sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Hélio Schwartsman - Bolsonaro tenta infinitos modos de destruição

- Folha de S. Paulo

A entropia, definida como a medida de desorganização de um sistema, é uma força poderosa. No longo prazo (algo como 10100 anos), ela levará à morte térmica do Universo, mas produz, desde já, um argumento bacana contra a existência de Deus (cf. Bertrand Russell).

Em escalas de tempo mais compatíveis com as percepções humanas, a entropia não se mostra tão inexoravelmente fatal, mas ainda é capaz de gerar estragos consideráveis.

O governo do presidente Jair Bolsonaro está entre os mais entrópicos de todos os tempos no Brasil. Seu nível de desorganização é preocupante e já afeta outros sistemas, como a economia e a saúde.

A incapacidade do Ministério da Economia de até sinalizar convincentemente sobre seus próximos passos está agravando a precária situação fiscal do país. Vai ficando cada vez mais complicado rolar a dívida pública, o que pode afetar a relativa estabilidade da inflação e outros indicadores.

Na saúde o quadro é ainda mais desolador. A inépcia do governo para dar destinação a verbas já autorizadas e produtos já adquiridos compromete nossa capacidade de resposta à pandemia. Pior, embora a vacinação em massa já esteja no horizonte, o país ainda não tem plano para implementá-la.

É claro que um plano detalhado depende de uma definição, por ora inexistente, de quantas doses de quais tipos de imunizantes nós disporemos e do calendário de entrega. Mas o Ministério da Saúde, conduzido por um suposto especialista em logística, ainda não apresentou nem um esboço de plano nem se veem ações assertivas para a aquisição de insumos como seringas e agulhas.

Uma outra forma de descrever a tendência ao aumento da entropia é lembrar que ela triunfará porque existem muito mais maneiras de destruir as coisas do que de construí-las. Minha impressão é que o projeto de Bolsonaro é fazer com que experimentemos cada um desses quase infinitos modos de destruição.

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