforma? Vamos ouvir todos”, afirmou.

Outro debate entre as siglas do Centrão e o PSDB que começa a partir de hoje é sobre o nome do coordenador político da campanha. Por pressão do DEM, o atual responsável pela área, o senador Marconi Perillo (GO), deve ser substituído.

Um nome lembrado para assumir o posto é o ministro da Comunicações, Gilberto Kassab, presidente do PSD.

Questionado sobre o perfil ideal do novo coordenador político, d’Avila não quis falar em nomes. “Seria importante que o coordenador da campanha fosse alguém que não vai disputar mandato. Seria algo muito difícil conciliar uma eleição com coordenação da campanha.”

Centrão insiste em Josué como vice na chapa de Alckmin

Por Fabio Murakawa, Vandson Lima e Fábio Graner | Valor Econòmico

BRASÍLIA E JOANESBURGO - Pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin passou o dia ontem em Brasília em contatos com políticos do PSDB e partidos integrantes do bloco denominado Centrão, para definir a composição de sua chapa com um candidato a vice-presidente indicado pela aliança.

O ex-ministro Marcos Pereira, presidente do PRB, assim como o presidente do PP, senador Ciro Nogueira, disseram, ao sair de encontro com Alckmin, ainda ter esperanças de que o empresário Josué Alencar (PR), nome que unifica o bloco, aceite ser vice na chapa. Pereira afirmou ter conversado longamente com o empresário. Segundo Pereira, Josué é o único consenso dentro do bloco. Ele disse não ter objeção ao ex-deputado Aldo Rebelo, que trocou o PCdoB pelo SD. Mas não apoia a indicação de outro cotado, o ex-ministro Mendonça Filho (DEM).

"Só acho que o vice não pode ser do DEM, porque seria muita coisa", afirmou, referindo-se ao fato de que muito provavelmente a presidência da Câmara continuará com Rodrigo Maia (DEM-RJ), caso Alckmin seja eleito com o apoio do Centrão. O dirigente do PP foi enfático ao defender o empresário mineiro. "Para mim, é Josué", insistiu Nogueira, depois da conversa com o tucano.

Segundo um dos dirigentes do Centrão, Josué já deu sinais concretos de apoio a Alckmin, como o artigo publicado ontem no jornal "Folha de S. Paulo". O empresário estaria se inclinando a aceitar o desafio, mas, segundo essa avaliação, enfrentaria resistência da família.

As negociações de ontem culminaram com um jantar na casa do presidente do PP, Ciro Nogueira, sem que tivessem anunciado conclusões até o fechamento desta edição. Na reunião da noite estavam sendo esperados dirigentes do PP, PRB, DEM, PR e SD. Hoje, às 10 hs, no Hotel Windsor, os presidentes dos cinco partidos que integram o bloco darão uma entrevista para oficializar o apoio à candidatura presidencial do tucano.

O ministro das relações exteriores, Aloysio Nunes (PSDB), em viagem à África para a reunião dos BRICs, disse ao Valor que o apoio do Centrão à candidatura de Alckmin é um fato importante. "Pela questão do tempo de televisão, que é importante sobretudo em uma campanha curta como essa e sem os meios financeiros que havia nas eleições anteriores", disse.

"Além disso, tem a capilaridade desses partidos, sua representatividade nacional", acrescentou após participar de painel na reunião de Joanesburgo.

Ana Amélia selaria apoio rural a Alckmin

Por Fernando Lopes | Valor Econômico

SÃO PAULO - Se boa parte do setor de agronegócios já via com bons olhos a candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, sobretudo em São Paulo e outros Estados do Centro-Sul do país, a possibilidade de a senadora Ana Amélia (PP-RS) ser indicada como vice do tucano para a disputa tende a consolidar esse apoio, ainda que os últimos sinais da gaúcha tenham indicado que sua prioridade é a reeleição para o Senado.

Da lista de candidatos a vice de Alckmin, Ana Amélia, que compõe a bancada ruralista do Congresso, é a mais bem vista pelo agronegócio, ainda que o ex-deputado Aldo Rebelo (SD) tenha angariado simpatia como relator de um Código Florestal que anistiou o setor do pagamento de multas de desmatamentos realizados no passado. Pesa contra Rebelo, contudo, o passado comunista e o fato de ser sido ministro nos governos Lula e Dilma, o que arrepia as alas do campo mais à direita que flertam com a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL-RJ). O deputado Mendonça Filho (DEM-PE), outro cotado, não estava no radar das lideranças do setor para compor a chapa do tucano.

