terça-feira, 1 de outubro de 2019

Ricardo Noblat - Para que não se faça o jogo de Bolsonaro

- Blog do Noblat | Veja

Separar o joio do trigo, sem publicar o joio

O presidente Jair Bolsonaro não precisa de uma imprensa para chamar de sua. Já tem. Poderia reunir parte dela sob o rótulo de Sistema Bolsonarista de Televisão (SBT). E outra parte num condomínio conhecido como Diários e Emissoras Associadas Contra o Socialismo – ou algo parecido com isso

Ele estrebucha na maca, como o fez, ontem, mais uma vez porque os maiores veículos de imprensa do país resistem aos seus encantos e à sua conversa fiada, e teimam em continuar fazendo jornalismo com independência. Na sua fala diária à saída do Palácio da Alvorada, ele voltou à prática do seu esporte favorito – atacar os jornalistas.

Dessa vez disse que só voltará a falar com eles quando retificarem muito do que foi escrito e dito sobre seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque. Pura estultice! Que mais adiante ele esquecerá. À falta de um projeto para o país, Bolsonaro governa de preferência por meio da palavra.

Na verdade, pouco se lhe dá se apanha por causa de tanta estupidez que diz – desde que se reproduza tudo o que saia de sua boca. A imprensa chapa branca reproduz sem fazer o menor reparo, como se espera dela. A imprensa crítica reproduz com o cuidado de oferecer o contraditório, que é o que dela se espera.

Pode-se ser mais seletivo para não dispender energia com o que é desimportante, não conferir o mesmo peso ao que é relevante e ao que não é, e não exaurir o distinto público. O desejo dos governantes é que se fale deles, mesmo que mal. Por que satisfazê-los?

Sai de cena “Lula, Livre!”. Entra “Lula, Preso!”

A nova palavra de ordem do PT
E se a juíza Carolina Lebbos, substituta de Sérgio Moro na 12ª Vara Federal da Polícia Federal, em Curitiba, mandar Lula para o regime semiaberto de prisão a que ele já tem direito por ter cumprido um sexto da pena a que foi condenado no caso do tríplex do Guarujá?

A defesa de Lula entrará imediatamente com algum tipo de recurso pedindo para que ele continue preso em regime fechado como está há 542 dias? No semiaberto, Lula poderá trabalhar durante o dia e voltar à noite para dormir na prisão. Ou dormir em casa.

Será algo inédito por estas bandas se a defesa preferir Lula preso a Lula mais ou menos livre. No interior remoto do país, há registro de presos que clamaram para não ser soltos porque a cadeia lhes garantia abrigo, comida e uma mínima sensação de segurança.

Todos foram despejados. A progressão de pena não é um favor do Estado, mas um direito do preso estipulado em lei. Se ele se comportou bem na prisão – e Lula foi um preso bem comportado -, tem mais é que sair depois de cumprido um sexto da pena.

E por que ele não quer sair? Verdade que Lula já disse que foi preso porque quis, e que só sairá da cadeia para que no seu lugar possam entrar o ex-juiz Moro e o chefe da Força Tarefa da Lava Jato no Paraná, o procurador Deltan Dallagnol, seus algozes.

Blábláblá de Lula. Com a resistência a sair, ele quer marcar posição. Joga para seus devotos. Para mais tarde dizer que foi obrigado a sair contra sua vontade. Porque se dependesse dele, Lula, só sairia depois que a Justiça reconhecesse sua inocência.

Lula também pressiona para que o Supremo Tribunal Federal, em prazo relativamente curto, julgue o recurso impetrado por sua defesa que arguiu a suspeição de Moro com base nas revelações de mensagens trocadas por ele com procuradores da Lava Jato.

O PT ficou rouco de tanto gritar “Lula, Livre” desde que seu guia foi recolhido aos costumes da Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. Uma vez que ele acabe enxotado dali, será imperdível ver o PT gritar meio sem graça “Lula, Preso” ou algo parecido.

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