sábado, 6 de outubro de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Segui o debate ontem. Impressões: Bolsonaro, sem voz, vai no embalo da ventania; Haddad, parece que tudo começa e acaba na máscara do Lula; Ciro, charmoso, a biruta leva; Alckmin, experiência e sensatez em momento de exasperação; Marina, um grito parado no ar. O resto é silêncio.


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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, ex-presidente da República, sobre o debate na TV Globo, na página do Twitter, 5/10/2018

*Miguel Reale Júnior: Entre les deux mon coeur ne balance pas

- O Estado de S.Paulo

Dilema: tanto Bolsonaro como Haddad podem levar à quebra da ordem constitucional

A delação de Antônio Palocci traz o lado negro do PT para o centro do palco, às vésperas da eleição, relembrando, em visão por dentro, o relatado nas delações da Odebrecht e outras. Mas a descrição shakespeariana de Lula desvairado, no primeiro andar do Palácio do Planalto, tendo sonhos mirabolantes com o pré-sal, comandando, como chefe de quadrilha do Estado criminoso, o esquartejamento da Petrobrás na compra de navios sonda, é patético. Não havia terreno santificado, tudo era conspurcado: emendas legislativas, medidas provisórias, resoluções de agências reguladoras.

O assalto era bem organizado, dirigido do centro do poder, havendo, portanto, todas as garantias de impunidade. Grande parte do dinheiro desviado era drenada para campanhas eleitorais, estando Lula e Dilma sempre cientes dos malfeitos e dos destinos dos dinheiros sujos.

Lula, já condenado pelo recebimento de vantagens e ocultação de bens, pretexta, de dentro do cárcere, inocência, já negada em análise pormenorizada do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, responde por processos ainda mais graves, como o do sítio, o relativo à compra dos caças, o do terreno do Instituto Lula. Dilma, afastada por impeachment como causadora da desgraça da nossa economia, levando o País à maior recessão da nossa História com maquiagem das contas públicas e um desajuste fiscal estrondoso, responsabilizada pelo TCU pela compra da refinaria de Pasadena, foi presidente da Petrobrás e ministra de Minas e Energia no período de rapinagem da companhia. Para muitos, no entanto, isso não importa! Não há argumentos para a torcida organizada do PT.

Assim, alguns artistas e intelectuais, bem como parcela da população, fazem-se de cegos e conseguem alimentar revoltante relativismo ético: a roubalheira do PT, de Lula e de Dilma não é reprovável, não é crime, é perseguição, é golpe. Jamais reconheceram, como caberia, o cometimento de um erro sequer. Vitimizam-se, apenas.

João Domingos: Constituição ameaçada

- O Estado de S.Paulo

Estado democrático de direito foi testado inúmeras vezes. Continuará a sê-lo. Resistirá?

Ao longo de seus 30 anos, completados ontem, a Constituição brasileira e seus valores democráticos foram testados um sem-número de vezes. Dos quatro presidentes da República eleitos pelo voto popular de 1989 para cá, dois – Fernando Collor de Mello e Dilma Rousseff – responderam a processo de impeachment e tiveram os mandatos cassados. O então líder do governo Dilma, Delcídio Amaral, foi preso no exercício do mandato, por suspeita de obstrução aos trabalhos da Justiça. O ex-presidente Lula, o mais popular líder vivo do País, está preso por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Uma legião de seguidores tentou impedir que a ordem de prisão fosse cumprida.

Do lado oposto, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) sofria em Juiz de Fora (MG) um atentado à faca que o tirou fisicamente da campanha. A Polícia Federal foi acionada, iniciou suas investigações, tirou suas conclusões, indiciou o autor do atentado, Adelio Bispo, na Lei de Segurança Nacional, uma lei remanescente da ditadura militar, e a vida seguiu seu curso. Apesar das crises, o estado democrático de direito não sofreu abalos significativos.

O próximo presidente da República, é praticamente certo, será ou Jair Bolsonaro ou Fernando Haddad (PT). Vença quem vencer, a Constituição continuará a ser testada. Ambos já manifestaram o desejo de substituí-la. Ou, no mínimo, de emendá-la com mais força do que as atuais 105 emendas (99 emendas normais e seis de revisão, prevista pela própria Carta para quando fizesse cinco anos). O vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão, defende a ideia de que uma comissão de notáveis faça uma nova Constituição, em substituição à atual. O programa de governo do PT fala na convocação de uma Constituinte que teria como finalidade “restabelecer o equilíbrio entre os Poderes da República e assegurar a retomada do desenvolvimento, a garantia de direitos e as transformações necessárias ao País”. Cobrado por Ciro Gomes (PDT), no debate da TV Record, Fernando Haddad respondeu que a ideia é “modernizar o texto, deixá-lo mais enxuto e refazer o sistema tributário que penaliza gravemente os mais pobres, além de reafirmar os direitos estabelecidos pela atual Constituição”.

