- O Globo
Momento seria oportunidade de ouro para Bolsonaro se redimir de sua atuação pífia diante da pandemia
O anúncio de que o presidente Bolsonaro foi infectado pela Covid-19 traz em si mesmo diversas facetas dele: irresponsabilidade, falta de compaixão, negação da gravidade da pandemia, desdém indicando falta de entendimento do que seja a presidência do Brasil.
Não apenas aproveitou a ocasião para reafirmar a indicação de cloroquina e seus derivados para tratamento da doença, como fez um vídeo em tom amolecado tomando o remédio e sugerindo-o para a população que precisar. Parecia um verdadeiro garoto propaganda do remédio, cuja fabricação obrigou o Laboratório do Exército a aumentar, além dos milhões de comprimidos que recebeu como “doação” dos Estados Unidos depois que o FDA proibiu sua utilização.
A gravidade do comportamento é que o uso da cloroquina já foi desaconselhado por estudos de diversos países, e organismos com credibilidade como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Federal Drug Administration (FDA), agência regulatória americana, o hospital Albert Einstein em São Paulo, o Instituto do Cérebro no Rio.
Todos suspenderam o uso da cloroquina para tratamento da Covid-19 depois de demonstrado que, além de não ser eficaz no combate ao novo coronavírus, a cloroquina pode causar efeitos colaterais graves, como arritmia cardíaca.
A irresponsabilidade marcou também o anúncio de que havia testado positivo para Covid-19. Embora estivesse de máscara a maior parte do tempo, o presidente tocou o microfone das televisões escolhidas para ouvir seu anúncio, aproximou-se dos repórteres e tirou a máscara em determinado momento.