sábado, 21 de novembro de 2020

Merval Pereira - O país pós-Covid

- O Globo

Em tempos eleitorais, não há quem queira admitir que uma segunda onda da COVID-19 está chegando entre nós, assim como chegou na Europa e nos Estados Unidos. Exatamente um ano após a 1ª infecção associada à COVID-19 em Hubei, na China, o mundo registra recorde de mortes pela doença nos últimos dias. Até esta data, já ultrapassamos a 1.340 mil mortos e mais de 56 milhões de casos confirmados. No Brasil, chegamos a quase 170 mil mortos.

A consultoria Macroplan, do economista Claudio Porto, especializada em cenários prospectivos, mapeou os dez fatores que vão influenciar os rumos do país na próxima década no estudo recém lançado “O que será do Brasil pós-COVID: um Ensaio Prospectivo até 2030”. O resultado é baseado em uma pesquisa junto a 139 pessoas qualificadas, entre executivos, gestores, acadêmicos e especialistas dos setores privado, público e do 3º setor.

A sensação generalizada, diz o estudo, é que com a crise da saúde pública sendo irresponsavelmente politizada, órfã de coordenação do governo Federal para planejar e agir com eficiência nas batalhas que o país precisa vencer neste campo, não há dúvidas de que o cenário atual deixará marcas. E não são favoráveis as perspectivas futuras.

Do endividamento público ao ensino à distância, do comércio digital à evolução das mídias sociais, o país será impactado por vários fatores que a consultoria analisou. Para a Macroplan, o Brasil iniciará o novo ciclo muito provavelmente como o 2º país emergente mais endividado do mundo e posicionado entre os cinco maiores em número de mortos pela COVID-19. Até 2030, a consultoria enxerga seis tendências consolidadas, qualquer que seja o cenário.

Míriam Leitão - O futuro chega muito devagar

- O Globo

O sangue de João Alberto ficou no chão do supermercado e ele sem vida já não gritava. Essa foi a cena final. Aos 40 anos, Beto foi morto por asfixia, depois de espancamento. Como na escravidão. Foi em Porto Alegre, horas antes do dia da Consciência Negra. O racismo é o nosso pior defeito. Quando a gente pensa que o país está evoluindo, vem um soco no estômago. O Carrefour repudiou o ato, mas os funcionários da empresa terceirizada se sentiram autorizados a espancar uma pessoa até a morte, em cena pública.

Há fatos a comemorar nos últimos tempos. Mulheres negras foram eleitas para diversas câmaras de vereadores. Empresários e executivos negros, novas formas de contratação, começam a mudar o mundo corporativo. A propaganda, a moda passaram a ter vergonha de ter apenas modelos brancos. Há duas histórias para contar no Brasil, a dos crimes do racismo estrutural, a da resistência antirracista. Dias atrás, nas ruas de Curitiba, uma jovem candidata a vereadora era saudada com gritos:

— Carol, vamos fazer história!

Carol Dartora (PT) começou sua campanha para a Câmara Municipal com o lema: “Curitiba nunca teve uma vereadora negra, não reproduza essa história.” Por isso alguns curitibanos que cruzavam com a candidata nos dias finais da campanha davam esse grito de esperança. Ela foi eleita. Conversei na última quinta-feira com uma radiante Carol e pedi que ela me contasse sua história. No relato, há as agressões, a consciência, a militância. A vereadora assumirá com a pauta extensa de mudanças com as quais sonha, que vão da passagem dos ônibus aos crimes contra os negros:

Ascânio Seleme - Filhos, netos, família

- O Globo

Em Recife, onde uma neta e um bisneto de Miguel Arraes disputam o segundo turno

história eleitoral brasileira está repleta de casos de filhos e netos que se apropriam do nome e do capital político do patriarca da família para pedir votos e quem sabe passar o resto da vida pagando suas contas com dinheiro público. Quanto mais próximo do primeiro político, melhor. Foi assim com os três zeros pouco qualificados de Bolsonaro, que se elegeram vereador, deputado e senador. Nas eleições municipais deste ano, há um caso que não chega a ser inédito, mas prova que as pessoas apostam mesmo no nome da família para ganhar um cargo. Trata-se de Recife, onde uma neta e um bisneto de Miguel Arraes disputam o segundo turno.