Adriana Fernandes: Sem lua de mel pós-eleição

- O Estado de S.Paulo

Presidente eleito terá de definir até abril a regra de reajuste do salário mínimo

Na reta final das eleições, uma espécie de “censura” foi instalada nas campanhas para os temas tabus da agenda econômica, como uma forma de prevenção ao risco de fuga de votos no primeiro turno. Mas se há um tema verdadeiramente “radioativo” do qual o presidente eleito não conseguirá escapar nos primeiros cem dias de governo é a definição da nova política para o salário mínimo. Uma variável tão fundamental para as contas públicas que tem impacto semelhante a uma “minirreforma” da Previdência.

A pressão virá já no início do novo mandato e é sempre dura, como relatam técnicos experientes da área econômica. Isso independentemente de quem ganhar as eleições.

Em 2015, o então ministro de Dilma Rousseff, Nelson Barbosa, já no dia de sua posse no Ministério do Planejamento, se meteu numa baita confusão ao defender uma mudança na fórmula de reajuste do mínimo. Até que Dilma, poucos dias depois, bateu o martelo anunciando a manutenção da regra em vigor para 2016-2019. A MP prevendo a regra até 2019 foi enviada por ela em abril.

O atual formato de correção contempla a variação da inflação do ano anterior, medida pelo INPC, mais o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos antes.

O problema para o próximo presidente é que a regra termina em 2019 e uma sinalização do caminho a ser seguido nos próximos anos deve ser apresentada já na definição da proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que obrigatoriamente é enviada em abril. Em agosto, quando será a vez da proposta de Orçamento de 2020 seguir para o Congresso, a equipe econômica já terá de ter definido o modelo.

Um voto de confiança na política: Editorial | O Estado de S. Paulo

Em meio à acirrada disputa entre os candidatos à Presidência da República, a campanha eleitoral para o Congresso despertou escasso interesse, embora seja, em alguns aspectos, até mais importante do que a eleição majoritária.

A escolha dos representantes na Câmara e no Senado vai definir que tipo de composição política o próximo presidente terá de fazer para conseguir manter um mínimo de governabilidade e para encaminhar as medidas que são imprescindíveis para garantir alguma estabilidade ante o terrível estado geral das contas públicas. Ao elaborar sua “cola” para não esquecer os números de seus candidatos ao digitar o voto, o eleitor terá a derradeira oportunidade de imaginar qual é o Congresso que pretende ajudar a construir com seu voto amanhã.

Em primeiro lugar, o norte para essa escolha não pode ser apenas a repulsa à corrupção. É fato que, nos últimos anos, houve tantos e tão extensos escândalos envolvendo partidos e parlamentares, numa roubalheira sem paralelos na história nacional, que não se pode tirar a razão de quem pretende empregar seu voto como protesto, na expectativa de ajudar a sanear a política. Essa intenção é consequência, em grande medida, do discurso embalado pelo ativismo messiânico de muitos procuradores da Lava Jato, que se julgavam no dever de limpar o País de seus corruptos e fizeram da corrupção sinônimo de política, mesmo que contra os acusados pesassem apenas suspeitas levantadas pela irresponsável qualificação de toda doação de campanha como propina.

Merval Pereira: Efeitos, não causas

- O Globo

Se tivesse escolhido Doria, PSDB talvez não desse a chance de Bolsonaro se apropriar do antipetismo que domina o país

Mais uma das esquisitices desta eleição é a evidência de que os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais ou não representam a maioria dos seus apoiadores, como é o caso de Bolsonaro, ou são meros prepostos do verdadeiro líder, o caso de Fernando Haddad.

Nenhum deles estaria com um pé no Palácio do Planalto por méritos próprios, mas são consequência de uma situação política que não controlam.
Bolsonaro foi beneficiado pelo desmonte dos partidos políticos tradicionais, que deveriam ter canalizado o desencanto do brasileiro para apresentar soluções menos traumáticas.

Especialmente o PSDB, que perdeu a conexão com a sociedade ao se converter a um pragmatismo que o colocou no mesmo rol dos partidos fisiológicos.

Todo o mundo político sabia que o fisiologismo do MDB colocava em risco seus parceiros e, no limite, a democracia, mas o PT não se furtou a chamá-lo duas vezes para vice de Dilma, assim como o PSDB formou a base de apoio do novo governo.

Ao apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma e, em consequência, a assunção de Temer ao poder, o PSDB estava atuando dentro da democracia, da mesma maneira que fez no governo Itamar. Mas quando Temer perdeu sua legitimidade, em consequência da revelação da conversa nada republicana com o empresário Joesley Batista, os tucanos deveriam ter debandado, colocando-se como oposição a um governo fisiológico, refém de um passado comprovadamente corrupto, que não se emendou.

Da mesma maneira que o PT, os tucanos passaram a mão na cabeça de seus membros envolvidos em escândalos de corrupção, e carregaram o peso das negociações secretas de seu ex-presidente Aécio Neves com o mesmo Joesley, ou com o presidente Temer nas noites do Palácio da Alvorada, ou ainda da condenação de outro ex-presidente do PSDB, o ex-deputado Eduardo Azeredo.

Se não tivesse se descredenciado como representante de uma parte ponderável da sociedade brasileira, inclusive com votações demagógicas, como quando apoiou o fim do fator previdenciário, o PSDB poderia ser o receptáculo dos votos de quem buscava soluções para nossas mazelas.

