segunda-feira, 18 de março de 2019

Leandro Colon: Pacto da carochinha

- Folha de S. Paulo

Não há nada novo no discurso a favor de um pacto. Outros governos tentaram e fracassaram

A expressão da moda na capital federal é pacto entre Poderes. Foi usada no dia da posse pelo presidente Jair Bolsonaro, depois pelo chefe do STF, Dias Toffoli, e agora virou um mantra do comandante da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Não há nada novo no discurso do trio. Outros governos, ministros do STF e dirigentes do Congresso flertaram com a mesma retórica em um passado recente. Fracassaram.

É impossível ter sucesso um pacto discutido em um churrasco pela cúpula dos Poderes, como ocorreu no último sábado (16), se os componentes da orquestra de cada um não tocarem como querem seus maestros.

O foco do tal novo pacto são as reformas, sendo a mais urgente a da Previdência, em fase de gestação na Câmara. O governo tem penado para arregimentar uma base aliada parlamentar confiável e coesa na largada da corrida da aposentadoria.

Na quarta (13), Bolsonaro disse em um café com jornalistas que o Congresso precisa jogar “juntinho” do Planalto ao menos no primeiro ano.

Enquanto Rodrigo Maia oferece picanha de primeira a Bolsonaro e ministros, deputados em tese do grupo governista exibem sua fatura salgada para ficar “juntinho” do Planalto.

Como noticiou esta Folha, o PSL, partido do presidente, avisa que só aprova a reforma em troca de mudanças em pontos sensíveis sobre carreiras ligadas à segurança pública.

As bancadas temáticas, usadas por Bolsonaro para negociar seu ministério, no que chama de “nova era” na política, tampouco indicam alinhamento à proposta do governo.

Os ruralistas e os evangélicos, associados a Bolsonaro, não topam seguir integralmente o texto. Parte dos primeiros, por exemplo, quer reduzir a idade mínima de 60 anos sugerida para as mulheres do campo.

Divergências sobre uma reforma tão densa, mesmo partindo da base supostamente aliada, fazem parte do processo. O que não dá é para acreditar que um convescote no andar de cima vá solucioná-las. Ou o governo se mexe ou o tal pacto não passará de mais um conto da carochinha.

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