A neta, a deputada petista Marília Arraes, já tem um pouco de estrada e tentou uma outra vez ocupar um cargo executivo. Em 2018, mesmo liderando as pesquisas, teve sua candidatura abortada pelo diretório nacional do PT. O bisneto, João Campos, tem apenas 26 anos. Além de ser neto de Arraes, ele é filho do falecido governador Eduardo Campos. Ungido por dois sobrenomes, foi o deputado federal mais votado em 2018, aos 24 anos, e agora quer ser prefeito. Sua qualificação? É engenheiro, mas nunca exerceu a profissão. Graduou-se em 2016, mas aí já era secretário do governador que sucedeu seu pai dois anos antes.

Em São Paulo, outro neto disputa a eleição. Bruno Covas, neto do ex-governador Mario Covas, está no segundo turno e pode acabar eleito para um mandato inteiramente seu. No primeiro, foi vice de João Doria, que saiu para se candidatar a governador. Bruno foi deputado estadual, deputado federal e secretário estadual de Meio Ambiente no governo de Geraldo Alckmin. Mas aí, nenhum mérito. Até o nefasto Ricardo Salles foi secretário de Meio Ambiente de Alckmin. No Rio, o sobrenome Garotinho não rendeu votos para Clarissa, que chegou em 11º lugar com apenas 12.178 votos. No caso, o sobrenome mais atrapalha do que ajuda a deputada filha de dois ex-governadores encrencados.

Ricardo Noblat - A segregação, no Brasil, é social, racial e dissimulada

- Blog do Noblat | Veja

O assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, casado, pai de quatro filhos e negro

Subiu o preço das ações do Carrefour no fechamento da Bolsa de Valores de São Paulo. O motivo, segundo analistas do mercado financeiro: os maiores fornecedores de produtos da rede de supermercados não reagiram ao assassinato de João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, negro, espancado até morrer por dois seguranças do Carrefour na Zona Norte de Porto Alegre.

Em pronunciamento de cinco minutos, Eduardo Leite (PSDB), governador do Rio Grande do Sul, só chamou o morto pelo nome uma vez. Falou em “excesso de violência” como causa da morte, o que permite concluir que se não tivesse havido excesso seria um episódio menor. Disse que “os excessos serão apurados”. E por duas vezes referiu-se ao ato como “crime” e “fato lamentável”.

No início da tarde, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República, lamentou a morte de João, mas negou que exista racismo no Brasil: “Não, para mim no Brasil não existe racismo. Isso é uma coisa que querem importar, isso não existe aqui. Eu digo para você com toda tranquilidade, não tem racismo”. O presidente Jair Bolsonaro escreveu no Twitter perto da meia-noite:

O Brasil tem uma cultura única entre as nações. Somos um povo miscigenado. Brancos, negros, pardos e índios compõem o corpo e o espírito de um povo maravilhoso. […] Aqueles que instigam o povo à discórdia, fabricando e promovendo conflitos, atentam não somente contra a nação, mas contra nossa própria história. Quem prega isso está no lugar errado. Seu lugar é no lixo!”

João Gabriel de Lima* - A volta do debate que importa

- O Estado de S. Paulo

Só existem a boa política, que respeita os fatos e oponentes, e a má, que nega a realidade

Para que serve um governo? Cuidar das pessoas ou cuidar das empresas? É possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo?

São perguntas que simplificam uma questão complexa -- mas que resumem, com clareza, o debate brasileiro nos últimos oitenta anos.

A ideia vitoriosa nas duas ditaduras brasileiras do século passado, a de Getúlio Vargas e a dos militares -- e também do período democrático entre elas -- foi o nacional-desenvolvimentismo. Segundo essa corrente, cabia ao governo subsidiar setores da economia escolhidos a dedo.

