domingo, 6 de outubro de 2019

Política / Eleições

'Povo não vai votar em pau mandado da Globo', diz Bolsonaro sobre Huck

Presidente voltou a criticar o apresentador da TV Globo, cotado para as eleições de 2022

Por Marcelo Ribeiro | Valor Econômico

BRASÍLIA - O presidente Jair Bolsonaro voltou a criticar neste sábado o apresentador Luciano Huck, cotado para disputar as eleições presidenciais de 2022.

“Alguém acha que o povo vai votar no pau mandado da Globo? Não vai", disse o presidente, por meio de videoconferência, na abertura do Simpósio Nacional Conservador de Ribeirão Preto.

Bolsonaro argumentou, ainda, que não está fazendo campanha. "Não estamos aqui fazendo campanha. É um direito dele ser candidato”, afirmou.

Ao mencionar Huck, Bolsonaro afirmou que suas críticas não eram gratuitas. O presidente também mencionou o colunista Merval Pereira, do jornal O Globo.

“Ele diz aqui que eu ataquei de graça Luciano Huck. Ele não diz obviamente que o Luciano Huck diz que eu sou o último capítulo do caos, porque ele é candidato à presidente, já anuncia. Não tenho nada contra isso”, disse Bolsonaro.

“Quando ele [Huck] falou isso aí, fui ver as suas atividades no BNDES. Ele comprou um avião lá, se não me engano R$ 40 milhões, pegou emprestado, pagando 4% ou 4,5% de juros por ano. Alguém quer um dinheirinho do BNDES 4% ao ano aí?”, acrescentou, gargalhando.

Sobre rumores de que a família Bolsonaro estaria enfrentando divergências, o presidente negou e disse que não tem candidato a prefeito em nenhuma cidade do país.

“Não existe qualquer divergência no Rio. Até porque eu não tenho candidato a prefeito em município nenhum no Brasil. Zero. Nem São Paulo, nem Rio, nem BH, nem nada. A gente vai resolver isso mais tarde. E a tendência é dividir os meus filhos”.

Bolsonaro disse ainda respeitar a decisão do Congresso de derrubar parte de seus vetos ao projeto de lei de abuso de autoridade. “Essa lei entra em vigor a partir do ano que vem. Lei é lei. Tem gente questionando agora, via ações de inconstitucionalidade, o STF. Eu não pretendo questionar. Posso fazer, mas não pretendo fazer isso daí. Essa briga não é mais minha”, disse o presidente.

“Fiz a minha parte. Alguns querem que eu faça discurso contra o parlamento. Às vezes, contra o Supremo. Não vou fazer. Não é papel meu”, acrescentou.

Nova regra eleitoral impulsiona número de candidaturas

A um ano do pleito, São Paulo, Rio e BH já têm 26 cotados para disputa municipal e partidos buscam ‘nomes fortes’ para 2020

Adriana Ferraz, Fernanda Boldrin, Ítalo Lo Re | O Estado de S. Paul

A um ano das eleições municipais de 2020, aumenta a movimentação interna nos partidos por candidatos a prefeito e de políticos por legendas com capacidade financeira para custear campanhas. A partir do ano que vem, novas regras eleitorais devem resultar em um número maior de candidaturas. Só São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte já somam ao menos 26 cotados para a disputa de prefeituras.

Ao vetar a possibilidade de coligações proporcionais, o Congresso impediu que legendas sem nomes fortes na urna peguem “carona” em puxadores de voto de outros partidos, em prática que ficou conhecida como “efeito Tiririca” – em referência ao deputado federal do PL paulista. Já a cláusula de barreira, em vigor desde o ano passado, estabelece um desempenho eleitoral mínimo para que políticos tenham acesso ao fundo partidário e ao tempo gratuito de rádio e televisão.

Ao todo, 14 partidos não conseguiram passar por essa barreira no pleito do ano passado, perdendo, assim, acesso à verba pública destinada para custear as campanhas – nove com representação na Câmara. De lá pra cá, legendas incorporaram outras, como estratégia para “crescer”, ou liberam seus deputados a sair.

Rafael Greca, de Curitiba, deixou o PMN e foi para o DEM. O mesmo caminho foi seguido pelo prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que trocou o PHS pelo PSD. Em ambos os casos, as siglas anteriores não atingiram a cláusula de barreira. E essa lista pode aumentar ano que vem, quando a janela partidária permitirá uma nova leva de trocas partidárias.

