domingo, 15 de novembro de 2020

Merval Pereira - A voz das urnas

- O Globo

Há uma certeza nos meios políticos: eleições municipais têm a ver mais com questões locais do que com a situação nacional. É verdade, caso contrário o PT, que perdeu 60% de suas prefeituras em 2016, não teria chegado ao segundo turno da eleição presidencial de 2018. E o candidato tucano Geraldo Alckmim, que chegou com míseros 4,7% no primeiro turno, teria tido melhor sorte, pois o PSDB foi um dos partidos que mais cresceram no período.

O apoio dos tucanos ao governo Michel Temer, e as acusações de corrupção que atingiram sua cúpula, inviabilizaram o caminho para ser alternativa à polarização. Mas havia na debacle do PT nas eleições municipais de 2016 um sinal que o candidato do baixo clero Jair Bolsonaro percebeu mais que seus outros competidores, a rejeição ao PT, e demais partidos, pelas denúncias de corrupção, e a prisão do ex-presidente Lula.

Enquanto os candidatos centristas, como Alckmim, ou de centro-esquerda como Ciro Gomes e Marina Silva, buscavam a pacificação, Bolsonaro posicionava-se como o antipetista de carteirinha, e antipolítica, embora fosse deputado federal por 37 anos.  

A eleição que se realiza hoje mostra que o PT continua tendo problemas com a recuperação de sua imagem, pois nos municípios há poucos candidatos do PT em posição de disputa. Quanto a Bolsonaro, não está tendo influência na eleição, porque nem tem partido. A característica personalista que sempre marcou sua trajetória política - já foi de mais de dez legendas - perdeu a força no momento, e o apoio que deu a candidatos, como Celso Russomano em São Paulo e Marcelo Crivella no Rio, de nada serviu.

Mesmo que cheguem ao segundo turno, o que é cada vez mais difícil, não têm nenhuma condição de vencer a disputa contra Bruno Covas ou Eduardo Paes. Confirmados esses prognósticos que as pesquisas eleitorais indicam, há sinais claros de que Bolsonaro perdeu a capacidade de influir sozinho no resultado de uma eleição, como teve em 2018, quando elegeu diversos governadores, deputados e senadores por sua força eleitoral.

Na eleição de 2022 terá que ter uma estrutura partidária forte, como a do Centrão, para superar os obstáculos que estão surgindo à sua frente por causa da pandemia e sua maneira irresponsável de combatê-la, e da crise econômica do país. Quer dizer, será refém do Centrão, e não mais a figura singular que leva um partido nas costas.

As recentes pesquisas mostram queda em sua popularidade nas principais capitais do país, e se não houver uma recuperação na economia, a falta do auxílio emergencial provocará uma crise social difícil de superar. Mesmo assim, o presidente Bolsonaro até a última hora resolveu apoiar candidatos a prefeito e vereador em várias partes do país.

Todos, com exceção de Capitão Wagner, do PROS, que disputa com Sarto, do PDT, a liderança da disputa pela Prefeitura de Fortaleza, os demais têm chance reduzida de vencer.

A disputa municipal deste ano tem uma novidade importante: a proibição de coligações proporcionais na eleição para vereadores. Isso quer dizer que os partidos tiveram que lançar muito mais candidatos para obter o quociente eleitoral. A votação partidária poderá beneficiar apenas os candidatos do mesmo partido.

O MDB é o partido que lançou mais candidatos, enquanto o PSDB e o PT são dos que lançaram menos. O fim das coligações proporcionais é um dos principais pontos de uma reforma que instituiu também as cláusulas de barreira. As eleições municipais provarão a capacidade das legendas de se manterem em atividade, e depois dela já veremos movimentos para fusões partidárias.  

A tendencia é que ao final do ciclo eleitoral em 2022 as exigências de votação mínima para a Câmara e o Senado farão com que o quadro partidário seja depurado, com a possibilidade de restarem apenas cerca de 10 a 15 partidos em atividade congressual.

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