E eis que se entroncaram, muito antes do que qualquer um poderia imaginar, as duas principais investigações político-policiais do Brasil dos tempos recentes, uma dos últimos meses, a outra das últimas semanas: o enriquecimento ilícito da família Bolsonaro e o assassinato de Marielle Franco.
Como sempre, a coisa começa com o laranja: Queiroz, o inacreditável motorista que movimenta R$ 7 milhões em três anos, mas precisa pegar R$ 40 mil emprestados com o Presidente da República e pagá-los de volta na conta da Primeira-Dama. Acredite quem quiser. Ato contínuo, Queiroz fica doente, desaparece, e se abriga em uma favela de Rio das Pedras, que até a Pedra do Arpoador, do outro lado da cidade, sabe que é dominada por milícias.
Paralelamente, começa a desmoronar o castelo de corrupção de Flavinho Bolsonaro, aquele que ganhou milhões e milhões, em menos de dois anos, com uma lojinha de chocolate – e que já havia movimentado milhões de reais antes de sequer ter qualquer atividade empresarial, só com o salário de Deputado Estadual. E que deposita R$ 96 mil mangos em 48 prestações de R$ 2 mil, em um caixa eletrônico situado em uma das agências bancárias mais tranquilas que há.
Na mesma Rio das Pedras em que se escondeu Queiroz, a polícia executa vários mandados de prisão preventiva e eis que … trabalhavam no gabinete de Flavinho Bolsonaro a mãe e a esposa de um dos suspeitos, um ex-capitão do BOPE já acusado há mais de uma década por envolvimento em homicídios.
Não há episódio que revele as entranhas do poder no Rio de Janeiro como este, não só o poder político propriamente dito (Executivo, Legislativo, Judiciário) como também o poder para-político (milícias, tráfico, igrejas, rádios). Está tudo ali, desenhadinho. No centro do furacão, uma família que certamente deu um passo maior do que as pernas, e agora terá que decidir se estanca a sangria rifando um dos filhos.
Quer uma aula de Brasil? Siga o fio de Queiroz e Flavinho, e entenda por que Jair Bolsonaro, que é um burro inteligente – ou seja, um burro que sabe que é burro – dizia, ainda em 2016: “se eu tiver 10% [dos votos], já tá bom”. Os moleques, mimados e criados a leite com pera, evidentemente se deslumbraram e não fizeram o cálculo do perigo. Acharam que Brasília era a Alerj.
Ah, o Moro continua caladinho.
*Idelber Avelar é um teórico da literatura e crítico cultural brasileiro, na sua página do Facebook
Este gosta da família-bolsonaro!
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