“Quem foi eleito por um pequeno partido vai tentar buscar partidos maiores para concorrer, para ter verba para campanha. A não ser que o candidato tenha recursos próprios para se bancar sozinho”, afirmou o PhD em ciência política e professor da UFMG Felipe Nunes.

Com a esperada “pulverização” dos votos em função do fim das coligações proporcionais, outras consequências prováveis no pleito de 2020 são um aumento do número de eleições definidas em segundo turno – a legislação prevê o pleito em duas fases em municípios com mais de 200 mil eleitores – e o fortalecimento de quem já tem mandato. Entre as capitais, 14 dos 26 prefeitos podem tentar a recondução ao cargo.

Segundo o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, os candidatos a prefeito vão assumir papel ainda mais estratégico nos partidos. “Se um candidato a prefeito for fraco, isso pode resvalar na candidatura de vereadores com boas chances de eleição.”

Para o prefeito de Salvador (em segundo mandato) e presidente do DEM, ACM Neto, o novo cenário “aumenta o estímulo para que o partido lance o maior número possível de candidatos a prefeito e vereador em todo o Brasil”. A sigla, que se diz “totalmente favorável ao fim das coligações”, acredita que o maior impacto da mudança virá em 2022, com a diminuição do número de partidos.

“Permaneceriam, assim, só os partidos fortes e com capilaridade”, disse.

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, acredita que o processo de voto passará por uma reeducação a partir das novas regras. Para ele, o eleitorado terá mais discernimento sobre os partidos. Na mesma linha, o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, fundador e atual presidente do PSD, diz que o fim das coligações proporcionais e as cláusulas de desempenho farão com que os partidos tenham cada vez mais projetos com linha programática clara.

Segundo ele, ainda que as novas regras diminuam a quantidade de legendas no futuro, a tendência é que elas sejam muito mais fortes e consolidadas.

O PSDB, também a favor do fim das coligações, planeja ter candidatos próprios no maior número de cidades que conseguir. A perspectiva da legenda, que detém a maior quantidade de prefeitos em capitais do País (8, no total), é de que haverá concentração de mandatos em um número ainda menor de partidos.

Ideologia. Já Luciano Bivar, presidente do PSL, afirma que a posição ideológica bem definida de seu partido fará com que a sigla tenha menos dificuldades com a mudança. A expectativa é que o presidente Jair Bolsonaro participe da escolha dos nomes que representarão a sigla em 2020.

Para a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, a nova configuração não afeta tanto a política de candidaturas do partido, cuja sempre sempre foi a de lançar o maior número possível de concorrentes. “A mudança fortalece legendas que têm organicidade e uma linha programática clara”, disse a deputada federal.

João Amoêdo, presidente do Novo, é o único líder partidário ouvido pelo Estado crítico à emenda. “A alteração, mais uma vez, ataca o sintoma, não o problema.
Os partidos deveriam ser livres para se coligarem se tiverem pautas semelhantes, embora o façam basicamente para agregar tempo de propaganda eleitoral ‘gratuita’ ou por conta de interesses eleitorais locais”, afirmou ele. Ainda assim, segundo Amoêdo, deveria caber ao eleitor vetar esse procedimento nas urnas.

MDB de Baleia Rossi  e Maia ensaiam alianças.

Movimento é articulado por Baleia Rossi, que assume comando do partido.

Vera Rosa / O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Sob o slogan da “Renovação Democrática”, o encontro foi planejado para mostrar unidade, apesar de divisões internas, e jogar luz sobre uma nova geração de herdeiros políticos, com a “aposentadoria” dos velhos caciques alvejados pela Lava Jato, como o ex-presidente Michel Temer e o ex-senador Romero Jucá (RR). Sem conseguir a reeleição, Jucá passará o comando do MDB para o líder do partido na Câmara e assumirá uma cadeira de “vogal” na Executiva. Na prática, a convenção representa o primeiro passo para o MDB costurar alianças eleitorais e adotar um discurso crítico em relação ao governo Bolsonaro, embora o ministro Osmar Terra (Cidadania) seja filiado à legenda.

Um grupo de centro-direita composto por PSDB, DEM, MDB e PSD já discute, por exemplo, a atuação de uma frente de partidos para isolar o PSL de Bolsonaro. O MDB deve apoiar a campanha à reeleição do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), no ano que vem. A discussão passa ainda, por um acordo com o governador João Doria (PSDB), que se prepara para concorrer ao Palácio do Planalto, em 2022, e pode ter Maia como vice da chapa.