Ana Amélia está, atualmente, entre os políticos mais respeitados pelo setor. Não raramente, é tratada como "a presidente que gostaríamos de ter" nas dezenas de eventos dos quais participa como palestrante ou debatedora nos principais polos agropecuários do Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Sua imagem é tão positiva entre produtores, empresários rurais e executivos de agroindústrias que sua presença confere prestígio a eventos e peso a discussões.

Foi assim, por exemplo, na ExpoLondrina. No fórum de Agronegócios do tradicional evento realizado todos os anos no município paranaense, Ana Amélia discursou em dois painéis - um deles moderado pelo Valor - e mais de uma vez foi interrompida por aplausos em ambos, sobretudo ao exigir políticas agrícolas mais eficientes e postura firme do país em negociações internacionais. Ao se retirar, levou uma coleção de beijos, abraços e tapinhas nas costas e deixou um rastro de comentários elogiosos.

Debate sobre vice de Alckmin cria divergências no centrão

Partidos do bloco não querem que cargo seja ocupado pelo DEM

Cristiane Jungblut e Bruno Góes | O Globo

-BRASÍLIA- Com a sinalização do empresário Josué Gomes de que não aceitará ser o vice de Geraldo Alckmin (PSDB) na chapa à Presidência da República, os partidos do centrão (DEM, PP, PRB, PR e Solidariedade) divergem na discussão sobre um novo nome para o posto. Parte do bloco não aceita que o indicado seja do DEM, por considerar que o partido já tem muito poder na aliança, inclusive com a provável manutenção da presidência da Câmara com o deputado federal Rodrigo Maia

— Só acho que o vice não pode ser do DEM, porque aí seria muita coisa. O único consenso do bloco era o Josué — disse o presidente do PRB, Marcos Pereira, que se reuniu com Alckmin na manhã de ontem.

— Se não for o Josué, não define o vice hoje (ontem) — disse o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), pouco antes de se encontrar com o précandidato tucano, à tarde.

Ontem, Alckmin passou o dia em reuniões com os dirigentes dos partidos a fim de resolver a questão do vice. O tucano comemorou as declarações de Josué a seu favor por considerar que o apoio público do empresário serve de anteparo às pretensões do PT de inviabilizar a aliança tucana com o PR em âmbito nacional. Mesmo com a resistência do empresário, Alckmin ainda tentava ontem cortejar Josué. “Agradeço ao jovem líder empresarial Josué Gomes pelas palavras de apoio em seu ótimo artigo publicado hoje”, escreveu no Twitter, em referência a texto publicado no jornal “Folha de S.Paulo”.

A indefinição, no entanto, fez com que os líderes passassem o dia discutindo o nome de um substituto. O indicado poderia sair do DEM, que escolheria o deputado Mendonça Filho (PE); do Solidariedade, que ofereceria o ex-ministro Aldo Rebelo, ou ainda do PP, que teria o deputado Ricardo Barros (PR). 

'Alckmin terá de construir frente sem hegemonia do PSDB e saber dividir poder', diz Maia

Presidente da Câmara nega que centrão tenha discutido distribuição de cargos

Marina Dias | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA Na véspera do centrão oficializar apoio à candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), afirma que o PSDB não será hegemônico e que os tucanos terão de ceder mais espaço na aliança.

"Não é uma eleição do Geraldo, do PSDB. É uma eleição do Geraldo em cima de um programa claro", afirmou à Folha. "O PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo e oposição", completa.

Maia nega que o bloco tenha discutido distribuição de cargos em um eventual governo do PSDB, mas avisa que o tucano precisará "saber dividir os espaços de poder".

• O centrão ficou dividido entre Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). O que desequilibrou o jogo em favor do tucano?

Foi ficando claro que uma agenda convergente entre Ciro e o campo mais à direita era difícil e com pouca capacidade de compreensão por parte da nossa base. Com Geraldo, as questões ideológicas convergiam sem necessidade de explicação, somado ao fato de que Ciro poderia dividir o grupo.

• O sr. defendia apoiar Ciro, mas precisou aceitar o acordo com Alckmin. Sente-se derrotado?

