País é firme no pacto democrático, mas não abre caminho para o desenvolvimento
O desenvolvimento de uma nação é um processo paulatino,
determinado pelas escolhas organizacionais da sociedade ao longo de gerações,
impulsionado pela inventividade, avaliado pelos graus de prosperidade material
e de compartilhamento de riqueza e poder político e sujeito a paralisia e
reversão.
Por vias diversas, a investigação acadêmica nas últimas
décadas tem convergido para essas conclusões. Enfraqueceram-se teorias que enfatizavam
fatores geográficos, religiosos e culturais, as que enxergavam na riqueza de um
país a pobreza de outros e as que previam a decadência do capitalismo.
Dentre as obras mais bem-sucedidas na divulgação do resultado
dessa safra de pesquisas inovadoras está “Por Que as Nações Fracassam” (2012),
parceria entre o economista Daron Acemoglu e o cientista político James
Robinson.
O livro continha apreciação positiva do Brasil. A ascensão do
Partido dos Trabalhadores, a redução da pobreza e o crescimento econômico foram
considerados indicadores da emancipação, de um padrão oligárquico de
apropriação do poder para um modelo aberto.
Oito anos depois, Acemoglu revela frustração. Em entrevista
ao jornal Valor Econômico, atribuiu a quebra de expectativas à corrupção
escancarada no governo petista, à gestão Michel Temer (MDB) e à ascensão de um
presidente com viés autoritário, Jair Bolsonaro.
A democracia próspera do livro teria agora o futuro ameaçado.
A solução do dilema parece assentar-se na correção do viés
excessivamente otimista da obra e, também, do demasiadamente pessimista da
entrevista. O Brasil não estava tão bem nem está tão mal —em que pese a
tragédia das 100 mil mortes pela Covid-19.
Problemas que remontam ao passado mais distante continuam
presentes. A produção por trabalhador tem sido praticamente a mesma há 40 anos.
A educação, apesar da injeção de recursos, condena a maioria da população à
baixa renda.
O apetite por privilégios mantém-se excitado, como se vê no
incipiente debate da reforma tributária.
De outro lado, o edifício da democracia consolidada no pacto constitucional de
1988, submetido a desafios, dá seguidos exemplo de solidez. Demonstra
cotidianamente aos incitadores da truculência que esse meio não terá guarida.
Perde-se tempo e dissipa-se energia cívica, é fato. A
facilidade com que presidentes põem-se a destruir consensos técnicos na
condução das finanças públicas, da educação e da saúde amplia o nosso atraso e
o fardo das gerações subsequentes.
Parado, no meio do caminho entre o grupo de nações pobres e o
clube dos ricos, mas firme no compromisso democrático —assim está o Brasil, e
não é de hoje.
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