Míriam Leitão: O debate e o silêncio da lei

- O Globo

Candidatos se submeteram ao contraditório, mas Bolsonaro deu entrevistas a escolhidos, ficando acima da lei, sob o silêncio do TSE

O debate da TV Globo teve embates isolados e uma grande anomalia, que o petista Luiz Dulci definiu numa rápida conversa comigo, “é uma polarização com um dos polos ausente”. Era isso, mas pior. O anormal da eleição ficou ainda maior porque Jair Bolsonaro, o líder das pesquisas, tem feito o que quer. A violência que ele sofreu não revogou as leis eleitorais, mas o TSE tem se mantido numa inquietante aquiescência. É preciso dar, principalmente na televisão, espaços equânimes aos candidatos. É o que diz a lei. Bolsonaro está acima da lei falando com quem bem entende, sem que certos veículos estendam aos outros candidatos o mesmo espaço.

Os candidatos se submetiam ao contraditório, enquanto Bolsonaro falava para uma emissora na qual o chefe, o bispo Edir Macedo, já declarou seu voto nele. Esse é o centro da anomalia. Por isso as críticas de que ele “amarelou” fizeram sentido. Ele certamente tem limitações físicas pela violência de que foi vítima, mas não pode usá-las para escolher apenas ambientes sob seu controle, enquanto os oponentes se expõem diariamente.

No debate, Marina perguntou se Fernando Haddad faria uma autocrítica. Ele não fez. Ciro construiu pontes com quem pôde. Haddad ressaltou o que pode ser elogiado nos governos petistas. Alvaro Dias provocou. Meirelles teve seu melhor momento quando saiu do econômico e criticou a ausência de Bolsonaro. Alckmin falou o de sempre, mas com mais ênfase em alguns momentos. Guilherme Boulos deu o tom certo da emergência vivida no país ao defender com sinceridade pungente o legado da democracia.

Daniel Aarão Reis: O que fizemos da democracia?

- O Globo

Principais forças reformistas, PT e PSDB não foram capazes de se articular em torno de programas de mudanças

Oque fizemos para chegar a este ponto? Ter de escolher entre o péssimo e o menos mal?

Tudo começou lá atrás, quando as grandes maiorias resolveram silenciar sobre um tempo que findava. Já acontecera depois do Estado Novo, quando um manto foi jogado sobre os crimes do varguismo. Os resultados não foram edificantes — elegeu-se como presidente o general Dutra, ex-simpatizante do nazismo. Em seguida, o próprio ex-ditador retornou ao governo “nos braços do povo”. Nos anos 1980, prevaleceram orientações análogas: olhar para a frente, ignorar o espelho retrovisor. Na alegria da abertura, falar dos crimes da ditadura civil-militar era quase uma atitude de mau gosto. As consequências apareceram na Constituição de 1988.

Mesmo registrando avanços e inovações consideráveis nas áreas dos direitos civis, políticos e sociais, eram visíveis os legados densos —do período anterior. Permaneceu inalterado o modelo de sociedade construído — ou reforçado — pela ditadura: a hegemonia do capital financeiro; a predação do meio ambiente; as desigualdades sociais; a civilização do carro individual nas megalópoles hostis à vida; as empreiteiras e suas obras faraônicas; o agronegócio concentrador de terras e de rendas; a centralização do poder num Estado gigantesco; a mídia monopolizada; a preeminência das Forças Armadas, “garantidoras da lei e da ordem”, replicando tendências históricas, onde os funcionários públicos uniformizados transformam-se em tutores da nação, com suas corporações fechadas, fora do controle da sociedade.

O pior ainda viria.

Reformas no 30º aniversário da Constituição: Editorial | O Globo

Parlamentares eleitos amanhã têm a missão de executar uma rodada estratégica de atualização da Carta

Ao escolher candidatos ao Congresso e às Assembleias Legislativas, no domingo, os eleitores devem estar conscientes de que estarão votando, também, naqueles que precisarão realizar mudanças na Constituição federal e dos estados, a partir do ano que vem. As propostas mais relevantes apresentadas por candidatos ao Executivo dependem, fundamentalmente, de alterações constitucionais. As virtudes da Constituição de 1988, promulgada há exatos 30 anos, são reconhecíveis na resiliência do regime democrático e na solidez das instituições nacionais. Já foram suficientemente testadas em crises nas últimas três décadas.

É a primeira Carta republicana a fixar um foco no indivíduo. Por isso, é um ativo vital na reconstrução da política sob primado da ética. Mas precisa ser atualizada, e deveria ser lipoaspirada, nos seus 250 artigos permanentes e 114 disposições transitórias. Há evidentes exageros. Num único dispositivo, por exemplo, alinharam-se como direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a habitação, o transporte, o lazer, a segurança, a Previdência Social, a proteção à maternidade e à infância e a assistência aos desamparados.

À época, o presidente José Sarney advertiu que a Carta não caberia no Produto Interno Bruto (PIB). Não coube. Multiplicaram-se os gastos obrigatórios do governo, elevou-se a carga tributária a níveis recordes e, mesmo assim, o Estado brasileiro está em falência virtual.