Não, ao contrário. Sempre disse que, para mim, o natural era apoiar Geraldo, mas, na conversa com Ciro, me coloquei como ator desse novo processo político, do diálogo, da capacidade de construir uma agenda de conciliação em campos opostos. O que prevaleceu é que a aliança com Geraldo geraria mais conforto aos partidos. Foi a decisão correta. Não sou daqueles que considera que as construções políticas gerem vitoriosos ou derrotados.

• O sr. fala de nova política, mas o centrão tem dirigentes investigados, é base de Michel Temer, foi da órbita do PT, e se uniu ao PSDB, que governa São Paulo há mais de 20 anos. Não é contraditório?

Acho que Geraldo, mesmo sendo da velha geração, já compreendeu que vai ter que incorporar um novo momento. Ele precisa construir uma frente muito maior que qualquer um dos partidos que estão na coligação, uma frente na qual o PSDB não seja hegemônico, na qual saiba dividir os espaços de poder nas eleições estaduais. O primeiro grande desafio de Alckmin é liderar um processo no qual o PSDB vai precisar entender que outras forças hoje têm poder maior do que tinham quando o PSDB foi governo [1995 a 2002] e oposição [2003 a 2016].

• Quais cargos na campanha e num eventual governo o centrão negociou para fechar com A lckmin?

As demandas foram focadas no processo eleitoral, em nenhum momento tratamos de governo. Mas tem que entender que participar do governo não é problema, o problema são as escolhas. Tem que construir, claro, uma nova relação dos partidos com o governo. A disputa política na eleição é disputa de poder. Tem muito mito em relação aos partidos do centrão, mas a verdade é que as únicas negociações foram essas.

• Não negociaram nem cargo de coordenação na campanha?

Qual o problema de querer participar? Colocamos que achamos que podemos ajudar na campanha.

• DEM, PP, PRB e Solidariedade não conseguiam chegar a um consenso e o bloco quase rachou. Qual o papel de Valdemar Costa Neto, do PR, para unificá-los?

Valdemar tinha posição pró-Bolsonaro (PSL) e, depois que veio para o bloco, disse que a tendência do PR era preferir Geraldo. Como havia uma divisão, quase ao meio, entre Ciro e Alckmin, a aposta dele ajudou a consolidar o apoio ao PSDB.

• O PR foi o último partido a aderir ao bloco e indicou Josué Alencar (PR-MG) como vice. Por que teve prioridade?

Não teve prioridade. O Josué é o nome que traz consenso a todos os partidos.

• Josué sinalizou que pode não aceitar o posto. Quem será o vice deAlckmin neste caso?

Estou confiante e esperarei até o último minuto, que é 5 de agosto [data limite para o registro das chapas]. Acredito que Josué ajuda muito a chapa por ser mineiro e representar uma aliança importante com segmentos do setor produtivo. Se não for ele, Alckmin tem que sentar com os partidos e escolher um nome do PP, PR, Solidariedade ou PRB.

Marina negocia com PV, Pros e PHS antes de definir vice da chapa

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - Em busca de aliados e de um candidato a vice em sua chapa à Presidência da República, a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade) tem conversado com quatro legendas neste período de negociações finais que antecedem as convenções partidárias. Porta-voz da sigla - junto com Laís Garcia - cargo equivalente ao de presidente - Pedro Ivo Batista afirma que PV, PHS e Pros estão no radar de Marina, que aparece em empate técnico com Jair Bolsonaro (PSL-RJ) na liderança das pesquisas nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Batista diz que as conversas incluem ainda o Podemos, "mesmo tendo candidato" a presidente - o senador pelo Paraná Alvaro Dias.

As negociações mais avançadas são com o Pros e o PHS, com os quais já houve três e duas conversas respectivamente. Nesta quinta-feira, será agendado um encontro com o presidente nacional do PV, José Luiz Penna, embora tratativas prévias tenham sido travadas com outros dirigentes do partido, afirma Batista. De acordo com o porta-voz do Rede, o Pros levantou o nome de Maurício Rands, ex-deputado federal do PT e do PSB por Pernambuco, e o PHS acaba de indicar o ex-procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, o advogado criminalista Castellar Modesto Guimarães Filho.