De Getúlio aos militares, os governos criaram copiosamente companhias terminadas em “brás” e incentivaram indústrias como a automobilística. Cuidaram das empresas – estatais e privadas –, mas não dos cidadãos. O baixo investimento em educação mostra isso de forma eloquente. Durante a ditadura de Vargas, o valor oscilou entre 1% e 1,5% do PIB. Entre 1955 e 1975 subiu só um pouco, para 2%. Saúde pública também nunca foi prioridade nos dois regimes autoritários.

Veio a redemocratização, e os brasileiros, representados pelos constituintes de 1988, decidiram que os governos deveriam cuidar das pessoas. Saiu de cena o nacional-desenvolvimentismo e começou a era social-democrata. Ela teve seu auge nos governos de Fernando Henrique e Lula. No ciclo tucano-petista, criaram-se o Sistema Único de Saúde, os programas de combate à pobreza, e o gasto com educação mais que dobrou, saltando para o patamar de 4,5% do PIB.

Adriana Fernandes - Prorrogação do auxílio

- O Estado de S. Paulo

Experientes observadores do jogo político dão como alta a probabilidade de o benefício emergencial continuar a ser pago

A prorrogação do auxílio emergencial por mais alguns meses já está na mesa. O ministro Paulo Guedes dificilmente conseguirá escapar desse caminho. Vai se consolidando uma convergência política para garantir a prorrogação do benefício, mesmo que pequena (no máximo dois meses). 

Experientes observadores do jogo político dão como alta probabilidade a prorrogação. Essa percepção também foi passada pelo diretor executivo da Instituição Fiscal Independente (IFI), Felipe Salto, durante apresentação de relatório mensal do órgão do Senado que avalia as contas públicas. Por enquanto, o movimento se dá nos bastidores das negociações políticas que envolvem também as votações de fim de ano e a eleição para a sucessão dos presidentes da Câmara e do Senado. 

Mas qual a razão para a prorrogação?

A resposta é que nem o governo nem o Legislativo encontraram outra saída, nem de transição nem estrutural, para o dia 1.º de janeiro, quando acaba o auxílio. Faltam apenas 40 dias.

As incertezas geradas pela velocidade assustadora da alta de casos da covid-19 nos últimos dias empurram a decisão também nessa direção. A prorrogação do auxílio pode ser feita por crédito extraordinário, sem orçamento de guerra, e com o gasto fora do teto. A Emenda Constitucional 95 prevê essa válvula de escape.

Claudio Couto* - Sem partido, Bolsonaro se enfraquece

- Folha de S. Paulo

Perdeu a oportunidade de criar rede de apoio político e larga em desvantagem

Jair Bolsonaro tentou tomar de assalto o partido pelo qual se elegeu, o PSL, em vez de com ele construir boa relação —o que teria sido útil, considerando que a sigla teve a maior fatia do fundo eleitoral neste ano. Fracassou em seu intento, e a organização seguiu sob controle de seu velho cacique, Luciano Bivar. Depois, ensaiou construir seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil. Novamente fracassou e, ao notar que não teria como viabilizá-lo em tempo para as eleições municipais, desistiu.

Com isso, Bolsonaro não teve um partido para chamar de seu durante as disputas locais, perdendo a oportunidade que seus antecessores —FHC e Lula— aproveitaram muito bem: fazer crescer sua agremiação pelo país, enraizando-se e criando uma rede de apoio político crucial para as eleições proporcionais vindouras (Câmara dos Deputados e Assembleias Legislativas), mas também para a Presidência da República. Só por isso (obra exclusivamente sua), já sai derrotado das eleições de 2020.

Demétrio Magnoli – Boulos, a história circular

- Folha de S. Paulo

Candidato do PSOL, representa uma renovação de fachada: a restauração do lulismo

Bruno Covas obteve 32% dos votos no primeiro turno, um resultado fraco que reflete tanto sua falta de brilho quanto a elevada rejeição de João Doria, seu padrinho político. Covas é um gerente cinzento da cidade que existe —ou seja, de uma metrópole cuja riqueza contrasta com níveis intoleráveis de exclusão social e segregação urbana. Mas tem a sorte de enfrentar um adversário que pretende fazer a história girar em círculos, reincidindo no discurso de uma esquerda congelada no tempo.