Baleia e Maia jogam juntos na análise desse cenário, que também vai depender do “fator Luciano Huck”. Embora ainda indeciso sobre a entrada na corrida presidencial, o apresentador de TV já assumiu papel de contraponto a Bolsonaro, mantém conversas com o Cidadania de Roberto Freire (ex-PPS) e com grupos de renovação política surgidos na esteira do impeachment de Dilma Rousseff (PT), e desperta a atenção de outros partidos de centro, como o próprio MDB.

Autor da proposta de reforma tributária – pauta que apresentou a pedido do presidente da Câmara –, Baleia vem ganhando protagonismo no Congresso. Aos 47 anos, ele será o mais jovem presidente do partido e promete comandá-lo sem adesismos automáticos aos governos de plantão.

“O MDB precisa se reinventar e se reconectar às suas bases. A nossa gestão não vai ser de caciques e as decisões não serão tomadas de cima para baixo”, afirmou Baleia, que é filho de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura do governo Temer. “Nem o Michel conseguiu unificar o MDB como o Baleia conseguiu desta vez”, disse Maia, que ontem ofereceu um jantar em sua casa para deputados e senadores do partido.

Fisiologismo. Criado como oposição à ditadura militar, o antigo PMDB acabou se transformando, ao longo dos anos, no parceiro fisiológico do poder – conhecido pelo apetite por cargos – até a derrocada nas urnas, no ano passado. Na gestão de Jucá, a sigla tirou o “P” do nome e voltou a se chamar MDB, em um movimento de volta às origens, mas não adiantou.

A bancada de deputados federais encolheu de 66 eleitos em 2014 para 34 em 2018, e o candidato do MDB à Presidência, Henrique Meirelles, amargou o sétimo lugar na disputa, com 1,2% dos votos. Meirelles é hoje secretário da Fazenda do governo Doria. Na ocasião, o seu fraco desempenho foi atribuído à impopularidade de Temer, de quem ele foi ministro da Fazenda.

O discurso da renovação, no entanto, não vai impedir que Baleia faça uma deferência a Temer, que se licenciou da presidência do MDB em 2016 para assumir o Planalto, após o impeachment de Dilma. “A reforma trabalhista nasceu no governo dele”, argumentou o deputado.

Temer e o ex-ministro Moreira Franco chegaram a ser presos, neste ano. “Toda vez que o limite da Constituição ou da lei é ultrapassado verifica-se o abuso de autoridade”, disse o ex-presidente, que foi alvo de denúncias do ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

Nos últimos dias, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral, que continua preso, e o ex-presidente da Assembleia Legislativa Jorge Picciani – hoje em prisão domiciliar – pediram desfiliação do MDB. A ala jovem quer a expulsão do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, preso há três anos, mas Baleia diz que o partido “não é um tribunal”.

Com apoio do velho MDB, Baleia assume sigla

Deputado Baleia Rossi vai assumir presidência do MDB com aval dos velhos caciques, mas promete novas bandeiras

Por Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - Muito antes do cantor Netinho alvoroçar as brasileiras com o seu “Dia de Princesa” na televisão, o então vereador Baleia Rossi atraía as fãs para o banho de loja e salão proporcionado pelo “Espelho Mágico”, um dos quadros do programa de variedades que apresentou durante 15 anos. A partir de 1995, o “Programa do Baleia” foi transmitido de Ribeirão Preto pelas TVs Record, Manchete e Band para uma centena de municípios do interior paulista. O quadro de maior sucesso era o “Você é especial”, em que Baleia sorteava uma carta e se deslocava até a casa do destinatário, contemplado com um buquê de flores e a leitura da correspondência, geralmente romântica ou comovente. Hoje o que deixa amuado o futuro presidente do MDB é que passados 24 anos, as pessoas o abordam na rua para contar: “minha avó foi ao seu programa”.

Depoimentos como esse o fazem sentir a passagem do tempo. Mas numa conjuntura em que os partidos tradicionais tentam driblar o desgaste eleitoral e pregam a renovação, Luiz Felipe Baleia Tenuto Rossi, líder da bancada do MDB na Câmara, será eleito o presidente mais jovem do partido entre os 15 dirigentes que o precederam, aos 47 anos.

A convenção ocorre no domingo (6), data em que Ulysses Guimarães, principal referência do MDB, completaria 103 anos. Ulysses foi cabo eleitoral de Baleia na sua primeira eleição em 1992 para vereador em Ribeirão.