Os dois nomes se juntam às opções internas do próprio Rede: o presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello e o economista Ricardo Paes de Barros, criador do programa Bolsa Família durante o governo Lula. Marina tem citado ainda o deputado federal Miro Teixeira (RJ), decano da Câmara, mas o objetivo do parlamentar é concorrer ao Senado, como apurou o Valor. "É uma gentileza, pois ela nunca me convidou", diz Miro Teixeira, que já acertou coligação na chapa majoritária do senador Romário (Podemos), pré-candidato ao governo do Rio.

Para Pedro Ivo Batista, o vice de Marina Silva pode ser do próprio partido, mesmo se fechada aliança com alguma das legendas em questão. O dirigente nega dificuldade de coligação com o PV, de onde Marina saiu, rompida com o presidente, depois de concorrer pela primeira vez à Presidência em 2010. "Isso já faz oito anos. Não creio que seja o problema. Está superado. Já estivemos juntos nas eleições municipais e estamos agora em alguns Estados", diz.

Marina não quis apoio da Rede a Romário no Rio

Marcelo Osakabe | O Estado de S. Paulo.

A pré-candidata à Presidência da Rede, Marina Silva, afirmou ontem que discordou do apoio de seu partido à candidatura do senador Romário (Podemos) no Rio de Janeiro, mas disse respeitar a decisão do diretório estadual, que decidiu apoiar o ex-jogador de futebol na disputa ao governo estadual. A ex-ministra também disse que não subirá no palanque de Romário na campanha deste ano.

“No Rio, foi uma posição independente do diretório. Não estaremos no mesmo palanque tanto em função dessa divergência quanto em função de que o partido de Romário também tem uma candidatura à Presidência, a de Alvaro Dias”, disse Marina, que visitou ontem a sede da Transparência Internacional, na capital paulista. Ela estava acompanhada do pré-candidato do partido ao governo de Tocantins, Márlon Reis.

Com dificuldade em compor alianças nacionais, a Rede liberou nesta semana os diretórios estaduais a fecharem seus próprios acordos nos Estados, o que de fato ocorreu no Rio. No Estado, a legenda, liderada pelo deputado Miro Teixeira, anunciou ontem o acordo para apoiar Romário, que é investigado na Justiça por ocultamento de patrimônio, segundo reportagem do jornal O Globo.

“Essas alianças são tocadas não necessariamente por mim. Quando há uma questão, eu manifesto se tenho anuência ou divergência. Mas não sou instância partidária na Rede de fato, existe no nosso partido o critério da democracia e o funcionamento das instâncias partidárias”, disse a presidenciável.

Questionada sobre se o candidato a vice em sua chapa deverá ficar mesmo com um nome da própria Rede, Marina desconversou. “Gosto de citar nomes sobre os quais tenho governabilidade. Se estou dialogando com vários partidos, não posso ficar citando nomes.”

Marina avisa que não participará da campanha de Romário no Rio

Aliança com Miro Teixeira foi criticada pela presidenciável da Rede

Jeferson Ribeiro e Dimitruis Dantas | O Globo

-RIO E SÃO PAULO- A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, criticou a aliança fechada entre o seu partido e o Podemos, do senador Romário, para o governo do Rio e disse que não participará de nenhum ato político da campanha no estado com a presença do ex-jogador. Ela avisou que divergia da articulação coordenada pelo deputado Miro Teixeira, um dos seus aliados mais próximos, e que deverá concorrer ao Senado na chapa do ex-atacante. Miro afirmou que os diretórios regionais tinham autorização para negociar coligações e não viu problemas na união com Romário, que é alvo de indícios de lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio, como revelou o GLOBO no mês passado.

— Eu manifestei minha divergência em relação a essa aliança, mas a decisão foi do diretório do Rio. Obviamente que não estaremos no palanque, tanto em função da divergência quanto pela candidatura do Podemos — afirmou Marina ontem, em São Paulo.

Marina deve concorrer à Presidência sem alianças com outros partidos e argumenta que uma das dificuldades para se aliar é justamente o filtro ético aplicado pela legenda. A tendência é que a ex-senadora forme uma chapa puro-sangue. Miro estava inclusive entre os três correligionários cotados para assumir a vaga de vice. Os outros dois são o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, e o economista Ricardo Paes de Barros, um dos idealizadores do programa Bolsa Família.