Uma visão retrógrada do capitalismo permeia o texto. Na Constituinte, contemporânea da Guerra Fria, a esquerda execrava o capital —parte dela continua sem aceitá-lo —, enquanto a direita perjurava sobre a infalibilidade do mercado. Por ironia da História, esse ideário bipolar desabou com o Muro de Berlim, em 1989, logo no primeiro aniversário da Constituição. A Carta, neste aspecto, nasceu velha.

Hélio Schwartsman: Voto por amor

- Folha de S. Paulo

Possível 2º turno com os dois candidatos mais detestados indica uma anomalia eleitoral

O paradoxo salta aos olhos. Os dois candidatos com mais chances de chegar à Presidência são também os mais detestados, o que não apenas é sinal de encrenca para a próxima administração como também indica que estamos diante de uma anomalia eleitoral.

Com efeito, parece ter havido uma antecipação do segundo turno, com Bolsonaro aglutinando os votos antipetistas, e Haddad amalgamando os sufrágios antibolsonaristas. O problema desse tipo de movimento é que ele esvazia os votos a favor que o cidadão quisesse dar.

Para este ano, já era. A regra de eleição para presidente é clara, antiga e não há nada de essencialmente errado no voto estratégico. A democracia, contudo, é uma obra em andamento e nada nos impede de discutir aperfeiçoamentos.

Julianna Sofia: Modelo perverso

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro e Haddad querem aumentar imposto dos mais ricos

Diante da pior crise fiscal da história, soa descabida qualquer discussão sobre reduzir a carga de impostos no Brasil ao longo dos quatro anos do mandato do próximo presidente. A dívida pública aumenta de forma galopante graças à incapacidade do Estado brasileiro de reduzir seus gastos e de arrecadar o suficiente para cobrir suas despesas.

A julgar por suas propostas, os dois candidatos que —pelas últimas pesquisas— deverão disputar o segundo turno ao Palácio do Planalto partilham alguns consensos sobre uma nova configuração para aumentar a eficiência e a justiça tributária.

Disfuncional e regressivo, o sistema brasileiro onera excessivamente o consumo de bens e serviços, dando pouco peso à taxação de salários, lucros e outras rendas. Modelo perverso, que contribui para ampliar o fosso entre ricos e pobres.

Tanto Jair Bolsonaro (PSL) quanto Fernando Haddad (PT) mostram-se dispostos a mudar regras do Imposto de Renda. Falam em tributar lucros e dividendos pagos a empresários e acionistas. Hoje, esses rendimentos são isentos, beneficiando estratos da população considerados ricos ou super-ricos. Até 1995, havia a incidência de IR.

Demétrio Magnoli: Fux e as crianças

- Folha de S. Paulo

Imerso em sua arrogância, ministro diz que protegerá os cidadãos

Luiz Fux é um homem de muitos princípios — tantos, que seleciona o mais conveniente para cada circunstância. O juiz chegou ao STF quando sugeriu a José Dirceu que absolveria os réus do mensalão (“eu mato no peito”).

Já ministro, entre a lei e a palavra empenhada, optou pela primeira, condenando-os. Mais tarde, empurrou a lei para um bueiro e escolheu o corporativismo, estendendo o auxílio moradia a toda a magistratura. Agora, tritura a Constituição para reinstalar a censura prévia, proibindo a realização e a publicação de entrevistas com o presidiário Lula.

No seu despacho, o principista invoca os limites legais à propaganda eleitoral para justificar seu veto ao trabalho jornalístico, confundindo deliberadamente assuntos desconexos. Ele sabe que viola a lei. Mas o faz porque quer e pode, operando no terreno da desinstitucionalização do país e da anarquia judiciária.

A confirmação da liminar fuxiana pelo presidente da corte, Dias Toffoli, acelera a “autofagia” do Supremo (apud ministro Marco Aurélio). Mas, sobretudo, sedimenta um precedente: de direito dos cidadãos, a liberdade de imprensa fica rebaixada à concessão de uma reinventada “Divisão de Censura Federal”, que passa a funcionar clandestinamente no gabinete dos ministros do STF.

O episódio guarda um segredo. O pedido de liminar oriundo do Partido Novo — uma igrejinha de auto-intitulados liberais sempre prontos a apelar pelo veto de candidaturas e pela censura à imprensa — foi encaminhado ao presidente do STF, que estava no país, mas desviou-se misteriosamente até o colo de Fux. A decisão do Censor, derrubada por Lewandowski, acabou reimposta por um Toffoli ressurgido da noite escura. A triangulação entre o partido e dois ministros que fazem tabelinha tem os contornos clássicos de uma ação entre amigos. A exposição do segredo é, porém, menos relevante que o exame das bases filosóficas da restaurada censura prévia.

Num artigo recente, publicado pela Revista de Jornalismo ESPM, Eugênio Bucci e Carlos Eduardo Lins da Silva identificaram a emergência do “jusbonapartismo” — o poder bonapartista de um Judiciário que se ergue acima da lei. Eis a chave para decifrar o ato de censura prévia. Fux argumenta que a “relativização excepcional da liberdade de imprensa” (isto é, a censura prévia) destina-se a evitar a “desinformação do eleitor”, a “confusão do eleitorado”.