Baleia será aclamado para o cargo depois de compor com todas as forças do velho PMDB. Seu maior avalista é Michel Temer, que presidiu o partido por 15 anos e queria um nome de sua confiança na sucessão de Romero Jucá. Mas Baleia também dialogou com José Sarney, Jucá, Eunício Oliveira, o líder no Senado, Eduardo Braga (AM), o senador Renan Calheiros, além dos três governadores da sigla.

Baleia é apelido que ganhou na adolescência e depois incorporou ao nome político: uma ironia criada pelos irmãos porque era muito alto, branco e magro. O avô o convenceu de que a alcunha era valiosa porque as baleias são os mamíferos mais inteligentes depois dos primatas.

“Vamos retomar o protagonismo do MDB, que continua sendo o maior partido do Brasil”, assegurou Baleia ao Valor. Os números atestam que o MDB ainda é a maior força de Centro: são 1.030 prefeitos, 7.564 vereadores e 2,39 milhões de filiados, ficando à frente do PT, com 1,5 milhão filiados. Tem ainda três governadores (Pará, Alagoas e Distrito Federal), quatro prefeitos de capitais (Goiânia, Cuiabá, Natal e Boa Vista), 34 deputados federais e a maior bancada do Senado, com 13 parlamentares.

Entretanto, Baleia herda um partido esfacelado após a eleição de 2018, quando o eleitor varreu das urnas os principais caciques da sigla: Romero Jucá, Eunício Oliveira, Edison Lobão, Garibaldi Alves, Roberto Requião.

Com várias lideranças respondendo a denúncias de corrupção - inclusive o ex-presidente da República Michel Temer - o partido ainda carrega a pesada imagem das malas com R$ 51 milhões atribuídas ao ex-ministro Geddel Vieira Lima. A cinco dias da convenção nacional, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, recomendou a condenação do emedebista, preso há dois anos.

“O partido não pode viver do passado, temos que olhar pra frente, temos as eleições municipais”, exorta o novo dirigente. Com a missão de renovar o partido, alijando da Executiva os caciques que comprometem a promessa, Baleia diz que a sigla precisa “estabelecer novas bandeiras, porque nos últimos anos se afastou da militância, e também se reconectar com a sociedade”.

Depois de domingo, Baleia vai pegar a estrada: às quintas-feiras, visitará cada um dos 27 diretórios estaduais para reorganizar o partido e definir estratégias para o pleito municipal. Em São Paulo, o MDB estuda lançar o ex-ministro e presidenciável Henrique Meirelles na disputa pela prefeitura, com a bandeira da recuperação econômica e responsabilidade fiscal.

Filho do ex-ministro da Agricultura Wagner Rossi e tendo na nova Executiva outros filhos de representantes das oligarquias regionais, como os governadores Hélder Barbalho (PA) e Renan Filho (AL), filhos de Jader Barbalho e Renan Calheiros, respectivamente, além do ex-deputado Daniel Vilela (GO), filho de Maguito Vilela, Baleia rejeita o rótulo de “partido de caciques”. “Não vai ser partido de caciquismo.”

Ele promete uma legenda plural, que respeitará as divergências internas e compartilhará as decisões da cúpula com a militância.

Visto como habilidoso pelos seus pares, Baleia dedicou-se à construção de ampla aliança em torno de seu nome. A principal resistência vinha do Rio Grande do Sul: o ministro da Cidadania, Osmar Terra, e o ex-senador Pedro Simon articularam a candidatura da presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senadora Simone Tebet (MS), mas ela rechaçou a oferta e o grupo compôs com Baleia.

No horizonte, delineia-se o apoio da nova cúpula à postulação de Simone à presidência do Senado em 2021. Já o diretório gaúcho deve herdar o comando da Fundação Ulysses Guimarães (FUG), uma espécie de segunda tesouraria, hoje sob a direção do ex-ministro Moreira Franco.

Em outra composição, Baleia cedeu o cargo de tesoureiro, um dos mais cobiçados e que nos últimos 19 anos esteve com Eunício Oliveira, ao presidente da Comissão Mista de Orçamento (CMO), o senador Marcelo Castro (PI). O nome contempla as bancadas do Senado e da Câmara, historicamente adversárias, porque Castro foi deputado por mais de dez anos, e agora tem gabinete na Casa revisora.

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