segunda-feira, 4 de março de 2019

Data fatal se aproxima, e cresce suspense no impasse do Brexit: Editorial | O Globo

Enquanto não chega dia 29, britânicos continuam sem acordo sobre saída da UE, e ganha força novo plebiscito

Um assunto obscuro e intrincado, principalmente para quem não é europeu do continente e nem britânico, o Brexit, a saída da Grã-Bretanha da União Europeia, ganha ares de suspense, à medida que se aproxima o 29 de março, data fixada para o desenlace, haja ou não acordo entre as partes.

Na verdade, acordo há, em torno dos termos do Brexit negociados entre a primeira-ministra Theresa May e a UE, mas rejeitados pelo Parlamento britânico. Pontos de discórdia há vários, o mais importante é sobre o futuro da fronteira entre a Irlanda do Norte, parte da Grã-Bretanha — portanto, acompanhará o Brexit, se houver — e a República da Irlanda, independente, contrária à separação com a UE.

A questão é o que fazer com a fronteira entre as duas Irlandas, aberta, livre, no espírito do histórico acordo de paz selado em 1998 entre protestantes e católicos, cujo confronto produziu muita violência.

E fechar esta fronteira — pois as Irlandas estarão sob regimes de transações comerciais e de migração diferentes — será um abalo sério na pacificação local. Nisso também os brexistas não pensaram.

May defende um entendimento pelo qual Irlanda do Norte e a República da Irlanda, bem como a Grã-Bretanha, ficariam dentro do acordo comercial da UE, enquanto se negociaria uma alternativa que não feche as fronteiras. Mas o acordo é inaceitável para o bloco brexista no Parlamento.

May já perdeu uma votação na Câmara dos Comuns, voltou a conversar com Bruxelas, e, como previsto, nada avançou em Londres. Mesmo os europeus, por estratégia, não podem ser flexíveis, para não estimular outras defecções, com o avanço nacional-populista e anti-UE em vários países.

Enquanto isso, aumenta a viabilidade — mas ainda com baixa probabilidade — da melhor alternativa: um novo plebiscito, agora que há este impasse e a população está mais informada sobre as implicações da separação. Na consulta de 2016, em que o Brexit ganhou por pequena margem (51,9% a 48,1%), o eleitor não tinha ideia dos custos da separação em termos de recessão, desemprego, queda de renda. Como sucede em plebiscitos, traçam-se cenários irreais e simplistas sobre assuntos intrincados, diante dos quais a opção binária de “sim” ou “não” é limitada e irreal. Foi que aconteceu.

May, cujo acordo com a UE vai novamente à votação, em 12 de março, já pensa em pedir o adiamento do Brexit se perder novamente. Trabalhistas abandonam o partido e também conservadores. Mas até o principal líder trabalhista, Jeremy Corbyn, já admite apoiar um novo plebiscito.

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