A tarefa inadiável: Editorial | Folha de S. Paulo

Bolsonaro e Haddad não mostraram ideias claras para lidar com o déficit nas contas do Tesouro

Muito pouco se sabe sobre o que pretendem fazer os favoritos na disputa presidencial, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), a fim de evitar que as contas públicas rumem ao estrangulamento.

Seus programas oficiais são de baixo nível técnico, prestando-se mais à propaganda e ao proselitismo. Além do mais, teses colocadas no papel têm sido relativizadas, e declarações de auxiliares, desautorizadas pelos candidatos.

Não se pode desculpar tal obscuridade como conveniência de campanha —a crise orçamentária é, de longe, o desafio mais imediato e decisivo do próximo governo.

Em termos simples, as receitas do Tesouro Nacional há quatro anos não bastam para cobrir as despesas, mesmo quando se desconsidera o pagamento de juros aos credores. Com o que se chama de déficit primário, é preciso fazer mais dívida diariamente para as ações essenciais e as obras públicas.

Há uma estratégia gradualista em curso para enfrentar o problema. Por meio de uma emenda constitucional, a alta dos gastos federais está limitada à variação inflacionária; assim, o esperado crescimento da economia e da arrecadação de impostos reequilibrará aos poucos as finanças públicas. O rombo, porém, deve permanecer até 2021.

Luiz Carlos Azedo: A Constituição e as eleições

- Correio Braziliense (5/10/2018)

“O próprio Supremo vive dilemas profundos em razão da Operação Lava Jato, que protagoniza o combate à corrupção. Há um inédito expurgo de políticos da vida pública, entre os quais, Lula”

O Supremo Tribunal Federal (STF) comemorou ontem os 30 anos da Constituição de 1988, razão de ser da existência da Corte, cuja missão é zelar pelo cumprimento dos seus dispositivos. Não é uma tarefa das mais fáceis, ainda mais num momento como o que estamos vivendo, no qual os candidatos que lideram a disputa pela Presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), não escondem o desejo de substituí-la por outro texto constitucional.

Não foi à toa, portanto, que o presidente do Supremo, ministro Dias Toffoli, proclamou: “Nunca mais, nunca mais a escravatura, nunca mais a ditadura, nunca mais o fascismo e o nazismo, nunca mais o comunismo, nunca mais o racismo, nunca mais a discriminação”. Segundo ele, os cidadãos precisam assegurar “que as conquistas até aqui obtidas sempre vigorem, não admitindo involuções, especialmente quanto à democracia estabelecida, à cidadania conquistada e à pluralidade até aqui construída”.

A Constituição de 1988 garantiu ao Judiciário autonomia e independência, assim como deu ao Ministério Público um poder nunca antes alcançado. Graças à aprovação pelo Congresso da Lei da Ficha Limpa, uma grande mudança nos costumes políticos está em curso, sob fortes tensões. O próprio Supremo vive dilemas profundos em razão da Operação Lava Jato, que protagoniza o combate à corrupção. Há um inédito expurgo de políticos corruptos em todas as esferas da vida pública, com destaque para a inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado a 12 anos e um mês de prisão por corrupção passiva e ocultação de patrimônio.

Muitos dos que não foram impedidos de disputar as eleições pela Lei da Ficha Limpa, porque não foram julgados, culpados ou inocentes, serão punidos com a não eleição. Mas a prisão de Lula é um fator de divisão e tensão política no próprio Supremo, em razão do grande prestígio popular e internacional de que ainda desfruta e do debate sobre a aplicação do princípio constitucional do transitado em julgado. Jurisprudência da Corte determina a execução imediata da pena de condenados em segunda instância, o caso do petista, mas o assunto não está pacificado entre os ministros. Toffoli é um dos críticos dos “excessos” da Operação Lava-Jato, protagonizados pelos procuradores da força-tarefa de Curitiba, que ontem pediram ao juiz federal Sérgio Moro nova condenação de Lula pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Os procuradores acusam o ex-presidente da República de obter vantagem indevida paga pela Odebrecht por meio da compra de um terreno para instalação da sede do Instituto Lula e do aluguel de um apartamento em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. A três dias das eleições, o pedido é visto como interferência no processo eleitoral, prejudicando a candidatura do candidato do PT, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, assim como a divulgação de um dos depoimentos da delação premiada do ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci pelo juiz Moro, na segunda-feira passada. Os dois episódios se somam a outras decisões tomadas recentemente, que interferiram nas eleições do Paraná, Mato Grosso e Goiás, Ceará, Piauí, contra políticos ligados ao PSDB, ao PMDB e ao PP.