— A Marina preferia minha candidatura (a governador), mas ela foi inviabilizada pela falta de alianças. E o partido deixou as composições locais a critério das direções estaduais — disse Miro Teixeira.

Hartung desiste de eleição e joga base no colo de rivais

Por Fabio Murakawa | Valor Econômico

BRASÍLIA - O governador do Espírito Santo, Paulo Hartung (MDB) anunciou ontem que não disputará reeleição, um dia depois de ter sinalizado aliados que repensaria sua decisão de não concorrer. Com isso, boa parte da base governista deve migrar para dois de seus grandes rivais no Estado: a senadora Rose de Freitas (Podemos) e o ex-governador Renato Casagrande (PSB).

Na terça-feira, líderes de 13 partidos base de Hartung pediram que ele reconsiderasse a decisão de não concorrer. Com sua desistência, os partidos aliados vinham tendo grandes dificuldades para encontrar um nome de consenso.

Hartung ouviu os apelos e ficou de dar uma resposta, congelando os acertos que vinham sendo feitos por Rose e Casagrande com os partidos locais.

Hartung aguardava, entre outras coisas, uma decisão do PSDB. Seu vice, César Colnago, presidente estadual da legenda, defendia a manutenção da aliança. Entretanto, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) já havia costurado um acordo com Casagrande.

O mal-estar no PSDB chegou a tal ponto, que Ferraço e Hartung marcaram uma reunião com o presidenciável tucano Geraldo Alckmin, em Brasília, para resolver o impasse. A reunião, de fato, ocorreu. Porém, antes que a dupla desembarcasse na capital federal, Hartung já havia anunciado que, de fato, não disputaria a reeleição.

O Brasil em busca de acordos: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um Brasil em busca de integração na economia global e comprometido com o comércio livre é um dos melhores legados para o próximo governo. O novo presidente encontrará um importante conjunto de negociações em andamento, um bom ponto de partida para um grande trabalho diplomático. Esse trabalho só será realizado, é claro, se o vencedor da eleição de outubro tiver sido vacinado contra o populismo e os vícios da incompetente, anacrônica e desastrosa concepção geopolítica do petismo. As ações quase simultâneas do governo brasileiro, nos últimos dias, em duas frentes de cooperação comercial – o encontro Mercosul-Aliança do Pacífico, no México, e a reunião do Brics, na África do Sul – foram um claro reflexo da nova orientação em vigor no Itamaraty.

No México, a missão brasileira chefiada pelo presidente Michel Temer e as dos demais parceiros do Mercosul avançaram nas negociações com o bloco formado por Chile, Peru, Colômbia e México. Na África do Sul, o ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, falou em defesa da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da ordem multilateral ameaçada pela nova onda protecionista e nacionalista, gerada em grande parte pela truculência do presidente americano, Donald Trump. Em discurso em Johannesburgo, o chanceler brasileiro falou sobre a importância, para a prosperidade mundial e especialmente dos países em desenvolvimento, de um sistema estável de regras elaboradas com a participação de todos.

Nicarágua é um peso sobre o PT na campanha: Editorial | O Globo

Não se pode reclamar de o PT ser incoerente quando está em questão qualquer regime autoritário de origem na esquerda. Com Lula e Dilma no Planalto, apesar dos presos políticos, de denúncias de torturas e mortes nas ruas, a Venezuela de Chávez e Maduro sempre recebeu tratamento especial do Brasil.

Cuba é um caso especial, pelo paroxismo. O então presidente Lula, em uma de suas visitas aos irmãos Castro, enquanto oposicionistas faziam greve de fome em cárceres do regime, chegou a compará-los a presos comuns no Brasil, condenados por uma Justiça de fato independente. Muito diferente de Cuba.

Mesmo a agenda diplomática do presidente privilegiava ditadores mundo afora, em especial na África, onde há grande quantidade deles, que interessavam comercialmente a empreiteiras brasileiras próximas ao PT.

A conta da eleição: Editorial | Folha de S. Paulo

Proibição de doações empresariais reduzirá gastos, mas ao custo de elevar o poder de caciques

O barateamento das campanhas eleitorais no Brasil seria notícia digna de comemoração, não tivesse ocorrido pelas vias erradas.

Conforme reportagem desta Folha, as estimativas iniciais dos principais postulantes ao Palácio do Planalto neste ano apontam para um padrão de dispêndios bem menos pródigo que o de 2014.

