quarta-feira, 28 de abril de 2021

Carol Pires - Deixaremos Bolsonaro impune?

- Folha de S. Paulo

Impeachment é a primeira vacina para nossa saúde democrática

O governo de Jair Bolsonaro tem sido fatal para muitos brasileiros. Seu desvario já motivou 116 pedidos de impeachment —hoje parados pela cumplicidade do presidente da Câmara, Arthur Lira, que diz não ver razão em 95% deles. Os outros 5% nos bastam, deputado.

Agora está no forno um super pedido de impeachment articulado por uma frente outrora impensável, que vai de Joice Hasselmann a Talíria Petrone. Dizer ainda que não há clima político para processá-lo é impor pré-requisito para se fazer justiça.

Bolsonaro cometeu todos os piores pecados atribuídos aos últimos presidentes e mais. Foi eleito por um partido acusado de crime eleitoral. Fez pedaladas fiscais e inaugurou as pedaladas ambientais, inflacionando taxas-base de desmatamento e emissão de gases estufa para arreganhar a porteira. Seu gabinete do ódio tenta silenciar a imprensa e a oposição enquanto investigadores paralelos perseguem servidores públicos. Seus filhos são investigados por corrupção. E a ligação com a milícia tem se mostrado inocultável.

Forjado na violência e no trambique, o ex-deputado já dizia que, se fosse eleito presidente, "daria um golpe no mesmo dia". Para mudar o Brasil, acrescentou, seria preciso matar "uns 30 mil". Do alto de quase 400 mil mortos por Covid, parece não ter dado um golpe por falta de apoio.

Bolsonaro também precisa ser responsabilizado pela sua cruzada contra o nosso direito constitucional à saúde. Pode ser que a CPI da pandemia seja capaz de desgastá-lo para que chegue a 2022 inviabilizado. É o melhor cenário para os pré-candidatos à Presidência. Mas deixá-lo no cargo é esgarçar o tolerável.

Recordista de seu tempo em ações no Conselho de Ética, Bolsonaro sempre foi poupado por seus pares. Por sua trajetória irrefreável, deixá-lo impune mais uma vez é dar combustível para que continue nos guiando rumo à calamidade. O impeachment é a primeira vacina para nossa saúde democrática.

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