Aliados apontam erros da campanha de Alckmin

Senador tucano afirma que ex-governador falhou ao deixar de se caracterizar como antipetista; falta de apoio no próprio partido em São Paulo também é apontada como motivo para resultado ruim nas pesquisas

Cristiane Jungblut | O Globo

A dois dias da eleição, em meio à debandada de aliados do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), a campanha tucana começa a fazer uma espécie de balanço dos erros cometidos ao longo da corrida ao Palácio do Planalto. Com o maior tempo de propaganda no horário eleitoral entre todos os candidatos, Alckmin terminou a campanha em rádio e TV estacionado em quarto lugar nas pesquisas, com 8% das intenções de voto no Datafolha. O fraco desempenho do tucano é visto por aliados como um resultado da radicalização deste pleito, marcado pela rejeição do eleitorado à política tradicional.

Para aliados próximos do ex-governador, a estratégia de comunicação não conseguiu apresentar o tucano como o grande candidato antipetista. Parte do tucanato acredita que a campanha errou ao atacar de forma contumaz o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, e não apenas o PT de Fernando Haddad.

Um dos partidários dessa análise dentro do PSDB é o senador Cássio Cunha Lima (PB). Para ele, Alckmin tem as melhores qualidades para ser o presidente do país, mas pagou o preço pelo erro de estratégia.

— O erro de estratégia foi deixar de se caracterizar como o antipetista. Existe um sentimento de parcela significativa das pessoas sobre valores de família, da necessidade de redução de carga tributária que Alckmin também representa, mas as pessoas caracterizaram esse sentimento na candidatura de Bolsonaro, quando ele passou a ser o intérprete desse sentimento. E a campanha acabou batendo neste sentimento e não no candidato de carne e osso.

E isso ofendeu os nossos eleitores —disse Cunha Lima. Ex-governador de São Paulo, Alckmin também teria sofrido, na avaliação de seus apoiadores, com o desgaste provocado por 16 anos de governo tucano no estado onde imaginava conseguir obter os votos necessários para chegar ao segundo turno.

O desgaste da imagem do PSDB, provocado principalmente pelos episódios de corrupção envolvendo obras em São Paulo e o envolvimento do senador Aécio Neves na delação da J&F, também contribuíram para o mau desempenho. Dentro do núcleo da campanha, dirigentes como o presidente nacional do DEM, ACM Neto, incentivaram Alckmin a atacar Bolsonaro, a ser agressivo. O próprio ACM já teria admitido o fracasso da estratégia.

Doria provoca constrangimentos a Alckmin

Candidato a governador cancela ato com presidenciável em cima da hora

Thais Bilenky, Artur Rodrigues | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Empatado em terceiro lugar nas pesquisas para a corrida ao Planalto, o presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, enfrentou na campanha uma série de constrangimentos provocados pelo candidato tucano ao governo paulista, João Doria, cuja entrada na política eleitoral ele afiançou.

O mais recente episódio desconcertante aconteceu nesta sexta-feira (5), quando Doria faltou a ato de campanha com Alckmin. A assessoria do ex-prefeito comunicou a imprensa do cancelamento 30 minutos depois do horário previsto para seu início, ao meio-dia.

Doria alegou que ficou preso em Sorocaba, no interior, devido às más condições climáticas para voar. Não suspendeu, porém, a agenda seguinte, em Campinas.

"A campanha está aqui, através do Rodrigo Garcia (DEM), que é o candidato a vice-governador. A nossa aliança está aqui, representada pelo [ministro Gilberto] Kassab, do PSD, e o prefeito de São Paulo, que foi quem organizou, o Bruno Covas (PSDB)", minimizou Alckmin.

"Esse movimento de hoje é para a nossa campanha. Estamos juntos, trabalhando, animados aí. Vamos ter outros eventos ainda hoje em São Paulo", encerrou, sem citar Doria.

O encontro foi marcado na escadaria do Theatro Municipal de São Paulo, lugar simbólico para o tucanato paulista. Foi lá que Mario Covas e o próprio Alckmin deram a largada de campanhas passadas. Doria repetiu o gesto quando disputou a prefeitura, em 2016, com a bênção do então governador.

Tucanos viram a atitude como nova manifestação de ingratidão de Doria em relação ao seu padrinho político. Sem citar Alckmin em debates nem colocá-lo em seus programas de televisão, Doria não chegou a se engajar de fato na campanha presidencial.

O tucano chegou a fazer reparos até em uma das vitrines que o ex-governador cita com mais frequência, a segurança pública. Alckmin costuma citar a expressiva queda dos homicídios no estado. Mas, ainda em julho, Doria já dizia que seria "muito mais duro" que Alckmin na segurança.

Marina chega ao fim da disputa com futuro incerto

Isolada, ex-senadora soma 4% das intenções de voto; para companheiros de partido, candidata se viu obrigada a concorrer

Maria Lima e Jeferson Ribeiro | O Globo

Os marineiros bem que tentaram convencer Marina Silva (Rede-PV) que essa não seria uma eleição para ela. Mas, determinada e acreditando que podia ter chegado sua hora como terceira via de um país dividido, ela insistiu em se candidatar à Presidência pela terceira vez. Ousou até mesmo investir na suavização da imagem e do figurino: abandonou o xale, arriscou um penteado mais moderno com um cabeleireiro argentino, fez tratamento com fonoaudiólogo para empostar a voz, mas não foi capaz de criar um novo discurso para enfrentar a radicalização da disputa de extremos e ficou no limbo entre a esquerda e o centro.

