O
Congresso caiu nas mãos de Bolsonaro. É o fato da semana.
Um
bolsonarista escreveu no Instagram que me ver chorar na TV não tinha preço.
Usava o termo chorar em sentido figurado. Certamente expressei tristeza com a
vitória de Arthur Lira, coroada com uma festa para 300 pessoas, sem máscaras,
numa mansão do Lago.
Mas
se, como no poema, o bolsonarista nunca conheceu quem tivesse levado porrada,
muito prazer, me apresento.
Situações
difíceis não devem nos intimidar, embora seja assustador pensar na continuidade
de um governo que mata as pessoas com seu obscurantismo e destrói vorazmente os
recursos naturais de um dos mais belos países do mundo.
Muita
gente acha que Bolsonaro tornou-se mais forte em 22, porque controla o
Congresso. Temer controlava, mas jamais foi uma alternativa eleitoral viável.
As
coisas não passam por aí. Pelo contrário, as relações de toma lá dá cá, as
diárias afirmações de que é dando que se recebe, apenas reforçam a aura de
decadência que envolve a política no Brasil.
A ideia de uma frente não se esvai porque alguns setores saltaram do barco. O que a fortalece, de fato, não são as letrinhas que designam partidos, nem necessariamente o número de deputados e senadores que a compõem.
O
importante para uma oposição é compreender essa nova relação de forças no
Congresso e olhar mais para fora, buscar o apoio da sociedade, batendo em
alguns pontos essenciais. Um deles é denunciar o estelionato eleitoral de
Bolsonaro, separando-o das pessoas que acreditaram em seu discurso.
Os
outros estão claros na própria conjuntura: apoio emergencial para milhões de
necessitados, defesa da ciência na condução da política contra a pandemia e
luta para que todos se vacinem de forma eficaz e segura.
Esse
encontro com a sociedade poderá ser mais amplo ainda na medida em que a
vacinação avance. Muitos discutem as eleições de 22, quem será candidato, quem
vai vencer.
É
um tema inescapável. No entanto, daqui até lá, há muita luta, muitas
peripécias. Os nomes devem surgir desse processo. Não creio em candidaturas que
ficam abrigadas da tempestade e aparecem apenas no momento eleitoral.
Bolsonaro,
Witzel e outras figuras se elegeram num momento de decadência da política. Nas
próximas eleições, possivelmente viveremos um clima em que não só a política,
mas também as novidades radicais decaíram. Daí a importância do que sobrou de
resistência, de como se mostrará no processo, sua habilidade para unir, coragem
para encarar o governo de frente.
Grande
parte dos analistas descarta o impeachment quando um governo passa a dominar o
Congresso. É razoável. Mas não se pode ver o Congresso como um bloco
impermeável à pressão popular.
É
preciso trabalhar com todos os cenários, sabendo que são tempos quase tão
difíceis como no período da ditadura. É verdade que agora existe liberdade de
imprensa, mas, no entanto, desapareceu um clima mais fraterno entre os
opositores.
E
isso não apenas porque a história moderna do Brasil colocou em campos opostos
os que lutaram pelas eleições diretas.
O
debate político não é mais mediado exclusivamente pela imprensa profissional.
Ele vive noutras plataformas, deformado por fake news e num clima de
agressividade verbal sem precedentes.
Um
agradável lugar-comum que sempre vale a pena repetir: a história não coloca
problemas que as pessoas não possam resolver.
É
urgente evitar mortes e, simultaneamente, desenvolver as lutas que possam
fortalecer uma vontade de tirar o Brasil dessa condição de pária sanitário e
ambiental, dominado pelo obscurantismo.
Perdemos
o Congresso, é verdade. Mas algum o dia o tivemos? Por enquanto, a parte que
nos toca é uma modesta minoria. Vamos com ela, com o que sobrar, pois resistir
ainda é melhor do que tudo.
É fundamental que as forças de conversem com o que restou do centro.
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