- Folha de S. Paulo
Teoria do seletorado é um bom modelo para entender a persistência do ditador Nicolás Maduro
Por que Nicolás Maduro ainda não caiu? Motivos para defenestrá-lo é o que não falta. Nos últimos cinco anos, o PIB da Venezuela caiu 50%. Milhões de cidadãos já fugiram do país, que experimenta retrocesso em praticamente todos os indicadores sociais.
Um bom modelo para entender a persistência do ditador é a teoria do seletorado, proposta pelos cientistas políticos americanos Bruce Bueno de Mesquita, Alastair Smith, Randolph Siverson e James Morrow no início dos anos 2000.
O quarteto, nos passos de Maquiavel, recomenda que esqueçamos todo o blá-blá-blá em torno de interesse público, vontade geral etc. Do pior tirano ao mais convicto democrata, o objetivo principal de quem chega ao poder é manter-se no poder.
Para fazê-lo, precisa lidar com três grupos distintos: o seletorado nominal (cidadãos aptos a participar da escolha do dirigente), o seletorado real (os que de fato participam) e a coalizão vencedora (os que asseguram a vitória). Uma vez entronizado, o líder precisa pagar a coalizão para não ser derrubado.
O que distingue uma democracia de uma autocracia é apenas o tamanho dessa coalizão vencedora. Nas democracias elas são grandes, tão grandes que já não dá para pagar cada membro do grupo com cargos e benesses, o que obriga o governante a desenvolver políticas públicas que agradem aos eleitores no atacado. Nas tiranias, especialmente aquelas com acesso a recursos naturais como petróleo, essas coalizões podem ser surpreendentemente pequenas, dependendo de uns poucos indivíduos em posições-chave no exército e na administração.
A Venezuela caminhou de uma democracia populista, no início da era Chávez, para uma ditadura que se apoia num grupo cada vez mais restrito de militares. Eles sabem que o regime não tem futuro, mas só largarão o osso pacificamente se virem uma perspectiva de saída que lhes permita conservar a liberdade e parte das riquezas que acumularam.
Ótima análise.
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