Completamente isolada junto com seu vice, Eduardo Jorge (PV), e com seu capital eleitoral derretendo, a derrota, desta vez, poderá ter um gosto mais amargo. Na reta final entre os nanicos com 4% de intenções de voto, Marina arrisca até mesmo o futuro de seu partido, a Rede Sustentabilidade, e sai desta disputa com um futuro incerto, muito enfraquecida, para uma quarta candidatura ao Planalto. Listada como uma das 50 mulheres mais importantes do Mundo, Marina conseguiu votações surpreendentes em 2010, pelo PV, com 19,6 milhões de votos, e, embalada pela comoção da morte de Eduardo Campos, no PSB, atingiu seu ápice, com22,1milhõesde votos em 2014.

Mas com cerca de 4% das intenções de votos este ano, estreando na Rede em quinto lugar nas pesquisas, Marina já perdeu cerca de 15 milhões de eleitores, desidratou o apoio entre evangélicos e caminha para sair dessa disputa com sua pior campanha.

Em eleição para deputado federal, diversidade de opiniões marca partidos

Folha analisou respostas de 1.032 candidatos, de 25 partidos, a 20 questões do Match Eleitoral

Ana Estela de Sousa Pinto, Daniel Mariani | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Candidatos a deputado federal por São Paulo tendem ao centro em economia e costumes, mas há grande diversidade de opinião dentro da maioria dos partidos.

É o que mostra análise do Match Eleitoral, ferramenta criada pela Folha que aproxima candidatos e eleitores a partir de um questionário com 20 perguntas.

Os candidatos podem concordar total ou parcialmente com (ou discordar total ou parcialmente de) temas como reforma da Previdência, proteção da indústria, participação do Estado na economia, aborto, casamento gay e liberação de drogas.

Na análise, o NIF (Núcleo de Inteligência da Folha) considerou partidos com respostas de no mínimo um terço dos candidatos, e excluiu os com menos de dez participantes.

Ficaram dentro dos parâmetros 25 partidos e 1.032 candidatos --67% do total de candidatos desses partidos e 96% dos participantes do Match.

O grau de coesão nas posições dentro de um mesmo partido variou bastante.

No PT e no PSOL, por exemplo, a grande maioria fica à esquerda na economia (mais presença do Estado) e progressista nos costumes. No Novo, há concentração também no polo progressista, mas à direita (mais liberal).

Já em partidos como o MDB, o Podemos ou o Solidariedade, as respostas ocupam todas as graduações de opinião.

Regimes presidencialistas têm dificuldade de gerar partidos programáticos, afirma o cientista político Carlos Pereira, professor da Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) da FGV-RJ e da Universidade do Estado de Michigan.

PSDB será o partido que sairá mais machucado das urnas, diz Alberto Goldman

Mônica Bergamo | Folha de S. Paulo

Ex-governador tucano calcula que a legenda elegerá menos deputados do que o PT e até mesmo o PP

O partido que sairá “mais machucado da urna” é o PSDB. A constatação é do ex-governador Alberto Goldman (PSDB-SP). “Nós saímos bem da eleição de 2014 e vimos o PT afundar. Mas o naufrágio deles acabou nos levando junto”, diz.

DAS CINZAS 
Goldman diz que o PT acabou emergindo outra vez, “pela resistência do mito [Lula] que eles têm, pelas bases sociais constituídas. Nós, não”. Ele calcula que a legenda elegerá menos deputados do que o PT e até mesmo o PP, que estiveram no centro do petrolão.

VELA PRETA 
A eventual eleição de João Doria (PSDB-SP) para o governo de SP, diz ele, “terminará de arrebentar o PSDB em São Paulo”. Goldman votará em Paulo Skaf (PMDB-SP) caso ele vá para o segundo turno contra o tucano.

Alckmin admite que os partidos estão fragilizados, 'inclusive o PSDB'

O candidato do PSDB à Presidência da República ainda afirmou que considera normal o fato de integrantes do seu partido declararem apoio a outro concorrente ainda no primeiro turno

Denise Luna | O Estado de S.Paulo

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse hoje, em campanha no Rio, que considera normal o fato de integrantes do seu partido declararem apoio, antes mesmo da realização do primeiro turno, a outro concorrente nas eleições 2018. Num contraponto, ele disse ter recebido também apoio de dois governadores do MDB, ressaltando que isso evidencia que o Brasil precisa de uma reforma política.

"As manifestações são normais, eu também recebi nessa semana (apoio de) dois governadores que não são do meu partido", disse, numa referência aos governadores de Santa Catarina, Eduardo Moreira, e do Espírito Santo, Paulo Hartung, ambos do MDB. As declarações do tucano foram feitas após visita ao Ceasa, centro de distribuição de alimentos no Rio de Janeiro.

"Nós precisamos fazer a reforma política, não é possível 35 partidos. Modelo político está falido, os partidos estão todos fragilizados, inclusive o meu", admitiu. E destacou que o Brasil só vai sair "do buraco em que está" se fizer reformas estruturantes, entre elas, a reforma política.

