quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Bernardo Mello Franco - Um novo bobo na corte bolsonarista

- O Globo

O papel de bobo da corte estava vago desde que o bolsonarismo despachou Abraham Weintraub para os EUA. Investigado no inquérito das fake news, o ex-ministro avisou que precisava sair do Brasil para escapar do “cadeião”. Faturou um exílio de luxo, com salário de R$ 116 mil para tuitar no Banco Mundial.

A fuga do olavista deixou o governo sem um agitador de prontidão em Brasília. Foi aí que se lembraram de Mario Frias, o ex-galã de “Malhação” que virou secretário da Cultura.

O ator é o quinto ocupante do cargo em um ano e meio de governo. Para durar mais que os antecessores, apelou à tática do sabujismo explícito. Desde que tomou posse, ele se esforça para bajular o capitão e os filhos. Na semana passada, estendeu a prática ao caçula Jair Renan.

Frias recebeu o Zero Quatro em reunião fora da agenda. A pasta informou que os dois trataram de “assuntos relacionados ao futuro dos e-sports”. Faltou informar se o filho do presidente foi recebido como jogador de videogame ou lobista de empresas do setor.

Três dias depois, o secretário estrelou um filmete de propaganda oficial. Na peça, ele repousa numa poltrona de veludo e descreve os brasileiros como “um povo heroico”, que “encara com um brado retumbante o destino que nos encara” (sic). A performance mostra por que o ator não foi longe na teledramaturgia.

Numa passagem, ele medita sobre os mártires brasileiros diante de um quadro do rei da Bélgica. O humorista Marcelo Adnet notou o potencial da cena e fez uma imitação do ex-galã. Frias acusou o golpe e chamou o comediante de “bobão”. Em seguida, Adnet passou a ser atacado pelas milícias virtuais e pelo perfil da Secom.

A atuação de Frias no governo mereceria a mesma atenção que sua carreira na TV: nenhuma. Ocorre que agora ele cuida de dinheiro do contribuinte. Na sexta-feira, o secretário determinou que entidades como Ancine, Biblioteca Nacional e Funarte submetam todos os atos a seu gabinete, incluindo publicações em redes sociais.

O dirigismo cultural é uma aspiração de todo regime autoritário. Na falta de um Jdanov, Bolsonaro aposta no ator de “Bela, a Feia”.

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