- O Globo
A decisão de escolher um diplomata de carreira para comandar o Itamaraty parecia ser uma sensatez do novo governo Bolsonaro, indicativo de que entendia, afinal, que as relações internacionais do Brasil têm mais importância do que revelavam seus comentários apressados sobre questões delicadas, como a transferência da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém ou as críticas à China, que estaria “comprando o Brasil”.
Mas a escolha do ministro das Relações Exteriores do futuro governo Bolsonaro não poderia ter si domais desastrada, a começar de como ele chegou a oposto máxi moda carreira depois de nomeado embaixador há pouquíssimo tempo, sem nunca ter chefiado uma embaixada.
O concorrente mais visível, Luis Fernando de Andrade Serpa, já era considerado uma extravagância perigosa. Pela carreira sem grandes voos, e pelo fato de que era talvez o único embaixador que Bolsonaro conhecia, por ter viajado recentemente para a Coreia do Sul.
Mas Ernesto Araújo, diretor do Departamento dos Estados Unidos, Canadá e Assuntos Interamericanos, é uma surpresa desagradável, que indica, pela primeira vez na montagem do Ministério, uma decisão de fazer na política externa exatamente o que criticava nos governos petistas, com sinal trocado.
O secretário-geral do Itamaraty no começo da gestão de Celso Amorim, considerado o ideólogo da política petista de relações internacionais, Sebastião Pinheiro Guimarães, considerava que o futuro da diplomacia brasileira estava na África, e taxava os Estados Unidos de desimportante como posto de carreira. Ernesto Araújo coloca Trump acima de tudo e Deus acima de todos.