Alckmin disse ter gostado do debate da TV Globo, na noite de ontem, que reuniu os principais candidatos ao cargo máximo do País.

"Gostei do modelo, dinâmico, na antevéspera da eleição, temos 20% que não tem em quem votar. Até agora é intenção, o que vale mesmo é domingo", avaliou, evitando antecipar quem irá apoiar num eventual segundo turno.

Ele descartou também apoiar a elaboração de uma nova Constituição, como proposto pelo candidato do PT, Fernando Hadad, alegando que bastaria mudar "umas três ou quatro coisas".

"Sou contra uma nova Constituinte, porque ficaríamos dois anos fazendo debates e se modificar três, quatro coisas da Constituição você resolve o problema", afirmou.

Alckmin disse que é preciso aproveitar a força de quem for eleito para aprovar as reformas estruturantes e não perder tempo fazendo uma nova Constituição. "Eu pretendo em janeiro (se eleito) mandar rapidamente os projetos para o Congresso", concluiu.

Eleição de novo Congresso vai definir vida e morte de partidos

Resultado no Legislativo responderá questões cruciais para a política nacional

Ranier Bragon | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - As 513 cadeiras de deputado federal e 54 de senador que irão à disputa neste domingo (7) definirão o novo Congresso Nacional e vão dar respostas a pelo menos três questões cruciais para a política nacional.

Apesar de essa ser a legislatura mais mal avaliada da história, ter sido alvejada em cheio pela Lava Jato e ter produzido presidiários em série —incluindo ex-presidentes da Câmara—, analistas e partidos apostam que não haverá renovação significativa nas bancadas partidárias, nem avalanche de novos nomes, como faria supor o senso comum.

Além da questão da renovação, o resultado deste domingo definirá quais dos 35 partidos vão conseguir superar a chamada cláusula de desempenho (ou de barreira), que entra em vigor nesta eleição.

Aqueles que não tiverem um desempenho mínimo na votação de seus candidatos a deputado federal, vão ter cortados suprimentos que os colocarão em risco de extinção.

Além disso, a nova configuração partidária da Câmara dará alguma medida do que o futuro presidente da República, seja ele qual for, terá que fazer para lidar com um Congresso que nos últimos dois anos e meio derrubou uma presidente da República e segurou outro no cargo.

PT, MDB, PSDB e PP têm as maiores bancadas e devem continuar com grandes representações, segundo essas projeções.

O Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e a empresa de análise política Arko Advice divulgaram nos últimos dias prognósticos com conclusão similar: alterações nas bancadas não serão significativas, salvo poucas exceções.

Aprovação da democracia é recorde no Brasil

Percentual de apoio irrestrito ao regime das eleições diretas foi de 69%, marca mais alta desde o início da série de pesquisas feita pelo Datafolha, em 1989. O índice dos que admitem preferir uma ditadura é o menor registrado

- O Globo

Contrariando a expectativa de que a eleição não despertaria interesse, 2018 mobilizou os cidadãos, como registrado nas fotos de atos de diversas campanhas. Pesquisa do Datafolha revela que 69% dos brasileiros consideram o regime democrático a melhor forma de governo para o país. É o maior índice desde 1989.

O apoio à democracia nunca foi tão grande no Brasil nos últimos 30 anos. Uma pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha mostra que 69% dos eleitores consideram o regime democrático a melhor forma de governo para o país.

Segundo o instituto, o índice é o mais alto desde 1989, primeira aferição da série histórica, realizada durante a primeira eleição direta para a Presidência da República após o fim do regime militar. Em todas as pesquisas desta série, o Datafolha oferece três opções de resposta aos eleitores: “a democracia é sempre a melhor forma de governo”, “em certas circunstâncias, é melhor uma ditadura do que o regime democrático” e “tanto faz”.

Desde 1989, o maior índice de apoio à democracia havia sido registrado em dezembro de 2014, com 66%, mas em junho deste ano, este percentual já havia baixado. Eram 57% os que diziam preferir o sistema de governo. Em apenas quatro meses, houve um acréscimo, portanto, de 12 pontos percentuais na avaliação positiva do regime democrático. Em setembro de 1989, no primeiro levantamento do tipo, o Datafolha constatou que 43% preferiam a democracia e 18% eram abertos à ditadura “em certas circunstâncias”.

FORTE APOIO DOS JOVENS
Na atual pesquisa, apenas 12% responderam que, a depender das circunstâncias, uma ditadura é preferível em relação à democracia. É o índice mais baixo desta resposta também em toda a série, igualando com o percentual aferido em dezembro de 2014.

Carlos Pena Filho: A solidão e sua porta

Quando mais nada resistir que valha
a pena de viver e a dor de amar
E quando nada mais interessar
(nem o torpor do sono que se espalha)

Quando pelo desuso da navalha
A barba livremente caminhar
e até Deus em silêncio se afastar
deixando-te sozinho na batalha

Arquitetar na sombra a despedida
Deste mundo que te foi contraditório
Lembra-te que afinal te resta a vida

Com tudo que é insolvente e provisório
e de que ainda tens uma saída
Entrar no acaso e amar o transitório.