Guilherme Boulos representa uma renovação de fachada: a restauração do lulismo. O PSOL nasceu como cisão à esquerda do PT, como sonho de recuperação do “PT das origens”. O pacto entre Boulos e Marcelo Freixo, firmado há dois anos, colocou ponto final na aventura, convertendo o partido em legenda auxiliar do PT. Hoje, o partido menor ecoa as sentenças básicas do maior e sua existência reflete, exclusivamente, os benefícios estatais ligados à proliferação de legendas partidárias. Não é casual que, no início da campanha, as celebridades carimbadas petistas tenham oferecido apoio a Boulos, em detrimento do “apparatchik” Jilmar Tatto.

O “PT das origens” desponta, como fantasia, na seleção de Luiza Erundina para vice da chapa. O discurso lulista emerge, como realidade, em cada uma das declarações de Boulos.

Marcus Pestana* - Fatos e análises: devagar com o andor

Já conhecemos os resultados das eleições em 5.276 municípios. Restam 57 disputas que ficaram para serem decididas em segundo turno. Como acontece, de quatro em quatro anos, cientistas políticos, analistas da imprensa, articulistas e lideranças políticas começam imediatamente a tentar interpretar qual é o “recado das urnas”.  Como se as eleições municipais fossem uma espécie de antessala ou prefácio das eleições gerais seguintes.  

É evidente que os resultados realçam um determinado espírito reinante na opinião pública nacional. Mas “devagar com andor que o santo é de barro”. É preciso perceber o caráter contraditório dos números; decifrar a essência escondida atrás das aparências; entender que as eleições municipais têm predomínio de temas locais; atentar para as diferenças entre pequenas, médias e grandes cidades; observar que a matemática política é diferente da lógica aritmética; e, que a realidade histórica é dinâmica e mutante. Há na maioria das análises um verdadeiro “tour de force” para construir ilações a partir dos resultados eleitorais locais sobre quem são os vitoriosos e os derrotados no plano nacional. Mais uma vez, “prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”. 

O primeiro equívoco central desta armadilha analítica é, além de traços gerais do sentimento da sociedade no momento, tentar enxergar tendências avançadas sobre o cenário para 2022. Como se as eleições municipais tivessem alta carga ideológica, o que só é verdade marginalmente nas grandes cidades, e que candidaturas presidenciais ou de governadores dependessem de uma sólida base municipalista previamente consolidada. Nada melhor para testar teses políticas que confronta-las com a realidade. Não é preciso ir longe: qual era a base municipal que tinham Collor, Bolsonaro, Witzel ou Zema? Como explicar que o PSDB tenha tido em 2016 seu melhor resultado em eleições municipais e seu pior resultado nacional em 2018? Não é preciso dizer mais. Como disse certa vez Ulysses Guimarães: “Vossa Excelência, o fato”. 

Hélio Schwartsman - O doce sonho do infectologista

- Folha S. Paulo

Um infectologista otimista talvez sonhasse com uma vacina contra a Covid-19 com 95% de eficácia, mas acho que nem o mais panglossiano deles esperaria dois imunizantes que oferecessem tais níveis de proteção. Não obstante, foi exatamente o que vimos nos últimos dias, com dois laboratórios, Pfizer/ BioNTech e Moderna, anunciando resultados dessa magnitude em seus ensaios de fase 3. Bônus leibniziano extra: ambos os produtos parecem funcionar bem também para idosos, o que era uma preocupação.

Coincidentemente, os dois fármacos se valem de uma tecnologia genética nova na produção de vacinas, a de RNA mensageiro. Resta saber se ela é muito superior às outras ou se o Sars-CoV-2 é um vírus facilmente “vacinizável”. Vamos saber em breve, assim que forem divulgados os resultados dos testes de imunizantes que empregam outras técnicas.

