quarta-feira, 9 de outubro de 2019

Luiz Carlos Azedo - Partido em crise

- Nas entrelinhas | Correio Braziliense

“A crise de Bolsonaro com o PSL tem por pano de fundo o caso das candidatas laranja e a distribuição de recursos dos fundos partidário e eleitoral nas eleições municipais”

É uma daquelas situações em que os políticos costumam dizer que a vaca estranha o bezerro. O presidente Jair Bolsonaro abriu uma crise com o seu próprio partido, o PSL, que tem 52 deputados e três senadores, e vem sendo o principal esteio do Palácio do Planalto nas votações do Congresso. Após um militante do PSL se apresentar como pré-candidato da legenda no Recife (PE) e aliado do presidente do partido, deputado federal Luciano Bivar (PE), ao sair do Palácio do Alvorada, Bolsonaro disse ao jovem correligionário que Bivar está muito queimado e que deveria esquecer o PSL. O vídeo da conversa viralizou nas redes sociais.

Foi um banho de água fria nas lideranças do partido, que teme perder a condição de aliado principal de Bolsonaro. O líder do PSL no Senado, Major Olímpio (SP), saiu em defesa de Bivar e disse que estava perplexo com as declarações. Enfatizou que o PSL era o partido mais fiel ao governo no Congresso. De pronto, a reação de Olímpio provocou uma resposta do vereador carioca Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República, que costuma comprar todas as brigas do pai: “Com todo respeito ao @majorolimpio. Lembro exatamente como foi sua campanha para senador e dos detalhes no hospital, mas que fazem parte da vida pública. Fico estarrecido da maneira como este senhor trata o Presidente hoje! Ninguém é imune a críticas, mas meu Deus! É surreal!”, escreveu no Twitter.

Nesta semana, foi a segunda vez que Olímpio se envolveu em disputas com a família Bolsonaro. Na segunda-feira, ao criticar a postura do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) sobre a CPI da Lava Toga, o líder do partido disse que o filho mais velho do presidente “acabou, não existe mais”, numa alusão ao caso Queiroz. Entre os políticos, porém, Flávio é apontado como o mais conciliador e equilibrado dos três. Ex-deputado estadual no Rio de Janeiro, é investigado no esquema de “rachadinhas” da Assembleia Legislativa fluminense, no qual o seu maior problema é o ex-assessor Fabrício Queiroz. Uma liminar do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, sustou a investigação.

O episódio reflete as dificuldades da relação de Bolsonaro com a legenda, tendo por pano de fundo o caso das candidatas laranja nas eleições passadas, que ameaça derrubar o único ministro da legenda, o deputado Marcelo Álvaro Antônio (MG), recentemente indiciado pela Polícia Federal por suspeita de comandar o esquema; e a distribuição de recursos dos fundos partidário e eleitoral, controlada por Bivar, que envolve o financiamento das candidaturas nas eleições municipais. Muitos dos deputados e senadores eleitos pela legenda têm interesses eleitorais que não coincidem com os de Bolsonaro. Todos querem ter o apoio do presidente da República, mas Bolsonaro teme ser derrotado nas eleições municipais, principalmente nas capitais, e colocar em risco a sua própria reeleição em 2022, se não fizer alianças competitivas.

Troca de camisas
Há muita expectativa de que a onda que elegeu Bolsonaro e transformou o PSL de um partido nanico numa das mais fortes bancadas no Congresso, elegendo 53 deputados e três senadores, se reproduza nas próximas eleições municipais. Entretanto, já há desentendimentos e defecções na legenda. O deputado Alexandre Frota (SP) migrou ao PSDB; a senadora Selma Arruda (MT), para o Podemos. Entre 15 e 20 parlamentares podem deixar a legenda nos próximos meses, a maioria por causa das eleições municipais.

No Senado, sem dúvida, Major Olímpio polariza as divergências por causa da CPI da Lava Toga, que apoia, enquanto Flávio Bolsonaro trabalha para que não seja instalada. Outra queda de braço do líder do PSL é com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (SP), que o pai quer nomear embaixador nos Estados Unidos, mas precisa de aprovação do Senado. Olímpio presidia o diretório regional do partido em São Paulo. Após pressões, cedeu a vaga a Eduardo, que chegou no diretório reclamando de seu antecessor. A série de discussões entre ambos tem ameaçado a preparação da legenda para as eleições municipais, nas quais a deputada Joice Hasselman (PSL-SP), líder do governo no Congresso, pleiteia a vaga de candidata à Prefeitura de São Paulo.

Bolsonaro nunca foi um homem de partido. Ao longo de sua trajetória politica, trocou de legenda várias vezes. Se elegeu vereador na cidade do Rio de Janeiro, em 1988, pelo PDC, partido pelo qual foi eleito em 1990 para deputado federal. Concorreu por PRP nas eleições de 1994, passou pelo PP duas vezes, entre 1995 e 2003, e 2005 e 2016. Também esteve filiado ao PTB, entre 2003 e 2005, e ao PFL, em 2005. Nos últimos três anos, Bolsonaro passou por três partidos oficialmente e quase foi parar no PEN, em 2017, mas permaneceu no PSC até o período de abertura da janela partidária de 2018. Foi só então que optou pelo PSL.

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