Oito dos concorrentes declarados até aqui —Luiz Inácio Lula da Silva(PT), Jair Bolsonaro (PSL), Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Guilherme Boulos(PSOL) e João Amoêdo (Novo)— preveem gastar, juntos, pouco menos de R$ 200 milhões.

Mesmo que todos pretendessem desembolsar o teto legal de R$ 70 milhões por candidato no primeiro turno, a soma continuaria bem abaixo do montante contabilizado pelos três primeiros colocados no pleito anterior, cerca de R$ 800 milhões em valores corrigidos.

A disputa de quatro anos atrás, diga-se, esteve cercada de aberrações. Não apenas se atingiu recorde de despesas, sem progresso no debate programático, como a chapa vitoriosa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) escapou por pouco de uma merecida cassação por abuso de poder econômico.

De lá para cá, a Lava Jato desvendou esquemas de desvios de verba pública em escala inédita —e também fez prosperar uma associação por demais simplista entre a corrupção e o financiamento privado das campanhas eleitorais.

O resultado foi a proibição das doações de empresas, mantendo-se somente a permissão para as contribuições de pessoas físicas e o autofinanciamento. Deputados e senadores, porém, conseguiram criar um fundo de R$ 1,7 bilhão em verba pública para financiar os pleitos deste ano.

Atacar a crise fiscal não é consenso entre candidatos: Editorial | Valor Econômico

Enquanto as alianças políticas não se consolidarem é difícil saber aonde os candidatos à Presidência pretendem levar o país. Há poucas propostas políticas e muitas a espera de detalhamento na área econômica, atendendo à ansiedade dos eleitores e à angustiante lentidão da recuperação. As palavras dos candidatos valem pouco agora, e ainda que sejam assertivos na campanha eleitoral, isso não significa que irão executar o que prometem. Mas, pelo que revelam, as plataformas dão alguma ideia dos objetivos dos partidos e delimitam os terrenos das prioridades que serão perseguidas.

Desarmar a bomba do déficit público é uma das tarefas inadiáveis do próximo governo. Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) vão na mesma direção sobre as soluções que admitem encaminhar, até certo ponto. O teto de gastos, implantado por Meirelles quando ministro da Fazenda de Michel Temer, é o meio principal para atingir o objetivo maior, o da queda gradativa dos déficits e sua conversão em resultados positivos em alguns anos - provavelmente, antes de meados da próxima década. O instrumento básico para tornar efetivo o teto das despesas é a reforma da previdência. Mas há dúvidas no campo do PSDB, menos em relação à reforma previdenciária, mais quanto à permanência do teto - os tucanos, em princípio, admitem reavaliar a regra em dois anos. Em princípio, isso significa tudo, ou nada: revogá-lo, adaptá-lo ou mantê-lo.

Pablo Neruda: Castro Alves do Brasil

Castro Alves do Brasil, para quem cantaste?
Para à flor cantaste? Para a água
cuja formosura diz palavras às pedras?
Cantaste para os olhos para o perfil recortado
da que então amaste? Para a primavera?

Sim, mas aquelas pétalas não tinham orvalho,
aquelas águas negras não tinham palavras,
aqueles olhos eram os que viram a morte,
ardiam ainda os martírios por detrás do amor,
a primavera estava salpicada de sangue.

- Cantei para os escravos, eles sobre os navios
como um cacho escuro da árvore da ira,
viajaram, e no porto se dessangrou o navio
deixando-nos o peso de um sangue roubado.

- Cantei naqueles dias contra o inferno,
contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado do tormento,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os dirigentes de trevas.

- Cada rosa tinha um morto nas raízes.
A luz, a noite, o céu cobriam-se de pranto,
os olhos apartavam-se das mãos feridas
e era a minha voz a única que enchia o silêncio.

_ Eu quis que do homem nos salvássemos,
eu cria que a rota passasse pelo homem,
e que daí tinha de sair o destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
Minha voz bateu em portas até então fechadas
para que, combatendo, a liberdade entrasse.

Castro Alves do Brasil, hoje que o teu livro puro
torna a nascer para a terra livre,
deixam-me a mim, poeta da nossa América,
coroar a tua cabeça com os louros do povo.
Tua voz uniu-se à eterna e alta voz dos homens.
Cantaste bem. Cantaste como se deve cantar.