- O Globo
A simpatia da família Bolsonaro pelas milícias já era conhecida. O fato novo é a proximidade de Flávio com o chefão do Escritório do Crime
Primeiro foram os 48 depósitos em dinheiro vivo. Depois, os R$ 7 milhões na conta do motorista. Era difícil imaginar outra notícia capaz de piorar a situação de Flávio Bolsonaro. Aí veio a Operação Os Intocáveis.
O Ministério Público deu um passo importante para desmontar o Escritório do Crime, principal grupo de extermínio em atividade no Rio. A Justiça ordenou a prisão do ex-PM Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como chefe da gangue. Ele conseguiu fugir, mas não apagou os vínculos com o senador eleito.
Como deputado estadual, Flávio propôs uma moção de louvor ao miliciano por sua “dedicação, brilhantismo e galhardia”. “É com sentimento de orgulho e satisfação que presto esta homenagem”, escreveu. Dois anos depois, ele premiou o ex-PM com a Medalha Tiradentes, a maior honraria do Estado.
O reconhecimento não se limitou às palavras. O filho do presidente também empregou a mãe e a mulher do foragido em seu gabinete. As duas ficaram penduradas até dezembro. Quando largaram a boquinha, o deputado já havia sido promovido a senador.
A simpatia da família Bolsonaro pelas milícias já era conhecida. Pai e filho usaram seus mandatos para defender os grupos paramilitares. “Não se pode simplesmente estigmatizar as milícias”, discursou Flávio, em 2007. “Naquela região onde a milícia é paga, não tem violência”, elogiou Jair, em 2018.
O fato novo é a proximidade do primeiro-filho com um chefão do Escritório do Crime, cuja lista de vítimas pode incluir Marielle Franco. Em tempo: Flávio foi o único deputado a votar contra a concessão da Medalha Tiradentes à vereadora assassinada.
Ontem o senador eleito adotou uma tática pouco original para se defender. Jogou a contratação da mãe e da mulher do miliciano na conta do motorista. Nessa toada, Flávio ainda vai tentar nos convencer de que ele era o assessor do Queiroz —e não o contrário.
É cada vez mais barulhento o silêncio de Sergio Moro sobre as suspeitas que envolvem o filho do chefe.
Uma sucessão ininterrupta de lambanças.A família-presidencial vai mal.
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