Cristina Serra - O racismo nosso de cada dia

- Folha de S. Paulo

Mal celebramos o avanço da diversidade (ainda que insuficiente) nas eleições de 2020, vem o cotidiano violento do Brasil e nos dá um soco no estômago com o assassinato de João Alberto Freitas por dois seguranças brancos a serviço do Carrefour, em Porto Alegre. O sangue no chão, os gritos da vítima e a sequência de agressões nos lembram que ter a pele negra, no Brasil, é uma sentença de morte.

Todos os componentes da cena mostram o quanto o racismo está entranhado na medula da nossa sociedade. Uma funcionária filma o assassinato com naturalidade e tenta impedir que outra pessoa continue gravando. Em off, dá para ouvir vozes justificando o espancamento. Nada justifica o assassinato de João a sangue frio. Aceitar a lei da selva nos dilacera como sociedade e é um atestado do nosso fracasso civilizatório.

Oscar Vilhena Vieira* - Racismo: e eu com isso?

- Folha de S. Paulo

Cumpre aos brancos antirracistas deixar claro que não são signatários deste pacto perverso

Sempre me perguntei o que leva um ser humano a humilhar, torturar ou matar um outro ser humano. Não como uma conduta individual, fruto da maldade ou da insanidade de um indivíduo, mas como conduta sistêmica, que pode ocorrer de forma organizada, como num campo de concentração, ou de maneira difusa, como a violência praticada cotidianamente contra a população negra no Brasil.

Como explicar a violência que levou à morte de João Alberto Silveira de Freitas, após ser covardemente espancado por seguranças privados da rede de supermercado Carrefour, em Porto Alegre, na véspera do Dia da Consciência Negra? Ou como compreender a morte do índio Galdino, incendiado por alguns jovens em Brasília, enquanto dormia numa parada de ônibus, após participar das comemorações do Dia do Índio, em abril de 1997?

Difícil pensar que pessoas comuns, estejam elas na condição de agentes públicos ou privados, ou de meros passantes em busca de entretenimento, como os jovens de Brasília, sejam capazes de atos de tamanha crueldade, se não estiverem imersas num contexto cultural e institucional tolerante e complacente com a barbárie, como explicou Hannah Arendt, ao cunhar a expressão “banalização do mal” para descrever a conduta de genocidas.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

João Alberto – Opinião | Folha de S. Paulo

Espancamento homicida ergue símbolo contra o descaso no Dia da Consciência Negra

Se nos Estados Unidos a morte infame de George Floyd deu início a uma onda nacional de protestos, aqui João Alberto Silveira Freitas foi o nome do Dia da Consciência Negra. Na véspera, ele foi brutalmente espancado por seguranças de um supermercado Carrefour em Porto Alegre —até morrer.

A proximidade da data ergueu um símbolo propício a evitar que o enésimo homicídio de pessoa negra resvale novamente para o descaso induzido, mas nunca justificável, por estatísticas macabras que só fazem avolumar-se.

Beto, como era chamado, não é, não pode ser, só mais um nome a pesar na nossa inconsciência.

Se as circunstâncias do episódio ainda precisam ser apuradas com todo o rigor, não há como desconsiderar o racismo que perpassa a sociedade brasileira, pelo excesso de vidas que destruiu e destrói.

Os dados sobre a violência impedem que se ignore o tema. Pretos e pardos, as classificações do IBGE amalgamadas no conceito de negro, são três quartos das vítimas de assassinatos, embora perfaçam 56% da população do país.

Desigualdade, desemprego e moradias precárias, fatores que afetam tanto negros como não negros, não parecem suficientes para elucidar o fato de que a incidência de mortes violentas segue trajetórias divergentes nos dois grupos.

Poesia | Graziela Melo - Coração imperfeito

Meu coração
imperfeito,
cheio de dores
e mágoas,

bate
triste
no meu
peito

indiferente
ao mundo
torpe

navegando
noutras
águas...

Procura
a luz
das estrelas,
o afeto,
os sentimentos

e arquiva
no fundo
da alma,
da vida,
os melhores
momentos!!!